CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

22
PRONATEC - SED Curso Técnico em Multimeios Didáticos 1

Transcript of CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

Page 1: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

1

Page 2: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

2

MÓDULO 3: A PSICOLOGIA E A APRENDIZAGEM

Olá, aluno (a)!!!

Neste terceiro módulo, você estudará sobre a influência das teorias psicológicas no processo ensino-aprendizagem. Como toda ciência, a Pedagogia não caminha só em suas pesquisas sobre os processos educativos, suas teorias, técnicas e métodos possuem profundas relações com outras ciências. Tendo isto em mente, você estudará como o behaviorismo e as teorias de Wallon, Piaget e Vygotsky projetam luz ao processo de aprendizagem do ser humano. Os objetivos propostos para este estudo são:

a. Analisar as teorias que descrevem o processo psicológico de desenvolvimento do ser humano; b. Compreender a teoria behaviorista da aprendizagem; c. Analisar a importância da afetividade para o processo de aprendizagem; d. Entender que o ser humano passa por períodos de desenvolvimento e que os mesmos interferem diretamente no

desenvolvimento dos processos cognitivos; e. Ponderar sobre a importância da cultura e da interação social como meios de aprendizagem; f. Comparar os elementos conceituais das teorias de Wallon, Piaget e Vygotsky.

Com estes objetivos a serem alcançados, você estudará sobre os principais conceitos do behaviorismo sobre a aprendizagem humana; o valor da efetividade para a educação; a importância de se considerar os períodos do desenvolvimento humano para a execução de projetos educativos; a relevância da cultura e da interação social para a aquisição do conhecimento e o papel do professor diante das teorias da aprendizagem e do fazer pedagógico.

Sendo assim, veja que este módulo está dividido em seis subtópicos:

3.1 Conceituando Aprendizagem; 3.2 A Teoria de Wallon e os Processos de Aprendizagem; 3.3 A Teoria de Piaget e os Processos de Aprendizagem;

Page 3: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

3

3.4 A Teoria de Vygotsky e os Processos de Aprendizagem; 3.5 Reflexões Sobre as Teorias Psicológicas e os Processos de Aprendizagem; 3.6 O papel dos profissionais em educação diante dos processos da aprendizagem Esperamos que estes conteúdos possam conceder a você uma visão mais ampla sobre a influência dos fatores

psicológicos na educação e possibilitem uma mais acurada apreciação sobre a construção dos processos educativos com vistas à preservação da cultura e desenvolvimento humano.

Fique atento às várias oportunidades de aprendizagem, aprofundamento dos conteúdos, reflexões sobre os tópicos desenvolvidos e oportunidades de avaliação do processo educativo. Os ícones abaixo sempre levarão vocês para novas experiências no maravilhoso mundo do saber.

Bons estudos!!!

Prof. Dr. Israel Serique dos Santos

Page 4: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

4

3.1 CONCEITUANDO APRENDIZAGEM

Olá, aluno (a)!!

Após nosso estudo sobre as teorias psicológicas a respeito do desenvolvimento humano, vamos estudar de que forma estes estudos, teorizações e esquemas são relevantes para a reflexão, execução e aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem.

No Ensino Superior, a disciplina Psicologia da Educação e Psicologia da Aprendizagem são as cadeiras teóricas que oportunizam aos alunos dos cursos de licenciatura entrarem em contato com as teorias psicológicas do desenvolvimento humano e suas implicações nos processos educativos. Através dessas disciplinas, os cursos de formação de professores propõem aos graduandos

a. Analisar os processos de aprendizagem; b. Estudar os fatores biológicos que interferem no processo educativo c. Compreender como os fatores sociais interferem diretamente no processo educativo; ora como fatores

decisivos para a sua eficácia, ora como elementos que levantam obstáculo ao seu sucesso.

A problematização destas questões se justifica a partir da importância do questionamento fundamental que a Psicologia da Aprendizagem procura responder: como aprendemos?

Quando olhamos ao nosso redor, ficamos perplexos diante de tantos avanços tecnológicos e científicos que a humanidade tem alcançado em sua caminhada na terra. O ser humano sobreviveu à precariedade das sociedades arcaicas; desenvolveu sua capacidade de reflexão crítica através da cultura grega; percebeu a importância do Direito romano como meio de organização social; afirmou o valor da ética judaico-cristã como meio de boa vivência social; redescobriu a cultura clássica como lente interpretativa do mundo e a possibilidade de estudar o cosmo pelos estritos parâmetros da razão; aprofundou seus estudos da natureza; produziu a revolução industrial; enviou homens para a lua e ainda hoje percebe que seu conhecimento do mundo e de si mesmo é um ínfimo ponto diante do muito que ele ainda pode aprender.

http://4.bp.blogspot.com/-VGmOwkFRX-8/VeZqt7pY9iI/AAAAAAAAS3g/gj--

uHulg5o/s400/As%2BRela%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bentre%2BCi%25C3%25AAncia%252C%2BTecnologia%252C%2BSociedade%2Be%2BAmbiente.png

Page 5: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

5

A busca do homem por novos avanços tecnológicos, novos lugares para exploração e novas possiblidades de aperfeiçoamento evidenciam sua inalienável vocação para a aprendizagem. Desde o nascimento, estamos envolvidos com este processo e o mesmo só tem fim com a morte.

Toda a existência humana está repleta de oportunidades para o conhecimento do mundo físico e social. Dotado de um organismo com múltiplos sentidos, conectados e interligados por meio de um sistema nervoso, o homem percebe e racionaliza sua vivência no mundo como nenhum outro ser vivo na terra.

