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Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros
como facilitadores da integração ensino-assistência
Mestrando: Diego Rocha Louzada Villarinho
Orientadora: Profa. Dr
a. Maria Angélica de Almeida Peres
Dissertação de Mestrado a ser apresentada à banca
examinadora para cumprimento dos requisitos do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola
de Enfermagem Anna Nery para a obtenção do grau de
Mestre em Enfermagem.
Rio de Janeiro, Brasil
Junho, 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus,
pela saúde e sabedoria prestada.
Como também ,em memória, a Drª Lilian Hortale de Oliveira,
que me abriu as portas para estar aqui e lá do céu nos observa.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha família pelo incentivo na busca da evolução profissional.
À minha irmã, Paula Rocha Louzada Villarinho, pela motivação inesgotante no
desenvolvimento do trabalho em todos os eventos adversos dessa trilha.
Ao meu grande amigo, Antonio da Silva Ribeiro, que me ajudou muito na busca de materiais
e apoio me cobrindo no trabalho para que eu pudesse desenvolver a pesquisa.
À minha orientadora, ProfªDrª Maria Angélica de Almeida Peres, que acreditou e investiu em
mim sua confiança, apesar das perdas que tive na vida nesse período. Não tenho meios de
agradecer por ter feito algo que creio que ninguém mais teria feito por mim, já que desde a
banca de seleção, se mostrou receptiva, me recebendo como orientando após a perda da
ProfªDrª Lilian Hortale, se aqui estou, é também pela motivação que dela recebi.
Ao meu amor, que do fundo do poço me tirou e que me ajudou reerguer e retomar os louros
da conquistados na vida - Obrigado, Gláucia Regina.
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RESUMO
A pesquisa tem como objeto de estudo as práticas facilitadoras da integração ensino-
assistência realizadas pelos Enfermeiros do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (IPUB) junto aos profissionais também Enfermeiros, do curso de
Residência Multiprofissional em Saúde Mental desta instituição. A formação nos moldes de
Residência Multiprofissional oferecida pelo IPUB defende um modelo com base nos
princípios e diretrizes do SUS, com enfoque na formação especializada de profissionais sob a
ótica de ação e cuidado na Saúde Mental. Possui duração de dois anos e está dirigida aos
seguintes profissionais: Assistentes Sociais, Enfermeiros, Psicólogos e Terapeutas
Ocupacionais. Os objetivos do estudo foram: caracterizar a formação dos Enfermeiros que
exercem práticas facilitadoras da integração ensino-assistência em Saúde Mental no IPUB e
analisar as estratégias utilizadas por esses profissionais para facilitar a integração ensino-
assistência junto aos Enfermeiros Residentes. Metodologia: pesquisa qualitativa, exploratória,
que teve como participantes 10 Enfermeiros que atuam no IPUB como
preceptores/facilitadores do processo de integração ensino-assistência. Para a coleta de dados
foram utilizados o levantamento bibliográfico e a entrevista individual, exploratória, semi-
estruturada, que é aquela em que se utiliza um roteiro de entrevista, dando liberdade ao
participante para responder as perguntas. Os dados foram distribuídos por unidades de análise
temática e posteriormente categorizadas para proceder-se à análise e discussão dos resultados.
Resultados: Dentre as características dos Enfermeiros estão: maioria do sexo feminino; tempo
de formação entre 8-20 anos; tempo de trabalho no IPUB de 2-15 anos; todos possuem curso
de pós-graduação e 4 realizaram a pós-graduação na área da saúde mental; todos consideram-
se preceptores/facilitadores das atividades relacionadas com o processo de integração ensino-
assistência dos Residentes Enfermeiros do IPUB e 5 fizeram curso de Preceptor. As
atividades dos residentes ocorrem nas unidades de internação do IPUB e a orientação dos
enfermeiros são direcionadas para a desospitalização das pessoas internadas, tendo como base
a reabilitação psicossocial. Dentre as estratégias de facilitação destacaram-se: troca de
experiência entre enfermeiros e residentes e sustentação das ações nos preceitos da reforma
psiquiátrica. Conclusão: no IPUB, todos os Enfermeiros são profissionais facilitadores do
processo de integração ensino/assistência, de forma consciente, direcionada por conceitos
reabilitadores, que impõem novas práticas para o cuidado em saúde mental. Observou-se que
diferentes características da formação profissional dos Enfermeiros do IPUB, como o tempo
de formação, de atividade profissional e o tipo de capacitação refletem na forma como as
atividades teórico-práticas acontecem no curso de Residência. O processo de ensino-
aprendizagem em cursos de residência dependem diretamente dos profissionais que estão nos
locais de assistência e que o tempo de exercício profissional na área é um preparo para lidar
com os Residentes, entretanto, não se deve prescindir de um preparo formal de preceptores,
para que essa troca ocorra de forma segura e com a aplicação de conhecimentos sobre
metodologias de ensino apropriadas para o campo da saúde mental.
Palavras Chave: Enfermagem; Residência Multiprofissional; Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica;
Integração Ensino Assistência.
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ABSTRACT
The purpose of this research is to facilitate the teaching-assistance integration of Nurses of the
Institute of Psychiatry of the Federal University of Rio de Janeiro (IPUB), along with professionals
from the Nursing Course of Multiprofessional Residency in Mental Health. The Multiprofessional
Residency training offered by the IPUB advocates a model based on the principles and guidelines of
SUS, focusing on the specialized training of professionals from the perspective of action and care in
Mental Health. It lasts two years and is addressed to the following professionals: Social Workers,
Nurses, Psychologists and Occupational Therapists. The objectives of the study were: to characterize
the training of nurses who practice facilitating the integration of teaching-assistance in Mental Health
in the IPUB and to analyze the strategies used by these professionals to facilitate the integration of
teaching and assistance with the Resident Nurses. Methodology: qualitative, exploratory research,
which had as participants 10 Nurses who work in the IPUB as preceptors / facilitators of the process of
integration teaching-assistance. For data collection, the bibliographic survey and the individual,
exploratory, semi-structured interview were used, which is the one in which an interview script is
used, giving the participant the freedom to answer the questions. The data were distributed by units of
thematic analysis and later categorized to proceed to the analysis and discussion of the results. Results:
Among the characteristics of nurses are: female majority; Training time between 8-20 years; Working
time in the IPUB of 2-15 years; All have a postgraduate course and 4 have a postgraduate degree in
the area of mental health; All are considered to be preceptors / facilitators of the activities related to
the teaching-assistance integration process of the Nursing Residents of the IPUB and 5 have taken a
Preceptor course. The activities of the residents occur in the IPUB hospitalization units and the
orientation of the nurses are directed towards the de-hospitalization of hospitalized persons, based on
psychosocial rehabilitation. Among the facilitation strategies were: exchange of experience between
nurses and residents and support of actions in the precepts of the psychiatric reform. Conclusion: in
the IPUB, all nurses are facilitators of the process of integration teaching / care, consciously, guided
by rehabilitation concepts, which impose new practices for mental health care. It was observed that
different characteristics of the professional training of IPUB Nurses, such as training time,
professional activity and type of training reflect in the way theoretical-practical activities take place in
the Residency course. The teaching-learning process in residency courses depends directly on the
professionals who are in the care places and that the professional practice time in the area is a
preparation to deal with the Residents, however, one should not do without a formal preparation of
preceptors , So that this exchange occurs safely and with the application of knowledge about teaching
methodologies appropriate to the field of mental health.
Keywords: Nursing; Multiprofessional Residence; Mental health; Psychiatric Reform; Integration
Teaching Assistance.
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RESUMEN
La investigación tiene como objeto de estudio las prácticas facilitadoras de la integración
enseñanza-asistencia realizadas por los enfermeros del Instituto de Psiquiatría de la
Universidad Federal de Río de Janeiro (IPUB) junto a los profesionales también Enfermeros,
del curso de Residencia Multiprofesional en Salud Mental de esta institución. La formación
en los moldes de Residencia Multiprofesional ofrecida por el IPUB defiende un modelo con
base en los principios y directrices del SUS, con enfoque en la formación especializada de
profesionales bajo la óptica de acción y cuidado en la Salud Mental. Tiene una duración de
dos años y está dirigida a los siguientes profesionales: Asistentes Sociales, Enfermeros,
Psicólogos y Terapeutas Ocupacionales. Los objetivos del estudio fueron: caracterizar la
formación de los enfermeros que ejercen prácticas facilitadoras de la integración enseñanza-
asistencia en Salud Mental en el IPUB y analizar las estrategias utilizadas por esos
profesionales para facilitar la integración enseñanza-asistencia junto a los enfermeros
residentes. Metodología: investigación cualitativa, exploratoria, que tuvo como participantes
10 Enfermeros que actúan en el IPUB como preceptores / facilitadores del proceso de
integración enseñanza-asistencia. Para la recolección de datos se utilizó el levantamiento
bibliográfico y la entrevista individual, exploratoria, semi-estructurada, que es aquella en que
se utiliza un guión de entrevista, dando libertad al participante para responder a las preguntas.
Los datos fueron distribuidos por unidades de análisis temáticas y posteriormente
categorizadas para proceder al análisis y discusión de los resultados. Resultados: Entre las
características de los enfermeros están: la mayoría del sexo femenino; Tiempo de formación
entre 8 y 20 años; Tiempo de trabajo en el IPUB de 2-15 años; Todos poseen curso de
postgrado y 4 realizaron el postgrado en el área de la salud mental; Todos se consideran
preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de integración
enseñanza-asistencia de los Residentes Enfermeros del IPUB y 5 hicieron curso de Preceptor.
Las actividades de los residentes ocurren en las unidades de internación del IPUB y la
orientación de los enfermeros son dirigidas a la desospitalización de las personas internadas,
teniendo como base la rehabilitación psicosocial. Entre las estrategias de facilitación se
destacaron: intercambio de experiencia entre enfermeros y residentes y sustentación de las
acciones en los preceptos de la reforma psiquiátrica. Conclusión: en el IPUB, todos los
enfermeros son profesionales facilitadores del proceso de integración enseñanza / asistencia,
de forma consciente, dirigida por conceptos rehabilitadores, que imponen nuevas prácticas
para el cuidado en salud mental. Se observó que diferentes características de la formación
profesional de los enfermeros del IPUB, como el tiempo de formación, de actividad
profesional y el tipo de capacitación reflejan en la forma como las actividades teórico-
prácticas ocurren en el curso de Residencia. El proceso de enseñanza-aprendizaje en cursos de
residencia depende directamente de los profesionales que están en los locales de asistencia y
que el tiempo de ejercicio profesional en el área es una preparación para lidiar con los
Residentes, sin embargo, no se debe prescindir de una preparación formal de preceptores Para
que ese intercambio se produzca de forma segura y con la aplicación de conocimientos sobre
metodologías de enseñanza apropiadas para el campo de la salud mental.Palabras clave:
Enfermería; Residencia Multiprofesional; Salud mental; Reforma Psiquiátrica; Integración
Enseñanza Asistencia
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.SUMÁRIO
INTRODUÇÃO___________________________________________________________ 11
Contextualizando o objeto de estudo__________________________________________ 11
Justificativa, relevância e contribuições do estudo______________________________ 18
Interesse pelo tema________________________________________________________ 19
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO ESTUDO_______________________________ 21
Desenvolvimento da Residência Multiprofissional em Saúde Mental_______________ 21
Integração ensino-assistência e as mudanças no campo de saúde mental que interferem
no processo de formação de Enfermeiros Residentes ____________________________ 24
Reforma Psiquiátrica e Reabilitação Psicossocial _______________________________ 28
ABORDAGEM METODOLÓGICA_________________________________________ 32
Tipo de Estudo____________________________________________________________ 32
Cenário de Pesquisa_______________________________________________________ 33
Participantes da Pesquisa___________________________________________________ 34
Coleta e Análise dos Dados__________________________________________________ 35
Aspectos Éticos___________________________________________________________ 37
CAPÍTULO I: ENFERMEIROS FACILITADORES DA INTEGRAÇÃO ENSINO-
ASSISTÊNCIA NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL ____ 39
I.1 Características dos Enfermeiros que atuam como facilitadores do processo de
integração ensino assistência dos Residentes Enfermeiros do IPUB_________________40
I.2 Enfermeiros que atuam junto aos residentes Enfermeiros do IPUB_____________ 49
CAPÍTULO II: ESTRATÉGIAS FACILITADORAS DO PROCESSO DE
INTEGRAÇÃO ENSINO-ASSISTÊNCIA UTILIZADAS PELOS ENFERMEIROS
COM OS RESIDENTES____________________________________________________57
II.1 Troca de experiências entre Enfermeiros e Residentes_______________________ 60
II.2 Direcionamento da realização das atividades práticas desenvolvidas pelos
Enfermeiros Residentes voltadas para a Reforma Psiquiátrica____________________ 63
CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________ 71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS________________________________________ 75
8
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Características profissionais dos Enfermeiros participantes do estudo.........36
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A – CRONOGRAMA.....................................................................................................54
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO.............................55
APÊNDICE C - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS........................................................56
APÊNDICE D – INSTRUMENTO DE CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES..........57
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EPÍGRAFE
“O espírito amamenta, a inteligência é um seio. Existe analogia entre a ama que dá leite e o
Preceptor que dá o pensamento.”
Victor Hugo
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INTRODUÇÃO
O ensino de enfermagem em psiquiatria/saúde mental no Brasil é um desafio histórico
que vem sendo superado ao longo dos anos, conforme avançam os conhecimentos na área,
que influenciam no processo de formação de Enfermeiros tanto à nível de graduação quanto
de pós-graduação.
Com o desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica, novos desafios foram impostos para o
ensino e para a prática profissional, em função do modelo de Reabilitação Psicossocial
vigente no Sistema Único de Saúde (SUS), que rompe com os saberes e práticas até então
instituídos e promove uma reorganização do modelo de atenção em saúde mental, que passa a
ter como base assistencial serviços territoriais e de base comunitária (CARVALHO atal,
2016; FERNANDES at al, 2009).
Atualmente se discute como deve ser o ensino de enfermagem psiquiátrica e de saúde
mental frente ao novo paradigma que se coloca para os profissionais de saúde, que é o Modelo
Psicossocial. Este modelo prevê o abandono da assistência hospitalocêntrica e
medicalizadora, o que depende, dentre outras coisas, da forma como o ensino teórico-prático
para a formação de profissionais e especialistas acontece, para que de fato uma mudança na
concepção de cuidado ocorra.
Entende-se que tanto no ensino de graduação quanto no ensino de pós-graduação deve-se
considerar que:
essas ações de mudanças implicam na necessidade de profissionais
comprometidos com a atenção à saúde mental da população, profissionais
capazes de superar o paradigma da tutela do louco e da loucura, capazes de
compreenderem e re-compreenderem os determinantes psicossociais da
loucura, de transformarem saberes e práticas, até então constituídos, em
relação ao sofrimento psíquico; de articularem conhecimentos adquiridos
com novos modos de sociabilidade e de produção de valor social, envolvidos
em saúde e em saúde mental; de perceberem a complexidade de suas práticas
e de, efetivamente, desenvolverem novas ações (FERNANDES at al, 2009,
p. 963).
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Em estudos sobre a trajetória do ensino de saúde mental para a formação de Enfermeiros,
observa-se que, em 1949, o estágio na disciplina de Enfermagem Psiquiátrica foi introduzido
como obrigatório no currículo dos cursos de enfermagem com muitas dificuldades, que
incluíam a ausência de Enfermeiros nos serviços que ofereciam uma assistência manicomial,
nada condizente com o que as escolas de enfermagem, à época, desejavam ensinar
(CARVALHO atal, 2015; PEREIRA at al, 2014).
Com o passar dos anos, muitos estudos comprovaram a discordância do ensino, no que
tange às relações entre a teoria e a prática, e, em alguns casos, ao envolvimento político a
respeito dessas atividades (CORTES et al 2008). Os paradigmas do senso comum que estão
enraizados na área da Saúde Mental são, algumas vezes, velados pelos indivíduos atuantes
nesta esfera, o que influencia sobremaneira o processo de ensino-aprendizagem. A educação
em enfermagem prevê o aprendizado da prática de cuidado específica às pessoas em
sofrimento psíquico, em diferentes unidades de saúde, previamente determinadas pelas
instituições de ensino da qual fazem parte.
O estágio supervisionado, que consiste em um período de aprendizagem em campo
exercendo a profissão, é um dos principais instrumentos para a formação de profissionais
Enfermeiros e permite o desenvolvimento de habilidades técnicas e o aperfeiçoamento de
procedimentos próprios a um cenário de atuação profissional (PEREIRA e PEREIRA, 2005).
Quando o estudante não é de graduação mas de pós-graduação lato sensu, muda o objetivo do
aprendizado que, nesta última modalidade, visa a especialização, portanto, o aprofundamento
de conhecimentos teóricos e práticos sobre a área estudada, mantendo-se a necessidade de se
desenvolver o aperfeiçoamento de conteúdos, práticas e habilidades (KANTORSKI e SLVA,
1998).
