Auditoria Contábil - Aspectos Básicos

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Auditoria Contábil: Aspectos Básicos 1 1 INTRODUÇÃO A auditoria é uma das técnicas contábeis utilizadas para medir o grau de confiabilidade, ou risco, das informações prestadas pela contabilidade aos interessados na organização. Tal empreitada é concretizada por meio dos demonstrativos financeiros. Estas demonstrações são as ferramentas pelas quais a contabilidade informa as variações patrimoniais sofridas pela entidade em determinado período. Cabe ao auditor, por meio das técnicas de auditoria, avaliar o grau de risco destas informações, através de apreciação dos registros contábeis e da documentação comprobatório dos mesmo. O processo de auditoria é feito com base em teste como os de superavaliação e subavaliação da contas contábeis e, ao final deste processo, far-se-á um parecer onde consta a percepção e as conclusões do auditor à respeito de seus trabalhos feitos na organização auditada. 2 CONTABILIDADE E DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Um breve conceito para a contabilidade poderia ser expresso em uma pequena frase: A ciência que estuda o patrimônio econômico das entidades; entretanto, tal expressão não reproduz com fidedignidade o papel e nem sua função, deste modo, um conceito que possa exprimir com máxima aproximação de completude a realidade dessa ciência deveria ser embasado pela identificação de seu objetivo, uma vez que, este objetivo caracteriza a sua função, enquanto finalidade. Segundo Iudícibus (2009, p.4), o objetivo primordial da contabilidade é “[...] fornecer aos usuários, independentemente de sua natureza, um conjunto básico de informações financeiras a respeito dos acontecimentos e modificações do patrimônio de uma Entidade [...]”, informações estas, que são resultantes do registro, por meio da escrituração contábil, de todos os fatos e atos administrativos; cabendo ressaltar que, em se tratando destes últimos, registrar-se-ão apenas aqueles dotados de relevância, ou seja, que possam provocar alterações patrimoniais futuras. Assim, com base no que fora exposto, podemos conceituar a contabilidade como a ciência que estuda o patrimônio das entidades e, por meio de seus métodos, ou técnicas 2 , de escrituração, registra 1 Escrito por: Gonçalves, T.F. de M; RIVA, A; COELHO. R; SANTOS, R. – Acadêmicos do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Católica de Pernambuco. 1

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Breve texto sobre a Auditoria Contábil, abordando sobre os aspectos básicos.

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Auditoria Contábil: Aspectos Básicos1

1 INTRODUÇÃO

A auditoria é uma das técnicas contábeis utilizadas para medir o grau de confiabilidade, ou risco,

das informações prestadas pela contabilidade aos interessados na organização. Tal empreitada é

concretizada por meio dos demonstrativos financeiros. Estas demonstrações são as ferramentas pelas

quais a contabilidade informa as variações patrimoniais sofridas pela entidade em determinado período.

Cabe ao auditor, por meio das técnicas de auditoria, avaliar o grau de risco destas informações,

através de apreciação dos registros contábeis e da documentação comprobatório dos mesmo.

O processo de auditoria é feito com base em teste como os de superavaliação e subavaliação da

contas contábeis e, ao final deste processo, far-se-á um parecer onde consta a percepção e as conclusões

do auditor à respeito de seus trabalhos feitos na organização auditada.

2 CONTABILIDADE E DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Um breve conceito para a contabilidade poderia ser expresso em uma pequena frase: A ciência

que estuda o patrimônio econômico das entidades; entretanto, tal expressão não reproduz com

fidedignidade o papel e nem sua função, deste modo, um conceito que possa exprimir com máxima

aproximação de completude a realidade dessa ciência deveria ser embasado pela identificação de seu

objetivo, uma vez que, este objetivo caracteriza a sua função, enquanto finalidade.

