Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros...

88
Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros como facilitadores da integração ensino-assistência Mestrando: Diego Rocha Louzada Villarinho Orientadora: Prof a . Dr a . Maria Angélica de Almeida Peres Dissertação de Mestrado a ser apresentada à banca examinadora para cumprimento dos requisitos do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery para a obtenção do grau de Mestre em Enfermagem. Rio de Janeiro, Brasil Junho, 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

Transcript of Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros...

Page 1: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

1

Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros

como facilitadores da integração ensino-assistência

Mestrando: Diego Rocha Louzada Villarinho

Orientadora: Profa. Dr

a. Maria Angélica de Almeida Peres

Dissertação de Mestrado a ser apresentada à banca

examinadora para cumprimento dos requisitos do

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola

de Enfermagem Anna Nery para a obtenção do grau de

Mestre em Enfermagem.

Rio de Janeiro, Brasil

Junho, 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

Page 2: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

2

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus,

pela saúde e sabedoria prestada.

Como também ,em memória, a Drª Lilian Hortale de Oliveira,

que me abriu as portas para estar aqui e lá do céu nos observa.

Page 3: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família pelo incentivo na busca da evolução profissional.

À minha irmã, Paula Rocha Louzada Villarinho, pela motivação inesgotante no

desenvolvimento do trabalho em todos os eventos adversos dessa trilha.

Ao meu grande amigo, Antonio da Silva Ribeiro, que me ajudou muito na busca de materiais

e apoio me cobrindo no trabalho para que eu pudesse desenvolver a pesquisa.

À minha orientadora, ProfªDrª Maria Angélica de Almeida Peres, que acreditou e investiu em

mim sua confiança, apesar das perdas que tive na vida nesse período. Não tenho meios de

agradecer por ter feito algo que creio que ninguém mais teria feito por mim, já que desde a

banca de seleção, se mostrou receptiva, me recebendo como orientando após a perda da

ProfªDrª Lilian Hortale, se aqui estou, é também pela motivação que dela recebi.

Ao meu amor, que do fundo do poço me tirou e que me ajudou reerguer e retomar os louros

da conquistados na vida - Obrigado, Gláucia Regina.

Page 4: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

4

RESUMO

A pesquisa tem como objeto de estudo as práticas facilitadoras da integração ensino-

assistência realizadas pelos Enfermeiros do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal

do Rio de Janeiro (IPUB) junto aos profissionais também Enfermeiros, do curso de

Residência Multiprofissional em Saúde Mental desta instituição. A formação nos moldes de

Residência Multiprofissional oferecida pelo IPUB defende um modelo com base nos

princípios e diretrizes do SUS, com enfoque na formação especializada de profissionais sob a

ótica de ação e cuidado na Saúde Mental. Possui duração de dois anos e está dirigida aos

seguintes profissionais: Assistentes Sociais, Enfermeiros, Psicólogos e Terapeutas

Ocupacionais. Os objetivos do estudo foram: caracterizar a formação dos Enfermeiros que

exercem práticas facilitadoras da integração ensino-assistência em Saúde Mental no IPUB e

analisar as estratégias utilizadas por esses profissionais para facilitar a integração ensino-

assistência junto aos Enfermeiros Residentes. Metodologia: pesquisa qualitativa, exploratória,

que teve como participantes 10 Enfermeiros que atuam no IPUB como

preceptores/facilitadores do processo de integração ensino-assistência. Para a coleta de dados

foram utilizados o levantamento bibliográfico e a entrevista individual, exploratória, semi-

estruturada, que é aquela em que se utiliza um roteiro de entrevista, dando liberdade ao

participante para responder as perguntas. Os dados foram distribuídos por unidades de análise

temática e posteriormente categorizadas para proceder-se à análise e discussão dos resultados.

Resultados: Dentre as características dos Enfermeiros estão: maioria do sexo feminino; tempo

de formação entre 8-20 anos; tempo de trabalho no IPUB de 2-15 anos; todos possuem curso

de pós-graduação e 4 realizaram a pós-graduação na área da saúde mental; todos consideram-

se preceptores/facilitadores das atividades relacionadas com o processo de integração ensino-

assistência dos Residentes Enfermeiros do IPUB e 5 fizeram curso de Preceptor. As

atividades dos residentes ocorrem nas unidades de internação do IPUB e a orientação dos

enfermeiros são direcionadas para a desospitalização das pessoas internadas, tendo como base

a reabilitação psicossocial. Dentre as estratégias de facilitação destacaram-se: troca de

experiência entre enfermeiros e residentes e sustentação das ações nos preceitos da reforma

psiquiátrica. Conclusão: no IPUB, todos os Enfermeiros são profissionais facilitadores do

processo de integração ensino/assistência, de forma consciente, direcionada por conceitos

reabilitadores, que impõem novas práticas para o cuidado em saúde mental. Observou-se que

diferentes características da formação profissional dos Enfermeiros do IPUB, como o tempo

de formação, de atividade profissional e o tipo de capacitação refletem na forma como as

atividades teórico-práticas acontecem no curso de Residência. O processo de ensino-

aprendizagem em cursos de residência dependem diretamente dos profissionais que estão nos

locais de assistência e que o tempo de exercício profissional na área é um preparo para lidar

com os Residentes, entretanto, não se deve prescindir de um preparo formal de preceptores,

para que essa troca ocorra de forma segura e com a aplicação de conhecimentos sobre

metodologias de ensino apropriadas para o campo da saúde mental.

Palavras Chave: Enfermagem; Residência Multiprofissional; Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica;

Integração Ensino Assistência.