Em sua história, o homem não somente viu os fenômenos da natureza e sentiu sua influência e poder. Ele percebeu os acontecimentos, viu as suas relações, relacionou as conclusões de suas observações, entendeu os fenômenos e replicou suas manifestações. Ele dominou a natureza, pois aprendeu sobre ela e com ela.

Durante todo o transcurso histórico da humanidade, a aprendizagem foi o grande diferencial que distanciou qualitativamente o ser humano dos animais irracionais. Estes, sempre vivendo debaixo das leis sazonais da natureza e de suas intempéries, mantém o mesmo modo de existência e sobrevivência ao mundo físico; vivendo sob a lei dos instintos. Deve-se destacar que a sua existência limitada pelos condicionantes genéticos e instintivos próprias da espécie da qual procedem.

O ser humano, diferentemente do quadro acima descrito, é notavelmente um aprendiz por excelência. As leis orgânicas, físicas, genéticas, fisiológicas, bioquímicas etc., que o acompanham desde sua vida intrauterina, não são leis deterministas de sua existência, produção e conhecimento no mundo. Imbricando-se na complexa realidade da aprendizagem, estas leis não são, necessariamente, elementos limitadores, mas sim vias de acesso ao conhecimento, ao processo de aprendizagem e a transformação do mundo.

Portanto, enquanto realidade profundamente humana, a aprendizagem pode ser conceituada como sendo o processo de aquisição de saberes, habilidades e competências, por meio da complexa relação entre o mundo fisiológico, natural, social e intrapessoal, no qual as capacidades cognitivas, sensitivas, emocionais e relacionais se imbricam na tarefa de se conhecer o mundo, a si mesmo, o outro e a sociedade.

Segundo McConnell,

Page 6: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

6

Aprendizagem é a progressiva mudança do comportamento que está ligada, de um lado, as sucessivas apresentações de uma situação e, de outro, a repetidos esforços dos indivíduos para enfrentá-la de maneira eficiente (apud PILETTI, 2008, p. 32).

Segundo esta conceituação McConnell, a aprendizagem deve ser vista como uma realidade progressiva. Sua condição é o perene estado de vir a ser. Por ela o ser humano se constrói a partir das situações pelas quais passa. Sua busca por uma ação eficaz para a resolução de problemas é o elemento catalisador de situações favoráveis à aprendizagem.

Além disso, a aprendizagem é mudança de comportamento, é um processo que transforma o indivíduo de dentro para fora. A aquisição do conhecimento não é o alvo maior do processo de aprendizagem, o grande desafio é transformar as informações em estímulos e meios de conhecimento do mundo, pois a função essencial do saber constitui-se em aprimorar o homem para a vida.

No Ensino Superior, a disciplina Psicologia da Educação e Psicologia da Aprendizagem são as cadeiras teóricas que oportunizam aos alunos dos cursos de licenciatura entrarem em contato com as teorias psicológicas do desenvolvimento humano e suas implicações nos processos educativos. Através dessas disciplinas, os cursos de formação de professores propõem aos graduandos: a. Analisar os processos de aprendizagem; b. Estudar os fatores biológicos que interferem no processo educativo; c. Compreender como os fatores sociais interferem diretamente no processo educativo; ora como fatores decisivos para a sua eficácia, ora como elementos que levantam obstáculo ao seu sucesso.

Toda a existência humana está repleta de oportunidades para o conhecimento do mundo físico e social. Dotado de um organismo com múltiplos sentidos, conectados e interligados por meio de um sistema nervoso, o homem percebe e racionaliza sua vivência no mundo como nenhum outro ser vivo na terra.

Durante todo o transcurso histórico da humanidade, a aprendizagem foi o grande diferencial que distanciou qualitativamente o ser humano dos animais irracionais.

O ser humano é um aprendiz por excelência. As leis orgânicas, físicas, genéticas, fisiológicas, bioquímicas etc., que o acompanham desde sua vida intrauterina, não são leis deterministas de sua existência, produção e conhecimento no mundo. Imbricando-se na complexa realidade da aprendizagem, estas leis não são, necessariamente, elementos limitadores, mas sim vias de acesso ao conhecimento, ao processo de aprendizagem e a transformação do mundo.

A aprendizagem pode ser conceituada como sendo o processo de aquisição de saberes, habilidades e competências, por meio da complexa relação entre o mundo fisiológico, natural, social e intrapessoal, no qual as capacidades cognitivas, sensitivas, emocionais e relacionais se imbricam na tarefa de se conhecer o mundo, a si mesmo, o outro e a sociedade.

Segundo McConnell, a aprendizagem deve ser vista como uma realidade progressiva. Sua condição é o perene estado de vir a ser. Por ela o ser humano se constrói a partir das situações pelas quais passa. Sua busca por uma ação eficaz para a resolução de problemas é o elemento catalisador de situações favoráveis à aprendizagem.

A aprendizagem é mudança de comportamento, é um processo que transforma o indivíduo de dentro para fora. A aquisição do conhecimento não é o alvo maior do processo de aprendizagem, o grande desafio é transformar as informações em estímulos e meios de conhecimento do mundo, pois a função essencial do saber constitui-se em aprimorar o homem para a vida.

Page 7: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

7

3.2 A TEORIA DE WALLON E OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

Para Wallon, os processos de aprendizagem possuem relação com aspectos fisiológicos do ser humano. Esse autor afirma uma estreita relação entre o organismo e as funções psíquicas, as quais também recebiam forte influência do meio social.