Segundo Iudícibus (2009, p.4), o objetivo primordial da contabilidade é “[...] fornecer aos

usuários, independentemente de sua natureza, um conjunto básico de informações financeiras a

respeito dos acontecimentos e modificações do patrimônio de uma Entidade [...]”, informações estas,

que são resultantes do registro, por meio da escrituração contábil, de todos os fatos e atos

administrativos; cabendo ressaltar que, em se tratando destes últimos, registrar-se-ão apenas aqueles

dotados de relevância, ou seja, que possam provocar alterações patrimoniais futuras.

Assim, com base no que fora exposto, podemos conceituar a contabilidade como a ciência que

estuda o patrimônio das entidades e, por meio de seus métodos, ou técnicas2, de escrituração, registra

1 Escrito por: Gonçalves, T.F. de M; RIVA, A; COELHO. R; SANTOS, R. – Acadêmicos do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Católica de Pernambuco.

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todos os acontecimentos que causam alterações neste patrimônio com a finalidade de fornecer aos

interessados, informações qualitativas e quantitativas de natureza econômico-financeira a respeito da

condição patrimonial da organização.

Na NBC T 1, aprovada pela Resolução CFC nº 785/953, constituindo-se numa norma que figura

sobre informações contábeis, a contabilidade é conceituada da seguinte forma:

A Contabilidade, na sua condição de ciência social, cujo objeto é o patrimônio, busca, por meio da apreensão, da quantificação, da classificação, do registro, da eventual sumarização, da demonstração, da análise e relato das mutações sofridas pelo patrimônio da entidade particularizada, a geração de informações quantitativas e qualitativas sobre ela, expressas tanto em termos físicos, quanto monetários. (CFC, 1995, p.2)

Todos os acontecimentos que ocorrem no âmbito da entidade e envolvem modificações em seu

patrimônio devem ser escriturados seguindo as normas, convenções e princípios da contabilidade de

modo que, ao final de um período pré-estabelecido, todos esses dados são compilados em

demonstrativos financeiros os quais, conforme afirma Iudícibus (2009, p.4), têm a função de “[...] prover

seus usuários com informações que os ajudarão no planejamento e tomada de decisão [...]”, tanto em

maior ou menor grau, dependendo do usuário em questão e da natureza básica da informação

demandada por ele. Com isso, depreendemos que o objetivo principal dos demonstrativos financeiros e

contábeis é guarnecer os seus usuários com informações úteis para a tomada de decisão de cunho

econômico e financeiro.

Segundo o que consta na NBC TG 26 (NBC T 19.27), aprovada pela Resolução CFC nº 1185/09, ao

reportar-se a apresentação das demonstrações contábeis, aborda que tais demonstrativos, visando

atingir o objetivo para o qual se prestam, que é o fornecimento de informações aos diversos usuários

interessados na entidade, além do objetivo de “[...] apresentar os resultados da atuação da

administração na gestão da entidade e sua capacitação na prestação de contas quanto aos recursos que

lhe foram confiados[...]”, devem fornecer informações a respeito dos ativos, passivos, patrimônio

líquido, receitas e despesas, incluindo ganhos e perdas, alterações no capital próprio decorrente da

2 Há quem considere a escrituração contábil uma técnica ou ferramenta pela qual se faz o trabalho contábil. 3 Revogada pela Resolução n º 1.121, publicada no DOU em 01/04/2008, Seção I, página 400. E esta resolução é alterada pela Resolução nº 1.329/2011 e revogada pela Resolução nº 1374/2011, em vigor.

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integralização de capital ou distribuição de ganhos aos sócios e também informações á respeito dos

fluxos de caixa gerados pela entidade.

Tomando essa finalidade como base para conceituação das “demonstrações contábeis”, Moura

(2010, p.390), propõe a seguinte ideia:

[...] um conjunto de relatórios elaborados com base na escrituração mercantil mantida pela empresa, com a finalidade de apresentar informações aos diversos usuários, principalmente de natureza econômica e financeira, relativas à gestão do patrimônio ocorrida durante um exercício social.