Page 5: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

5

ABSTRACT

The purpose of this research is to facilitate the teaching-assistance integration of Nurses of the

Institute of Psychiatry of the Federal University of Rio de Janeiro (IPUB), along with professionals

from the Nursing Course of Multiprofessional Residency in Mental Health. The Multiprofessional

Residency training offered by the IPUB advocates a model based on the principles and guidelines of

SUS, focusing on the specialized training of professionals from the perspective of action and care in

Mental Health. It lasts two years and is addressed to the following professionals: Social Workers,

Nurses, Psychologists and Occupational Therapists. The objectives of the study were: to characterize

the training of nurses who practice facilitating the integration of teaching-assistance in Mental Health

in the IPUB and to analyze the strategies used by these professionals to facilitate the integration of

teaching and assistance with the Resident Nurses. Methodology: qualitative, exploratory research,

which had as participants 10 Nurses who work in the IPUB as preceptors / facilitators of the process of

integration teaching-assistance. For data collection, the bibliographic survey and the individual,

exploratory, semi-structured interview were used, which is the one in which an interview script is

used, giving the participant the freedom to answer the questions. The data were distributed by units of

thematic analysis and later categorized to proceed to the analysis and discussion of the results. Results:

Among the characteristics of nurses are: female majority; Training time between 8-20 years; Working

time in the IPUB of 2-15 years; All have a postgraduate course and 4 have a postgraduate degree in

the area of mental health; All are considered to be preceptors / facilitators of the activities related to

the teaching-assistance integration process of the Nursing Residents of the IPUB and 5 have taken a

Preceptor course. The activities of the residents occur in the IPUB hospitalization units and the

orientation of the nurses are directed towards the de-hospitalization of hospitalized persons, based on

psychosocial rehabilitation. Among the facilitation strategies were: exchange of experience between

nurses and residents and support of actions in the precepts of the psychiatric reform. Conclusion: in

the IPUB, all nurses are facilitators of the process of integration teaching / care, consciously, guided

by rehabilitation concepts, which impose new practices for mental health care. It was observed that

different characteristics of the professional training of IPUB Nurses, such as training time,

professional activity and type of training reflect in the way theoretical-practical activities take place in

the Residency course. The teaching-learning process in residency courses depends directly on the

professionals who are in the care places and that the professional practice time in the area is a

preparation to deal with the Residents, however, one should not do without a formal preparation of

preceptors , So that this exchange occurs safely and with the application of knowledge about teaching

methodologies appropriate to the field of mental health.

Keywords: Nursing; Multiprofessional Residence; Mental health; Psychiatric Reform; Integration

Teaching Assistance.

Page 6: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

6

RESUMEN

La investigación tiene como objeto de estudio las prácticas facilitadoras de la integración

enseñanza-asistencia realizadas por los enfermeros del Instituto de Psiquiatría de la

Universidad Federal de Río de Janeiro (IPUB) junto a los profesionales también Enfermeros,

del curso de Residencia Multiprofesional en Salud Mental de esta institución. La formación

en los moldes de Residencia Multiprofesional ofrecida por el IPUB defiende un modelo con

base en los principios y directrices del SUS, con enfoque en la formación especializada de

profesionales bajo la óptica de acción y cuidado en la Salud Mental. Tiene una duración de

dos años y está dirigida a los siguientes profesionales: Asistentes Sociales, Enfermeros,

Psicólogos y Terapeutas Ocupacionales. Los objetivos del estudio fueron: caracterizar la

formación de los enfermeros que ejercen prácticas facilitadoras de la integración enseñanza-

asistencia en Salud Mental en el IPUB y analizar las estrategias utilizadas por esos

profesionales para facilitar la integración enseñanza-asistencia junto a los enfermeros

residentes. Metodología: investigación cualitativa, exploratoria, que tuvo como participantes

10 Enfermeros que actúan en el IPUB como preceptores / facilitadores del proceso de

integración enseñanza-asistencia. Para la recolección de datos se utilizó el levantamiento

bibliográfico y la entrevista individual, exploratoria, semi-estructurada, que es aquella en que

se utiliza un guión de entrevista, dando libertad al participante para responder a las preguntas.

Los datos fueron distribuidos por unidades de análisis temáticas y posteriormente

categorizadas para proceder al análisis y discusión de los resultados. Resultados: Entre las

características de los enfermeros están: la mayoría del sexo femenino; Tiempo de formación

entre 8 y 20 años; Tiempo de trabajo en el IPUB de 2-15 años; Todos poseen curso de

postgrado y 4 realizaron el postgrado en el área de la salud mental; Todos se consideran

preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de integración

enseñanza-asistencia de los Residentes Enfermeros del IPUB y 5 hicieron curso de Preceptor.

Las actividades de los residentes ocurren en las unidades de internación del IPUB y la

orientación de los enfermeros son dirigidas a la desospitalización de las personas internadas,

teniendo como base la rehabilitación psicosocial. Entre las estrategias de facilitación se

destacaron: intercambio de experiencia entre enfermeros y residentes y sustentación de las

acciones en los preceptos de la reforma psiquiátrica. Conclusión: en el IPUB, todos los

enfermeros son profesionales facilitadores del proceso de integración enseñanza / asistencia,

de forma consciente, dirigida por conceptos rehabilitadores, que imponen nuevas prácticas

para el cuidado en salud mental. Se observó que diferentes características de la formación

profesional de los enfermeros del IPUB, como el tiempo de formación, de actividad

profesional y el tipo de capacitación reflejan en la forma como las actividades teórico-

prácticas ocurren en el curso de Residencia. El proceso de enseñanza-aprendizaje en cursos de

residencia depende directamente de los profesionales que están en los locales de asistencia y

que el tiempo de ejercicio profesional en el área es una preparación para lidiar con los

Residentes, sin embargo, no se debe prescindir de una preparación formal de preceptores Para

que ese intercambio se produzca de forma segura y con la aplicación de conocimientos sobre

metodologías de enseñanza apropiadas para el campo de la salud mental.Palabras clave:

Enfermería; Residencia Multiprofesional; Salud mental; Reforma Psiquiátrica; Integración

Enseñanza Asistencia

Page 7: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

7

.SUMÁRIO

INTRODUÇÃO___________________________________________________________ 11

Contextualizando o objeto de estudo__________________________________________ 11

Justificativa, relevância e contribuições do estudo______________________________ 18

Interesse pelo tema________________________________________________________ 19

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO ESTUDO_______________________________ 21

Desenvolvimento da Residência Multiprofissional em Saúde Mental_______________ 21

Integração ensino-assistência e as mudanças no campo de saúde mental que interferem

no processo de formação de Enfermeiros Residentes ____________________________ 24

