Desenvolvimento da depressão - Curso Psicologia da Depressão

Post on 10-Jul-2015

297 views 1 download

Transcript of Desenvolvimento da depressão - Curso Psicologia da Depressão

Curso Psicologia Cognitiva da Depressão

Por Professor Felipe de Souza

www.psicologiamsn.com

A predisposição à depressão

Entre os conceitos centrais na patogênese da depressãoestão as atitudes das pessoas em relação a si mesmas, aoambiente e ao futuro. Uma vez que a formulação de todosos três tipos de conceitos é semelhante, a dos autoconceitospode servir de padrão para as outras duas.

A predisposição à depressão

Os autoconceitos das pessoas são aglomerados de atitudessobre si mesmas, algumas favoráveis e outras desfavoráveis.Esses aglomerados consistem em generalizações baseadasem interações com o ambiente.

Assim, forma-se um ciclo: cada juízo negativo fortalece aautoimagem negativa, que por sua vez facilita ainterpretação negativa das vivências posteriores, as quaisconsolidam o autoconceito negativo.

Autoconceitos

Entre os autoconceitos positivos (ou autoengrandecedores)positivos estão atitudes como “sou capaz”, “sou atraente”,“posso conseguir o que quero”, “sou capaz de entenderproblemas e resolvê-los”.

Exemplos de autoconceitos negativos (ouautodepreciativos) são “sou fraco”, “sou inferior”, “soudetestável” e “não sou capaz de fazer nada direito”.

Juízos de valor e afeto

Quando vem a si mesmos positivamente, comoadmiráveis, vivenciam um afeto agradável.Estabelecidas as rotas entre um determinado conceito,tal como “sou inepto”, e o afeto negativo, a pessoavivencia o afeto desagradável toda vez que faz um juízonegativo.

Vulnerabilidade

Os autoconceitos negativos, embora possam não ser perceptíveis,mantém-se na surdina e, em uma situação eliciadora, podem vir à tona.

“Quando todos os componentes da constelação de características dedepressão são ativados, ocorre o seguinte: os indivíduos interpretamuma vivência como representativa de derrota ou frustração pessoal;atribuem essa derrota a algum defeito em si mesmos; consideram-sesem valor por terem esse traço; culpam a si mesmos por teremadquirido essa característica e não gostam de si mesmos por isso; comoeles consideram o traço uma parte intrínseca de si mesmos, não têmesperança de mudar e veem o futuro como desprovido de satisfação ourepleto de dor” (BECK, p. 211).

Estresse específico

Exemplo: executiva que veio de uma classe baixa sentia-seinferior

Situações que previsivelmente diminuiriam a autoestima deum indivíduo são precipitadores frequentes frequentes dedepressão. Algumas observadas na prática clínica incluemreprovação em uma prova, rejeição pelo namorado ou pelanamorada, rejeição por associação estudantil e demissão(BECK, p. 212).

Estresse específico

Essas circunstâncias produziriam sentimentos de dorou frustração na maioria das pessoas, mas nãocausariam depressão. O indivíduo deve serpeculiarmente sensível à situação e deve ter aconstelação pré-depressiva necessária para desenvolverdepressão clínica (BECK, p. 212).

Moderação genética do vínculo estresse-depressão

Estudo: “A influência de eventos estressantes na predição dedepressão foi moderada (afetada) por um polimorfismofuncional na região promotora do gene transportador daserotonina (5-HTT). Aqueles com uma ou duas cópias do alelocurto do polimorfismo diferiam dos indivíduos homozigóticospara o alelo longo. Especificamente, o alelo curto estavaassociado a mais depressão e tentativas ou pensamentos suicidasem resposta a estresse comparados com indivíduoshomozigóticos para o alelo longo. Entretanto, os autoresreconheceram que o estudo não fornece evidências inequívocasde um gene por interação com estresse, pois é possível que afrequente exposição a eventos estressantes seja ela mesmamediada pela variação genética (BECK, p. 213).

Moderação genética do vínculo estresse-depressão

Nemeroff e Vale assinalaram que a maioria dostranstornos psiquiátricos incluindo transtornos dehumor e de ansiedade, são de natureza poligênica, enão dterminados pela tradicional genética mendelianaautossômica-dominante (BECK, p. 214).

Estresse não específico

Às vezes a depressão é precipitada, não por um únicoincidente esmagador, mas por uma série de eventostraumáticos (BECK, p. 214).

Organização da personalidade na depressão

- Como o pensamento depressivo peculiar torna-sedominante? Por que o paciente deprimido agarra-secom tanta tenacidade a ideias dolorosas, mesmoquando confrontado com evidências em contrário?Qual é a relação entre pensamento e afeto?

Literatura sobre organizações cognitivas

Exemplos de estruturas cognitivas: “conceitualizaçõesde Freud dos processos primários e secundários, oconceito de autoimagem de Horney, a formulação doautoconceito de Rogers, a teoria dos construtospessoais de Kelly, o conceito de autoverbalizações deEllis. Harvey e colaboradores apresentaram o modelomais completo de sistemas conceituais empsicopatologias específicas, incluindo a depressão”(BECK, p. 216).