2.1 Tipos de Demonstrações Contábeis e Financeiras

A lei nº 6.404/76 rege o assunto referente às demonstrações contábeis e em seu Art. 176, no

qual a redação conferida por seu caput determina que “[...] ao fim de cada exercício social, a diretoria

fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, suas demonstrações financeiras, que

deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no

exercício”, dentre as quais podemos elencar:

o Balanço Patrimonial;

o Demonstração do Resultado do Exercício;

2.1.1 Balanço Patrimonial

Este demonstrativo, estabelecido na lei nº 6.404/76 e em suas regulamentações posteriores,

corroborado pela resolução número 1.185/09 do Conselho Federal de Contabilidade, a qual aprova a a

NBC TG 26 que trada da apresentação das demonstrações contábeis, é responsável pela expressão, em

determinado momento, da posição patrimonial e financeira de uma entidade. O Balanço Patrimonial

expressa tanto os aspectos qualitativos do patrimônio da empresa, como os tipos de bens, mas também

aspectos quantitativos de expressão monetária normalmente evidenciando o valor das contas ali

apregoadas. Assim sendo, Ribeiro (2010, p.392) afirma que o balanço patrimonial é “[...] a demonstração

financeira (contábil) destinada a evidenciar, quantitativa e qualitativamente, numa determinada data, a

posição patrimonial e financeira da empresa”.

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O Balanço Patrimonial encontra-se subdividido em três partes: ativo, passivo e patrimônio

líquido. Cada uma dessas partes exibe certas contas às quais são ordenadas de acordo com o seu grau de

liquidez, para contas do ativo, e seu grau de exigibilidade, para as contas do passivo.

O ativo se subdivide em ativo circulante e não circulante, no primeiro grupo ficam registradas

todas as aplicações cuja liquidez possa ser auferida no curto prazo, ou seja, durante o exercício social

subsequente à publicação do balanço patrimonial. No ativo não circulante acham-se alocadas as

aplicações que não serão liquidadas no curto prazo, ou seja, não terão seus valores convertidos em

moeda no exercício social subsequente à data da publicação do balanço. Normalmente, as contas desse

grupo estão divididas em imobilizado, realizável a longo prazo, intangível e investimentos. A soma dos

recursos desses dois grupos resulta no total dos ativos da companhia ou, como também é denominado

na contabilidade, investimento total.

O passivo, por outro lado, está categorizado em passivo circulante e não circulante, porém a

regra que estabelece a ordem em que estão elencadas as contas desse grupo não é o grau de liquidez e

sim o grau de exigibilidade, este que corresponde ao prazo de liquidação das exigibilidades. Deste modo,

as obrigações que possuem um grau de exigibilidade compreendido no curto prazo, como Fornecedores,

Impostos a Recolher e Salários, figurarão no passivo circulante e as obrigações com grau de exigibilidade

enquadrado, segundo as definições a respeito do exercício social da entidade estabelecidas em seu

contrato social ou, no caso de Sociedades Anônimas, o estatuto, no longo prazo, como financiamentos

de longo prazo, deverão figurar no passivo não circulante. O montante representado pela soma desses

dois grupos compreende o total de capital de terceiros aplicados nos ativos da empresa.

O Patrimônio Líquido, situado no lado do passivo, compreende o total do capital próprio

investido nos ativos da entidade. Compreende o capital social, as reservas de lucros e de capital, e ações

em tesouraria. No grupo, além de estar alocado o capital entregue pelos sócios à companhia, acham-se

registrados também os seus lucros auferidos e destinados a suas reservas. Portanto, a parte do

investimento total da entidade que efetivamente lhe pertencente está alocada neste grupo.

O conceito de Balanço justifica-se pelo fato de este representar o equilíbrio entre suas partes de

modo que o total das origens dos recursos descritas no passivo e patrimônio líquido deve ser igual aos

totais das aplicações de recursos relacionadas no lado do ativo. Essa lógica está fundamentada no

mecanismo de escrituração das partidas dobradas, onde todas as origens de recursos devem possuir o

valor igual ao de sua aplicação.