Reforma Psiquiátrica e Reabilitação Psicossocial _______________________________ 28

ABORDAGEM METODOLÓGICA_________________________________________ 32

Tipo de Estudo____________________________________________________________ 32

Cenário de Pesquisa_______________________________________________________ 33

Participantes da Pesquisa___________________________________________________ 34

Coleta e Análise dos Dados__________________________________________________ 35

Aspectos Éticos___________________________________________________________ 37

CAPÍTULO I: ENFERMEIROS FACILITADORES DA INTEGRAÇÃO ENSINO-

ASSISTÊNCIA NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL ____ 39

I.1 Características dos Enfermeiros que atuam como facilitadores do processo de

integração ensino assistência dos Residentes Enfermeiros do IPUB_________________40

I.2 Enfermeiros que atuam junto aos residentes Enfermeiros do IPUB_____________ 49

CAPÍTULO II: ESTRATÉGIAS FACILITADORAS DO PROCESSO DE

INTEGRAÇÃO ENSINO-ASSISTÊNCIA UTILIZADAS PELOS ENFERMEIROS

COM OS RESIDENTES____________________________________________________57

II.1 Troca de experiências entre Enfermeiros e Residentes_______________________ 60

II.2 Direcionamento da realização das atividades práticas desenvolvidas pelos

Enfermeiros Residentes voltadas para a Reforma Psiquiátrica____________________ 63

CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________ 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS________________________________________ 75

Page 8: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

8

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Características profissionais dos Enfermeiros participantes do estudo.........36

LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A – CRONOGRAMA.....................................................................................................54

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO.............................55

APÊNDICE C - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS........................................................56

APÊNDICE D – INSTRUMENTO DE CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES..........57

Page 9: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

9

EPÍGRAFE

“O espírito amamenta, a inteligência é um seio. Existe analogia entre a ama que dá leite e o

Preceptor que dá o pensamento.”

Victor Hugo

Page 10: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

10

INTRODUÇÃO

O ensino de enfermagem em psiquiatria/saúde mental no Brasil é um desafio histórico

que vem sendo superado ao longo dos anos, conforme avançam os conhecimentos na área,

que influenciam no processo de formação de Enfermeiros tanto à nível de graduação quanto

de pós-graduação.

Com o desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica, novos desafios foram impostos para o

ensino e para a prática profissional, em função do modelo de Reabilitação Psicossocial

vigente no Sistema Único de Saúde (SUS), que rompe com os saberes e práticas até então

instituídos e promove uma reorganização do modelo de atenção em saúde mental, que passa a

ter como base assistencial serviços territoriais e de base comunitária (CARVALHO atal,

2016; FERNANDES at al, 2009).

Atualmente se discute como deve ser o ensino de enfermagem psiquiátrica e de saúde

mental frente ao novo paradigma que se coloca para os profissionais de saúde, que é o Modelo

Psicossocial. Este modelo prevê o abandono da assistência hospitalocêntrica e

medicalizadora, o que depende, dentre outras coisas, da forma como o ensino teórico-prático

para a formação de profissionais e especialistas acontece, para que de fato uma mudança na

concepção de cuidado ocorra.

Entende-se que tanto no ensino de graduação quanto no ensino de pós-graduação deve-se

considerar que:

essas ações de mudanças implicam na necessidade de profissionais

comprometidos com a atenção à saúde mental da população, profissionais

capazes de superar o paradigma da tutela do louco e da loucura, capazes de

compreenderem e re-compreenderem os determinantes psicossociais da

loucura, de transformarem saberes e práticas, até então constituídos, em

relação ao sofrimento psíquico; de articularem conhecimentos adquiridos

com novos modos de sociabilidade e de produção de valor social, envolvidos

em saúde e em saúde mental; de perceberem a complexidade de suas práticas

e de, efetivamente, desenvolverem novas ações (FERNANDES at al, 2009,

p. 963).

Page 11: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

11

Em estudos sobre a trajetória do ensino de saúde mental para a formação de Enfermeiros,

observa-se que, em 1949, o estágio na disciplina de Enfermagem Psiquiátrica foi introduzido

como obrigatório no currículo dos cursos de enfermagem com muitas dificuldades, que

incluíam a ausência de Enfermeiros nos serviços que ofereciam uma assistência manicomial,

nada condizente com o que as escolas de enfermagem, à época, desejavam ensinar

(CARVALHO atal, 2015; PEREIRA at al, 2014).

Com o passar dos anos, muitos estudos comprovaram a discordância do ensino, no que

tange às relações entre a teoria e a prática, e, em alguns casos, ao envolvimento político a

respeito dessas atividades (CORTES et al 2008). Os paradigmas do senso comum que estão

enraizados na área da Saúde Mental são, algumas vezes, velados pelos indivíduos atuantes

nesta esfera, o que influencia sobremaneira o processo de ensino-aprendizagem. A educação

em enfermagem prevê o aprendizado da prática de cuidado específica às pessoas em

sofrimento psíquico, em diferentes unidades de saúde, previamente determinadas pelas

instituições de ensino da qual fazem parte.

O estágio supervisionado, que consiste em um período de aprendizagem em campo

exercendo a profissão, é um dos principais instrumentos para a formação de profissionais

Enfermeiros e permite o desenvolvimento de habilidades técnicas e o aperfeiçoamento de

procedimentos próprios a um cenário de atuação profissional (PEREIRA e PEREIRA, 2005).

Quando o estudante não é de graduação mas de pós-graduação lato sensu, muda o objetivo do

aprendizado que, nesta última modalidade, visa a especialização, portanto, o aprofundamento

de conhecimentos teóricos e práticos sobre a área estudada, mantendo-se a necessidade de se

desenvolver o aperfeiçoamento de conteúdos, práticas e habilidades (KANTORSKI e SLVA,

1998).

[…] o ensino de especialização destina-se a completar a formação recebida

durante a graduação, buscando ampliar e/ou aperfeiçoar os conhecimentos

Page 12: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

12

de uma área específica, no caso, o conhecimento de enfermagem psiquiátrica

e saúde mental, este tipo de informação torna-se uma estratégia para

aprimorar conhecimento em enfermagem psiquiátrica e, consequentemente,

interferir na qualidade da prática da enfermagem da área, buscando sua

transformação(OLSCHOWSKY, 2001, p. 12).