A aprendizagem e o desenvolvimento do ser humano, portanto, devem ser vistos a partir da interação contínua e sempre imbricada dos aspectos fisiológicos e sociais, ou seja, das estruturas e disposição internas e das realidades sócio-históricas que o rodeiam.

Nessa dinâmica, a infância constitui-se em fase importantíssima para o desenvolvimento humano e tempo de singular oportunidade para a aprendizagem, pois é nela que os fundamentos da vida adulta são construídos. Sendo assim, todo e qualquer investimento educacional que se faça nessa fase do desenvolvimento humano terá implicações diretas e significavas na fase adulta.

É preciso estar atento aos aspectos psicogenéticos e relacionais que envolvem o processo de aprendizagem e de desenvolvimento da criança. Os elementos psicogenéticos fazem referência às possiblidades internas de aprendizagem proporcionadas pelas estruturas fisiológicas e mentais que constituem o indivíduo e que pertencem as características próprias da espécie humana.

Estas estruturas fisiológicas e mentais, embora façam parte de todo ser humano, se apresentam e se desenvolvem de forma diversa em cada indivíduo. Nesse sentido, a diversidade de pessoas no mesmo espaço educativo é um desafio significativo para todo aquele que trabalha com educação, pois sua realidade é a afirmação de que pessoas distintas aprenderão por caminhos, estratégias e meios diversos.

Nesse amplo leque de possiblidades, professores, coordenadores, técnicos em multimeios didáticos, devem buscar o entendimento sobre o “como” e o “pelos quais” elementos do processo educativo o ensino pode ser realizado. Para esse desafio, as estratégias de abordagem do conteúdo, a prática de metodologias de socialização dos saberes e o uso de multimeios didáticos dão suporte ao professor e ao aluno.

WALLON 1 https://www.youtube.com/watch?v=5Iv1nEr-3zY

WALLON 2 https://www.youtube.com/watch?v=HGTbP5knhRQ

Page 8: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

8

Além disso, é instrutivo que aqueles que trabalham na educação também percebam o papel relevante que a convivência social tem sobre o processo ensino-aprendizagem. Nela, a realidade sócio-histórica, na qual a ação educativa está imersa, se apresenta (com todos os seus elementos culturais, religiosos, políticos, econômicos, relacionais etc.) e revela de que forma os indivíduos interagem emocionalmente com o mundo social.

Esta percepção é importante na teoria de Wallon, pois a aprendizagem e o desenvolvimento humano, segundo esse autor, são resultantes, também, destes elementos externos aos indivíduos, visto que o mundo social não apresenta apenas desafios ao ser humano, mas também lhe oferece subsídios para que os mesmos sejam solucionados.

O desenvolvimento humano deve ser visto como um processo contínuo, não linear, no qual os fatores internos e externos estão em constantes associações, relações, nexos e complementaridade. Existem movimentos de fluxo e refluxo adaptativos aos novos desafios impostos pelo meio externo e nos quais o ser humano busca uma reorganização qualitativa de seu modo de perceber e entender o mundo. Nessa reorganização, estão presentes os elementos como a motricidade, a cognição e a afetividade, sob a autonomia resultante da pessoalidade e individualidade daquele que aprende.

A motricidade concede ao ser humano os meios de interação com o mundo externo, ela possibilita o contato com o mundo concreto, social e afetivo, por isso, ela não pode ser vista apenas como capacidade mecânica relacionada à mobilidade, a motricidade é, de fato, um meio de aquisição de conhecimento e desenvolvimento em todas as suas facetas.

A cognição viabiliza a obtenção do conhecimento pelos processos de análise, comparação, relação, associação, exclusão etc. das informações do mundo externo. Ela, portanto, é uma realidade que opera nas estruturas internas do ser humano e, ao mesmo tempo, faz análises e estabelece resoluções sobre o que existe no mundo externo ao ser humano e em sua realidade interna.

A afetividade, conceito basilar na teoria de Wallon, diz respeito às emoções, anseios e sentimentos, peculiarmente presentes no ser humano como realidades também resultantes do processo de interação com o mundo externo. Elas evidenciam que a vivência no mundo deixa nos

Wallon concordava com a teoria freudiana, e com os teóricos do desenvolvimento da época, de que o recém-nascido, em decorrência de sua indiferenciação somato-psíquica, expressava a afetividade de forma sincrética a partir das experiências de bem-estar ou mal-estar propiciadas pelas relações do organismo com o meio interno e externo. O seio materno representa este momento no qual o saciar da fome mescla-se com o surgimento das primeiras experiências amorosas. E ao longo do desenvolvimento a afetividade vai alternando com o conjunto funcional cognitivo em um movimento dialético ora centrípeto e ora centrífugo, e que inclui ainda o conjunto motor, como base de sustentação e expressão. Assim, podemos compreender a afetividade, de forma abrangente, como um conjunto funcional que emerge do orgânico e adquire um status social na relação com o outro e que é uma dimensão fundante na formação da pessoa completa. FERREIRA; ACIOLY-RÉGNIER, 2010, p. 27).

Page 9: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

9

indivíduos marcas afetivas relevantes que direcionam seu modo de integração como o mundo social e seu modo de aprender e desenvolver-se.

Para Wallon, o elemento afetivo tem o poder de estimular o ser humano à aprendizagem em suas várias áreas. A aprendizagem da cultura, da vivência social, da motricidade, dos saberes escolares etc., têm na afetividade o suporte necessário para a sua iniciação e desenvolvimento. Ela motiva e energiza o corpo para a ação de aquisição do conhecimento e desenvolvimento.