[…] o ensino de especialização destina-se a completar a formação recebida
durante a graduação, buscando ampliar e/ou aperfeiçoar os conhecimentos
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de uma área específica, no caso, o conhecimento de enfermagem psiquiátrica
e saúde mental, este tipo de informação torna-se uma estratégia para
aprimorar conhecimento em enfermagem psiquiátrica e, consequentemente,
interferir na qualidade da prática da enfermagem da área, buscando sua
transformação(OLSCHOWSKY, 2001, p. 12).
Embora diferentes profissionais integrem a equipe multiprofissional dos serviços de
saúde mental e atuem em prol das pessoas em sofrimento psíquico prestando diretamente
assistência à essas pessoas, o ensino da prática para os estudantes de cursos de graduação e de
pós-graduação é realizado por Enfermeiros professores e/ou Enfermeiros dos serviços de
saúde.
Enfatiza-se que a preocupação com o ensino da enfermagem psiquiátrica e de saúde
mental vem sendo tema de discussão a longo prazo, no âmbito da academia e nos fóruns
específicos dessa área. A enfermagem, nesses campos, passa por um processo transicional da
forma de ensino, ou seja, o abandono da prática asilar para entrar no modelo de reabilitação
psicossocial (SOARES, 2007).
Ressalta-se que
o modelo psicossocial tem como premissa a construção do conhecimento por
meio da intervenção/transformação efetiva da realidade, articulando o
discurso, a análise e a prática. É orientado pelos pressupostos da reforma
psiquiátrica brasileira, os quais sustentam as transformações nos campos
teórico-assistencial, jurídico-político, técnico-assistencial e sociocultural da
saúde mental (BORBA et al, 2012, p. 371).
Atualmente existe um descompasso nos serviços de saúde entre a política de saúde mental
vigente e as práticas que sustentam a atenção às pessoas em sofrimento psíquico, o que faz
recair sobre os profissionais de saúde o peso de uma responsabilidade que requer mudar
concepções que se mantém sólidas na sociedade. Essa difícil tarefa passa pela formação dos
profissionais, que deve ser consciente e respaldada teoricamente nos preceitos da reforma
psiquiátrica brasileira.
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Para que haja uma melhor abordagem, interação e cuidado faz-se necessário um domínio
dos conteúdos pertinentes a esta prática e um ensino de qualidade torna-se sua maior
motivação. Assim, o Enfermeiro que exerce a profissão na área da saúde mental deve ir além
do conhecimento adquirido na graduação, buscando qualificação através de curso de
especialização.
Sendo assim, uma problemática de pesquisa se apresenta quando busca-se a qualidade do
ensino de especialização, no caso deste estudo, sob a modalidade de Residência
Multiprofissional em Saúde Mental, tendo como base para a mesma um contexto assistencial
em transição. Não se pode deixar de lado o importante papel dos Enfermeiros do serviço no
qual ocorre o desenvolvimento da prática dos Residentes em saúde mental, já que muitas
questões perpassam esse processo, que inclui estes Enfermeiros (Preceptores ou não) os
usuários e suas famílias e os Residentes.
O Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB1) foi
criado em 1938, pertencente à Universidade do Brasil. Desde então cumpre o duplo papel de
ser campo de ensino e assistência, bem como de atividades que circundam esta missão. Sua
trajetória mostra que tem relevante papel no desenvolvimento da assistência e do ensino de
psiquiatria e saúde mental em diferentes áreas da saúde (enfermagem, medicina, psicologia,
serviço social) (VENANCIO, 2003).
A Residência Multiprofissional do IPUB teve início no ano de 2012 e representa uma
oferta de curso de especialização lato sensu na área de saúde mental no Rio de Janeiro. De
acordo com o Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, a “Residência em área
Profissional em Saúde” é uma estratégia para o aperfeiçoamento especializado, que deve ser
realizado em ambiente de serviço (BRASIL, 2004), podendo ser multiprofissional ou não. No
1 A sigla IPUB - Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil, se mantém até a atualidade e refere-se a denominação anterior da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que de 1937 até 1965 foi Universidade do Brasil.
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Brasil, as Residências ocupam importante lugar na formação de especialistas para atuarem no
Sistema Único de Saúde (SUS) (FERLA, 2003; DELLEGRAVE e SILVA, 2006).
A Residência Multiprofissional do IPUB possui duração de dois anos (24 meses) e
está dirigida aos seguintes profissionais: Assistentes Sociais, Enfermeiros, Psicólogos e
Terapeutas Ocupacionais. Oferece um quantitativo de cinco vagas para cada categoria
profissional, totalizando vinte vagas. O financiamento do curso é pelo SUS, bem como pelo
Ministério da Educação, o que exige que as ações sejam colaborativas não somente para o
processo pedagógico, mas também assistencial (UFRJ, 2015).
A formação nos moldes de Residência Multiprofissional oferecida pelo IPUB defende
ummodelo com base nos princípios e diretrizes do SUS, com enfoque na formação
especializada de profissionais sob a ótica de ação e cuidado na Saúde Mental.
Essa modalidade de formação que se realiza pelo exercício da prática
profissional, sob supervisão, será oferecida em ambientes de trabalho
qualificados, dotados de corpo técnico-profissional com titulação
profissional e acadêmica reconhecida e de instalações apropriadas ao ensino
em serviço, com vistas a proporcionar o aumento da capacidade de diálogo e
o alcance de uma compreensão ampliada das necessidades de saúde do
indivíduo/coletivo. A ideia é que esse programa amplie e fortaleça os
vínculos institucionais entre a universidade e a secretaria municipal de
saúde, produzindo ações no território de acompanhamento dos casos e apoio
ao fortalecimento da atenção básica em nosso município (UFRJ- 2015)
Logo, a equipe de seleção dos candidatos é composta de forma multiprofissional com
dezesseis integrantes que, no caso do IPUB, conta com profissionais médicos além de
profissionais das categorias destinadas ao curso, o que vai ao encontro de uma abordagem
interdisciplinar esperada durante a Residência, que prevê uma atuação profissional frente à
Reforma Psiquiátrica diferenciada na sua forma de cuidado e terapias junto ao portador de
sofrimento psíquico.
Assim, ao ingressarem na Residência Multiprofissional do IPUB, os profissionais em
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processo de especialização passam a integrar as equipes assistenciais, de acordo com o
planejamento do curso, o que os leva ao convívio direto com os profissionais do IPUB,
incluindo-se nesse grupo os Preceptores e os Enfermeiros da instituição, que atuam como
facilitadores do processo de ensino-aprendizagem. Esta relação entre residentes e Enfermeiros
exige, quando se considera a dinâmica do processo ensino-aprendizagem em serviço, que haja
a troca de conhecimentos sobre as especificidades que caracterizam o trabalho em saúde
mental e a compreensão da complexidade que é o cuidado em saúde em uma área que sofreu
importantes transformações nos último anos (CAVALHERI, 2010).
Todavia, essas mudanças políticas tendem a ser transmitidas e trabalhadas com os
Residentes durante sua passagem pelo serviço de saúde mental, levando-se em conta tanto a
teoria quanto a prática e, ainda mais, pela vivência do dia a dia com os clientes atendidos.
Sendo assim, para a qualificação do ensino prático, faz-se necessário uma maior qualificação
dos profissionais envolvidos com a prática assistencial no serviço.
O desenvolvimento e fortalecimento da Residência Multiprofissional em Saúde vêm
ocorrendo com incentivo do Ministério da Saúde, por meio do projeto desenvolvido em 2002
chamado de Reforço à Reorganização do SUS (ReforSUS), que integra o Plano de Metas do
Ministério da Saúde e o programa Avança Brasil para prover financiamento para a
recuperação da rede física de saúde e projetos que visem a melhoria da gestão no SUS,
promovendo assim a equidade (BRASIL, 1997).
Anteriormente a prática de aperfeiçoamento nos moldes da residência em saúde era
estritamente vinculada à área médica, todavia o incentivo a busca do aperfeiçoamento vem se
intensificando para outras áreas da saúde.
De acordo com Barros (2010, p.47), “a Residência aproxima saberes e práticas, valoriza
os saberes e práticas dos Residentes, dos Preceptores, dos tutores, orientadores e usuários, e
esta mistura de pensamentos, práticas e teorias, compõe o processo da residência”.
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Logo, pode-se perceber que, além dos Preceptores formalmente instituídos para
acompanhar os Residentes, pode-se aderir também àqueles que exercem a prática assistencial
no serviço e tem papel de auxiliar no processo de formação, sem estarem formalmente na
posição de Preceptor ou tutor. Esses profissionais podem ser entendidos como facilitadores do
processo de ensino-aprendizagem e de integração ensino-assistência, ou seja, aquele que atua
no serviço hospitalar exercendo as funções pertinentes à sua atividade laboral na unidade e
também acabam por exercer um papel importante na formação dos Residentes. Esta visão é
possível quando entende-se que o processo de ensino-aprendizagem é uma construção
coletiva, que envolve o planejamento de todo processo educativo e todos os sujeitos nele
inseridos (SANTOS, 2010).
Para o desenvolvimento desta pesquisa foi elaborada a seguinte questão norteadora:
como se desenvolve a prática facilitadora da integração ensino-assistência pelo Enfermeiro do
Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB) para os
profissionais do curso de Residência Multiprofissional em Saúde Mental também
Enfermeiros?
Sendo assim, o objeto de estudo são as práticas facilitadoras da integração ensino-
assistência realizadas pelos Enfermeiros do IPUB junto aos profissionais também Enfermeiros
do curso de Residência Multiprofissional em Saúde Mental desta instituição.
Diante do objeto apresentado e sua problemática, foram desenvolvidos os seguintes
objetivos:
Caracterizar a formação dos Enfermeiros que exercem práticas facilitadoras da integração
ensino-assistência em Saúde Mental no IPUB;
Analisar as estratégias utilizadas por esses profissionais para facilitar a integração ensino-
assistência junto aos Enfermeiros Residentes.
Justificativa, relevância e contribuições do estudo
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O estudo se justifica pela significativa relação da Preceptoria com a formação de
profissionais Enfermeiros e desta com a prática assistencial às pessoas em sofrimento
psíquico. Há necessidade de se estudar, através de pesquisas científicas, esta temática que
possui estudos sobre ela desenvolvidos, mas carece de maiores discussões e reflexões para
trazer mudanças significativas para a assistência em saúde mental, principalmente porque no
ensino prático ainda não está totalmente assegurado aos estudantes, o contato com o modelo
psicossocial, seja pela teoria, seja pelo exemplo nas vivências em campo de estágio.
A realização do estado da arte, realizada em disciplina do Curso de Mestrado na Escola
de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ),
evidenciou poucas publicações nas buscas em bases de dados utilizando-se os termos
Enfermagem, Preceptor, Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica com o operador boleanoand,
em relação a outras temáticas apresentadas na mesma disciplina.
Este estudo também vai ao encontro da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em
Saúde, elaborada pelo Ministério da Saúde para definir temas de pesquisa, na qual a saúde
mental aparece entre outras temáticas que merecem investimento do país, a fim de se
assegurar melhorias nas políticas assistenciais.
Logo, entende-se a relevância dessa pesquisa pela sua possível contribuição não apenas
científica como também social, uma vez que a mudança paradigmática proposta pela Reforma
Psiquiátrica ganha cada vez mais força quando alinhada ao ensino da Saúde Mental. Inclui-se
também a contribuição para ampliar os estudos na linha de pesquisa desenvolvida no Núcleo
de Pesquisa de Enfermagem Psiquiátrica e de Saúde Mental (NUPESAM) da EEAN/UFRJ, o
que se espera que reverbere no ensino e na assistência de enfermagem, através das produções
científicas originadas de seus resultados, apresentadas em eventos e publicadas em periódicos
de grande circulação.
Interesse pelo tema
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Ainda na condição de acadêmico de Enfermagem, quando iniciei os estudos a respeito da
Saúde Mental, fiquei admirado com tamanha especificidade no cuidado nesta área, bem como
com a rede assistencial que a envolve. Já formado, meu interesse pela área continuou e, do
ano de 2011 até os dias atuais, atuo como docente de saúde mental em uma universidade
privada, supervisionando estágio em clínicas particulares. Através desta atividade prática da
disciplina de saúde mental, pude identificar fatos que me motivaram ao desenvolvimento
desse estudo.
Ao encontrar-me diretamente com a pessoa portadora de transtornos mentais, ainda como
estudante, senti todo o peso da história da psiquiatria sobre meus ombros ao entrar em uma
unidade psiquiátrica, tanto de emergência, como de longa permanência. Nessa época pude
aprimorar minhas condutas de cuidados a essa clientela.
Meu despertar por essa área de atuação da Enfermagem também deve-se a professora da
disciplina, que sempre esteve comigo, ensinando-me e motivando-me no cuidar de clientes
portadores de transtornos mentais, seja em situações de emergência ou em casos crônicos,
tanto crianças, como adultos e idosos. Ela enfatizava, acima de tudo, o total respeito por cada
indivíduo que encontrava-se ali sob nossos cuidados.
Enquanto dedicava-me na busca de suporte teórico em livros, artigos, vídeos, muitos
colegas de classe mostravam-se desinteressados e desmotivados com a temática. Observava
esta condição porque era procurado para explicar e/ou realizar alguma tarefa proposta pelo
docente ou para ajudar enquanto escondiam-se dos usuários durante as atividades práticas.
Comecei meus questionamentos a respeito da temática de ensino abordada pelo docente
da disciplina onde, em uma turma de variadas idades, pude ver apenas uma pequena parcela
estimular-se pela prática direta com pacientes portador de transtorno mental. Muitos
aparentavam não demonstrar interesse pelo conteúdo ministrado nas aulas, permanecendo na
condição de meros espectadores. Diante disso, questionava-me como fornecer qualidade de
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ensino para essa turma, mista de idades e vivências.
Com o passar dos anos tive a oportunidade de lecionar na prática, a disciplina de Saúde
Mental, com estagiários de Enfermagem, em seu último período da graduação. Durante o meu
primeiro período de atuação como docente, pude observar a grande dificuldade dos
acadêmicos na tomada de decisões frente ao cuidado, com indivíduos portadores de transtorno
mental. Visto que, uma parcela desses acadêmicos possuía o conhecimento técnico da
enfermagem e já possuíam contato anterior com esse tipo de clientela. Consequentemente
possuíam também uma visão distorcida da área de Saúde Mental, permeada por preconceitos.
Devido a uma série de intercorrências, esses acadêmicos apresentavam grande relutância com
a temática, o que acabava influenciando o grupo e o processo ensino-aprendizagem.
Nesta época de prática com estagiários da disciplina, presenciei casos claros de
preconceito e menosprezo pelos indivíduos ali internados. Um momento que marcou
consideravelmente esse meu início na prática docente foi durante uma contenção mecânica na
qual, após o procedimento realizado, ouvia-se unicamente comentários pejorativos. Neste
episódio foi possível observar o estigma que existe na área de Saúde Mental e envolve o
usuário com transtorno mental.
Perante tamanha resistência à assistência adequada a este tipo de clientela, faz-se
necessário o uso de estratégias que facilitem o envolvimento e comprometimento dos
indivíduos que atuam neste cenário específico, um (re)descobrimento do papel da
Enfermagem e do Enfermeiro, bem como uma desconstrução de conceitos e preconceitos
concebidos pela esfera histórico-cultural na área da Saúde Mental.
Sendo assim, levei adiante a ideia de estudar o Enfermeiro do serviço que atua como
facilitadorda integração ensino-assistência na residência em saúde mental, a fim de levantar
reflexões críticas a partir de uma realidade pesquisada que pode ajudar aos docentes, como eu,
a melhor planejar e executar o ensino prático na área.
20
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO ESTUDO
O referencial teórico permite apreciar o problema a ser investigado sob o aspecto
teórico, considerando-se outros estudos já realizados. O levantamento teórico aponta um
caminho reflexivo para a análise dos dados porque permite fundamentar o estudo de acordo
com a literatura já publicada sobre o mesmo tema (LAKATOS; MARCONI, 2003).
Como referencial teórico buscou-se na literatura científica produções que abordam a
temática em estudo, de forma a se construir uma base de conhecimento que abarque as
tradições teóricas que apóiam estudos na área e temas propostos nesta pesquisa, em especial, a
reforma psiquiátrica brasileira, a Preceptoria e o ensino de enfermagem em saúde mental.
Desenvolvimento da Residência Multiprofissional em Saúde no Brasil
A 10ª Conferência Nacional de Saúde (1996) trouxe à tona a discussão sobre a
necessidade de recursos humanos efetivos e adequados para a realidade da população, uma
vez que o controle social questionava à época a qualidade dos profissionais que atendiam a
população. Nessa ótica, fica estabelecida a necessidade formar com qualidade os profissionais
de saúde.
Em relação às residências multiprofissionais na área da saúde no Brasil, podemos
afirmar que estas existem desde a década de 1970, porém sem uma regulamentação própria,
sendo vista como uma prática em serviço com a finalidade de habilitar o profissional nas
questões práticas do dia a dia e fortalecer o seu saber no segmento por ele escolhido, sendo
caracterizadas formalmente como residência não médica e ou odontológica.
21
Com a instituição do SUS, em 1988, levantou-se diversas discussões sobre a forma
que esses profissionais seriam capacitados a fim de garantir que essa prática fosse transferida
de forma adequada, pautada nos postulados acadêmicos determinados pelo centro formador
(UFJF, 2010).