Embora diferentes profissionais integrem a equipe multiprofissional dos serviços de

saúde mental e atuem em prol das pessoas em sofrimento psíquico prestando diretamente

assistência à essas pessoas, o ensino da prática para os estudantes de cursos de graduação e de

pós-graduação é realizado por Enfermeiros professores e/ou Enfermeiros dos serviços de

saúde.

Enfatiza-se que a preocupação com o ensino da enfermagem psiquiátrica e de saúde

mental vem sendo tema de discussão a longo prazo, no âmbito da academia e nos fóruns

específicos dessa área. A enfermagem, nesses campos, passa por um processo transicional da

forma de ensino, ou seja, o abandono da prática asilar para entrar no modelo de reabilitação

psicossocial (SOARES, 2007).

Ressalta-se que

o modelo psicossocial tem como premissa a construção do conhecimento por

meio da intervenção/transformação efetiva da realidade, articulando o

discurso, a análise e a prática. É orientado pelos pressupostos da reforma

psiquiátrica brasileira, os quais sustentam as transformações nos campos

teórico-assistencial, jurídico-político, técnico-assistencial e sociocultural da

saúde mental (BORBA et al, 2012, p. 371).

Atualmente existe um descompasso nos serviços de saúde entre a política de saúde mental

vigente e as práticas que sustentam a atenção às pessoas em sofrimento psíquico, o que faz

recair sobre os profissionais de saúde o peso de uma responsabilidade que requer mudar

concepções que se mantém sólidas na sociedade. Essa difícil tarefa passa pela formação dos

profissionais, que deve ser consciente e respaldada teoricamente nos preceitos da reforma

psiquiátrica brasileira.

Page 13: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

13

Para que haja uma melhor abordagem, interação e cuidado faz-se necessário um domínio

dos conteúdos pertinentes a esta prática e um ensino de qualidade torna-se sua maior

motivação. Assim, o Enfermeiro que exerce a profissão na área da saúde mental deve ir além

do conhecimento adquirido na graduação, buscando qualificação através de curso de

especialização.

Sendo assim, uma problemática de pesquisa se apresenta quando busca-se a qualidade do

ensino de especialização, no caso deste estudo, sob a modalidade de Residência

Multiprofissional em Saúde Mental, tendo como base para a mesma um contexto assistencial

em transição. Não se pode deixar de lado o importante papel dos Enfermeiros do serviço no

qual ocorre o desenvolvimento da prática dos Residentes em saúde mental, já que muitas

questões perpassam esse processo, que inclui estes Enfermeiros (Preceptores ou não) os

usuários e suas famílias e os Residentes.

O Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB1) foi

criado em 1938, pertencente à Universidade do Brasil. Desde então cumpre o duplo papel de

ser campo de ensino e assistência, bem como de atividades que circundam esta missão. Sua

trajetória mostra que tem relevante papel no desenvolvimento da assistência e do ensino de

psiquiatria e saúde mental em diferentes áreas da saúde (enfermagem, medicina, psicologia,

serviço social) (VENANCIO, 2003).

A Residência Multiprofissional do IPUB teve início no ano de 2012 e representa uma

oferta de curso de especialização lato sensu na área de saúde mental no Rio de Janeiro. De

acordo com o Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, a “Residência em área

Profissional em Saúde” é uma estratégia para o aperfeiçoamento especializado, que deve ser

realizado em ambiente de serviço (BRASIL, 2004), podendo ser multiprofissional ou não. No

1 A sigla IPUB - Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil, se mantém até a atualidade e refere-se a denominação anterior da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que de 1937 até 1965 foi Universidade do Brasil.

Page 14: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

14

Brasil, as Residências ocupam importante lugar na formação de especialistas para atuarem no

Sistema Único de Saúde (SUS) (FERLA, 2003; DELLEGRAVE e SILVA, 2006).

A Residência Multiprofissional do IPUB possui duração de dois anos (24 meses) e

está dirigida aos seguintes profissionais: Assistentes Sociais, Enfermeiros, Psicólogos e

Terapeutas Ocupacionais. Oferece um quantitativo de cinco vagas para cada categoria

profissional, totalizando vinte vagas. O financiamento do curso é pelo SUS, bem como pelo

Ministério da Educação, o que exige que as ações sejam colaborativas não somente para o

processo pedagógico, mas também assistencial (UFRJ, 2015).

A formação nos moldes de Residência Multiprofissional oferecida pelo IPUB defende

ummodelo com base nos princípios e diretrizes do SUS, com enfoque na formação

especializada de profissionais sob a ótica de ação e cuidado na Saúde Mental.

Essa modalidade de formação que se realiza pelo exercício da prática

profissional, sob supervisão, será oferecida em ambientes de trabalho

qualificados, dotados de corpo técnico-profissional com titulação

profissional e acadêmica reconhecida e de instalações apropriadas ao ensino

em serviço, com vistas a proporcionar o aumento da capacidade de diálogo e

o alcance de uma compreensão ampliada das necessidades de saúde do

indivíduo/coletivo. A ideia é que esse programa amplie e fortaleça os

vínculos institucionais entre a universidade e a secretaria municipal de

saúde, produzindo ações no território de acompanhamento dos casos e apoio

ao fortalecimento da atenção básica em nosso município (UFRJ- 2015)

Logo, a equipe de seleção dos candidatos é composta de forma multiprofissional com

dezesseis integrantes que, no caso do IPUB, conta com profissionais médicos além de

profissionais das categorias destinadas ao curso, o que vai ao encontro de uma abordagem

interdisciplinar esperada durante a Residência, que prevê uma atuação profissional frente à

Reforma Psiquiátrica diferenciada na sua forma de cuidado e terapias junto ao portador de

sofrimento psíquico.