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2.1.2 Demonstração do Resultado do Exercício

A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) elenca de forma sistemática e categorizada

todas as receitas auferidas pela entidade, bem como as despesas e custos incorridos, confrontando-os

segundo o princípio da competência, com o objetivo de evidenciar o resultado econômico – lucro ou

prejuízo – auferido pela companhia no exercício social referido. Com base nisso, Ribeiro (2010, p. 406)

afirma que “[...] a DRE é um relatório contábil destinado a evidenciar a composição do resultado

formado num determinado período de operações da empresa”. Esse demonstrativo elenca as despesas e

receitas de acordo com sua natureza, descrevendo o movimento de entradas e saídas de recursos, o qual

culmina no resultado econômico atingido pela entidade, entretanto, em princípio, é um relatório

unicamente econômico baseado no registro dos fatos administrativos, independentemente de as

receitas realizadas terem sido recebidas e as despesas incorridas terem sido pagas.

A relação lógica estabelecida neste demonstrativo parte da evidenciação do montante das

receitas brutas auferidas pela entidade no exercício social em questão, classificadas sobre a rubrica de

receita bruta. Em seguida, são elencadas as deduções das receitas brutas, como cancelamento de

vendas, devoluções, tributos incidentes sobre a receita, depois de realizadas as deduções fica evidente

outro grupo no informe financeiro, e um dos mais importantes para o presente trabalho, que é o grupo

das receitas líquidas. Após as receitas líquidas, é evidenciada a conta de custo das mercadorias

vendidas, no caso de empresas mercantis, custo dos serviços prestados, no caso de empresas

prestadoras de serviços e, custo dos produtos vendidos, no caso de indústrias. A receita líquida deduzida

do custo evidencia o lucro bruto auferido pela empresa.

Depois desta conta evidenciam-se, segundo suas categorias, as despesas incorridas, estas que

estão classificadas, basicamente, sob o título de despesas operacionais. Logo após essas deduções,

conhecemos o resultado operacional da empresa. Este grupo evidencia efetivamente o resultado

econômico da administração da empresa na realização de sua atividade operacional fim, ou seja, mostra

o êxito que a empresa teve em desenvolver suas atividades. Após isto, deduzindo outras despesas

classificadas como não operacionais - os tributos sobre o lucro contábil -, chegamos ao componente

último da DRE, que é o Lucro Líquido (ou Prejuízo), este que é o resultado econômico propriamente dito.

3 AUDITORIA CONTÁBIL

Auditoria contábil consiste na análise da escrituração contábil, ou seja, na verificação dos

registros realizados com base em documentação comprobatória dos fatos e atos administrativos em

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livros próprios da Contabilidade, objetivando apurar o grau de conformidade entre estes e os critérios

estabelecidos, quais sejam: princípios contábeis, legislação e normas internas.

Conforme a Associação Americana de Contadores (19--, apud BOYNTON, RAYMOND e KELL,

2002, p.30), no documento intitulado Report of the Committee on Basic Auditing Concepts of the

American Accounting Association, Accounting Review, v.47, a auditoria consiste em:

[...] um processo sistemático de obtenção e avaliação objetivas de evidências sobre afirmações a respeito de ações e eventos econômicos, para a aquilatação do grau de correspondência entre as afirmações e critérios estabelecidos, e de comunicação dos resultados a usuários interessados.

Assim, o procedimento de auditoria consiste na execução de um conjunto de rotinas e técnicas

seguindo um fluxo de execução racional, obtendo avaliações a respeito do que está evidenciado sobre as

variações patrimoniais na entidade. Isso é feito com a finalidade de apurar se os processos contábeis

adotados e as informações deles decorrentes, estão em correspondência com os critérios e

regulamentações legais, assim como em consonância com os princípios contábeis.