O Programa da Residência Multiprofissional em Saúde foi apresentado como
estratégia de reorientação da Atenção Básica para a
implantação/reorganização dos serviços públicos embasados na lógica do
SUS, com o objetivo de produzir as condições necessárias para a mudança
no modelo médico-assistencial restritivo, ainda hegemônico, de atenção em
saúde (ROSA e LOPES, p. 487, 2009).
Para garantir a efetividade dessa formação sob as normas de saúde atuantes o SUS, no
ano de 2004, criou-se a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), a qual
obteve uma adequação, no ano de 2007, com o objetivo de aproximar suas ações e serviços
com as instituições formadoras, no sentido de promover mudanças na formação em saúde e
provocar alterações nas práticas dominantes dos sistemas de saúde, através da
problematização de suas próprias práticas e do trabalho em equipe (SILVA et al, 2013).
Entre as mudanças almejadas busca-se promover a formação de
profissionais de saúde que atendam as demandas do SUS. Para
isso, uma alternativa foi à criação da Residência
Multiprofissional em Saúde (RMS), dispositivo de
transformação das práticas da área da saúde, que busca
proporcionar, na continuidade da formação dos profissionais, a
qualificação para o trabalho voltado para o SUS (SILVA et al,
2013, p.3).
Uma ação interministerial entre Ministério da Saúde (MS) e Ministério da Educação e
Cultura (MEC) instituiu, em 2005, pela Lei n. 11.129/05, a Residência como modalidade de
pós graduação Lato Sensu, regulamentando este tipo de curso de especialização voltado para a
educação em serviço (GUIMARÃES, 2010). Também foi criada a Comissão Nacional de
Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS).
Para tanto, o projeto pedagógico dos Programas de Residência
22
Multiprofissional em Saúde (PRMS) deve prever metodologias
de integração de saberes e práticas que permitam construir
competências compartilhadas, tendo em vista a necessidade de
mudanças nos processos de formação, de atenção e de gestão na
saúde (FIORANO & GUARNIERI, 2015, p. 367).
Vários são os processos de avaliação da qualidade educacional que são instituídos no
processo de formação deste profissional, mas não se percebe instrumentos específicos para
avaliar o processo prático desenvolvido durante o ciclo de formação na residência
multiprofissional. Neste sentido cabe aos profissionais do serviço desenvolver estratégias para
que o profissional em formação desenvolva as competências necessárias para se cumprir o
pactuado no projeto político pedagógico do curso (BRASIL, 2005).
O Programa conduz o processo de formação em Residência
Multiprofissional em Saúde de modo a rever o quadro já existente de
modelos de formação heterogêneos, com programas de residência com
ausência de diretrizes gerais para a formação nessa modalidade. Traz, assim,
a necessidade de avaliação e monitoramento dos cursos, estabelecendo eixos
norteadores, os quais deverão estar em consonância com o SUS, com as
diretrizes curriculares, com o desenvolvimento do trabalho em equipe, com
critérios de equidade regional (BRUNHOLI, p. 126, 2013).
A regionalidade é um dos princípios da estrutura orientadora para a criação dos PRMS
onde uma vez que as necessidades regionais são identificadas o CNRMS propõe a abertura do
curso, ponderando sempre essas necessidades, seu caráter político e técnico e a possibilidade
de exeqüibilidade da IES visando o melhor atendimento à população, mantendo os princípios
e as diretrizes do SUS, produzindo uma aproximação aos níveis de atenção, com base na linha
de cuidado.
De acordo com Brunholi (2013) e Farinelli (2012) os Programas de Residência fazem
parte de um fenômeno fundamental para o movimento político para a consolidação do SUS
que privilegia a formação como um dos seus aspectos estruturantes, já que é possível entender
que promove uma formação especializada e permite uma maior inserção de profissionais nas
23
políticas públicas de saúde, o que amplia o debate, a discussão e produz referenciais sobre
essa temática dando subsídios para que os profissionais melhor atuem em concordância com o
SUS.
Integração ensino-assistência e as mudanças no campo da saúde mental que interferem
no processo de formação de Enfermeiros Residentes
Como comentado anteriormente a Residência em saúde ganhou força no país como
forma de qualificar profissionais para a atuação nos diferentes serviços e especialidades.
Autores destacam a importância da Residência como forma de suprir lacunas deixadas pelo
ensino de graduação em determinadas áreas de conhecimento, sendo uma estratégia para a
correção de inadequações na formação e aprimoramento das ações dos profissionais de saúde,
a partir da orientação de profissionais experientes e qualificados na especialidade que se
pretende adquirir (LESSA, 2000; MACHADO, 2006; COFFITO, 2007).
Assim, durante a formação em saúde muitos agentes contribuem para o aprendizado,
estando entre eles os Enfermeiros assistenciais e os preceptores/facilitadores da integração
ensino-assistência, que são profissionais do serviço que participam da experiência educativa
dos residentes. Vale ressaltar que há diferenças entre os tipos de profissionais responsáveis
pelo ensino na prática, o que faz com que no ambiente educacional tenha-se a presença de
personagens como Mentor, Supervisor e Tutor.
Botti e Rego (2008, p. 360) assim conceituam tais personagens:
Supervisor traz consigo um conceito inicial de um personagem responsável
pela vigilância, controle. Como também aquele que dirige, cuida e se
responsabiliza pela forma de ação de uma equipe, para que toda a ação
realizada seja da maneira correta. No tocante da educação em saúde, o
supervisor exerce a função daquele responsável em medir e desenvolver
24
conhecimentos, habilidades e competências para estudantes e profissionais
recém-formados.
Tutor, inicialmente tal termo era utilizado pela civilização romana para o
responsável de cuidar de algum incapaz. Logo, tal termo pode ser utilizado
em vários cenários, sempre no tocante de ensinar e encaminhar no
aprendizado. Na vinculação com a área da saúde, vê-se o tutor como aquele
profissional com grande experiência na temática direcionado. De forma a
orientar no caminho da formação desse profissional.
Mentor representa o profissional de maior experiência, no qual designa a
capacidade de responsabilização em guiar, dar suporte e estimulação de um
raciocínio crítico e reflexivo. Logo, o mentor não possui propriamente dito a
característica de ação clínica, embora as conheça com excelência, pois suas
atividades são questionamento, buscando sempre suas justificações e
estimulando o raciocínio crítico em cada situação vivenciada.
No entanto, ao se tratar de Residência, não se pode deixar de citar o Preceptor, termo
que com o avançar dos tempos agregou-se a um personagem fundamental na educação e
ensino das práticas de Saúde nos cursos de Residência.
De acordo com Carvalho (2008), o termo “Preceptoria” vem sendo utilizado de
maneira errônea, contudo fixa-se no ato de acompanhar e supervisionar estudantes na prática
relativa à sua profissão. Este autor também relata que esse profissional, mesmo sem vínculo
educacional, deve fomentar e conectar a relação teórico-prática dos mesmos, tornando-se
assim um elo precioso na corrente do desenvolvimento científico e profissional do estagiário.
Contudo, no desenvolvimento da pesquisa pode-se definir como preceptor todo aquele
profissional que reconhece em sua prática as ações de ensino-assistência.
Com isso, o Preceptor de Saúde Mental deve se encontrar de forma atualizada, ou seja,
com total conhecimento a respeito das normais legais e assistenciais a respeito da temática
conforme a consolidação da Reforma Psiquiátrica.
Para melhor fluidez e integração entre Preceptor e aprendiz faz-se necessário uma relação
interpessoal de excelência entre o docente, o estudante e o Enfermeiro Preceptor. Carvalho
(2008) aponta como um dos problemas encontrados no desenvolvimento do estágio
supervisionado o distanciamento entre esses profissionais. Outra problemática identificada
25
pelo mesmo autor é o fato do Preceptor, além de realizar suas atividades institucionais, ter
ainda que realizar atividades relacionadas com o processo de aprendizado dos estudantes,
resultando assim em uma carga de trabalho ainda maior.
Nos dias atuais, a prática de Preceptoria vem sendo muito utilizada no campo da saúde.
Tendo em vista a obrigatoriedade contida nas Diretrizes Curriculares de Enfermagem e das
Legislações vigentes, teoria e prática devem acontecer em todas as temáticas de ensino
assistencial da graduação e de pós-graduação. Isso porque uma melhor vivência nos serviços
de saúde trará ao estudante melhores condições de atuação.
Complementando, Armitage (1991) construiu uma definição daquele que tem função de
vincular a teoria com a prática. Agregado a isso, Ryan-Nicholls (2004) explica que tal termo
deve ser associado ao professor que, a um grupo pequeno, ensina com ênfase na prática
clínica, desenvolvendo assim a habilidade da mesma.
É no momento da ação prática que o estudante inicia o processo de construção da sua
identidade profissional, no qual está vinculada aos conhecimentos, habilidades e atitudes,
conhecido como tripé da psicopedagogia (SILVEIRA e AFONSO, 2012). Assim, o papel do
Preceptor é fundamental na formação profissional e deve estar coerente com o modelo
assistencial que se deseja ensinar, bem como com as políticas públicas que regem a
assistência no mercado de trabalho.
Todavia no cenário de pesquisa, pode-se encontrar um ator diferenciado aqui entendido
como Facilitador da Integração Ensino-Assistência, pois, de acordo com Pizzinato et al
(2012) e Kuabara et al (2014) são profissionais que exercem atividades educacionais no
âmbito hospitalar sem a efetiva vinculação educacional. Ou seja, o Enfermeiro ativo no
processo de ensino-assistência sem necessariamente obter vinculação no âmbito educacional
com a instituição fomentadora do ensino.
Logo, de acordo com os autores supracitados, os principais meios utilizados por estes
26
Facilitadores da Integração Ensino-Assistência se foca nos relatos e condutas as demandas
exercidas, bem como nos referencias teóricos utilizados para a reflexão de tais ações.
Todavia, ao se pensar neste contexto em Saúde Mental, é possível perceber que, trata-se de
uma especialidade na qual o desenvolvimento teórico-político-assistencial ainda encontra-se
em construção. Uma vez que a Reforma Psiquiátrica se mantém em atividade, cabe a esse
Facilitador manter-se em corriqueira atualização, já que suas práticas serão de vital
importância para a formação desse profissional que busca sua especialização em seu cenário
laboral.
A Saúde Mental sempre foi conhecida pela sua complexidade. A complexidade dessa
área permite ir além de nossa interpretação cognitiva, o que resulta em um processo subjetivo,
social, bem como cultural e tudo o mais que o cerca, trazendo consigo uma vinculação de
áreas de conhecimento como filosofia, antropologia e sociologia e fortalecendo assim as bases
teóricas e práticas, mediante as complexidades apresentadas no dia a dia (KANTORSKI et al,
2005).
Quando trata-se da área de saúde mental, apresenta-se os respectivos desafios que foram
impostos pelo desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica ao ensino e à formação de
profissionais de saúde. A Residência Multiprofissional tem compromissos que envolvem uma
atuação ética e de qualidade aos usuários em sofrimento psíquico e seus familiares. Para
auxiliar nesta compreensão faz-se uma breve revisão sobre as mudanças na atenção em saúde
mental no Brasil.
Uma vez que, ao se refletir que a Residência em Saúde traz consigo a responsabilidade de
fortalecimento e preparo qualificado dos profissionais atuantes no SUS. A PRMS em Saúde
Mental abrange não apenas o SUS, como também a Reforma Psiquiátrica. Que por sua vez
tem total relação com SUS, uma vez que em nosso país toda a coordenação de saúde deve-se
a esse serviço, ou seja, na Saúde Mental o PRMS tem responsabilidades em duas vertentes:
27
SUS e Reforma Psiquiátrica.
Reforma Psiquiátrica e Reabilitação Psicossocial
Serviu de modelo para a reforma psiquiátrica brasileira os ideais de Franco Baságlia,
médico italiano que, no ano de 1961, defendeu o fortalecimento da relação de convívio entre a
pessoa com sofrimento psíquico e a família. Sendo este médico um pioneiro na reinserção
social (MESQUITA, 2010). As ideias e práticas defendidas por Baságlia fortaleceram-se pelo
mundo e, no final da década de 1970, iniciou-se o movimento de reforma psiquiátrica
brasileiro, o que levou, dentre outras coisas, a união entre as instâncias Municipal, Estadual e
Federal para subsidiar a atenção em saúde mental (BRASIL, 2005).
Com a vinculação do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBES) ao movimento
de reforma psiquiátrica fortaleceu-se ainda mais o discurso técnico e o desenvolvimento de
sua postura política (BORGES e BATISTA, 2008).
Adotando o lema do Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM), “por
uma sociedade sem manicômios”, ocorreua I Conferência Nacional de Saúde Mental, no ano
de 1987. A principal experiência adotada nessa época estava diretamente relacionada com um
modelo defendido pelo psiquiatra Franco Basaglia, uma forma de atendimento extramuros
com base na reinteração social desenvolvida no território, a qual, no Brasil, foi implementada
primeiramente no município de Santos, pertencente ao estado de São Paulo (AMARANTE,
1995).
Um importante líder nesse contexto político-social foi o Deputado Paulo Delgado,
criador do Projeto de Lei nº 3.657/89, que dispõe sobre a extinção das instituições de caráter
manicomial e sua substituição por outras formas de assistência extra-muros, propondo
também o controle das internações psiquiátricas de categoria compulsória.
A discussão sobre formas de atenção e assistência ao indivíduo portador de transtorno
28
mental foi ganhando força e, no ano seguinte, em Caracas, a Conferência sobre a
reestruturação da atenção psiquiátrica direcionou a responsabilidade de diversos países na
reorganização da assistência e das políticas de atenção a esse público, amparadas nos direitos
humanos e civis (ROCHA, 2011).
Ao final do ano de 1992, a II Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em
Brasília, trouxe consigo a ação antes que o indivíduo seja acometido por um transtorno: “[...]
que a Saúde Mental se ocupe da pessoa em sua existência-sofrimento, ou seja, o sofrimento
no decorrer da vida, e não apenas naquelas situações caracterizadas como
transtorno”(ROCHA, 2011, p. 22).
O Rio de Janeiro obteve sua participação mais efetiva no movimento de reforma
psiquiátrica, em 1996, através da união de três grandes centros de pesquisa em saúde mental:
o Instituto Franco Basaglia (IFB), o Instituto Philippe Pinel (IPP) e o Instituto de Psiquiatria
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB), ao promover o I Congresso de Saúde
Mental do Estado. Seu enfoque foi na atenção psicossocial, com participação de profissionais
acadêmicos,assistenciais e dos usuários (AMARANTE, 2007).
O Projeto de Lei, proposto por Paulo Delgado, foi resgatado em 2001 dando origem a Lei
Federal nº 10.216, de 6 de abril, que dispõe sobre os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e também redireciona o modelo assistencial de saúde mental, instituindo
oficialmente a reforma psiquiátrica brasileira (BRASIL, 2001).
A reforma psiquiátrica brasileira trouxe consigo o objetivo da desinstitucionalização, ou
seja, a alta hospitalar das pessoas internadas fora da crise e a sua (re) inserção ao convívio
social. Assim, destituindo o tratamento asilar como única forma de atenção, priorizando o
tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e promovendo a cidadania dos
usuários, abriu-se maior espaço para a ressocialização dos mesmos, o que também deveria ser
implantado e discutido no âmbito do ensino de saúde mental e enfermagem psiquiátrica
29
(AMARANTE, 1995; FERNANDES, 2016).
Posteriormente o arcabouço jurídico para o tratamento às pessoas com transtornos mentais
no Brasil foi ganhando sustentação, com destaque para a Portaria GM/MS nº 3.088/2011 que
criou a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), instituindo serviços de atenção em saúde
mental em outras instâncias como Hospital Geral, Unidades de Urgência e Emergência,
Unidades Básicas de Saúde, Consultórios de Rua, dentre outros, a fim de aumentar a oferta de
serviços no SUS e tornar o manicômio desnecessário na sociedade brasileira (BRASIL, 2011).
O Enfermeiro, por ter sua atividade pautada na saúde do indivíduo e no cuidado centrado
no sujeito, deve fornecer uma assistência fortalecedora do protagonismo da pessoa em
sofrimento psíquico, estimulando a relação entre ela e a equipe, para que se torne ainda mais
evidente a responsabilidade de ambos no cuidar (MIELKE, 2009). Nesse sentido, a sua
formação deve contemplar o conhecimento da RAPS para que seja possível a realização de
um cuidado integral e integrado.
O modelo que define a assistência em saúde mental na atualidade é o que busca a
Reabilitação Psicossocial. Entende-se por Reabilitação Psicossocial como o processo que
facilita, ao usuário, com limitações, uma melhor reestruturação de autonomia de suas funções,
na comunidade (JORGE et al, p. 735, 2006).
Contudo de acordo Hirdes e Kantorsk (2004) com torna-se um processo complexo, uma
vez que necessita da articulação de várias instâncias, políticas específicas voltadas para a área
e, sobretudo, capacitação técnica dos profissionais. Já que seu principal pilar é a
reestruturação da cidadania desse indivíduo portador de transtorno mental, se faz necessário
uma equipe multiprofissional para essa ação.