Fazendo a gestão destes três elementos está o indivíduo: ser afetivo, relacional, pensante, reflexivo e racional. É ele quem percebe as inúmeras possiblidades de conhecer e ressignificar o aprendizado; é ele quem busca integrar a motricidade, a cognição e a afetividade em busca de seu aprimoramento; é ele quem decide por aprender e desenvolver-se a partir dos estímulos emocionais que lhe são apresentados.

Diante dessas considerações, finalizamos o pensamento de Wallon citando três questões relevantes e resultantes de sua teoria:

Sua concepção psicogenética dialética do desenvolvimento apresenta uma grande contribuição para a compreensão do humano como pessoa integral, ajudando na superação da clássica divisão mente/corpo presente na cultura ocidental e dos seus múltiplos desdobramentos;

Engloba em um movimento dialético a afetividade, a cognição e os níveis biológicos e socioculturais e também traz contribuições para o processo ensino-aprendizagem;

Valoriza a relação professor-aluno e a escola como elementos fundamentais no processo de desenvolvimento da pessoa completa; (FERREIRA; ACIOLY-RÉGNIER, 2010, p. 24,25).

Page 10: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

10

Para Wallon, os processos de aprendizagem possuem relação com aspectos fisiológicos do ser humano. Esse autor afirma uma estreita

relação entre o organismo e as funções psíquicas, as quais também recebiam forte influência do meio social A aprendizagem e o desenvolvimento do ser humano, portanto, devem ser vistos a partir da interação contínua e sempre imbricada dos

aspectos fisiológicos e sociais, ou seja, das estruturas e disposição internas e das realidades sócio-históricas que o rodeiam. A infância constitui-se em fase importantíssima para o desenvolvimento humano e tempo de singular oportunidade para a

aprendizagem, pois é nela que os fundamentos da vida adulta são construídos. Os elementos psicogenéticos fazem referência às possiblidades internas de aprendizagem proporcionadas pelas estruturas fisiológicas e

mentais que constituem o indivíduo e que pertencem as características próprias da espécie humana. A diversidade de pessoas no mesmo espaço educativo é um desafio significativo para todo aquele que trabalha com educação, pois sua

realidade é a afirmação de que pessoas distintas aprenderão por caminhos, estratégias e meios diversos. Os professores, coordenadores, técnicos em multimeios didáticos, devem buscar o entendimento sobre o “como” e o “pelos quais”

elementos do processo educativo o ensino pode ser realizado. O desenvolvimento humano deve ser visto como um processo contínuo, não linear, no qual os fatores internos e externos estão em

constantes associações, relações, nexos e complementaridade. Existem movimentos de fluxo e refluxo adaptativos aos novos desafios impostos pelo meio externo e nos quais o ser humano busca uma reorganização qualitativa de seu modo de perceber e entender o mundo.

A motricidade concede ao ser humano os meios de interação com o mundo externo, ela possibilita o contato com o mundo concreto, social e afetivo.

A cognição viabiliza a obtenção do conhecimento pelos processos de análise, comparação, relação, associação, exclusão etc. das informações do mundo externo.

A afetividade, conceito basilar na teoria de Wallon, diz respeito às emoções, anseios e sentimentos, peculiarmente presentes no ser humano como realidades também resultantes do processo de interação com o mundo externo.

O elemento afetivo tem o poder de estimular o ser humano à aprendizagem em suas várias áreas. A aprendizagem da cultura, da vivência social, da motricidade, dos saberes escolares etc., têm na afetividade o suporte necessário para a sua iniciação e desenvolvimento. Ela motiva e energiza o corpo para a ação de aquisição do conhecimento e desenvolvimento.

É o indivíduo quem percebe as inúmeras possiblidades de conhecer e ressignificar o aprendizado; é ele quem busca integrar a motricidade, a cognição e a afetividade em busca de seu aprimoramento; é ele quem decide por aprender e desenvolver-se a partir dos estímulos emocionais que lhe são apresentados.

Page 11: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

11

3.3 A TEORIA DE PIAGET E OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

O enfoque cognitivista dado por Piaget apresenta sua percepção sobre o processo de aprendizagem, no qual as estruturas mentais de compreensão e interação com a realidade são consideradas importantes no processo de aquisição do conhecimento.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 127), na teoria de Piaget, “o homem é dotado de estruturas biológicas, herda uma forma de funcionamento intelectual, ou seja, uma maneira de interagir com o ambiente que o leva à construção de um conjunto de significados. A interação deste sujeito com o ambiente permitirá a organização destes significados em estruturas cognitivas”.

Como expõem os autores acima, para Piaget o processo de aprendizagem é constituído por dois elementos básicos, o sujeito e o ambiente. É na relação de interação do primeiro com o segundo que o processo de aprendizagem tem sua gênese e desenvolvimento dinâmico, nos quais as estruturas cognitivas alcançam gradativamente sua organização.

Sendo assim, aqueles que desenvolvem atividades educativas (professores) ou colaboram com o planejamento e execução das mesmas (gestores, psicopedagogos, técnicos em multimeios didáticos etc.) devem sempre estar atentos ao processo de valorização da interação entre o educando e os objetos externos a ele. É preciso colocar em destaque a figura do aluno e suas potencialidades.

Os espaços escolares devem ser construídos, o ambiente de sala de aula deve ser fomentado, as aulas devem ser elaboradas e os meios de didáticos selecionados, a partir do referencial teórico da importância do educando no processo de aprendizagem. Estimulá-lo à interação, ao contato, a visualização da realidade são caminhos largos à eficácia do processo educativo.

Quanto mais o aluno tomar para si a tarefa de problematizar o mundo ao seu redor, buscando soluções para os embates que as interações lhes impõem, tanto mais ele alcançará novos níveis de percepção da realidade e fará novas conexões lógicas e práticas nas situações vividas e por serem experienciadas.