Feito isso, o procedimento culmina com a elaboração de parecer, por parte do profissional de

auditoria, onde se apresenta o real grau de conformidade entre o que consta nas peças contábeis e os

critérios legais estabelecidos, contribuindo para a manutenção, ou não, da credibilidade e grau de

confiança a respeito das demonstrações, contribuindo assim para a redução da incerteza, para aqueles

que tomam decisão utilizando como base aquelas informações.

A auditoria contábil contribui para o aumento do grau de confiabilidade da contabilidade como

um todo, aprimorando as informações fornecidas. Deste modo, acaba por agregar um maior nível de

exatidão às informações constantes nas demonstrações contábeis, possibilitando a elas uma maior

adequação à realidade econômica, patrimonial e financeira da entidade, além de assegurar melhor nível

de veracidade dos resultados apurados.

3.1 Auditoria Interna e Externa

Auditoria externa é realizada por profissional desvinculado da empresa e, consequentemente,

com maior liberdade e independência de ação, visando à emissão de parecer periódico sobre as

demonstrações contábeis da entidade auditada.

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A auditoria interna, por sua vez, é executada por um funcionário da empresa, de forma contínua,

visando melhorar a eficiência operacional e dos controles internos de forma efetiva, voltando-se para

fins gerenciais. Ela torna possível o aperfeiçoamento dos controles internos e dos sistemas contábeis,

pois o produto final do trabalho do auditor interno são recomendações voltadas para a melhoria dos

processos administrativos.

Segundo Fanco e Marra (2000, p.217), apenas empresas de organização complexa e considerável

volume de operações comportam a existência de auditor interno no seu quadro funcional, exercendo

seus serviços de forma contínua e em tempo integral.

4 CONTROLE INTERNO

O controle interno é processado no âmbito da administração da empresa e consiste no

acompanhamento, direcionamento ou previsão dos fatos e atos que produzam reflexos no patrimônio

da empresa. Ele também verifica a veracidade das informações (contábeis ou não) da organização

através da análise de documentos.

O controle pode ser realizado, conforme alude Fanco e Marra (2000, p.261), de forma

antecedente, quando se faz uma previsão acerca da ocorrência de um fato; podendo ser concomitante,

quando se constata a ocorrência do fato no momento em que ele ocorre. Por fim, o controle pode ser

consequente, realizado pela Contabilidade, quando se registra os fatos após sua ocorrência, através da

técnica da escrituração.

De forma ampla, os controles internos visam proteger o patrimônio da empresa, possuindo

como objetivos prioritários, no que diz respeito ao sistema contábil e financeiros, apresentados por

Franco e Marra (2000, p.208), a seguir:

a) fornecer à contabilidade dados corretos e conferir a exatidão da escrituração;

b) evitar alcances, desperdícios, erros e, se ocorridos, identificá-los.

5 AUDITORIA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Explicou-se anteriormente que a escrituração contábil consiste na técnica de mensuração e

registro dos fatos e atos administrativos que provocam variações no patrimônio das aziendas. Tal

procedimento envolve a identificação dos eventos que atingem o patrimônio econômico das entidades

e, quando são identificados, são mensurados – qualitativamente e quantitativamente, em moeda

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corrente – registrados e classificados segundo as rubricas contábeis. Este conjunto de rotinas tem como

resultado final as demonstrações contábeis, responsáveis por levar informações financeiras sobre a

entidade de forma confiável e útil ao processo decisório dos interessados.

Deste modo, a auditoria das demonstrações contábeis consiste em um processo pelo qual é

verificado se as informações apregoadas nestas demonstrações são condizentes com a realidade

patrimonial, econômica e financeira da entidade; com a finalidade de atribuir um maior grau de

confiabilidade para a contabilidade da organização.