Assim, ao ingressarem na Residência Multiprofissional do IPUB, os profissionais em

Page 15: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

15

processo de especialização passam a integrar as equipes assistenciais, de acordo com o

planejamento do curso, o que os leva ao convívio direto com os profissionais do IPUB,

incluindo-se nesse grupo os Preceptores e os Enfermeiros da instituição, que atuam como

facilitadores do processo de ensino-aprendizagem. Esta relação entre residentes e Enfermeiros

exige, quando se considera a dinâmica do processo ensino-aprendizagem em serviço, que haja

a troca de conhecimentos sobre as especificidades que caracterizam o trabalho em saúde

mental e a compreensão da complexidade que é o cuidado em saúde em uma área que sofreu

importantes transformações nos último anos (CAVALHERI, 2010).

Todavia, essas mudanças políticas tendem a ser transmitidas e trabalhadas com os

Residentes durante sua passagem pelo serviço de saúde mental, levando-se em conta tanto a

teoria quanto a prática e, ainda mais, pela vivência do dia a dia com os clientes atendidos.

Sendo assim, para a qualificação do ensino prático, faz-se necessário uma maior qualificação

dos profissionais envolvidos com a prática assistencial no serviço.

O desenvolvimento e fortalecimento da Residência Multiprofissional em Saúde vêm

ocorrendo com incentivo do Ministério da Saúde, por meio do projeto desenvolvido em 2002

chamado de Reforço à Reorganização do SUS (ReforSUS), que integra o Plano de Metas do

Ministério da Saúde e o programa Avança Brasil para prover financiamento para a

recuperação da rede física de saúde e projetos que visem a melhoria da gestão no SUS,

promovendo assim a equidade (BRASIL, 1997).

Anteriormente a prática de aperfeiçoamento nos moldes da residência em saúde era

estritamente vinculada à área médica, todavia o incentivo a busca do aperfeiçoamento vem se

intensificando para outras áreas da saúde.

De acordo com Barros (2010, p.47), “a Residência aproxima saberes e práticas, valoriza

os saberes e práticas dos Residentes, dos Preceptores, dos tutores, orientadores e usuários, e

esta mistura de pensamentos, práticas e teorias, compõe o processo da residência”.

Page 16: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

16

Logo, pode-se perceber que, além dos Preceptores formalmente instituídos para

acompanhar os Residentes, pode-se aderir também àqueles que exercem a prática assistencial

no serviço e tem papel de auxiliar no processo de formação, sem estarem formalmente na

posição de Preceptor ou tutor. Esses profissionais podem ser entendidos como facilitadores do

processo de ensino-aprendizagem e de integração ensino-assistência, ou seja, aquele que atua

no serviço hospitalar exercendo as funções pertinentes à sua atividade laboral na unidade e

também acabam por exercer um papel importante na formação dos Residentes. Esta visão é

possível quando entende-se que o processo de ensino-aprendizagem é uma construção

coletiva, que envolve o planejamento de todo processo educativo e todos os sujeitos nele

inseridos (SANTOS, 2010).

Para o desenvolvimento desta pesquisa foi elaborada a seguinte questão norteadora:

como se desenvolve a prática facilitadora da integração ensino-assistência pelo Enfermeiro do

Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB) para os

profissionais do curso de Residência Multiprofissional em Saúde Mental também

Enfermeiros?

Sendo assim, o objeto de estudo são as práticas facilitadoras da integração ensino-

assistência realizadas pelos Enfermeiros do IPUB junto aos profissionais também Enfermeiros

do curso de Residência Multiprofissional em Saúde Mental desta instituição.

Diante do objeto apresentado e sua problemática, foram desenvolvidos os seguintes

objetivos:

Caracterizar a formação dos Enfermeiros que exercem práticas facilitadoras da integração

ensino-assistência em Saúde Mental no IPUB;

Analisar as estratégias utilizadas por esses profissionais para facilitar a integração ensino-

assistência junto aos Enfermeiros Residentes.

Justificativa, relevância e contribuições do estudo

Page 17: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

17

O estudo se justifica pela significativa relação da Preceptoria com a formação de

profissionais Enfermeiros e desta com a prática assistencial às pessoas em sofrimento

psíquico. Há necessidade de se estudar, através de pesquisas científicas, esta temática que

possui estudos sobre ela desenvolvidos, mas carece de maiores discussões e reflexões para

trazer mudanças significativas para a assistência em saúde mental, principalmente porque no

ensino prático ainda não está totalmente assegurado aos estudantes, o contato com o modelo

psicossocial, seja pela teoria, seja pelo exemplo nas vivências em campo de estágio.

A realização do estado da arte, realizada em disciplina do Curso de Mestrado na Escola

de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ),

evidenciou poucas publicações nas buscas em bases de dados utilizando-se os termos

Enfermagem, Preceptor, Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica com o operador boleanoand,

em relação a outras temáticas apresentadas na mesma disciplina.

Este estudo também vai ao encontro da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em

Saúde, elaborada pelo Ministério da Saúde para definir temas de pesquisa, na qual a saúde

mental aparece entre outras temáticas que merecem investimento do país, a fim de se

assegurar melhorias nas políticas assistenciais.

Logo, entende-se a relevância dessa pesquisa pela sua possível contribuição não apenas

científica como também social, uma vez que a mudança paradigmática proposta pela Reforma

Psiquiátrica ganha cada vez mais força quando alinhada ao ensino da Saúde Mental. Inclui-se

também a contribuição para ampliar os estudos na linha de pesquisa desenvolvida no Núcleo

de Pesquisa de Enfermagem Psiquiátrica e de Saúde Mental (NUPESAM) da EEAN/UFRJ, o

que se espera que reverbere no ensino e na assistência de enfermagem, através das produções

científicas originadas de seus resultados, apresentadas em eventos e publicadas em periódicos

de grande circulação.

Interesse pelo tema

Page 18: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

18

Ainda na condição de acadêmico de Enfermagem, quando iniciei os estudos a respeito da

Saúde Mental, fiquei admirado com tamanha especificidade no cuidado nesta área, bem como

com a rede assistencial que a envolve. Já formado, meu interesse pela área continuou e, do

ano de 2011 até os dias atuais, atuo como docente de saúde mental em uma universidade

privada, supervisionando estágio em clínicas particulares. Através desta atividade prática da

disciplina de saúde mental, pude identificar fatos que me motivaram ao desenvolvimento

desse estudo.