PIAGET https://www.youtube.com/watch?v=SJiK65NiTDA

Page 12: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

12

Usando-se as lentes interpretativas de Piaget, estas ações pedagógicas devem considerar a importância da adaptação e dos estágios de desenvolvimento humano. Primeiramente, a respeito da adaptação Bock, Furtado e Teixeira (2002, p, 127) afirmam que a mesma “[...] é o mecanismo que permite ao homem não só transformar os elementos assimilados, tornando-os parte da estrutura do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomodação deste organismo aos elementos incorporados”.

Em segundo lugar, quanto aos estágios de desenvolvimento, é preciso considerar que para cada um deles o ser humano tende a estar habilitado para certas atividades mentais, motoras e relacionais. Esta compreensão deve fazer muita diferença quando as atividades educativas são planejadas. Consciente dos mesmos, o professor deve procurar ajustar todo o processo ensino-aprendizagem as suas características.

Da Educação Infantil ao Ensino Médio, é possível planejar a aula, organizar o espaço físico da sala, escolher uma metodologia, separar instrumentos de ensino, idealizar uma forma de abordagem do conteúdo, tendo como referência o fato de que o aluno, em determinado estágio, possui certas características físicas, emocionais, relacionais, habilidades motoras, capacidades cognitivas etc., adequadas para certas atividades educativas e para outras não.

No processo de preparação de uma aula, é relativamente comum que certos planejamentos não alcancem os objetivos didáticos propostos. Diante dessa realidade, o professor deve se perguntar se na elaboração da referida aula foram consideradas as características reais dos alunos. Debruçar-se reflexivamente sobre esta questão é passo fundamental para a eficácia do processo ensino-aprendizagem e para a preparação de outras atividades educativas.

Page 13: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

13

O enfoque cognitivista dado por Piaget apresenta sua percepção sobre o processo de aprendizagem, no qual as estruturas mentais de compreensão e interação com a realidade são consideradas importantes no processo de aquisição do conhecimento.

Na teoria de Piaget, “o homem é dotado de estruturas biológicas, herda uma forma de funcionamento intelectual, ou seja, uma maneira de interagir com o ambiente que o leva à construção de um conjunto de significados. A interação deste sujeito com o ambiente permitirá a organização destes significados em estruturas cognitivas.

Aqueles que desenvolvem atividades educativas (professores) ou colaboram com o planejamento e execução das mesmas (gestores, psicopedagogos, técnicos em multimeios didáticos etc.) devem sempre estar atentos ao processo de valorização da interação entre o educando e os objetos externos a ele.

Os espaços escolares devem ser construídos, o ambiente de sala de aula deve ser fomentado, as aulas devem ser elaboradas e os meios de didáticos selecionados, a partir do referencial teórico da importância do educando no processo de aprendizagem.

Quanto mais o aluno tomar para si a tarefa de problematizar o mundo ao seu redor, buscando soluções para os embates que as interações lhes impõem, tanto mais ele alcançará novos níveis de percepção da realidade e fará novas conexões lógicas e práticas nas situações vividas e por serem experienciadas.

Adaptação é o mecanismo que permite ao homem não só transformar os elementos assimilados, tornando-os parte da estrutura do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomodação deste organismo aos elementos incorporados.

É possível planejar a aula, organizar o espaço físico da sala, escolher uma metodologia, separar instrumentos de ensino, idealizar uma forma de abordagem do conteúdo, tendo como referência o fato de que o aluno, em determinado estágio, possui certas características físicas, emocionais, relacionais, habilidades motoras, capacidades cognitivas etc., adequadas para certas atividades educativas e para outras não.

Page 14: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

14

3.4 A TEORIA DE VYGOTSKY E OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

A teoria de Vygotsky da aprendizagem está ligada necessariamente aos seus postulados sobre o desenvolvimento humano. Um seu esquema de análise, este autor fala sobre os processos mentais superiores. Estes processos mentais seriam elementos constituintes do modo de saber humano que o diferenciariam qualitativamente dos animais irracionais.

No âmbito dos mecanismos psicológicos da mente humana, estes processos tornam explícito o complexo modo pelo qual o ser humano percebe o mundo, reage a ele e aprende. Nessa dinâmica, o homem se diferencia dos animais na medida em que:

a. Ele apresenta o domínio reflexivo sobre suas ações;

b. Ele se mostra relativamente livre dos condicionantes circunstanciais para a sua ação.

Distinto dos animais irracionais, o ser humano é o único capaz de pensar para além da realidade concreta, presencial e temporal. Ele é capaz de intuir possibilidades; projetar o futuro; analisar circunstâncias; correlacionar conhecimentos; diversificar a aplicação dos conhecimentos adquiridos; aprender como aprender; dar significações a objetos, gestos, elementos da natureza etc..

Na perspectiva de Vygotsky, o homem apresentaria dois tipos de realidades organizadoras e gestoras de suas ações e relações com o mundo. As funções psicológicas superiores seriam aquelas que dizem respeito às capacidades elencadas acima e a outras que pertencem à mesma esfera de realização e complexidades. O segundo tipo de realidade seria constituída pelos mecanismos mais elementares de ação e relação com o mundo como, por exemplo, as ações reflexas, as reações automatizadas e os atos ordinários, resultantes de processos de associações simples (OLIVEIRA, 1997, p. 26).