Definição de esquemas

Um determinado indivíduo tende a mostrarconsistências no modo como responde a tipossemelhantes de eventos (...) Padrões estereotipados ourepetitivos de conceitualização são consideradosmanifestações de organizações ou estruturascognitivas.

Definição de esquemas

Uma estrutura cognitiva é um componenterelativamente duradouro de uma organizaçãocognitiva, em contraste como um processo cognitivo,que é transitório.

Esquema é uma estrutura para classificar, codificar eavaliar os estímulos que afetam o organismo.

Definição de esquemas

Quando um determinado conjunto de estímulosafetam o indivíduo, um esquema pertinente a essesestímulos é ativado.

O esquema condensa e molda os dados brutos emcognições. Uma cognição refere-se a qualqueratividade mental que possui conteúdo verbal; assim,ela inclui não somente ideias ou juízos, mas tambémautoinstruções, autocríticas e desejos verbalmentearticulados.

Definição de esquemas

Como são estruturas, os esquemas também secaracterizam por outras qualidades, tais comoflexibilidade-inflexibilidade, abertura-fechamento,permeabilidade-impermeabilidade e concretude-abstração.

Identificação dos esquemas

A característica mais marcante dos esquemas é o seuconteúdo. O conteúdo geralmente tem a forma de umageneralização que corresponde às atitudes, aosobjetivos, aos valores e às concepções do indivíduo.

Exemplo: estudante que tinha a crença “eu sou burra”.

Esquemas na depressão

A ideação nos indivíduos deprimidos é matizada porcertos temas depressivos típicos. A interpretação dasvivências, a explicação para sua ocorrência e asperspectivas para o futuro demonstram,respectivamente, temas de deficiência pessoal,autorrecriminação e expectativas negativas.

Modos de psicopatologia

A maneira como os esquemas se inter-relacionam nacoordenação dos diversos sistemas psicológicos éreferida comomodo.

O modo é a ativação dos conglomerados de esquemas evaria segundo o contexto e a percepção que o indivíduotem dos eventos.

Distorção e erros de interpretação

Quando procuramos prever a resposta a uma situaçãode estímulo, é evidente que existem diversos modospossíveis de interpretar uma situação.

Na depressão e outros tipos de psicopatologia, aorganizada correspondência de estímulo e esquema éperturbada pela intromissão dos esquemasidiossincráticos hiperativos.

Distorção e erros de interpretação

Somente os detalhes da situação de estímulo compatíveiscom o esquema são selecionados, e estes são reorganizadosde forma a torná-los congruentes com o esquema.

Em outras palavras, em vez de um esquema ser selecionadopara ajustar-se a detalhes externos, os detalhes sãoseletivamente extraídos e moldados para que se ajustem aoesquema.

Perseveração (ruminação)

À medida que a depressão avança, os pacientes perdem ocontrole sobre seus processos de pensamento; ou seja,mesmo quando tentam focar em outros assuntos, ascognições depressivas continuam se intrometer e ocuparuma posição central.

Nolen-Hoeksema e colaboradores investigaram a hipótesede que as mulheres são mais vulneráveis aos sintomasdepressivos do que os homens em parte por causa da maiorruminação.

Perda da objetividade

Nos estágios mais graves, os pacientes têm dificuldadeaté para considerar a possibilidade de que suas ideiasou interpretações talvez sejam errôneas.

Afetos e cognição

Tese: a resposta afetiva é determinada pelo modo comoum indivíduo estrutura sua vivência. Ou seja, oesquema determina o tipo específico de respostaafetiva.

Mas também é possível que um mecanismo circularseja ativado, no qual os esquemas estimulam os afetose os afetos reforçam a atividade dos esquemas.

Esquemas de feedback

Quanto mais negativamente os pacientes pensam, piorse sentem; quanto pior se sentem, mais negativamentepensam.

Conclusão

Durante o período de desenvolvimento, indivíduospropensos à depressão adquirem algumas atitudesnegativas sobre si mesmo, sobre o mundo externo e sobre ofuturo.

Como consequência dessas atitudes, tornam-seespecialmente sensíveis a alguns estresses específicos, taiscomo sentir-se privado, frustrado ou rejeitado. Quandoexpostos a esses estresses, esses indivíduos respondemdesproporcionalmente com ideações de deficiência pessoal,autorrecriminação e pessimismo.

Conclusão

Os esquemas idiossincráticos na depressão consistemem concepções negativas do valor, das característicaspessoais e do desempenho ou saúde do indivíduo, eincluem expectativas niilistas. Quando evocados, essesesquemas moldam o conteúdo do pensamento e levamaos típicos sentimentos depressivos de tristeza, culpa,solidão e pessimismo.

Conclusão

Os esquemas permanecem basicamente inativosdurante os períodos assintomáticos, mas são ativadoscom o início da depressão. À medida que a depressãose aprofunda, tais esquemas dominam cada vez maisos processos cognitivos e substituem os esquemasapropriados, além de interromperem os processoscognitivos envolvidos na realização de auto-objetividade e testagem da realidade.

Conclusão

A relativa ausência de raiva na depressão talvez se devaà substituição dos esquemas relativos à culpa dosoutros por esquemas de autorrecriminação.