Ao encontrar-me diretamente com a pessoa portadora de transtornos mentais, ainda como

estudante, senti todo o peso da história da psiquiatria sobre meus ombros ao entrar em uma

unidade psiquiátrica, tanto de emergência, como de longa permanência. Nessa época pude

aprimorar minhas condutas de cuidados a essa clientela.

Meu despertar por essa área de atuação da Enfermagem também deve-se a professora da

disciplina, que sempre esteve comigo, ensinando-me e motivando-me no cuidar de clientes

portadores de transtornos mentais, seja em situações de emergência ou em casos crônicos,

tanto crianças, como adultos e idosos. Ela enfatizava, acima de tudo, o total respeito por cada

indivíduo que encontrava-se ali sob nossos cuidados.

Enquanto dedicava-me na busca de suporte teórico em livros, artigos, vídeos, muitos

colegas de classe mostravam-se desinteressados e desmotivados com a temática. Observava

esta condição porque era procurado para explicar e/ou realizar alguma tarefa proposta pelo

docente ou para ajudar enquanto escondiam-se dos usuários durante as atividades práticas.

Comecei meus questionamentos a respeito da temática de ensino abordada pelo docente

da disciplina onde, em uma turma de variadas idades, pude ver apenas uma pequena parcela

estimular-se pela prática direta com pacientes portador de transtorno mental. Muitos

aparentavam não demonstrar interesse pelo conteúdo ministrado nas aulas, permanecendo na

condição de meros espectadores. Diante disso, questionava-me como fornecer qualidade de

Page 19: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

19

ensino para essa turma, mista de idades e vivências.

Com o passar dos anos tive a oportunidade de lecionar na prática, a disciplina de Saúde

Mental, com estagiários de Enfermagem, em seu último período da graduação. Durante o meu

primeiro período de atuação como docente, pude observar a grande dificuldade dos

acadêmicos na tomada de decisões frente ao cuidado, com indivíduos portadores de transtorno

mental. Visto que, uma parcela desses acadêmicos possuía o conhecimento técnico da

enfermagem e já possuíam contato anterior com esse tipo de clientela. Consequentemente

possuíam também uma visão distorcida da área de Saúde Mental, permeada por preconceitos.

Devido a uma série de intercorrências, esses acadêmicos apresentavam grande relutância com

a temática, o que acabava influenciando o grupo e o processo ensino-aprendizagem.

Nesta época de prática com estagiários da disciplina, presenciei casos claros de

preconceito e menosprezo pelos indivíduos ali internados. Um momento que marcou

consideravelmente esse meu início na prática docente foi durante uma contenção mecânica na

qual, após o procedimento realizado, ouvia-se unicamente comentários pejorativos. Neste

episódio foi possível observar o estigma que existe na área de Saúde Mental e envolve o

usuário com transtorno mental.

Perante tamanha resistência à assistência adequada a este tipo de clientela, faz-se

necessário o uso de estratégias que facilitem o envolvimento e comprometimento dos

indivíduos que atuam neste cenário específico, um (re)descobrimento do papel da

Enfermagem e do Enfermeiro, bem como uma desconstrução de conceitos e preconceitos

concebidos pela esfera histórico-cultural na área da Saúde Mental.

Sendo assim, levei adiante a ideia de estudar o Enfermeiro do serviço que atua como

facilitadorda integração ensino-assistência na residência em saúde mental, a fim de levantar

reflexões críticas a partir de uma realidade pesquisada que pode ajudar aos docentes, como eu,

a melhor planejar e executar o ensino prático na área.

Page 20: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

20

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO ESTUDO

O referencial teórico permite apreciar o problema a ser investigado sob o aspecto

teórico, considerando-se outros estudos já realizados. O levantamento teórico aponta um

caminho reflexivo para a análise dos dados porque permite fundamentar o estudo de acordo

com a literatura já publicada sobre o mesmo tema (LAKATOS; MARCONI, 2003).

Como referencial teórico buscou-se na literatura científica produções que abordam a

temática em estudo, de forma a se construir uma base de conhecimento que abarque as

tradições teóricas que apóiam estudos na área e temas propostos nesta pesquisa, em especial, a

reforma psiquiátrica brasileira, a Preceptoria e o ensino de enfermagem em saúde mental.

Desenvolvimento da Residência Multiprofissional em Saúde no Brasil

A 10ª Conferência Nacional de Saúde (1996) trouxe à tona a discussão sobre a

necessidade de recursos humanos efetivos e adequados para a realidade da população, uma

vez que o controle social questionava à época a qualidade dos profissionais que atendiam a

população. Nessa ótica, fica estabelecida a necessidade formar com qualidade os profissionais

de saúde.

Em relação às residências multiprofissionais na área da saúde no Brasil, podemos

afirmar que estas existem desde a década de 1970, porém sem uma regulamentação própria,

sendo vista como uma prática em serviço com a finalidade de habilitar o profissional nas

questões práticas do dia a dia e fortalecer o seu saber no segmento por ele escolhido, sendo

caracterizadas formalmente como residência não médica e ou odontológica.

Page 21: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

21

Com a instituição do SUS, em 1988, levantou-se diversas discussões sobre a forma

que esses profissionais seriam capacitados a fim de garantir que essa prática fosse transferida

de forma adequada, pautada nos postulados acadêmicos determinados pelo centro formador

(UFJF, 2010).

O Programa da Residência Multiprofissional em Saúde foi apresentado como

estratégia de reorientação da Atenção Básica para a

implantação/reorganização dos serviços públicos embasados na lógica do

SUS, com o objetivo de produzir as condições necessárias para a mudança

no modelo médico-assistencial restritivo, ainda hegemônico, de atenção em

saúde (ROSA e LOPES, p. 487, 2009).

Para garantir a efetividade dessa formação sob as normas de saúde atuantes o SUS, no

ano de 2004, criou-se a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), a qual

obteve uma adequação, no ano de 2007, com o objetivo de aproximar suas ações e serviços

com as instituições formadoras, no sentido de promover mudanças na formação em saúde e

provocar alterações nas práticas dominantes dos sistemas de saúde, através da

problematização de suas próprias práticas e do trabalho em equipe (SILVA et al, 2013).