Quando falamos das ações reflexas, estamos nos referindo àqueles atos/comportamentos originados em estímulos exteriores e para os quais o ser humano não passa por um processo de reflexão crítica e nem de ação voluntária para que as mesmas se efetivem. Elas pertencem ao âmbito das ações instantâneas e involuntárias do ser humano. Como exemplo disso, podemos citar o movimento da criança em busca da amamentação logo após ter nascido e ser posta no peito de sua mãe.

https://andersonyankee.files.wordpress.com/2012/02/homem-e-macaco.jpg

http://blogenlacados.com.br/wp-content/uploads/2017/01/bebe-mamando-

1024x861.jpg

Page 15: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

15

As reações automatizadas dizem respeito às ações humanas que resultam de estímulos externos com os quais já temos alguma relação, vivência ou conhecimento prévio. Estas ações fazem parte daquele grupo de comportamentos marcados pela rapidez de sua realização, sem, contudo, apresentar um processo reflexivo em sua realização. Como exemplo destas reações, podemos aludir a ação de movimento em direção ao som de uma buzina de carro.

Por fim, os atos ordinários, resultantes de processos de associações simples, são aqueles que fazem parte de nosso cotidiano, requerem certo grau de intencionalidade e estão em estreita relação com eventos anteriores. Estes atos dizem respeito àqueles comportamentos que exigem certo nível de reflexão e intencionalidade. Como ato ordinário podemos citar o comportamento de uma criança diante de uma tomada. Caso ela já tenha recebido um choque, ela evitará levar o dedo à tomada. A experiência anterior dirigirá sua ação de distanciamento da tomada e poderá resultar em outros mecanismos e ações de proximidade.

A partir destes três exemplos, podemos perceber que, assim como o ser humano, os animais irracionais conseguem alcançar relativamente os atos pertencentes aos mecanismos elementares da ação, com os quais o ser humano está familiarizado desde o seu nascimento. Contudo, somente o ser humano pode transcender este nível de relação com o mundo, com o outro e consigo mesmo; a individualidade subjetiva do homem possibilita-o interpretar e reagir às mesmas situações de forma diversa, como o exemplo que segue:

Um exemplo interessante ilustra a diferença entre processos elementares e processos superiores: é possível ensinar um animal a acender a luz num quarto escuro. Mas o animal não seria capaz de, voluntariamente, deixar de realizar o gesto aprendido porque vê uma pessoa dormindo no quarto. Esse comportamento de tomada de decisão a partir de uma informação nova é um comportamento superior, tipicamente humano. O mais importante desse tipo de comportamento é o seu caráter voluntário, intencional (OLIVEIRA, 1997, p. 26).

Por este exemplo, podemos perceber o distanciamento qualitativo entre os animais e o ser humano. Os modos distintos de envolvimento com a mesma situação evidenciam que nosso aprendizado não diz respeito à mera reprodução de uma ação, mas está também ligado ao seu significado em relação ao outro com o qual interagimos.

http://cdn1.mundodastribos.com/2238-Evitando-Acidentes-Dom%C3%A9sticos-com-Crian%C3%A7as-2.png http://s2.glbimg.com/ILcXYoxbnKCSuDWu7ZlVEf3zTymDIO8O_XmRPCCKxtAJ6eFO7hMqjLNnr5NRHkNu/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2013/10/30/cf239prisocorros_1.jpg

Page 16: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

16

Dessa conclusão, emerge um conceito importante na teoria vygotskyana, ou seja, a mediação. Segundo Vygotsky, todo processo de aprendizagem do ser humano é uma realidade sócio-histórica na qual a aquisição de conhecimentos, habilidades e competências é construída a partir de situações e/ou interações com outras pessoas. O caso acima mencionado explicita este quadro no qual as situações e pessoas podem ser vistos como elementos de mediação: uma criança que recebeu um choque estará mais atenta às aproximações com uma tomada. A lembrança da dor, decorrente do choque, imporá limites a sua relação com este objeto. Da mesma forma, quando uma criança ouve as reiteradas orientações dos pais sobre o perigo da tomada, ela, embora não sabendo ao certo o que é um choque, tenderá a estabelecer limites à aproximação com a mesma.

Esta situação de percepção, comparação, análise, racionalização e ação, a partir de um elemento antecedente, é um dos pilares da teoria de Vygotsky. Para este autor, o processo de aprendizagem não se constrói em uma ilha na qual o indivíduo recebe certo estímulo e responde proporcionalmente ao mesmo de forma unívoca e automática. Em Vygotsky, a aprendizagem sempre é um processo complexo que envolve muitas possiblidades de respostas a partir das situações e elementos de mediação dos quais o ser humano se utilizada para interagir com o mundo e, assim, aprender.

Para Vygotsky, os elementos de mediação são basicamente dois: os instrumentos e os signos. Estes elementos fazem referência aos dois campos nos quais a aprendizagem se desenvolve e mostra seus efeitos.

Os instrumentos são realidades sócio-históricas que nos remetem ao ato da aprendizagem, à ação do aprendiz, à mobilidade do corpo que interage com o mundo com a intenção aprender e transformá-lo. Os instrumentos dizem respeito aos elementos materiais e externos ao ser humano através dos quais ele cria e recria no mundo, promove mudanças, possibilita avanços tecnológicos, controla as forças da natureza, direcionando-as para um fim proveitoso. Sendo assim, os instrumentos possibilitam ao ser humano ações concretas de interação e transformação do mundo.

Os signos, de natureza diametralmente oposta aos instrumentos, mas fundamentais ao desenvolvimento do processo de aprendizagem. São realidades sócio-históricas tipicamente humanas e que passam pelo processo de individualização de sua relação com o mundo. Sua esfera de influência primária são as estruturas mentais e os estados psicológicos, os quais podem resultar em ações no mundo e produções intelectuais e materiais.