Logo, Jorge et al (2006) traz uma crítica muito real a respeito desse processo no Brasil:
No caso do doente mental, sua reabilitação psicossocial encontra um
número ainda maior de obstáculos, pelo fato de exigir também o avanço do
processo de cidadania da população brasileira, como um todo, o que requer
uma luta específica pela assunção e respeito aos seus direitos. Nesse sentido,
o caminhar juntos, favorece o processo (JORGE et al, p. 735, 2006).
30
Diante do que foi até aqui apresentado, percebe-se que diferentes autores relacionam os
temas que envolvem o objeto em estudo nesta pesquisa, quais sejam: a Residência em Saúde,
o processo de integração ensino-assistência na formação em saúde, os tipos de atores
envolvidos neste processo e as políticas de saúde em vigor, considerando suas contínuas
transformações.
31
ABORDAGEM METODOLÓGICA
– Tipo de Estudo
Para realização deste trabalho optou-se pela pesquisa de natureza qualitativa, com caráter
exploratório, através de estudo de campo. Esta abordagem oferece elementos capazes de
nortear a investigação, alcançar os objetivos e possibilitar a discussão acerca da questão
norteadora (LUDKE & ANDRÉ, 1986).
O estudo de natureza qualitativa tem como fonte de dados o ambiente natural e o
pesquisador como seu principal instrumento, abrindo espaço para o contato direto do
pesquisador com cenários, participantes e temática a ser tratada (LUDKE & ANDRÉ, 1986).
Na pesquisa qualitativa, o processo é indutivo, em vez de dedutivo, e começa com objetos
exploratórios mais amplos que fornecem foco para o estudo sem esvaziar prematuramente
aspectos da experiência que possam ser julgados importantes ou relevantes (DRIESSANACK
et al, 2007).
O conjunto de características essenciais a este tipo de abordagem é ressaltado por Godoy
(1995, p. 62): “o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como
instrumento fundamental, o caráter descritivo, o significado que as pessoas dão às coisas e à
sua vida como preocupação do investigador, enfoque indutivo”.
Complementando esta ideia, os pesquisadores qualitativos estudam pessoas em ambientes
naturais e tentam entender ou interpretar os significados que as pessoas atribuem às suas
experiências (DENZIN in DRIESSANACK et al, 2007).
Para Minayo (1994, p.21), a pesquisa qualitativa: “trabalha com o universo dos
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
32
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis”.
Os participantes, os cenários, as inovações, os contextos e os valores, determinam o palco
de investigação onde circulam pessoas, relações e ações que a análise numeral e estatística,
não é capaz de contemplar por não adentrar neste mundo de sentidos, reflexões e relações
sociais. Além disso, os participantes que implementam mudanças, bem como aqueles que
recebem conteúdos de aprendizado, sob diferentes estratégias de ensino-aprendizagem,
passam inevitavelmente por análise reflexiva acerca da reestruturação do arcabouço e da
logística do serviço de educação continuada do local.
Na medida em que estas reflexões “se reproduzem e se modificam a partir das estruturas
e das relações coletivas, apresentam elementos tanto da dominação, quanto da resistência,
tanto das contradições e conflitos, como do conformismo”. (MINAYO, 1994b, p.174)
O caráter exploratório para realização deste estudo foi assim determinado, pois, estes
estudos envolvem entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema
estudado e a análise de exemplos ou modelos que estimulem a compreensão e a discussão,
uma vez que a pesquisa exploratória “[...] tem como características principais a flexibilidade,
a criatividade e a informalidade. Por meio dela procura-se obter o primeiro contato com a
situação a ser pesquisada, sendo seu objetivo geral a descoberta” (GUILHOTO, 2002).
O contato com os Enfermeiros participantes da pesquisa foi possível através do estudo de
campo, que é basicamente a pesquisa desenvolvida “por meio da observação direta das
atividades do grupo de estudo e de entrevistas e/ou questionários com os participantes
informantes da comunidade estudada a fim de captar suas explicações e interpretações do que
ocorre no grupo” (GIL, 2002, p. 53).
– Cenário de Pesquisa
33
O cenário de estudo foi o Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, uma instituição de saúde mental de gestão federal, localizada no bairro de Botafogo,
na zona sul do município do Rio de Janeiro.
Primeiramente denominado Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (IPUB),
sua criação ocorreu em 1938, quando o Instituto de Psicopatologia do Serviço de Assistência
a Psicopatas do Distrito Federal foi transferido para a Universidade do Brasil. Nos seus
primeiros 20 anos de existência foi dirigido por psiquiatras, professores da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro (VENÂNCIO, 2003). Ao longo de todos esses anos em
funcionamento, o IPUB, como é chamado até os dias atuais, vem mantendo tradicionalmente
o seu papel de integrar o ensino, a pesquisa e a assistência pública.
Assim, justifica-se a escolha do cenário de pesquisa pelo fato do IPUB ser uma
instituição de relevante importância dentro do contexto de assistência especializada em
psiquiatria e saúde mental, em franca modificação de paradigmas, no intuito de melhor
atender às demandas sociais, bem como pela sua interface com o ensino, a assistência, a
pesquisa e a extensão.
- Participantes da Pesquisa
Os participantes da pesquisa foram Enfermeiros do IPUB, Preceptores e não Preceptores,
atuantes nos cenários onde ocorre a integração ensino-assistência do Curso de Residência
Multiprofissional. Os participantes foram captados por intermédio da Chefia de Enfermagem
da instituição que, após explicitação do objeto deste estudo, relacionou os Enfermeiros que
atuam como facilitadores da integração ensino-assistência dos Residentes. Após esse
levantamento entrou-se em contato com os potenciais participantes para convite e
agendamento da entrevista. Cabe ressaltar que o convite foi efetivado após se perguntar aos
Enfermeiros se os mesmos se consideravam atuantes, de alguma maneira, no processo de
34
ensino-aprendizagem dos residentes Enfermeiros.
Como critérios de inclusão elegeu-se Enfermeiros que se disseram atuantes como
facilitadores do processo de integração ensino-assistência, Preceptores ou não, junto aos
profissionais Enfermeiros do curso de Residência Multiprofissional do IPUB, sem distinção
de sexo, idade ou tempo de formação acadêmica, atuantes no cenário de estudo por período
superior a um ano e que desenvolvem atividades dentro do serviço de internação. Foram
excluídos os Enfermeiros que estavam de férias ou de licença no período da coleta de dados.
Desta forma, participaram da pesquisa 10 Enfermeiros na faixa etária entre 32 e 55 anos.
Três Enfermeiros que atendiam aos critérios de inclusão não foram entrevistados por estarem
de férias e/ou licença ou por indisponibilidade de horário para ceder à entrevista, no período
da coleta de dados.
- Coleta e Análise dos Dados
Para a coleta de dados foram utilizados o levantamento bibliográfico e a entrevista
individual, exploratória, semi-estruturada, que é aquela em que se utiliza um roteiro de
entrevista, dando liberdade ao participante para responder as perguntas.
Na entrevista semi-estruturada, o investigador tem uma lista de questões ou tópicos para
serem preenchidos ou respondidos, como se fosse um guia. A entrevista tem relativa
flexibilidade. As questões não precisam seguir a ordem prevista no guia e poderão ser
formuladas novas questões no decorrer da entrevista (MATTOS, 2005).
Em geral, a entrevista segue o que se encontra planejado. As principais vantagens das
entrevistas semi-estruturadas são as seguintes: possibilidade de acesso a informação além do
que se listou; esclarecimento dos aspectos da entrevista; levantamento de pontos de vista,
orientações e hipóteses para o aprofundamento da investigação e definição de novas
estratégias e outros instrumentos (TOMAR, 2007).
35
As entrevistas foram agendadas em dia e horário de disponibilidade dos participantes da
pesquisanos meses de setembro, outubro e novembro do ano de 2015. Antes do
desenvolvimento das mesmas, os participantes receberam o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A) com informações sobre os objetivos e implicações em
participar da pesquisa, cabendo ressaltar que foram criteriosamente respeitados os preceitos
éticos estabelecidos pela Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, garantindo-se
o sigilo das informações, o respeito aos aspectos sócio-culturais e emocionais, bem como o
anonimato dos participantes.
Adotamos o teste-piloto como critério de confiabilidade, para uma captação de dados
mais fidedigna, pois quando este critério não é adotado, a compilação de dados pode ser
prejudicada.
Durante a aplicação do teste-piloto, se o entrevistador sentir necessidade de explicar o
questionamento de modo repetitivo, torna-se necessário revê-lo ou até mesmo retirá-lo, já que
a permanência do dado incorre em erro de coleta ou de indução do sujeito para que seja
respondido desta ou daquela maneira (HOFFMAN e OLIVEIRA, 2009).
A condução metodológica adotada para a coleta dos dados possibilita o pesquisador
articular processos teóricos e práticos, captar sinais verbais, o dito e o implícito, sentidos,
gestos e palavras que muito dizem a respeito do que se propõe investigar, não se devendo,
pois atentar para que exista, cercando todo o processo, a imparcialidade e neutralidade do
pesquisador.
As entrevistas foram guiadas por um roteiro semi-estruturado (APÊNDICE B) e gravadas
em aparelho de gravação digital (MP3). Posteriormente foram transferidas, ainda em arquivo
de áudio, para dois pen-drives para armazenamento, garantindo uma cópia, caso houvesse
qualquer imprevisto que resultasse na perda do material do pen drive em trabalho. É uma
precaução ética do pesquisador garantir a cópia do material coletado, no caso, das entrevistas,
36
para garantir que não haja perda e consequente retorno ao participante para nova coleta de
dados.
Após isso, os dados foram transcritos, ou seja, foram passados de áudio para texto. Este
texto foi entregue aos participantes para leitura e concordância de seu uso nesta pesquisa, o
que valida a entrevista e reafirma o acordo feito com o participante no ato de apresentação e
assinatura do TCLE. Feito isto, passou-se a próxima etapa, que foi a leitura minuciosa do
material textual pelo pesquisador para que os dados fossem agrupados em categorias
temáticas para a posterior realização da análise dos mesmos.
Os dados foram distribuídos por unidades de análise temática e posteriormente
categorizadas para proceder-se à análise e discussão dos resultados.
Diante da alegação de todos os Enfermeiros que participaram da pesquisa, de que
sentem-sePreceptores, estando ou não incluídos como tal, consideramos as respostas de todos
na etapa de categorização e análise dos dados. Para subsidiar a análise utilizamos referências
sobre a atividade de Preceptoria, uma vez que a prática exercida formal ou informalmente
exerce influência naquele que aprende. Cabe informar que a referência aos participantes no
texto foi feita utilizando-se os termos Preceptor e facilitador (Preceptor/facilitador).
Aspectos Éticos
Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de
Enfermagem Ana Nery/ Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis/ Universidade
Federal do Rio de Janeiro (CEP-EEAN/HESFA/UFRJ), sendo o Instituto de Psiquiatria da
UFRJ a instituição coparticipante, de acordo com a Resolução nº 466/2012 – Conselho
Nacional de Saúde (CNS), que diz que todas as pesquisas que envolvem seres humanos
oferecem riscos e precisam de aprovação em CEP.
Foram respeitadas todas as cláusulas da referida Resolução. No que tange ao
anonimato dos participantes, este foi garantido pela referência aos mesmos no texto pela letra
37
E (Enfermeiro) seguido do número ordinal correspondente a ordem de realização das
entrevistas (Exemplo: E1; E2; E3).
A aprovação do projeto no CEP-EEAN/HESFA/UFRJ foi dada pelo Parecer de
número 1.151.125, em 07 de Julho de 2015. A aprovação no CEP-IPUB/UFRJ se deu pelo
protocolo de nº 1151125, em 31 de Julho de 2015.
As entrevistas serão guardadas por um período de cinco anos e depois deletadas do
pen drive onde foram armazenadas.
Os riscos potenciais desta pesquisa estavam atrelados ao risco de dano emocional ou
de constrangimento durante a realização da entrevista. O responsável pela realização do
estudo se comprometeu a zelar pela integridade e o bem-estar dos participantes da pesquisa,
respeitando valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e
costumes dos participantes.
A participação foi voluntária, isto é, a qualquer momento o participante pôde recusar-
sea responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento ciente de
que a sua recusa não traria nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a
instituição em que trabalha.
Para garantir o anonimato dos participantes, estes foram identificados no texto com a
sigla Enf. seguida do número romano correspondente a ordem de realização das entrevistas.
O pesquisador se comprometeu a divulgar os dados da pesquisa somente na mesma e
em material científico para a sua divulgação (trabalhos em eventos e artigos).
38
CAPÍTULO I
ENFERMEIROS FACILITADORES DA INTEGRAÇÃO ENSINO-ASSISTÊNCIA NO
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL
Diante dos princípios básicos de formação do Enfermeiro é quase inevitável que o mesmo
desenvolva habilidades de liderança como conseqüência das funções que lhe são
estabelecidas. Esta característica inerente ao Enfermeiro favorece que ele seja o veículo de
estimulação de sua equipe para o aprendizado, influenciando e direcionando os caminhos na
aquisição de conhecimentos (SOUSA e BARROSO, 2009).
Completando esta visão, Galvan et al (1998, pág. 72) afirmam que “compete ao
Enfermeiro líder oferecer caminhos que possibilitem o desenvolvimento e o aperfeiçoamento
do pessoal de enfermagem. A formação deste pessoal deve ser considerada como uma questão
de qualificação e valorização do trabalhador e do trabalho”.
Logo, a prática para integrar ensino-assistência assemelha-se a função de contribuir para
a formação de pessoal de enfermagem, estando qualquer Enfermeiro minimamente preparado
para exercê-la. No entanto, como a legislação que define o funcionamento de Residência
Multiprofissional em Saúde determina critérios para a seleção de Preceptores e, neste estudo,
o cenário é uma instituição de saúde universitária, os participantes que informaram sentirem-
se corresponsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem dos Residentes foram incluídos
como facilitadores deste processo, mesmo sem estarem cadastrados como Preceptores.
39
Tal estratégia permitiu que a pesquisa observasse de forma mais ampla a relação entre os
Enfermeiros assistenciais e os Residentes do IPUB. Assim, chamaremos de Enfermeiros
facilitadores do processo de integração ensino-assistência dos Residentes, os que são
Preceptores e os que não estão assim incluídos, por entendermos que todos os participantes
atuam de alguma maneira na formação do Residente de Enfermagem, conforme disseram
durante a pesquisa.
I.1 Características dos Enfermeiros que atuam como facilitadores do processo de
integração ensino-assistência dos Residentes Enfermeiros do IPUB
Embora este estudo tenha incluído como facilitadores os Enfermeiros formalmente
designados como Preceptores ou não, é importante destacar que para a inauguração da
Residência Multiprofissional em Saúde Mental do IPUB, ocorreu a seleção e preparo de
profissionais para atuarem como Preceptores, conforme recomenda a legislação sobre essa
modalidade de especialização.
Para a prática da Preceptoria na Residência Multiprofissional em Saúde Mental do
IPUB foram preparados profissionais através de um curso de capacitação na UFRJ. Tais
profissionais são todos Enfermeiros da instituição com vínculo empregatício de estatutário.
Durante a pesquisa, foi percebido que a ação de Preceptoria está nas entrelinhas das funções
descritas no edital do concurso para exercício da profissão de Enfermeiro na instituição, na
categoria referente às atividades de pesquisa e de extensão, uma vez que trata-se de um
hospital-escola (UFRJ, 2013).
Para exercer efetivamente tal função, faz-se necessário a vinculação com um Programa de
Pós-Graduação, como acontece, por exemplo, com a Residência Multiprofissional, na qual os
Enfermeiros são convidados pelos coordenadores deste programa de ensino, para exercer a
40
prática da Preceptoria, possível pela vinculação entre a UFRJ e o IPUB. Neste caso, tanto o
coordenador do Programa quanto o Enfermeiro Preceptor atuam como membros ativos no
processo de ensino teórico e prático.
Nós recebemos um convite do pessoal [dos coordenadores] para
participarmos do grupo de profissionais que auxiliavam e treinavam os
Residentes Multidisciplinares (Enf. III).
Então, quando começaram a pensar sobre efetivar a Residência
Multiprofissional, o programa exige a parte prática, com isso, os
coordenadores vieram nos procurar e apresentaram o programa, como
funcionaria, e fizeram o convite para alguns Enfermeiros plantonistas, para
atuarem junto com esses Residentes (Enf. X).
Segundo a Portaria 1000/05 do Ministério da Saúde, o Preceptor é aquele que
desenvolve supervisão docente–assistencial, que exerce as atividades de organização do
processo de aprendizagem e orientação aos estudantes. Para isso, são necessários, no mínimo,
três anos de experiência de aperfeiçoamento ou titulação acadêmica de especialização ou
residência na área em que atuará como Preceptor (BRASIL, 2005).
No IPUB só ocorre à atividade de estágio supervisionado para estudantes de
graduação em enfermagem, o que implica na presença do docente junto dos mesmos. Sendo
assim, não há o estágio conduzido pelo Preceptor somente. No entanto, mesmo estando no
mesmo espaço assistencial que os estudantes da graduação em Enfermagem, os participantes
deste estudo informaram que não realizam atividades junto aos acadêmicos de Enfermagem, o
que foi justificado pela presença de um docente direcionando as atividades práticas desses
acadêmicos.