No contexto econômico atual, este tipo de auditoria adquire uma relevância cada vez mais

acentuada, isso porque os demonstrativos contábeis são, em alguns casos, a única fonte de informação

com pressupostos de relevância e confiabilidade que o usuário externo dispõe para auxiliá-lo em

decisões de investimentos e concessão de empréstimos e financiamentos, assim como outros vínculos

de negócios com a entidade em questão.

Assim, entende-se que o papel essencial da auditoria é o de reduzir o risco das informações4

prestadas pela contabilidade e, desta maneira, contribuir para o aumento da confiança e credibilidade

das mesmas.

Existe também uma série de benefícios que, segundo Boynton, Raymond e Kell (2002, p.69), são

decorrentes do processo de auditoria. Dentre os quais é destacada a possibilidade de se ter acesso ao

mercado de capitais, negociando títulos em bolsa de valores com a finalidade de buscar investidores e

expandir seu capital. No caso de empresas pequenas, quando suas demonstraçãos são auditadas,

aumenta-se a possibilidade de se obter empréstimos bancários a menor custo, pois o risco da

informação das demonstrações auditadas é menor, fazendo com que os credores venham a exigir menor

taxa de juros. Há também, segundo os mesmos autores, desincentivo a ineficiência e fraudes, além da

melhoria da eficiência das operações e dos controles internos, decorrente de sugestões feitas pelo

auditor em prol da melhoria da eficiência operacional de seu cliente.

Há que se falar, também, nas limitações à auditoria das demonstrações. Por exemplo, como os

testes seletivos são feitos com base em amostragem dos registros contábeis e da documentação

comprobatória, não há como, no curto espaço de tempo que se executa um processo de auditoria, fazer

análise completa de todos os registros contábeis do exercício, isso acabaria por incorrer em um custo

elevado.

4 Corresponde o risco de que as demonstrações contábeis possam estar incorretas, incompletas ou viesadas.

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Outro ponto que é crítico, em se tratando de auditoria, é a questão das estimativas contábeis.

Segundo Boynton, Raymond e Kell (2002, p.71), “[...] estimativas são parte integrante do processo

contábil [...]”, não se podendo ponderar o desfecho que tomaria a medida da incerteza, deste modo, a

auditoria de per si não atribuiria maior grau de certeza ou exatidão às demonstrações contábeis, mas sim

de confiabilidade, como garantia de que, de maneira geral, as informações prestadas são condizentes

com a realidade da organização. Um exemplo de estimativa contábil seria a “Provisão para Créditos de

Liquidação Duvidosa”, a qual deve ser feita, em decorrência do princípio contábil da prudência, mediante

estimativa elaborada, com base na média aritmética dos créditos inadimplentes do três últimos

exercícios sociais imediatamente anteriores ao exercício social de que tratam as demonstrações

auditadas.

6 PLANEJAMENTO DE AUDITORIA

O Planejamento é fase inicial de todo e qualquer trabalho, projeto ou tarefa, sendo uma

ferramenta administrativa que visa estabelecer métodos adequados para a preparação dos mesmos. No

que concerne ao planejamento da auditoria, este permite que seja traçada uma estratégia para todo

processo, auxiliando o auditor no desenvolvimento do plano de trabalho, principalmente se houver

envolvimento de outros auditores e especialistas.

De acordo com Boynton, Raymond e Kell (2002, p. 248), “Planejamento de auditoria envolve o

desenvolvimento de uma estratégia global para que se possibilite sua condução, dada sua extensão e

complexidade.” O planejamento se inicia logo após a conclusão da auditoria anterior, continuando até a

conclusão da auditoria atual. A definição, pelo auditor, da estratégia global, determina o alcance, época

e direção dos trabalhos, para possibilitar o plano de desenvolvimento da auditoria. Ainda segundo o

autor, as principais fases do planejamento da auditoria são:

• Entendimento da entidade e do seu ambiente;

• Entendimento de Controles Internos

• Materialidade no planejamento e na execução da auditoria;

• Identificação e avaliação de riscos;

• Cronograma do planejamento.