A semelhança dos instrumentos, os signos também são produções sociohistóricas. Eles sempre dizem respeito aos valores éticos, estruturas sociais e econômicas, avanço científico, desenvolvimento linguístico etc. da humanidade, em um dado contexto histórico.

Page 17: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

17

Na teoria de Vygotsky, os signos são denominados de “instrumentos psicológicos”. Enquanto criação tipicamente humana, os signos visam o acesso às faculdades mentais do homem e, por meio desta relação, o controle de suas ações mentais (OLIVEIRA, 1997, p. 30).

Pela análise de sua natureza, esfera de ação, relação com o mundo e com os indivíduos, podemos dizer que os signos possuem as seguintes peculiaridades básicas:

a. Eles pertencem a esfera externa ao homem e tornam-se paulatinamente em processos mentais;

b. Eles são interpretáveis;

c. Eles possibilitam ao ser humano problematizar o mundo e sua existência, para além das esferas do concreto, do tempo, e do espaço.

Para termos a ideia sobre como o signos interferem em nosso modo de perceber e refletir sobre o mundo, Oliveira (1997, p. 35) propõe o seguinte quadro: “Quando pensamos em um gato, por exemplo, não temos na mente, obviamente, o próprio gato; trabalhamos com uma ideia, um conceito, uma imagem, uma palavra, em fim, algum tipo de representação, de signo, que substitui o gato real sobre o qual pensamos. Essa capacidade de lidar com representações que substituem o próprio real é que possibilita ao homem libertar-se do espaço e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das próprias coisas, imaginar, fazer planos e ter intenções. Posso pensar em um gato que não está presente no local em que estou, imaginar um gato sobre uma poltrona que no momento está vazia [...] Essas possibilidades de operação mental não constituem uma relação direta com o mundo real fisicamente presente; a relação é mediada pelos signos internalizados que representam os elementos do mundo, libertando o homem da necessidade de interação concreta com os objetos de seu pensamento”.

Nesse quadro, a interação é elemento fundamental, pois o processo que torna o signo externo um elemento importante nos processos mentais de percepção e compreensão da realidade é o convívio com outras pessoas. Existindo como produção cultural, os signos

G

A

T

O

Page 18: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

18

representam aquilo que o grupo social convencionou. Isto implica dizer que muito do que pensamos e como vemos a realidade, nada mais é do que uma projeção dos conceitos e valores socialmente reconhecidos e aceitos.

Distinto dos animais irracionais, o ser humano é o único capaz de pensar para além da realidade concreta, presencial e temporal. Ele é capaz de intuir possibilidades; projetar o futuro; analisar circunstâncias; correlacionar conhecimentos; diversificar a aplicação dos conhecimentos adquiridos; aprender como aprender; dar significações a objetos, gestos, elementos da natureza etc..

As ações reflexas são aqueles atos/comportamentos originados em estímulos exteriores e para os quais o ser humano não passa por um processo de reflexão crítica e nem de ação voluntária para que as mesmas se efetivem.

As reações automatizadas dizem respeito às ações humanas que resultam de estímulos externos com os quais já temos alguma relação, vivência ou conhecimento prévio.

Os atos ordinários, resultantes de processos de associações simples, são aqueles que fazem parte de nosso cotidiano, requerem certo grau de intencionalidade e estão em estreita relação com eventos anteriores.

Assim como o ser humano, os animais irracionais conseguem alcançar relativamente os atos pertencentes aos mecanismos elementares da ação, com os quais o ser humano está familiarizado desde o seu nascimento. Contudo, somente o ser humano pode transcender este nível de relação com o mundo, com o outro e consigo mesmo; a individualidade subjetiva do homem possibilita-o interpretar e reagir às mesmas situações de forma diversa.

Segundo Vygotsky, todo processo de aprendizagem do ser humano é uma realidade sócio-histórica na qual a aquisição de conhecimentos, habilidades e competências é construída a partir de situações e/ou interações com outras pessoas.

Em Vygotsky, a aprendizagem sempre é um processo complexo que envolve muitas possiblidades de respostas a partir das situações e elementos de mediação dos quais o ser humano se utilizada para interagir com o mundo e, assim, aprender.

Os elementos de mediação são basicamente dois: os instrumentos e os signos. Estes elementos fazem referência aos dois campos nos quais a aprendizagem se desenvolve e mostra seus efeitos.

Os instrumentos são realidades sócio-históricas que nos remetem ao ato da aprendizagem, à ação do aprendiz, à mobilidade do corpo que interage com o mundo com a intenção aprender e transformá-lo.

Os signos são realidades sócio-históricas tipicamente humanas e que passam pelo processo de individualização de sua relação com o mundo. Sua esfera de influência primária são as estruturas mentais e os estados psicológicos, os quais podem resultar em ações no mundo e produções intelectuais e materiais.

Na teoria de Vygotsky, os signos são denominados de “instrumentos psicológicos”. Enquanto criação tipicamente humana, os signos visam o acesso às faculdades mentais do homem e, por meio desta relação, o controle de suas ações mentais.

A interação é elemento fundamental, pois o processo que torna o signo externo um elemento importante nos processos mentais de percepção e compreensão da realidade é o convívio com outras pessoas. Existindo como produção cultural, os signos representam aquilo que o grupo social convencionou. Isto implica dizer que muito do que pensamos e como vemos a realidade, nada mais é do que uma projeção dos conceitos e valores socialmente reconhecidos e aceitos.