Nosso contato com estudantes fica só mesmo com os Residentes
Multidisciplinares, os da faculdade vem com professor (Enf III).
Os alunos de graduação não ficam com a gente, eles chegam com o
professor e vão fazer as atividades deles (Enf IV).
No entanto, por tratar-se de um hospital-escola, cabe aos Enfermeiros assumirem a
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posição de facilitador da integração ensino-assistência e interagir com os estudantes em
campo de prática. Essa interação se relaciona diretamente com a formação profissional e com
a responsabilidade do Enfermeiro na condução da assistência de enfermagem no plantão em
que atua como supervisor, no qual acontece o estágio supervisionado.
Na pesquisa foi possível identificar que o Programa de Residência Multiprofissional
em Saúde Mental do IPUB acontece em dois momentos: no primeiro ano, o Residente realiza
atividade dentro das unidades de internação psiquiátrica e, no ano seguinte, realiza
atividadesno Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da instituição.
Eles [os Residentes] só ficam com a gente um ano, depois são direcionados
para a rede e perdemos o contato com eles. O meu papel com ele é mais
dentro de campo, não tenho papel de avaliador, às vezes, nas reuniões que
acontecem, a gente passa algumas percepções dos Residentes(Enf VIII).
Conhecer as características de formação destes Enfermeiros que atuam como
facilitadores do processo de integração ensino-assistência dos Residentes pode ajudar na
reflexão sobre esta atividade no cenário de pesquisa.
No quadro 1, apresentado a seguir, temos as características de formação dos
Enfermeiros que participaram do estudo.
Quadro 1 – Características profissionais dos Enfermeiros participantes do estudo
Enfermeiro Sexo Tempo de
graduado em
enfermagem
Curso de Pós-graduação/Extensão Tempo de atuação no
IPUB
I F 19 anos Licenciatura em Enfermagem
Mestrado em Enfermagem
15 anos
II F 12 anos Especialização em Enfermagem
Pediátrica
7 anos
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III M 15 anos Especialização em Saúde Pública
8 anos
IV M 13 anos Licenciatura em Educação Física
Especialização em Enfermagem do
Trabalho
Especialização em Enfermagem em
Emergência
Especialização em Didática do Ensino
Superior
7 anos
V F 8 anos Residência em Saúde Mental
2 anos
VI F 15 anos Residência em Saúde Mental
2 anos
VII F 15 anos Residência em Saúde Mental
Mestrado Profissional em Enfermagem
2 anos
VIII F 16 anos Residência em Clínica Médica
Especialização em CCIH
Mestrado em Enfermagem
12 anos
IX F 10 anos Mestrado em Saúde Mental 4 anos
X F 15 anos Especialização em Clinica Médica 8 anos
A partir do quadro 1 é possível perceber certas características dos Enfermeiros
participantes deste estudo como: dos dez (10) entrevistados, oito (8) são do sexo feminino, o
que representa o quadro atual na profissão de Enfermeiro no país, em relação ao sexo, onde a
maioria dos profissionais são mulheres.
Tal fato pode ser analisado sob diferentes vertentes, mas aqui vamos seguir a linha de
que o cuidado é historicamente relacionado ao feminino e que a Enfermagem Moderna surgiu
43
como profissão feminina na Inglaterra e assim chegou ao Brasil, no início do século XX.
Portanto, a entrada dos homens na profissão ocorreu gradativamente, quando falamos da
Enfermagem Moderna brasileira, na qual, ainda hoje, é confirmada a presença majoritária de
mulheres na profissão, mesmo com o aumento do número de homens nos últimos anos
(PADILHA, VAGHETTI e BRODERSEN, 2006; COELHO, 2005).
O processo de feminização merece destaque porque as realidades que envolvem o
mundo do trabalho e as relações de gênero interferem no processo de ensino e de formação na
Residência, mas não será aqui aprofundado, tendo em vista que os aspectos sociais e culturais
próprios da questão do gênero, vêm sendo estudados de forma mais aprofundada pelos
interessados na área.
Em relação ao tempo de graduação, observou-se que o mesmo variou entre 8 e 20
anos, enquanto o tempo de atuação como Enfermeiro no IPUB entre 2 e 15 anos, o que
considera-se um fator favorável para que se exerça o papel de facilitadores do processo de
integração ensino-assistência dos Enfermeiros Residentes, devido a experiência já adquirida
pelo exercício da prática profissional.
Os dados apresentados no quadro 1 também evidenciam que o desenvolvimento do
saber específico em saúde mental dos Enfermeiros que participaram deste estudo veio através
da experiência prática e de busca por estudos na área, uma vez que a formação acadêmica dos
mesmos aconteceu no período da transição do modelo de cuidado manicomial para o
psicossocial.
Além disso, todos os participantes possuem curso de pós-graduação, sendo que três
(3) possuem Curso Stricto Sensu (2 Mestrado Acadêmico e 1 Mestrado Profissional) e oito (8)
Curso Lato Sensu (especialização em variadas áreas) e dois (2) possuem licenciatura. Todavia
é possível perceber que embora a busca acadêmica de todos não tenha sido na Saúde
Mental/Psiquiatria, os Enfermeiros buscaram a especialização formal, o que demonstra seu
44
interesse pela qualificação, fator que contribui para a atuação como Preceptor/Facilitador
junto aos Residentes.
Cabe destacar que, dos dez (10) participantes, quatro (4) realizaram a pós-graduação
na área da saúde mental, o que sugere que a maioria (6) não tinham a saúde mental como
primeira área de escolha para o exercício profissional. Relaciona-se tal fato com a própria
trajetória do cuidado em psiquiatria, o qual até a década de 1980 era majoritariamente
realizado no regime asilar-hospitalar e
a admissão para trabalhar no hospital psiquiátrico era associada a castigo, um
lugar para onde poucos profissionais iam de livre escolha e para onde o
funcionário-problema era transferido (no serviço público). O sentido da
admissão para o quadro de funcionários tinha a mesma conotação da admissão
de um paciente: absoluta falta de livre escolha (ARANHA e SILVA e
FONSECA, 2005).
Outro fator importante de ser observado é que, dentre os participantes da pesquisa,
quatro finalizaram o curso de graduação em Enfermagem após a implementação da Reforma
Psiquiátrica em todo território nacional, ou seja, após o sancionamento da Lei 10.2016 em
2001. Diante disso, pode-se prever que os seis formados antes ou durante esse marco na
política nacional em beneficio do individuo portador de transtorno mental, possivelmente
necessitaram desconstruir o saber adquirido anteriormente para reconstruir um saber firmado
no novo modelo de cuidado proposto pela lógica psicossocial.
O campo psicossocial é o lugar onde a ação de saúde é produzida. Quem a
produz é um sujeito, também socialmente constituído, o que traduz, no limite
da interação, o saber e o poder aderente ao seu lugar social. Dessa forma, as
práticas concretas representam ou reproduzem dada ideologia e o lócus onde
cooperam ou rivalizam é a equipe de trabalho. Essa é a dimensão singular do
trabalho em saúde (ARANHA e SILVA e FONSECA, 2005).
Sendo assim, o preparo de Preceptores para a Residência Multiprofissional do IPUB
foi uma estratégia de capacitação dos Enfermeiros que daria suporte à formação prática dos
Residentes, mas não era possível ser, no primeiro momento, realizado por todos, devido ao
limite do número de vagas pela instituição que ofereceu o curso.
O quadro 2 apresenta dados sobre a realização de curso de Preceptoria e sobre como
45
os Enfermeiros do IPUB se sentem diante da sua atuação como facilitadores do processo de
ensino-integração assistencial junto aos Enfermeiros residentes.
Quadro 2 – Realização do curso de Preceptoria, conhecimento sobre o Programa de
Residência e atuação como facilitador do processo de integração ensino-assistência dos
Residentes Enfermeiros do IPUB. CURSO DE
PRECEPTORIA
(NUTES)
CONHECIMENTO DO PROGRAMA DE
RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL
EM SAÚDE MENTAL (PRMSM)
É Preceptor ou considera-se
facilitador do processo de integração
ensino-assistência dos Residentes
Enfermeiros?
Sim Sim Sim
Não Não Sim
Não Não Sim
Não Não Sim
Sim Sim Sim
Sim Sim Sim
Sim Sim Sim
Sim Sim Sim
Não Não Sim
Não Não Sim
Analisando os dados informados pelos participantes e passados para o quadro 2 é
possível observar que todos os Enfermeiros entrevistados consideram-se facilitadores das
atividades relacionadas com o processo de integração ensino-assistência dos Residentes
Enfermeiros do IPUB.
Ao refletir sobre a afirmativa dos Enfermeiros não Preceptores de sentirem-se
facilitadores do processo de ensino-assistência ou mesmo de sentirem-se Preceptores,
utilizamos o arcabouço jurídico sobre o ensino no país que considera o profissional do
serviço, que serve de campo de estratégias educacionais práticas, corresponsável pelo
46
desenvolvimento do aprendizado em treinamento em serviço (BRASIL, 2007). Sendo esta a
definição do Preceptor, entende-se que os Enfermeiros se colocam nesta posição, apesar de
ainda não terem se preparado formalmente ou terem sido cadastrados como Preceptores no
IPUB, uma vez que é quase impossível a um Enfermeiro supervisor ignorar e não influenciar
direta ou indiretamente no cuidado prestado por outros profissionais Enfermeiros, que atuam
no mesmo espaço assistencial em que ele é responsável pelo cuidado de enfermagem.
Além disso, na estratégia de especialização sob a forma de Residência, coloca-se o
Residente em contato com a realidade do Enfermeiro assistencial, permitindo que o mesmo
“conheça e identifique as atividades que permeiam a prática, o gerenciamento de cuidados e a
maneira de se fazer enfermagem” (ITO, 2005, p. 36).
Dando continuidade a análise dos dados apresentados no quadro 2, cinco (5)
Enfermeiros fizeram o Curso de Preceptores, oferecido pela UFRJ e afirmam conhecer a
organização e funcionamento do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental
da instituição. Dos cinco (5) Enfermeiros que disseram que não conhecem o Programa de
Residência, podemos depreender que se referem ao conhecimento detalhado do
funcionamento do mesmo, pois, se todos se consideram facilitadores no processo que envolve
o aprendizado dos Residentes por dizerem-se Preceptores, certamente sabem minimamente da
existência e funcionamento da Residência.
Os resultados da pesquisa vão ao encontro do que se espera de um Programa de
Residência em Saúde, no qual Preceptores são preparados para atuarem no mesmo. No caso
do IPUB, os cinco Enfermeiros capacitados como Preceptores que participaram da pesquisa
têm conhecimento do Programa e atuam como tal. De acordo com Berardinelli (2003) o
Preceptor necessita estar sensível às demandas e transformações sociais, culturais e éticas.
Diante do pensamento de que a Reforma Psiquiátrica permanece em plena atividade e suas
evoluções assistências exigem desse profissional manter seu saber em concordância com essas
47
demandas, sua responsabilidade e competência em formação à nível de especialização são
grandes.
Os profissionais entrevistados não demonstraram terem realizado em algum momento
uma procura por cursos de capacitação para a Preceptoria, os que referiram ter feito o Cursode
Preceptor, oferecido pelo Núcleo de Telessáude (NUTES) da UFRJ, se interessaram a partir
de uma proposta da chefia de enfermagem do IPUB:
A chefia [de enfermagem] nos procurou e fez o convite para a realização
(Enf VIII).
Não foi nada imposto não. Recebemos o convite e sentimos o desejo e a
vontade de fazer esse curso, pois sentimos a vontade de nos aperfeiçoarmos
nesse sentindo para exercer melhor a prática de Preceptoria. (Enf. VI).
Depreende-se das falas apresentadas acima que a realização do curso pelos
Enfermeiros do IPUB foi uma demanda criada pela chefia de enfermagem diante da oferta do
mesmo por outra unidade da UFRJ e não partiu dos próprios profissionais. Diante do
planejamento para que o IPUB se preparasse para o Programa de Residência, os Enfermeiros
foram estimulados pela chefia de enfermagem a se prepararem no curso oferecido pelo
NUTES/UFRJ.
Contudo, pôde-se observar com a pesquisa que o contato do profissional estudante não
se limita unicamente com o profissional educador institucional, ou seja, existem outros
profissionaisque reconhecem suas práticas como práticas de facilitação do processo de ensino-
aprendizagem, o que o coloca próximo da Preceptoria. Logo é possível perceber que estes
facilitadores têm total importância neste processo.
Wuillaume e Batista (2000) afirmam que fica implícito que a competência profissional
e/ou acadêmica assegura a competência didática, uma vez que, o ato de educar está implícito
no Enfermeiro. Percebe-se que independente de ser Preceptor ou facilitador, este profissional
institucional no qual se encontra ativo no contexto do educar como sendo uma pessoa [...] que
48
ensina, aconselha e inspira, serve de modelo e apoia o crescimento e desenvolvimento de um
indivíduo por uma quantidade de tempo fixa e limitada, com o propósito específico de
socializar o noviço no seu novo papel (MORROW apud WUILLAUME e BATISTA, 2000).
I.2 Enfermeiros que atuam junto aos residentes Enfermeiros do IPUB
Este subitem inicia com um olhar sobre os Enfermeiros Preceptores do IPUB por ser
necessário um destaque à atuação desses atores, que são imprescindíveis no curso de
Residência, para que o mesmo ofereça uma formação profissional como um processo
educacional para além de um treinamento. E esse processo se baseia no desenvolvimento
coordenado de diversas formas de conhecimentos e habilidades, e na aquisição de atributos
técnicos e relacionais (BOTTI e REGO, 2010).
No IPUB, que também oferece Residência Médica, a Preceptoria por Enfermeiros só
ocorre formalmente junto a Residência Multiprofissional, ou seja, há uma prática direcionada
para este curso que é de especialização na área de saúde mental. Assim, cabe enfatizar que o
Preceptor é todo profissional atuante no ambiente de prática que orienta, coordena e ensina de
maneira prática as ações teóricas da profissão e participa do processo avaliativo de estudantes
de qualquer nível (MILLS, 2005).
Um dos participantes, que é Preceptor, ratificou a atuação junto aos Residentes:
Damos apoio às professoras da graduação, da Escola de Enfermagem
[Anna Nery/UFRJ], mas não temos vínculo nenhum direto com ninguém, só
mesmo com os Residentes multiprofissionais. (Enf.VIII).
Na fala do participante supracitado nota-se a sua responsabilidade em estabelecer vínculo
com os Residentes, o que é fundamental para que ocorra a facilitação do processo de ensino-
aprendizagem e de integração ensino-assistência durante o curso. E nesse caso, o Preceptor
não pode fugir a essa responsabilidade, uma vez que na modalidade de Residência, o
Preceptor torna-se um modelo não apenas de conhecimento e de habilidades técnicas, mas
49
também de espelho de comportamentos e atitudes, processo pelo qual os Residentes
apreendem conhecimentos, habilidades e valores que vão constituir sua identidade
profissional (BOTTI e REGO, 2010).
O termo Preceptor é usado para designar aquele profissional que, no serviço, tem
importante papel na inserção e socialização do estudante no ambiente de trabalho. Recai sobre
ele a corresponsabilidade de interação entre a teoria e a prática assistencial, criando
estratégias para melhor qualificar o profissional ou futuro profissional para o mercado de
trabalho (MILLS, 2005).
Sendo assim, o Preceptor pode ser interpretado como um profissional que atua no serviço,
no qual as estratégias de ensino prático são realizadas e, portanto, como um facilitador do
aprendizado.
Utilizando a definição de Bain (2010) e Armitage (1991), o Preceptor tem a função de
estreitar a distância entre teoria e prática.
O Preceptor é o profissional que atua dentro do ambiente de trabalho e de
formação, estritamente na área e no momento da prática clínica. Sua ação se
dá por um curto período de tempo, com encontros formais que objetivam o
progresso clínico do aluno ou recém-graduado. O Preceptor desenvolve uma
relação que exige pouco compromisso, percebido apenas no cenário do
trabalho. Tem, então, a função primordial de desenvolver habilidades
clínicas e avaliar o profissional em formação (BOTTI et al, 2008)
Através do contato direto do Residente com o Enfermeiro é possível evidenciar a
influência que essa convivência ocasiona no aprendizado, que pode mudar o cenário da
formação profissional, inclusive sustentando os preceitos da Reforma Psiquiátrica para que,
no futuro, esses novos profissionais possam contribuir para a consolidação da mudança
paradigmática em processo “enfrentando de maneira competente as flechas da oposição
hospitalocêntrica e as fragilidades reais desta política que é complexa. Isto não é tarefa fácil”
(DELGADO, 2040, p.18).
50
Destarte, com os cenários de dimensões de transformações paradigmáticas
em saúde mental, é importante repensar o papel dos profissionais de
enfermagem na prática assistencial. Sob essa ótica, nas últimas décadas, o
ensino da enfermagem psiquiátrica tem sofrido modificações nas
características tradicionais, ao passo que começou abranger aspectos da
relação familiar, técnicas grupais e relacionamento interpessoal. Além do
mais, incorporou a necessidade de ações extra-hospitalares e de promoção e
prevenção em saúde mental (GUIMARÃES, 2011, p. 48).