6.1 Entendimento da entidade e do seu ambiente

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É considerada a etapa crítica do processo de auditoria que envolve o conhecimento do negócio

do cliente e do nicho de mercado em que ele se encontra. A partir desse conhecimento e obtenção de

outras informações o auditor desenvolverá expectativas sobre o que deve ser relatado nas

demonstrações contábeis.

Ressalta-se a importância de que o auditor entenda vários aspectos cruciais do ciclo de negócios,

como demonstrado por Boynton, Raymond e Kell (2002, p. 250):

• Metas da administração e recursos organizacionais;

• Os produtos, fornecedores, clientes e concorrentes da entidade;

• Os principais processos e o ciclo operacional da entidade;

• Decisões de financiamento e investimento;

• Análise de risco operacional da atividade da empresa.

A compreensão da natureza da entidade oferece condições para que o auditor entenda a

estrutura organizacional, operações de negócios, localização das instalações, dependência de clientes e

fornecedores e gastos com pesquisa e desenvolvimento.

6.2 Entendimento de Controles Internos

Na fase de planejamento, devem ser identificadas as características, os aspectos relevantes e os

componentes do controle interno. Segundo Boynton, Raymond e Kell (2002, p. 250), a administração

aplica controles internos objetivando três requisitos:

• Manter ou elevar o grau de confiabilidade das informações financeiras a fim de fornecer

segurança aos usuários no que tange à conformidade entre as peças contábeis e os critérios

normativos vigentes;

• Obediência a leis e regulamentos aplicáveis; o auditor é responsável pela detecção de erros e

fraudes ou atos ilegais cometidos pela administração ou empregados;

• Eficácia e eficiência de operações.

6.3 Materialidade no planejamento e na execução da Auditoria

Identificar as afirmações relevantes que constam nas demonstrações contábeis a fim de verificar

se estão em consonância com a realidade patrimonial da entidade e de acordo com legislação e normas

da contabilidade. Se houver transações de saldos contábeis ou divulgação que, por alguma razão,

incorram em distorção de valores influenciando na tomada de decisão pelos usuários das demonstrações

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contábeis, o auditor deve determinar níveis de materialidade que possam ser aplicados a essas

transações, saldos contábeis ou divulgações com o objetivo de avaliar os riscos de distorções relevantes.

6.4 Avaliação dos Riscos de Distorção

Nos processos de avaliação de risco de distorção das demonstrações contábeis devem ser feitos

questionamentos à administração para obtenção de informações que ajudem na identificação de riscos

de distorção por consequência de fraude ou erro.

Os procedimentos de observação e inspeção podem auxiliar o auditor a conseguir informações

adicionais que poderiam não ter sido percebidas anteriormente. Nestes procedimentos podem ter

obtidas informações financeiras ou não financeiras.

6.5 Cronograma do Planejamento

Nesta fase do planejamento devem ser evidenciadas as etapas e as épocas em que o trabalho

será realizado de acordo com a entidade auditada. No cronograma devem estar descritas as áreas,

unidades e partes relacionadas que estarão envolvidas com o processo de auditoria.

6.6 Testes de Auditoria

As rubricas contábeis guardam uma relação lógica direta entre si; isso se dá em decorrência do

método de escrituração das partidas dobradas5. Assim, quando se processa a análise de determinada

conta contábil, o auditor procura identificar a contrapartida lógica da mesma. Por exemplo,

contrapartida de “Estoques” pode ser “Custos”, quando a conta de estoque estiver dando uma saída de

recurso; ou pode ser a conta “Fornecedores”, quando a conta de estoques estiver registrando a entrada

de mercadorias.

Entendendo isto, no dizer de Almeida (2005, p.24-25) o saldo de uma conta pode estar

excessivamente registrado a maior – superavaliado -, ou para menos – subavalido. Por conta disto, o

auditor procura realizar os teste de subavaliação e superavaliação nas rubricas contábeis para identificar

o grau de erro no que se tratar disto.