Page 19: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

19

3.5 REFLEXÕES SOBRE AS TEORIAS PSICOLÓGICAS E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Caro aluno (a),

Após termos estudado sobre os teóricos da Psicologia, suas teorias e implicações no entendimento sobre o desenvolvimento humano e o processo ensino-aprendizagem, uma pergunta se faz necessária responder:

Que conclusões podemos tirar destes estudos?

A primeira conclusão é que o processo de aprendizagem é um fenômeno estritamente humano. Nossa existência está qualitativamente acima dos animais irracionais. Além de percebermos o mundo ao nosso redor, podemos aprender sobre ele, podemos transformá-los e reproduzir seus fenômenos. Distanciando-nos e diferenciando-nos da natureza podemos melhor compreender o mundo físico.

Em segundo lugar, o ser humano tanto possui um complexo sistema orgânico, como também estruturas mentais que regem as atividades físicas deste sistema. O desenvolvimento humano e os processos de aprendizagem se efetivam a partir do imbricamento destes elementos. Quanto mais as atividades educativas buscam acessar e correlacionar estes elementos, maiores são as possiblidades de aprendizagem e desenvolvimento.

A terceira conclusão é que o processo educativo não pode ignorar o valor da afetividade no processo de aprendizagem e desenvolvimento do educando. Os afetos abrem portas para o processo de ensino. Por ele, o aluno pode ser movido a uma disposição positiva para a aprendizagem.

Page 20: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

20

A quarta conclusão é que a aprendizagem é um fenômeno multifacetado, possui muitos fatores envolvidos e, portanto, não pode ser reduzido a apenas um elemento especial e/ou determinante. A maturação fisiológica; o adequado desenvolvimento do sistema nervoso e do sistema motor; o apropriado uso dos sentidos; a maturação das estruturas de cognição; os afetos; as relações interpessoais; o ambiente social; a realidade sócio-histórica etc., são alguns, dentre tantos outros fatores que contribuem e influenciam diretamente os processos de aprendizagem.

A quinta conclusão é que cada ser humano carrega consigo os fatores acima mencionados de forma completamente individual. Até mesmo a maturação fisiológica e cognitiva não é regra absoluta e fixa. Indivíduos de mesma idade desenvolvem-se de forma diferenciada nestes elementos. Embora seja correta a análise piagetiana sobre os estágios do desenvolvimento do ser humano, estas fases não devem ser compreendidas como leis nas quais cada pessoa está fixamente presa em suas caracterizações e tempos limitados. Eles devem ser vistos como características potenciais a partir de determinados elementos conjunturais favoráveis.

Por fim, podemos concluir que o ser humano responde de forma diversa aos fatores internos e externos de sua constituição e vivência no mundo. Sua subjetividade e individualidade oportunizam experiências singulares de percepção do mundo e, por estas, novos caminhos para a aprendizagem.

Page 21: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

21

3.6 O PAPEL DOS PROFISSIONAIS EM EDUCAÇÃO DIANTE DOS PROCESSOS DA APRENDIZAGEM

Caro aluno (a),

Neste módulo, nós aprendemos sobre os fatores que influenciam o processo de aprendizagem. Neste estudo, concluímos que o desenvolvimento do gênero humano sempre é uma realidade sócio-histórica que possui profundas associações com aspectos fisiológicos, cognitivos, afetivos, relacionais, existenciais etc., e que é sempre mediada e construída pela inseparável individualidade humana.

Esta constatação constitui-se em desafio para aqueles que trabalham com o processo educativo. O aprofundamento da Psicologia da Aprendizagem sobre a natureza, constituição e fazer do processo de aprendizagem é uma chamada à ação por parte daqueles que estão comprometidos com processos educativos.

Na educação, todo conhecimento sempre deve ser revertido em ação prática, transformadora, otimizadora dos processos educativos. Por isso, a partir do que estudamos, elencamos ao menos cinco elementos que devem acompanhar aqueles que trabalham com o processo educativo, quais sejam:

a. Considerar a realidade da diversidade presente em sala de aula através de cada aluno. b. Planejar as atividades educativas a partir das caracterizações socioafetivas dos alunos. c. Valorizar a afetividade na execução dos projetos educativos e vivência cotidiana em sala de aula. d. Conhecer as caracterizações presentes nos estágios do desenvolvimento com o fim de utilizar tal conhecimento

para melhor planejar o processo ensino-aprendizagem. e. Selecionar meios didáticos adequados ao desenvolvimento da aprendizagem.

Page 22: CAPÍTULO 3: Psicologia da Aprendizagem

PRONATEC - SED

Curso Técnico em Multimeios Didáticos

22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGER, Kathleen Stassen. O desenvolvimento da pessoa: da infância à terceira idade. Rio de Janeiro, LTC, 2003.

Bock, Ana Mercês; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.

DANIELS, Harry (Org.). Uma introdução a Vygotsky. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

FERREIRA, Aurino Lima; ACIOLY-RÉGNIER, Nadja Maria. Contribuições de Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação. Educar, Curitiba, n. 36, p. 21-38, 2010. Editora UFPR.

GEBRIN, Vigínia Sales. Psicologia e educação no Brasil. Goiânia: Editora UFG, 2002.

MOREIRA, Marco Antônio. Ensino e aprendizagem. São Paulo: Editora Moraes LTD, 1983.

OLIVEIRA, Martha Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento – um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997.

PILETTI, Nelson. Psicologia educacional. São Paulo: Editora Ática, 2008.

ROSA, Jorge La. Psicologia e educação: o significado do aprender. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

SEBER, Maria da Glória. Piaget: o diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio. São Paulo: Scipione, 1997.