Entre as mudanças almejadas busca-se promover a formação de

profissionais de saúde que atendam as demandas do SUS. Para

isso, uma alternativa foi à criação da Residência

Multiprofissional em Saúde (RMS), dispositivo de

transformação das práticas da área da saúde, que busca

proporcionar, na continuidade da formação dos profissionais, a

qualificação para o trabalho voltado para o SUS (SILVA et al,

2013, p.3).

Uma ação interministerial entre Ministério da Saúde (MS) e Ministério da Educação e

Cultura (MEC) instituiu, em 2005, pela Lei n. 11.129/05, a Residência como modalidade de

pós graduação Lato Sensu, regulamentando este tipo de curso de especialização voltado para a

educação em serviço (GUIMARÃES, 2010). Também foi criada a Comissão Nacional de

Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS).

Para tanto, o projeto pedagógico dos Programas de Residência

Page 22: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

22

Multiprofissional em Saúde (PRMS) deve prever metodologias

de integração de saberes e práticas que permitam construir

competências compartilhadas, tendo em vista a necessidade de

mudanças nos processos de formação, de atenção e de gestão na

saúde (FIORANO & GUARNIERI, 2015, p. 367).

Vários são os processos de avaliação da qualidade educacional que são instituídos no

processo de formação deste profissional, mas não se percebe instrumentos específicos para

avaliar o processo prático desenvolvido durante o ciclo de formação na residência

multiprofissional. Neste sentido cabe aos profissionais do serviço desenvolver estratégias para

que o profissional em formação desenvolva as competências necessárias para se cumprir o

pactuado no projeto político pedagógico do curso (BRASIL, 2005).

O Programa conduz o processo de formação em Residência

Multiprofissional em Saúde de modo a rever o quadro já existente de

modelos de formação heterogêneos, com programas de residência com

ausência de diretrizes gerais para a formação nessa modalidade. Traz, assim,

a necessidade de avaliação e monitoramento dos cursos, estabelecendo eixos

norteadores, os quais deverão estar em consonância com o SUS, com as

diretrizes curriculares, com o desenvolvimento do trabalho em equipe, com

critérios de equidade regional (BRUNHOLI, p. 126, 2013).

A regionalidade é um dos princípios da estrutura orientadora para a criação dos PRMS

onde uma vez que as necessidades regionais são identificadas o CNRMS propõe a abertura do

curso, ponderando sempre essas necessidades, seu caráter político e técnico e a possibilidade

de exeqüibilidade da IES visando o melhor atendimento à população, mantendo os princípios

e as diretrizes do SUS, produzindo uma aproximação aos níveis de atenção, com base na linha

de cuidado.

De acordo com Brunholi (2013) e Farinelli (2012) os Programas de Residência fazem

parte de um fenômeno fundamental para o movimento político para a consolidação do SUS

que privilegia a formação como um dos seus aspectos estruturantes, já que é possível entender

que promove uma formação especializada e permite uma maior inserção de profissionais nas

Page 23: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

23

políticas públicas de saúde, o que amplia o debate, a discussão e produz referenciais sobre

essa temática dando subsídios para que os profissionais melhor atuem em concordância com o

SUS.

Integração ensino-assistência e as mudanças no campo da saúde mental que interferem

no processo de formação de Enfermeiros Residentes

Como comentado anteriormente a Residência em saúde ganhou força no país como

forma de qualificar profissionais para a atuação nos diferentes serviços e especialidades.

Autores destacam a importância da Residência como forma de suprir lacunas deixadas pelo

ensino de graduação em determinadas áreas de conhecimento, sendo uma estratégia para a

correção de inadequações na formação e aprimoramento das ações dos profissionais de saúde,

a partir da orientação de profissionais experientes e qualificados na especialidade que se

pretende adquirir (LESSA, 2000; MACHADO, 2006; COFFITO, 2007).

Assim, durante a formação em saúde muitos agentes contribuem para o aprendizado,

estando entre eles os Enfermeiros assistenciais e os preceptores/facilitadores da integração

ensino-assistência, que são profissionais do serviço que participam da experiência educativa

dos residentes. Vale ressaltar que há diferenças entre os tipos de profissionais responsáveis

pelo ensino na prática, o que faz com que no ambiente educacional tenha-se a presença de

personagens como Mentor, Supervisor e Tutor.

Botti e Rego (2008, p. 360) assim conceituam tais personagens:

Supervisor traz consigo um conceito inicial de um personagem responsável

pela vigilância, controle. Como também aquele que dirige, cuida e se

responsabiliza pela forma de ação de uma equipe, para que toda a ação

realizada seja da maneira correta. No tocante da educação em saúde, o

supervisor exerce a função daquele responsável em medir e desenvolver

Page 24: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

24

conhecimentos, habilidades e competências para estudantes e profissionais

recém-formados.

Tutor, inicialmente tal termo era utilizado pela civilização romana para o

responsável de cuidar de algum incapaz. Logo, tal termo pode ser utilizado

em vários cenários, sempre no tocante de ensinar e encaminhar no

aprendizado. Na vinculação com a área da saúde, vê-se o tutor como aquele

profissional com grande experiência na temática direcionado. De forma a

orientar no caminho da formação desse profissional.

Mentor representa o profissional de maior experiência, no qual designa a

capacidade de responsabilização em guiar, dar suporte e estimulação de um

raciocínio crítico e reflexivo. Logo, o mentor não possui propriamente dito a

característica de ação clínica, embora as conheça com excelência, pois suas

atividades são questionamento, buscando sempre suas justificações e

estimulando o raciocínio crítico em cada situação vivenciada.

No entanto, ao se tratar de Residência, não se pode deixar de citar o Preceptor, termo

que com o avançar dos tempos agregou-se a um personagem fundamental na educação e

ensino das práticas de Saúde nos cursos de Residência.