No que se refere ao processo de Educação em Saúde na área de Saúde Mental, a
instituição da residência multiprofissional do IPUB, surge com a finalidade de garantir de
forma integrada a qualificação proposta pelo Ministério da Saúde aos trabalhadores da área da
saúde, com uma articulação teórica e prática, pensando, de forma efetiva, em garantir o
compromisso com os indivíduos com necessidades psicossociais, consolidado essas ações
previstas pelo SUS.
Afonso e Silveira (2012) afirmam, ao tratarem da residência médica, que Preceptores
são profissionais com especialização na área de saúde, quase nunca da educação, e que tem,
na Preceptoria, uma de suas principais tarefas profissionais.
O papel de um profissional mais experiente, responsável pela
formação de jovens aprendizes, ensinando conhecimentos e
auxiliando no desenvolvimento de atitudes e habilidades,
servindo muitas vezes como exemplo ou modelo profissional,
por sinal, vai muito além da Medicina e remonta ao ensino-
aprendizado dos mais diversos ofícios de importância para a
sociedade (ABEM, 2013, pg. 15).
De acordo com a lei em vigor na realidade brasileira, o gerenciamento dos Núcleos de
Residência foi destinada ao Ministério da Saúde (MS) juntamente com o Ministério da
Educação e Cultura (MEC) e Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde
(CNRMS), tendo como base legal a Resolução CNRMS nº 2, de 13 de Abril de 2012, que
dispõe sobre Diretrizes Gerais para os Programas de Residência Multiprofissional e
Uniprofissional de Saúde.
Logo, tal Resolução em seu Art.13 destaca que:
51
A função de Preceptor caracteriza-se por supervisão direta das atividades
práticas realizadas pelos Residentes nos serviços de saúde onde se
desenvolve o programa, exercida por profissional vinculado à instituição
formadora ou executora, com formação mínima de especialista.§1º O
Preceptor deverá, necessariamente, ser da mesma área profissional do
Residente sob sua supervisão, estando presente no cenário de prática.
A mesma Resolução trata das competências do Preceptor em seu Art. 14:
Ao Preceptor compete: I. Exercer a função de orientador de referência para o(s) Residente(s) no
desempenho das atividades práticas vivenciadas no cotidiano da atenção e
gestão em saúde; II. Orientar e acompanhar, com suporte do(s) tutor(es) o
desenvolvimento do plano de atividades teórico/práticas e práticas do
Residente, devendo observar as diretrizes do Projeto Pedagógico (PP); III.
Elaborar, com suporte do(s) tutor(es) e demais Preceptores da área de
concentração, as escalas de plantões e de férias, acompanhando sua
execução; IV. Facilitar a integração do(s) Residente(s) com a equipe de
saúde, usuários (indivíduos, família e grupos), Residentes de outros
programas, bem como com estudantes dos diferentes níveis de formação
profissional na saúde que atuam no campo de prática; V. Participar, junto
com o(s) Residente(s) e demais profissionais envolvidos no programa, das
atividades de pesquisa e dos projetos de intervenção voltados à produção de
conhecimento e de tecnologias que integrem ensino e serviço para
qualificação do SUS; VI. Identificar dificuldades e problemas de
qualificação do(s) Residente(s) relacionadas ao desenvolvimento de
atividades práticas de modo a proporcionar a aquisição das competências
previstas no PP do programa, encaminhando-as ao(s) tutor(es) quando se
fizer necessário; VIII. Participar da elaboração de relatórios periódicos
desenvolvidos pelo(s) Residente(s) sob sua supervisão; IX. Proceder, em
conjunto com tutores, a formalização do processo avaliativo do Residente,
com periodicidade máxima bimestral; X. Participar da avaliação da
implementação do PP do programa, contribuindo para o seu aprimoramento;
XI. Orientar e avaliar dos trabalhos de conclusão do programa de residência,
conforme as regras estabelecidas no Regimento Interno da Comissão de
Residência Multiprofissional (COREMU), respeitada a exigência mínima de
titulação de mestre.
No cenário de prática, o Residente deve ser acompanhado por um Preceptor, sendo
este um funcionário da instituição hospitalar, que auxilia na formação do mesmo e, para tal,
necessita ser instrumentalizado com conhecimentos didático-pedagógico. Ele difere do
professor, funcionário da Instituição de Ensino Superior, que pode estar presente no cenário
de prática, na função de supervisor de campo.
Todavia, conforme o Quadro 2 apresentado no subitem anterior foi possível identificar
que da totalidade dos participantes da pesquisa, a metade realizou o curso de Preceptor e estão
52
vinculados ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do IPUB.
Contudo, a outra metade dos participantes reconhecem, em sua prática, o princípio do
Preceptorado, como vemos nos relatos a seguir:
Bem, não recebemos nenhum comunicado por escrito sobre isso. Mas,
acredito que sejamos sim, porque acolhemos, acompanhamos, orientamos
esses “estudantes profissionais” [Residente Multiprofissional] (Enf. X).
As instituições de saúde possuem suas especificidades. Em geral o trabalho de
enfermagem coloca o profissional diante de uma demanda de cuidado pesada e requer a
realização de atividades de diferentes ordens durante todo o período. Assim, pode-se entender
o porque dos Enfermeiros do IPUB sentirem dificuldade de diferenciar quem é Preceptor e
quem é facilitador do processo de integração do ensino-assistência dos Residentes. Os
Enfermeiros do IPUB percebem que estão convivendo com os mesmos e trocam experiências
durante os plantões, o que é próprio da integração da equipe durante o cuidado.
As falas dos Enfermeiros demonstram que eles se consideram exercendo a Preceptoria,
mas, na verdade, existem os Enfermeiros devidamente capacitados para tal atribuição no
IPUB e os demais participam como facilitadores do aprendizado desses profissionais, o que
não deixa de ser uma Preceptoria. As respostas dos Enfermeiros indicam que sentem-se
preparados para ser Preceptores e que realmente atuam no processo de facilitação da
integração ensino-assistência dos Residentes Enfermeiros. Berardinelli (2003), diz que a
qualificação do Preceptor deve guardar equilíbrio entre o domínio técnico-científico e da
docência, nas suas dimensões socioculturais e pedagógicas.
Algumas qualidades de um Preceptor bem sucedido são: exercício da tutoria, ética e
humanismo, domínio do conteúdo, capacidade de educação permanente e capacidade didática.
Além disso, a palavra tutor é de origem latina e traz consigo o significado daquele que ajuda e
orienta os iguais a ele, contudo com menos conhecimento (WUILLAUNE, 2000).
Ao tratar do curso de Preceptor oferecido pela UFRJ os participantes fizeram as
seguintes observações:
53
O curso de Preceptores em Saúde, alguns fizeram, eu fui uma das que
fizeram, para poder ter mais suporte. Foi o que ela [profissional que deu o
curso] disse, é o dia a dia, a prática em campo, educação em campo,
treinamento em campo, quem está no treinamento e quem treina (Enf I).
Nós fizemos o curso de formação de Preceptores por vontade nossa não foi
nada imposto ou direcionado a isso. Recebemos o convite e fomos fazer
porque sentimos uma vontade de se aperfeiçoar nesse sentido (Enf VIII).
Os Enfermeiros entendem a realização do curso de Preceptor como uma estratégia de
aperfeiçoamento que os levaria a ter uma melhor atuação junto aos Residentes, o que
demonstra que esses Enfermeiros possuem consciência da responsabilidade abarcada ao
aceitar ser Preceptor da Residência Multiprofissional.
Foi um curso muito bacana com métodos de aprendizagem de trabalho,
ensino, assistência, em módulos diferentes voltados para a nossa formação
enquanto educador. O curso foi muito completo (Enf VIII).
O entendimento do curso como um aperfeiçoamento é um aspecto positivo diante das
características do IPUB, que é um hospital voltado para o ensino de psiquiatria e de saúde
mental em várias áreas da saúde, dentre elas a Enfermagem.
Embora o curso de Preceptoria tenha obtido destaque, a realização do curso de
mestrado também foi comentado como importante formação para o exercício da Preceptoria.
O mestrado ajudou muito também, mas a prática ajuda também, nós como
Enfermeiros da prática temos domínio sobre esse espaço, mas não da teoria.
Está certo que os dois devem se complementar. Contudo, o trabalho envolve
tanto a gente que acabamos esquecendo a teoria. E o mestrado tem esse
papel, de nos fazer rever a relação teórica sobre o nosso trabalho e nossas
práticas, apresentando novas modalidades de cuidado e estudo (Enf, VIII).
Outro Enfermeiro não considera que o curso de mestrado auxilie no acompanhamento
de Residentes, argumentando que não teve foco em estratégias didáticas de ensino-
aprendizagem referentes à prática exercida com esses Residentes, todavia, é possível analisar
que determinadas atividades, competências e desenvolvimento de saberes dependem de
fatores distintos, como o próprio programa do mestrado realizado, linha de pesquisa e
demandas de disciplinas institucionais.
54
O preparo advindo da educação continuada e de outros processos de formação em
serviço foi citado, indo ao encontro da posição de que se deve ter preparo para exercer a
Preceptoria.
Nós tivemos alguns preparos, poucos né. Tipo, a educação continuada deu
uma orientada mais ou menos. Mas, a gente tem embasamento de outros
lugares, isso também é um facilitador (Enf III).
Pode-se notar que os participantes mencionaram o conhecimento acumulado durante
diferentes cursos de formação e a experiência profissional como base de sustentação para
atuar como facilitador do processo de integração ensino-assistência de Residentes. Assim, ao
citarem o curso de Preceptor, de mestrado e a educação continuada, os Enfermeiros
participantes desta pesquisa corroboram com a afirmativa de que os profissionais de
instituições que oferecem Residência devem ser preparados para exercer uma prática
interdisciplinar com a melhor qualificação possível, pois “a principal atividade da residência
está centrada no treinamento em serviço” (OLIVEIRA atal, 2010, p.113).
A importância do Enfermeiro dos serviços de saúde, principalmente dos Preceptores,
contribui muito para o processo de formação lato sensu. Embora eles não atuem diretamente
na academia, desempenham, como agentes do serviço, um importante papel na formação,
inserção e socialização do Residente no ambiente de trabalho, demonstrando preocupação que
envolvem os aspectos de ensino-aprendizagem do desenvolvimento profissional, integrando
conceitos e valores da teoria e da prática (TAVARES, SANTOS, COMASSETTO, SANTOS,
SANTANA, 2011).
A busca do aprimoramento encontra-se vinculada a oportunidade de fazer um trabalho
melhor, bem como ao fortalecimento da prática de acompanhamento em campo. Mas não é
somente com o curso específico que o profissional sente-se preparado para atuar no processo
de ensino-aprendizagem dos Residentes, a experiência no campo assistencial lhe confere
55
saberes que o torna preparado para facilitar este processo:
Eu atuo na Preceptoria de campo com Residentes multi desde o início do
curso aqui no IPUB, mas não fiz esse curso de formação (Enf II).
Os Enfermeiros, atuantes no cenário de pesquisa, são oriundos de concurso público,
apresentando dissonância de formação profissional. Conforme consta no Edital, os candidatos
não precisam apresentar como pré-requisito a formação específica na área de Saúde Mental
e/ou comprovação de experiência com este tipo de clientela.
De acordo com o Edital nº 316, de 18 de setembro de 2013, publicado no Diário
Oficial da União (DOU) nº 182, de 19 de setembro de 2013, referente ao concurso de
profissionais para execução de atividades no IPUB, verificamos que no Anexo III - Requisitos
e atribuições dos cargos (consolidado em 24/04/2013), a função de Preceptoria é incluída
como assessoria nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, como pode-se ver:
Cargo: Enfermeiro - todas as áreas. Requisitos: Graduação concluída em
Enfermagem, em curso reconhecido pelo MEC, e registro no COREn.
Atribuições do Cargo: Prestar assistência ao paciente e/ou usuário em clínicas,
hospitais, ambulatórios, navios, postos de saúde e em domicílio, realizar
consultas e procedimentos de maior complexidade e prescrevendo ações;
implementar ações para a promoção da saúde junto à comunidade. Assessorar
nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
A tríade das Instituições públicas de Ensino Superior (IES) – Ensino, Pesquisa e
Extensão – presentes nas atribuições do Enfermeiro, possibilitam um entendimento intrínseco
de que o profissional auxiliará, orientará alguém durante o desenvolvimento de atividades
nestas esferas.
Ainda pode-se destacar que as atividades de ensino, não são somente atividades
voltadas para alunos (graduandos ou pós-graduandos), podendo ser realizadas com a própria
equipe de enfermagem. As atividades de pesquisa podem também ser realizadas pelos
próprios Enfermeiros por iniciativa própria e incluem a coordenação de projetos de pesquisa,
a orientação e co-orientação de trabalhos de conclusão de curso, de iniciação científica ou
outro, e as atividades de extensão estão relacionadas às atividades de
56
aperfeiçoamento/atualização profissional atreladas a uma IES.
Assim, fica evidente que os Enfermeiros do IPUB que não são Preceptores do Curso
de Residência Multiprofissional da instituição, atuam como facilitadores do processo de
integração ensino-assistência junto aos Enfermeiros que ingressam no mesmo, no âmbito das
atividades assistenciais. A prática na instituição garante o preparo dos mesmos, independente
da área em que realizaram seus cursos de pós-graduação. Mas, ao se pensar nos conceitos e
definições descritos, uma maior imersão em todo contexto do programa, em todos os cenários
e não unicamente na unidade de internação do IPUB é necessária.
CAPÍTULO II
ESTRATÉGIAS FACILITADORAS DO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ENSINO-
ASSISTÊNCIA UTILIZADAS PELOS ENFERMEIROS COM OS RESIDENTES
57
Embora os cursos de especialização para profissionais da área da saúde na modalidade
residência existam no Brasil desde a década de 1970, sua regulamentação se deu,
primeiramente, para os profissionais médicos, com o Decreto n. 80.281 de 1977. Para os
demais profissionais da saúde foi através da Lei federal n. 11.129 de 2005, que as instituiu
como modalidade de ensino de Pós-Graduação Lato Sensu como parte de uma estratégia para
formar recursos humanos para o SUS (BRASIL, 2005).
A legislação estipula que os Programas de Residência multiprofissional e uniprofissional
da área da saúde sejam desenvolvidos com oitenta por cento da carga horária total
concentrada em estratégias educacionais práticas e teórico-práticas, “com garantia das ações
de integração, educação, gestão, atenção e participação social e 20% (vinte por cento) sob
forma de estratégias educacionais teóricas” (BRASIL, 2014, Art.2º).
Ainda cabe esclarecer que, por definição, segundo o mesmo artigo da referida Resolução
(BRASIL, 2014, Art.2º):
“§ 1° Estratégias educacionais práticas são aquelas relacionadas ao
treinamento em serviço para a prática profissional, de acordo com as
especificidades das áreas de concentração e das categorias profissionais da
saúde, obrigatoriamente sob supervisão do corpo docente assistencial.
§ 2° Estratégias educacionais teóricas são aquelas cuja aprendizagem se
desenvolve por meio de estudos individuais e em grupo, em que o
Profissional da Saúde Residente conta, formalmente, com orientação do
corpo docente assistencial e convidados.
§ 3° As estratégias educacionais teórico-práticas são aquelas que se fazem
por meio de simulação em laboratórios, ações em territórios de saúde e em
instâncias de controle social, em ambientes virtuais de aprendizagem, análise
de casos clínicos e ações de saúde coletiva, entre outras, sob orientação do
corpo docente assistencial”.
Ao se pensar nos parâmetros de pós graduação Lato Sensu, especialmente nos cursos
na modalidade de residência, a integração do estudante com o ambiente prático se configura
como importante aspecto de ensino-aprendizagem. Vale ressaltar que, diferente das normas do
curso de graduação, em que o acadêmico deve passar por todos os cenários de prática
58
pertinentes a formação generalista, na pós-graduação vê-se uma abordagem diferente, pois o
estudante escolhe uma área de aprofundamento de conhecimentos, já na condição de
profissional, para a qual a abordagem torna-se diferenciada, tanto nos aspectos teóricos como
práticos (BOTTIL, 2008).
Ao serem indagados sobre suas atividades junto aos Residentes Enfermeiros, os
participantes da pesquisa informaram as estratégias que utilizam para integrar a prática
assistencial ao aprendizado, sendo elas a troca de experiência entre Enfermeiros e Residente, a
supervisão e apoio na realização das atividades práticas desenvolvidas pelos Residentes e o
desenvolvimento conjunto de um plano terapêutico com vistas ao processo de
desinstitucionalização.
Embora as estratégias de aprendizagem sejam adotadas pelo Residente e sofram
influência das características próprias do mesmo, cabe ao Preceptor/facilitador não só
desenvolver táticas que favoreçam o aprendizado profundo como propiciar um clima
adequado para que este se desenvolva (SKARE, 2012).
A aproximação da realidade vivida em campo faz a diferença da aprendizagem em um
curso de residência, uma vez que colocar em prática a teoria dentro desse processo de
qualificação profissional fortifica o saber. Logo, o Preceptor/facilitador deve lançar mão de
estratégias que facilitem ou até mesmo explorem ao máximo a capacidade de resolutividade
das situações diárias do setor, seja na esfera assistencial direta ou indireta, esta
correspondendo às ações com influências territoriais e, preferencialmente de caráter
interdisciplinar (SKARE, 2012; OLIVEIRA, 2000).