Partindo desse pressuposto, Almeida (2005, p.26) exemplifica:

5 Método segundo o qual, todo recurso registrado pela contabilidade deve ter um lançamento em par. Assim, o total de recursos registrados como origem de recurso (Crédito) deve ser igual ao total de aplicação de recursos (débito).

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[…] se durante o exame das demonstrações contábeis de uma empresa, para o ano findo em 31-12-20x0, o auditor descobre que as despesas de pessoal estão superavaliadas, em função de os salários do mês de janeiro de 20x1 terem sido provisionados indevidamente em 20x0, e é evidente que a conta credora de salários a pagar, classificada no passivo circulante, também está superavaliada.

Percebe-se como a lógica trazida pelas partidas dobradas contribui para a análise de auditoria

com base em testes. Existem também outros procedimentos como contagem física - numerários de caixa

e estoques -; confirmação com terceiros – contas a receber e a pagar. (ibdem, p.35)

6 PARECER DO AUDITOR EXTERNO

O parecer do auditor se constitui no meio formal pelo qual comunica-se as partes interessadas a

conclusão obtida, após o procedimento de auditoria, sobre o que constam nas demonstrações contábeis.

Quanto ao parecer propriamente dito, este traz consigo, segundo recomenda Boynton, Raymond

e Kell (2002, p.83), alguns elementos básicos, por exemplo: “[...] deve estabelecer a distinção clara entre

as responsabilidades da administração e as do auditor; [...]” devendo registrar que a responsabilidade

pelas demonstrações contábeis é da administração da companhia auditada, assim como, a

responsabilidade do auditor é “[...] realizar o processo de auditoria e expressar uma opinião, com base

no que encontrar em seus trabalhos”.

O parecer deve, ainda, indicar claramente o caráter de um auditoria e identificar suas várias

limitações, por exemplo, o auditor deve reconhecer, em seu parecer, que busca apenas um nível de

segurança com razoabilidade e não segurança absoluta, informando ao usuário das demonstrações que

existem riscos em auditoria, uma vez que tal procedimento busca identificar distorções relevantes nos

demonstrativos, não todas as distorções. (ibdem, p.83)

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o fenômeno da financeirização da economia, surgimento de grandes bolsas de valores e

mercados financeiros cada vez mais interligados, o mercado e investidores passaram a exigir e depender,

cada vez mais, de fonte de informação segura para guiá-los em seu processo de tomada de decisão.

Não apenas isto, mas também a sociedade como um todo, englobando o conceito de

stockholders, usa a informação contábil para avaliar o quanto a entidade está sendo eficiente no uso dos

recursos que ela usa para produzir bens ou serviços e, deste modo, contribuir para o crescimento do país

e da riqueza nacional.

Não bastando isso, mas verificando fenômenos bem anteriores a época atual, com o advento da

crise de 1929, a chamada crise da superprodução, órgãos reguladores e as sociedades passaram exigir

mais informação sobre as empresas e entidades governamentais, como uma forma de observar o grau

de transparência das entidades em relação ao ambiente no qual ele se encontra inserida.

Isso acabou por aumentar o grau de importância da auditoria perante a sociedade, quer sejam

por investidores, procurando saber se as companhias em que investem, ou pretendem investir, são

rentáveis; quer seja o governo e demais órgãos reguladores, bancos de investimento e fornecedores,

entende-se que eles precisam de uma fonte segura e confiável de informação para guiar seus processos

decisórios, e a auditoria vêm agregar confiança e relevância às informações contábeis com a finalidade

de aumentar ou manter a credibilidade das organizações, além de contribuir para a melhoria da

eficiência administrativa e de controles internos organizacionais.

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Page 14: Auditoria Contábil - Aspectos Básicos

REFERÊNCIAS

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