De acordo com Rodrigues et al (2014), o fazer na assistência sustenta a competência
intelectual e cognitiva com vistas ao mercado de trabalho. A dinâmica do serviço convida os
estudantes a participarem do contexto e os ensina como proceder em situações vivenciadas.
As práticas do Preceptor/facilitador da aprendizagem podem ser pensadas, resgatando
59
seu potencial de formar profissionais reflexivos, capazes de agir a pertinência das práticas
consolidadas, inconformados com a cegueira das rotinas impensadas, fortemente vinculados
ao compromisso ético de perguntarem se estão fazendo, como equipe e individualmente, o
que de melhor pode ser feito pelos usuários (RIBEIRO, 2012).
II.1 Troca de experiências entre Enfermeiros e Residentes
O fato dos Enfermeiros não Preceptores da Residência Multiprofissional do IPUB que
participaram desta pesquisa informarem que sentem-se nesta função, não é um motivo de
desabono de sua atuação, ao contrário, reafirma a ideia aqui sustentada de que são
facilitadores da integração ensino-assistência. Dito isto, justifica-se a utilização de referências
sobre Preceptoria para embasar a análise dos dados, uma vez que as atividades de todos os
Enfermeiros participantes aproximam-se pelas estratégias utilizadas.
Entende-se, sob a ótica de Peixoto (2014), que o ser social deve estar preparado para
reflexão e criticidade, de modo a decidir como agir em diferentes circunstâncias da vida e do
trabalho. Este comportamento favorece a construção do conhecimento por meio da troca de
vivências, e, nesta reciprocidade tem-se uma aprendizagem significativa, aprendendo a
aprender.
Duas importantes informações sobre o cotidiano do cuidado nas enfermarias do IPUB
que possibilita a troca de experiências entre Enfermeiro e Residentes são explicitadas nos
resultados da pesquisa. Uma relaciona-se a participação dos Residentes, Enfermeiros ou não,
nas atividades diárias da unidade, o que é motivo de convivência, portanto de aproximação
entre os profissionais aprendizes e funcionários. A outra é o compartilhamento das ações do
cuidado de enfermagem, este realizado somente pelos Residentes Enfermeiros, o que não
pode se dar sem que haja alguma interação com o Enfermeiro que está como supervisor de
60
enfermagem na unidade.
Os Residentes são separados por equipes e eles fazem as demandas do dia a
dia do setor, independente da sua área de formação (Enf III).
Nós acabamos tendo mais contato com eles [Residentes Enfermeiros], pois
grande parte das atividades desses Residentes se dá aqui [na enfermaria]
onde nós Enfermeiros chefiamos (Enf V).
A troca de saberes passa pela relação de confiança no processo de aprendizado, o que
faz diferença quando se pretende especializar um profissional de enfermagem, uma vez que o
saber se dá por conta de cuidados à saúde e essa confiança e motivação do aprender se baseia,
em muitos casos, no processo de se espelhar naquele que se torna referência a tudo
(BARRETO et al, 2011).
Para o melhor aproveitamento das condições de trabalho para realizar as atividades
diárias faz-se necessário um relacionamento horizontalizado, a fim de que as orientações do
Enfermeiro Preceptor/facilitador para esse Residente tenha melhor aceitabilidade, podendo ser
uma estratégia para se captar o saber já existente no Residente e aprimorá-lo.
Logo, conforme Barreto et al (p. 580, 2011), será importante incorporar algumas
práticas a fim de horizontalizar a relação, como, por exemplo:
1. Atitudes a serem tomadas pelo Preceptor para facilitar a
aprendizagem intelectual e afetiva: a. Veracidade e autenticidade: ser o que se é, sem construção de
fachadas; b. Prezar, aceitar e confiar: respeitar o estudante e o
que ele traz de conhecimento; c. Compreensão empática:
compreender o estudante enquanto ser humano, evitando
julgamentos; 2. Abertura concreta entre todos para sanar dúvidas e
inseguranças, inclusive do Preceptor; 3. Organização do processo de trabalho que comporte o ensino; 4. Responsabilização equânime do processo de trabalho; 5.Compromisso efetivo do Preceptor e educando com sua
responsabilidade territorial, epidemiológica e educacional;
Incorporação, no relacionamento com os usuários, de
características semelhantes às do relacionamento com o
educando, dado que o usuário está também em processo
educativo sobre sua produção de saúde.
61
Um dos participantes referiu que é importante o relacionamento entre o Preceptor e o
Residente:
Acho que acima de tudo nós temos que saber chegar nesse Residente,
porque nem todos conhecem a forma de ensino que a UFRJ/IPUB possui,
então, muitos desses ficam um pouco perdidos com o início de tudo e se o
Preceptor não souber lidar com isso e ter paciência em entender esse
Residente, todo o processo de aprendizagem dele pode se bloquear (Enf.
VIII)
Saber relacionar-se é um dos desafios do Preceptor e o processo de trabalho, atrelado
ao compromisso do educador, exige a formação de parcerias didático-práticas para resolução
de conflitos interpessoais e o enfrentamento diário da profissão (PEIXOTO, 2014).
Ao lançar um olhar sobre o Relacionamento entre Residente e
EnfermeiroPreceptor/facilitador, Barbeiro (2010, p. 1084) diz que:
[...]possível perceber que o relacionamento entre o Enfermeiro
Residente e o EnfermeiroPreceptor é visto como um
relacionamento profissional onde a troca de informações se dá
de forma de quem supostamente obtém mais conhecimento
(Preceptor) para aquele que detém menos (Residente).
Independentemente do Enfermeiro Residente já possuir
habilidade técnica proveniente de suas experiências
profissionais pregressas, seu relacionamento com o Preceptor
é visto, ainda sim, como uma relação “aluno e professor”, na
qual é necessário que o “professor” tenha atenção durante a
execução das tarefas do Enfermeiro Residente.
Frente à prática de Preceptor/facilitador na residência multiprofissional a fala do
participante apresentada traz questões que convergem com a ideia acima, uma vez que grande
parte das atividades práticas dos Residentes acontecem no cenário de liderança e atividade do
Enfermeiro e sua equipe.
Eu fui Residente, não em Saúde Mental, mas sei como é difícil lidar com
tudo isso. A parte teórica, a prática hospitalar e os conflitos que ocorrem
com relação à equipe, então ter um bom relacionamento com esse
Enfermeiro que ali está com você nesses momentos pode faz toda a
diferença. Até porque esse Residente se torna parte daquela equipe também
(Enf. VIII)
Para uma melhor experiência nesse primeiro ano do curso, ter um bom relacionamento
62
com os Enfermeiros, sejam eles Preceptores ou facilitadores, torna-se fundamental. No
destaque da fala da Enf. VIII, a experiência vivida pela mesma, de ter sido Residente, ajuda
na compreensão a respeito das relações que permeiam a atividade prática dos estudantes. Isso
é troca de experiência, que parte de um saber que envolve a construção das relações no
serviço, especialmente das relações com a equipe de saúde do local onde a prática acontece.
II.2 Direcionamento da realização das atividades práticas desenvolvidas pelos
Enfermeiros Residentes voltadas para a Reforma Psiquiátrica
A pesquisa mostrou que, mesmo os Residentes atuando em uma unidade de internação
que ainda guarda relações com a lógica manicomial, a Reforma Psiquiátrica obtém grande
valor, servindo até de referencial teórico para a discussão de casos.
Tudo é a Reforma, não tem como exercer qualquer prática sem a vinculação
dela. Até porque, quando se trata de Saúde Mental, até um simples gesto ou
expressão pode fortalecer ou prejudicar o cuidado, afinal tudo é muito
subjetivo, então a Reforma deve estar sempre presente para melhorar cada
vez mais a situação deles (Enf. III).
O IPUB oferece diferentes campos para o exercício de atividades práticas pelos
Residentes. Este estudo priorizou as atividades realizadas nas unidades de internação da
instituição, desenvolvidas no primeiro ano do mesmo. Percebeu-se que a formação de equipes
para a realização dos cuidados assistenciais acontece com a articulação entre os Residentes, os
Enfermeiros Preceptores/facilitadores e equipe de médicos.
Nós somos vinculados a uma equipe de supervisão, todos os dias aqui têm os
plantões com seus Preceptores de staff médico, realizando assim a mini
equipe daquele dia. Dessa forma, avaliamos os casos demandas do dia (Enf.
VII).
De acordo com os resultados desta pesquisa, entende-se que a prática do programa
deve estar vinculada a atenção em Saúde Mental, considerando todos os aspectos que
63
envolvem os indivíduos com transtornos mentais, com vistas a sua independência e alta
hospitalar. Esse processo implica em pensar o tempo todo na possibilidade das pessoas
retornarem para suas casas e conviverem na comunidade, recebendo tratamento em CAPS.
O processo de construção dos serviços de atenção psicossocial
também tem revelado outras realidades, isto é, as teorias e os
modelos prontos de atendimento vão se tornando insuficientes
frente às demandas das relações diárias com o sofrimento e a
singularidade desse tipo de atenção. É preciso criar, observar,
escutar, estar atento à complexidade da vida das pessoas, que é
maior que a doença ou o transtorno. Para tanto, é necessário
que, ao definir atividades, como estratégias terapêuticas nos
CAPS, se repensem os conceitos, as práticas e as relações que
podem promover saúde entre as pessoas: técnicos, usuários,
familiares e comunidade. Todos precisam estar envolvidos
nessa estratégia, questionando e avaliando permanentemente os
rumos da clínica e do serviço (BRASIL, p. 17, 2004).
A prática em Saúde Mental vincula-se a busca da ressocialização psicossocial, no que
se refere a volta do individuo portador de transtorno mental à sociedade e seu convívio. Já a
Psiquiatria, em resumo, atua diretamente com as demandas patológicas e sua assistência, bem
como na condução da crise, formas preventivas da mesma e achados diagnósticos.
De acordo com a pesquisa, observa-se que as atividades do curso em questão se focam
de acordo com a demanda do setor e na condução da reabilitação psicossocial.
A gente tenta trabalhar com os pacientes fora daqui. Eles fazem muitas
saídas, a gente tenta levar eles no território, mesmo internado a gente fazer
com que eles continuem frequentando o CAPS de origem (Enf VII).
Nós trabalhamos com esses pacientes de longa permanência no território
deles, é uma prática árdua, mas necessária para o bem dessa pessoa
(Enf.X).
Na fala dos participantes fica evidenciada a intenção de se prestar um cuidado
psicossocial, inclusive dentro das novas práticas territoriais:
Território não é apenas uma área geográfica, embora sua
geografia também seja muito importante para caracterizá-lo. O
território é constituído fundamentalmente pelas pessoas que
nele habitam, com seus conflitos, seus interesses, seus amigos,
64
seus vizinhos, sua família, suas instituições, seus cenários
(igreja, cultos, escola, trabalho, boteco etc.). É essa noção de
território que busca organizar uma rede de atenção às pessoas
que sofrem com transtornos mentais e suas famílias, amigos e
interessados (BRASIL, PAG. 11, 2004).
As práticas do território focam na reabilitação psicossocial, uma vez que a promoção e
reafirmação da autonomia deste indivíduo é o principal objetivo. Uma das formas de
realização é a presença do Acompanhante Terapêutico (AT), essa atividade surgiu na
Argentina, no final da década de 1960, como uma necessidade clínica para pacientes cujas
terapêuticas clássicas fracassavam. Inicialmente o AT foi chamado de “amigo qualificado”,
contudo tal termo não se tornou apropriado pela perda do vínculo profissional. O AT não é
um amigo, ainda que possa estabelecer vínculos afetivos intensos com o paciente, mas sim,
um agente terapêutico que realiza tarefas e é remunerado para isto (LONDERO &
PACHECO, 2006).
Logo, tal prática deve acontecer mediante a participação deste profissional, que pode
ser de qualquer categoria profissional presente na equipe multiprofissional. Todavia as
práticas devem acontecer na reinserção do individuo portador de transtorno mental à
sociedade, principalmente ao território do mesmo.
Nesse aspecto é possível perceber que uma instituição de referência em cuidado ao
portador de transtorno mental não poderia atuar de forma diferente, ou seja, capacitando seus
profissionais dessa formação com a visão dessa forma de cuidado.
No ensino prático aos Residentes do IPUB, além da busca da Reabilitação
Psicossocial das pessoas como transtornos mentais internadas há muito tempo e manutenção e
controle de crise, as atividades para fomentar tal prática acontecem por meio de ensaios
clínicos e discussões de casos.
Para isso, faz-se necessário a busca de referencias teóricos para uma abordagem e
cuidado de excelência.
65
A Reforma Psiquiátrica é o referencial dentro da Saúde Mental, claro que
assim a gente trabalha e discute muito a Reforma aqui, porque quando eles
vão para enfermaria eles se deparam com muitos pacientes de longa
permanência, para fazer um trabalho de desinstitucionalização... [...] eu
acho que a Reforma Psiquiátrica tem que ser o nosso referencial de
trabalho como um todo (Enf. X).
A gente utiliza textos, situações-problemas envolto de referenciais de acordo
com a atenção necessária (Enf. IX).
Nessa abordagem de casos e discussão com eles, utiliza-se muito materias
sobre Reforma das Políticas de Saúde, Reforma Psiquiátrica e das Portarias
de Saúde Mental (Enf. VIII).
Nós falamos muito da reforma psiquiátrica com eles [Residentes
Multiprofissionais], das Políticas de Saúde Mental e das Portarias também
(Enf. VII).
Logo, é possível observar que embora o curso aconteça metade do seu tempo em uma
unidade hospitalar, seu foco visa sempre à reabilitação, uma vez que o discurso sobre a
Reforma Psiquiátrica torna-se unânime, exigindo intervenção para mudar o perfil geral da
unidade de internação do IPUB que é de situações de crise e de internação de longa
permanência. Os Enfermeiros possuem visão crítica sobre tais características institucionais:
Aqui é uma instituição que se aproxima muito ainda da lógica manicomial
(Enf. VI).
É um hospital de crise e ainda tem muitos pacientes internados há mais de
um 1 ano, na verdade tem pacientes com mais de 15 anos aqui dentro, com
isso ele acaba convivendo com todas as regras e normas do hospital em si
(Enf. IX).
Os trechos das entrevistas apresentados acima mostram que os Enfermeiros do IPUB
fazem uma crítica ao Modelo Manicomial e percebem claramente os pontos fracos da
instituição, embora haja um movimento para a mudança. Isto porque eles manifestam o
conhecimento e embasamento do cuidado que é apresentado aos Residentes no Modelo
Psicossocial, portanto, segundo a Reforma Psiquiátrica brasileira.
66
Na pesquisa ficou evidente que o serviço da unidade tem características próprias,
todavia, entende-se que o ensino fomentado por eles torna-se diferenciado dos demais, uma
vez que mesmo sendo uma instituição que vem de muitos anos funcionando dentro da lógica
manicomial, consegue atuar indo ao encontro da lógica psicossocial e trazer a tona essa
prática para com seus Residentes Enfermeiros.
Por conta disso e seu surgimento no desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica a
principal prática desenvolvida pelos Residentes segundo a pesquisa é colocá-la em prática.
Quando eles [Residentes] chegam aqui são encaminhados para os usuários
de longa permanecia com o intuito de desinstitucionalizar ele. O que é um
grande desafio! (Enf. VII)
Para se falar de Desinstitucionalização faz-se necessário entender o sentido e
significado de tal termo. De acordo com Paulo Amarante (1994) pode-se entender como
desconstrução de saberes, discursos e práticas psiquiátricas que sustentam a loucura reduzida
ao signo da doença mental e reforçam a instituição hospitalar como a principal referência da
atenção à saúde mental. Assim se relaciona ao símbolo de esperança, já que ela traz, não
apenas o estar na sociedade e sim o ser social, livre dos grilhões das normas manicomiais.
O ato de desinstitucionalizar tem duas pontes para o mesmo fim que é a Reabilitação
Psicossocial, uma com o foco de relação familiar, ou seja, reconstruir o seio familiar para a
relação com o indivíduo portador de transtorno mental e outra de relação territorial para a
vinculação ao Serviço de Residência Terapêutica (SRT).
Tal serviço sob a ótica do MS (2004) motiva que a criação de serviços residenciais
terapêuticos é imprescindível para a redução dos leitos em hospitais psiquiátricos uma vez que
oferecem condições de vida para aqueles que se tornaram institucionalizados, moradores de
rua e egressos de instituições penais e manicômios judiciários, ou seja, pessoas com vínculos
familiares e sociais comprometidos ou inexistentes.
67
Conforme relatado por Alverga e Dimenstein (2006), as relações de equipe
desenvolvem um dos grandes desafios para o processo de desinstitucionalização, aonde a falta
de entendimento de ser multiprofissional é um dos obstáculos mais comuns.
Ajudamos eles [Residentes multiprofissionais] nas discussões de casos
clínicos. E o mais legal disso tudo é que por conta da especialidade dele
sempre trazem observações novas e não se limitam ao saber adquirido por
eles na graduação. Aqui eles interagem bem e conseguimos perceber a
evolução de profissional para equipe (Enf. X).
É possível observar também que o estar no ambiente propício a institucionalização,
torna-se perturbador se não conseguir desenvolver as bases teóricas pertinentes para a prática
da desisntitucionalização. A pesquisa apresentou que, embora os profissionais do IPUB
estejam em um ambiente de controle de crise, a desinstitucionalização não é esquecida.
A pesquisa apresentou que embora estando em um ambiente de controle de crise a
Desinstitucionalização não é esquecida.
O IPUB é um hospital com foco no controle da crise. Mas não podemos nos
esquecer das evoluções e melhorias que a Desinstitucionalização tem
trazido para esse público (Enf. VII).
Os Residentes Multiprofissionais chegam aqui com a Reforma
Psiquiátrica/Desinstitucionalização “fresquinha” na mente e até se chocam
quando vêem alguma atividade mais manicomial, mas não se limitam
apenas a observar e questionam conosco a ocasionalidade (Enf. X).
Com isso, entende-se que quem busca se especializar em saúde mental na atualidade
tem o desejo e a veia mais inflamados nesse saber que coloca o cuidado no campo da
reabilitação. Assim, percebe-se que há a necessidade da evolução do ensino em concordância
com a evolução do cuidar dos dias atuais.
Os Residentes Multiprofissionais não chegam aqui com medo deles
[pacientes] e nem com a lógica manicomial instalada (Enf. I).
Eu acredito que eles conseguem sair daqui com essa lógica em saúde mental
diferenciada (Enf. III).
68
A evolução da Reforma Psiquiátrica torna-se tão grande e forte que o conhecimento
dos métodos manicomiais e institucionalizadores ficam em palavras escritas e não tanto na
ação do dia a dia, o que permite aos Enfermeiros do IPUB transmitir a lógica psicossocial:
Muitos chegam aqui sem saber nada de Saúde Mental e trazer a tona esse
pensamento de reabilitação psicossocial torna-se mais fácil e prazerosa
(Enf. IV).
Eu acredito que aqui seja a antena dessa lógica [manicomial], eles chegam
aqui sem saber absolutamente nada e fomentar a controversa desse
pensamento é o mais importante (Enf. III).
Eu acho impressionante quando chegam [Residentes multiprofissionais]
aqui no IPUB e desconhecem tudo que tem aqui. A geração CAPS que
nunca entrou em um hospício e critica tudo o que acontece aqui e ao mesmo
tempo se vê dividido do que fazer (Enf. VIII).
Pode-se dizer que essa dificuldade de reconhecimento do Hospital Psiquiátrico se dá
pelo fortalecimento do pensamento psicossocial, ou seja, os modelos substitutivos de cuidado,
as práticas de desinstitucionalização estão ganhando e conquistando seu espaço e, para isso,
formando profissionais cada dia mais qualificados com tal demanda.
Todavia, pode-se dizer que os hospitais psiquiátricos só mantém sua atividade na Rede
de Atendimento por uma questão dá própria rede, que ainda não dá suporte a todas as
demandas necessárias. Contudo, com a pesquisa entende-se que a qualificação profissional
existe, falta apenas a estruturação política.
Eu acredito que além de tudo, o funcionamento dessa modalidade de
residência aqui traz benefício para todos [funcionários, pacientes,
estudantes], eles vem com gás, com motivação e muitas vezes tanto esse
paciente e funcionários de longo prazo trocam saberes e isso é bem legal
(Enf. VIII).
O que temos aqui é algo muito bom, e poder participar, não apenas do dia a
dia deles, como também do processo de ensino e aprendizagem é muito mais
gratificante (Enf. IX).
Embora os Residentes atuem lado a lado com profissionais que apresentam diferentes
69
formas de cuidado, umas mais fortemente impregnadas das práticas excludentes e outras mais
voltadas para a reabilitação, os participantes da pesquisa referiram que olham o usuário como
um ser humano e não como uma doença. Isto foi evidenciado pelas falas dos participantes ao
informarem que consideram que a atividade de preceptoria/facilitação da integração ensino-
assistência contribui para a formação dos Residentes na lógica do modelo psicossocial.
Não que seja apenas pela gente, mas nesse primeiro ano que temos contato
com eles conseguimos perceber que a mesma pessoa que está saindo não é a
mesma que entrou ali (Enf. II).
Acredito que sim, não apenas pelo próprio programa do curso, mas nada
melhor que o exemplo e vejo isso neles a busca de melhorar e fazer diferente
(Enf. I).
O que a gente faz aqui é muito bonito e só não é perfeito porque o Homem
não é perfeito (Enf. VIII).
A pesquisa mostrou que a satisfação desses profissionais em poder ter feito a diferença
na formação de outros Enfermeiros especializados é de grande valia. Vencer o desafio de
plantar e regar a semente da Reforma Psiquiátrica e poder colher tal fruto dentro de uma
instituição aonde se encontram indivíduos com transtornos mentais agudos e crônicos é o
maior triunfo.
70
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desenvolver esta pesquisa durante o curso de mestrado permitiu evidenciar diferentes
aspectos referentes ao processo de integração ensino-assistência dos Residentes Enfermeiros
do IPUB, bem como as estratégias utilizadas pelos Enfermeiros da instituição para qualificar
um aprendizado especializado em saúde mental.
A pesquisa revelou como os Enfermeiros percebem sua atuação junto a outros
profissionais que realizam curso de especialização como uma atividade de preceptoria, o que
é importante para a compreensão das formas de cuidado em saúde mental empreendidas no
IPUB, um hospital-escola de grande relevância no Rio de Janeiro. Adentrar um pouco nesse
mundo complexo de atuação que envolve a dualidade entre o ensino e a prática profissional
foi um desafio, que ajudou a refletir como o preparo de profissionais à nível lato sensu vem
ocorrendo, bem como a importância de ser ter profissionais engajados e preparados para
exercerem atividades de preceptoria.
No IPUB, cenário deste estudo, todos os Enfermeiros são profissionais facilitadores do
processo de integração ensino/assistência, de forma consciente, direcionada para a reforma
psiquiátrica e seus conceitos reabilitadores, que impõem novas práticas para o cuidado em
saúde mental. Observou-se que diferentes características da formação profissional dos
Enfermeiros do IPUB, como o tempo de formação, de atividade profissional, tipo de
capacitação, bem como a união de todos estes fatores refletem na forma como as atividades
teórico-práticas acontecem no curso de Residência Multiprofissional do IPUB.
O preparo de Enfermeiros em curso de capacitação de preceptores foi uma estratégia
da instituição para prover um grupo preparado para assumir o acompanhamento dos
71
Residentes na prática e assim oferecer um bom ambiente de ensino-aprendizagem para novos
profissionais para o cuidado em saúde mental. Tal curso foi importante para o bom
desenvolvimento da Residência Multiprofissional do IPUB, mas também foram referidos
curso de mestrado e educação continuada como base de preparação para atuar no ensino dos
Residentes.
As estratégias de facilitação da integração ensino-assistência constituem-se em
atividade multiprofissional, que prevê uma atuação primeiramente disciplinar dos futuros
Enfermeiros especialistas, de acordo com as diretrizes do SUS e da reforma psiquiátrica. Os
Residentes Enfermeiros do IPUB são estimulados a prestar cuidados aos usuários de longa
permanência em busca da ressocialização dos mesmos. Também são realizadas intervenções
aos usuários em crise, de acordo com as rotinas da instituição, sempre tendo o apoio e a
orientação dos Enfermeiros da instituição que em suas falas incluem o Residente como parte
da equipe assistencial.
Ainda foi possível identificar estratégias de ensino teórico-prático como ensaios
clínicos e discussões de casos, espaços tidos como de aperfeiçoamento das formas como se
realizam os cuidados aos usuários do IPUB e que visam relacionar a individualidade de cada
um com uma assistência qualificada e terapêutica.
Os Enfermeiros reconhecem que, diante da presença de Residentes no IPUB, a
interação entre equipe assistencial e esses estudantes é natural. Dessa forma, assumem seu
papel de preceptores/facilitadores porque sabem que o importante no cuidado em saúde
mental é a disponibilidade para trocar experiências e compartilhar saberes. Os dados coletados
neste estudo mostraram que os Enfermeiros elaboram reflexões críticas sobre as
características manicomiais das unidades de internação do IPUB e procuram mostrar aos
Residentes sua ineficácia, colocando-os para atuarem em prol da alta hospitalar e, portanto, da
desospitalização.
72
Diante disso, afirma-se que dentro do hospital psiquiátrico em estudo está o discurso
da Reabilitação Psicossocial, independente da prática realizada, o que é visto com um fator
positivo, pois a introjeção da lógica psicossocial no discurso é o primeiro passo para as
mudanças na prática serem implementadas, embora este processo seja reconhecidamente
lento, o que vem sendo uma afirmativa comum em estudos da área.
Formar Enfermeiros especialistas em Saúde Mental é na atualidade uma difícil tarefa,
ainda mais quando se tem como campo de prática o hospital psiquiátrico, instituição defasada
mas presente em nossa sociedade. É necessário investir em uma visão psicossocial de cuidado
que contemple as necessidades das pessoas em sofrimento psíquico para que permaneçam da
melhor forma possível na comunidade e as possibilidades de atuação da enfermagem nesse
cenário com vistas a sua eliminação do espaço assistencial.
A História da enfermagem psiquiátrica é marcada por estigmas e desqualificação
profissional, mas hoje essa realidade vem sendo transformada diante de uma atitude de
protagonismo social destes profissionais e de um cuidado, ainda em transformação, mas
consciente de suas inadequações quando comparado ao modelo de atenção em saúde mental
em vigor no Brasil.
Por fim, é preciso afirmar que esta pesquisa não esgota o tema mas permite levantar
importantes reflexões sobre as práticas facilitadoras da integração ensino-assistência
realizadas pelos Enfermeiros do IPUB junto aos profissionais também Enfermeiros do curso
de Residência Multiprofissional em Saúde Mental. Conclui-se que o processo de ensino-
aprendizagem em cursos de residência dependem diretamente dos profissionais que estão nos
locais de assistência e que o tempo de exercício profissional na área é um preparo para lidar
com os Residentes. Entretanto, não se deve prescindir de um preparo formal de preceptores,
para que essa troca ocorra de forma segura e com a aplicação de conhecimentos sobre
metodologias de ensino apropriadas para o campo da saúde mental.
73
74
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83
APÊNDICE A – CRONOGRAMA
PERÍODO
ATIVIDADE
1º semestre
2014
2º semestre
2014
1º semestre
2015
2º semestre
2015
1º semestre
2016
Levantamento
Bibliográfico
Elaboração do Projeto
Defesa do Projeto
Aprovação no CEP
Coleta de Dados
Análise Preliminar dos
Dados
Exame de Qualificação
da Dissertação
Produção de Artigo
Científico
Análise Final dos
Resultados
Elaboração do
Relatório Final
Revisão Ortográfica
Defesa da Dissertação
84
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Resolução nº 466/2012 – Conselho Nacional de Saúde
Você foi selecionado(a) e está sendo convidado(a) para participar da pesquisa intitulada:
“EnfermeiroPreceptor em Saúde Mental: um enfoque no ensino de enfermagem”, que tem como
objetivos: Descrever a formação dos Enfermeiros que exercem a prática de Preceptoria em Saúde
Mental em um hospital escola do Rio de Janeiro; Analisar as estratégias utilizadas por esses
profissionais para a prática de Preceptoria; Discutir a prática de Preceptoria em enfermagem de saúde
mental à luz dos preceitos da Reforma Psiquiátrica. Trata-se de pesquisa de natureza qualitativa, com
caráter exploratório, através de estudo de campo. A pesquisa terá duração de 2 anos, com o término previsto para dezembro de 2015. Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, através de códigos e em
nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você pode recusar-se a responder
qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum
prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição que forneceu os seus dados. Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas a serem realizadas sob a
forma de entrevista, a qual será gravada em MP3 para posterior transcrição, que será retornado para
sua validação e posterior cessão dos direitos sobre o depoimento. Os dados coletados serão utilizados
apenas NESTA pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou revistas científicas. O (a) Sr (a)
não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. Os riscos potenciais desta pesquisa estão atrelados ao risco de dano emocional ou de
constrangimento durante a realização da entrevista. O responsável pela realização do estudo se
compromete a zelar pela integridade e o bem-estar dos participantes da pesquisa, respeitando valores
culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes dos participantes. Os benefícios contribuição não apenas científica como também social. Contribui a amplitude
da linha de pesquisa vinculada ao Núcleo de Pesquisa Enfermagem em Saúde Mental (NUPESAM),
bem como ao Grupo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde Mental (GEPESM).
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone/e-mail e o endereço do
pesquisador responsável, e demais membros da equipe, podendo tirar as suas dúvidas sobre o projeto e
sua participação, agora ou a qualquer momento. Desde já agradecemos!
Profª Dr.ª Maria Angélica de Almeida Peres Orientadora
E-mail: [email protected] Cel: (21) 99143-6621
Diego Rocha Louzada Villarinho Mestrando
E-mail:
[email protected] Cel: (21) 99378-0109
Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO e estou de acordo
em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei desistir a qualquer momento, sem sofrer
qualquer punição ou constrangimento. Recebi uma cópia assinada deste formulário de consentimento.
Rio de Janeiro, ____de ____________de 2015.
Assinatura do Participante da pesquisa:__________________________________________ Fonte: Comitê da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ.
85
APÊNDICE C - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
PARTE I – CONHECENDO O PERFIL
IDADE: ANO DE FORMAÇÃO:
LICENCIATURA: PÓS-GRADUAÇÃO:
TEMPO DE SERVIÇO NA INSTITUIÇÃO:
TEMPO DE ATIVIDADE EM PRECEPTORIA:
CURSO DE ATUALIZAÇÃO:
• Como se deu a sua inserção na atividade de Preceptoria?
• Você se preparou para ser Preceptor? De que maneira? • Considera que esse preparo foi válido? O que acrescentaria no preparo do
Preceptor em relação a sua experiência?
• Para licenciados: Você considera a licenciatura como um preparo para a Preceptoria?
Por que?
• Para Mestres: Você considera o mestrado como um preparo para a Preceptoria? Por
que?
• Como a sua formação interfere nas suas atividades de Preceptor?
• Descreva as atividades de Preceptoria que você exerce no IPUB, desde a recepção dos
estudantes no campo.
• Durante a supervisão das atividades práticas dos estudantes, quais estratégias para o
ensino e avaliação você utiliza?
• Na prática da Preceptoria você utiliza algum referencial teórico norteador? Qual?
• – Você considera que a Reforma psiquiátrica é um referencial que deve ser
utilizado na formação de pessoal de enfermagem?
• É possível demonstrar o cuidado de enfermagem aos estudantes conforme os
preceitos da Reforma Psiquiátrica.
• Você percebe que os estudantes chegam no campo com a lógica manicomial? Por quê?
• Como o Preceptor pode desvincular o modelo manicomial das atividades práticas
de enfermagem durante a supervisão?
• Você considera que a sua atividade de Preceptoriacontribui para a formação e
pessoal de enfermagem na lógica do modelo psicossocial? Por quê?
• Você conhece os benefícios de ser Preceptor em hospital escola?
• Você deseja acrescentar algum comentário?
86
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
APÊNDICE D – INSTRUMENTO DE CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
__________________________________________________________________________________
• Sexo: M F
• Ano de nascimento: 19_____
• Naturalidade: ____________________
• Município em que reside ______________________________
PARTE I – ÁREA ACADÊMICA
• Nome do Curso:___________________________________________________________
2. Estado em que graduou-se: ________ (sigla do estado)
3. Instituição de Ensino Superior: 1- Pública 2 - Privada
• Ano de conclusão: __________
•
• Nome do Curso:___________________________________________________________
2. Estado em que graduou-se: ________ (sigla do estado)
3. Instituição de Ensino Superior: 1- Pública 2 - Privada
87
• Ano de conclusão: __________
•
• Possui Curso de Pós-graduação? SIM NÃO
Pós-graduação Área Instituição Concluída
• Residência em
Ano:
Pública Privada
Sim Não Em curso
• Especialização em
Ano:
Pública Privada
Sim Não Em curso
• Mestrado em
Ano:
Pública
Privada
Sim
Não
Em curso
• Doutorado em
Ano:
Pública Privada
Sim Não
Em curso
• Pós-doutorado em
Ano:
Pública Privada
Sim Não
Em curso
• Possui Curso(s) de Extensão? SIM NÃO
Extensão Área Instituição Concluída
Nome:
Ano:
Pública
Privada
Sim
Não Em curso
Nome:
Ano:
Pública
Privada
Sim
Não Em curso
Nome: Ano:
Pública
Privada
Sim
Não Em curso
88
PARTE II – ÁREA PROFISSIONAL
IPUB
• Tempo de atuação? ____________________________________________________
OUTRA(S) INSTITUIÇÃO(ÕES)
Estado: ________ (sigla do estado)
Instituição: 1- Pública 2 - Privada
Quanto tempo de atuação? _____________
Estado: ________ (sigla do estado)
Instituição: 1- Pública 2 - Privada
Quanto tempo de atuação? _____________