De acordo com Carvalho (2008), o termo “Preceptoria” vem sendo utilizado de

maneira errônea, contudo fixa-se no ato de acompanhar e supervisionar estudantes na prática

relativa à sua profissão. Este autor também relata que esse profissional, mesmo sem vínculo

educacional, deve fomentar e conectar a relação teórico-prática dos mesmos, tornando-se

assim um elo precioso na corrente do desenvolvimento científico e profissional do estagiário.

Contudo, no desenvolvimento da pesquisa pode-se definir como preceptor todo aquele

profissional que reconhece em sua prática as ações de ensino-assistência.

Com isso, o Preceptor de Saúde Mental deve se encontrar de forma atualizada, ou seja,

com total conhecimento a respeito das normais legais e assistenciais a respeito da temática

conforme a consolidação da Reforma Psiquiátrica.

Para melhor fluidez e integração entre Preceptor e aprendiz faz-se necessário uma relação

interpessoal de excelência entre o docente, o estudante e o Enfermeiro Preceptor. Carvalho

(2008) aponta como um dos problemas encontrados no desenvolvimento do estágio

supervisionado o distanciamento entre esses profissionais. Outra problemática identificada

Page 25: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

25

pelo mesmo autor é o fato do Preceptor, além de realizar suas atividades institucionais, ter

ainda que realizar atividades relacionadas com o processo de aprendizado dos estudantes,

resultando assim em uma carga de trabalho ainda maior.

Nos dias atuais, a prática de Preceptoria vem sendo muito utilizada no campo da saúde.

Tendo em vista a obrigatoriedade contida nas Diretrizes Curriculares de Enfermagem e das

Legislações vigentes, teoria e prática devem acontecer em todas as temáticas de ensino

assistencial da graduação e de pós-graduação. Isso porque uma melhor vivência nos serviços

de saúde trará ao estudante melhores condições de atuação.

Complementando, Armitage (1991) construiu uma definição daquele que tem função de

vincular a teoria com a prática. Agregado a isso, Ryan-Nicholls (2004) explica que tal termo

deve ser associado ao professor que, a um grupo pequeno, ensina com ênfase na prática

clínica, desenvolvendo assim a habilidade da mesma.

É no momento da ação prática que o estudante inicia o processo de construção da sua

identidade profissional, no qual está vinculada aos conhecimentos, habilidades e atitudes,

conhecido como tripé da psicopedagogia (SILVEIRA e AFONSO, 2012). Assim, o papel do

Preceptor é fundamental na formação profissional e deve estar coerente com o modelo

assistencial que se deseja ensinar, bem como com as políticas públicas que regem a

assistência no mercado de trabalho.

Todavia no cenário de pesquisa, pode-se encontrar um ator diferenciado aqui entendido

como Facilitador da Integração Ensino-Assistência, pois, de acordo com Pizzinato et al

(2012) e Kuabara et al (2014) são profissionais que exercem atividades educacionais no

âmbito hospitalar sem a efetiva vinculação educacional. Ou seja, o Enfermeiro ativo no

processo de ensino-assistência sem necessariamente obter vinculação no âmbito educacional

com a instituição fomentadora do ensino.

Logo, de acordo com os autores supracitados, os principais meios utilizados por estes

Page 26: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

26

Facilitadores da Integração Ensino-Assistência se foca nos relatos e condutas as demandas

exercidas, bem como nos referencias teóricos utilizados para a reflexão de tais ações.

Todavia, ao se pensar neste contexto em Saúde Mental, é possível perceber que, trata-se de

uma especialidade na qual o desenvolvimento teórico-político-assistencial ainda encontra-se

em construção. Uma vez que a Reforma Psiquiátrica se mantém em atividade, cabe a esse

Facilitador manter-se em corriqueira atualização, já que suas práticas serão de vital

importância para a formação desse profissional que busca sua especialização em seu cenário

laboral.

A Saúde Mental sempre foi conhecida pela sua complexidade. A complexidade dessa

área permite ir além de nossa interpretação cognitiva, o que resulta em um processo subjetivo,

social, bem como cultural e tudo o mais que o cerca, trazendo consigo uma vinculação de

áreas de conhecimento como filosofia, antropologia e sociologia e fortalecendo assim as bases

teóricas e práticas, mediante as complexidades apresentadas no dia a dia (KANTORSKI et al,

2005).

Quando trata-se da área de saúde mental, apresenta-se os respectivos desafios que foram

impostos pelo desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica ao ensino e à formação de

profissionais de saúde. A Residência Multiprofissional tem compromissos que envolvem uma

atuação ética e de qualidade aos usuários em sofrimento psíquico e seus familiares. Para

auxiliar nesta compreensão faz-se uma breve revisão sobre as mudanças na atenção em saúde

mental no Brasil.

Uma vez que, ao se refletir que a Residência em Saúde traz consigo a responsabilidade de

fortalecimento e preparo qualificado dos profissionais atuantes no SUS. A PRMS em Saúde

Mental abrange não apenas o SUS, como também a Reforma Psiquiátrica. Que por sua vez

tem total relação com SUS, uma vez que em nosso país toda a coordenação de saúde deve-se

a esse serviço, ou seja, na Saúde Mental o PRMS tem responsabilidades em duas vertentes:

Page 27: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

27

SUS e Reforma Psiquiátrica.

Reforma Psiquiátrica e Reabilitação Psicossocial

Serviu de modelo para a reforma psiquiátrica brasileira os ideais de Franco Baságlia,

médico italiano que, no ano de 1961, defendeu o fortalecimento da relação de convívio entre a

pessoa com sofrimento psíquico e a família. Sendo este médico um pioneiro na reinserção

social (MESQUITA, 2010). As ideias e práticas defendidas por Baságlia fortaleceram-se pelo

mundo e, no final da década de 1970, iniciou-se o movimento de reforma psiquiátrica

brasileiro, o que levou, dentre outras coisas, a união entre as instâncias Municipal, Estadual e

Federal para subsidiar a atenção em saúde mental (BRASIL, 2005).

Com a vinculação do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBES) ao movimento

de reforma psiquiátrica fortaleceu-se ainda mais o discurso técnico e o desenvolvimento de

sua postura política (BORGES e BATISTA, 2008).

Adotando o lema do Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM), “por

uma sociedade sem manicômios”, ocorreua I Conferência Nacional de Saúde Mental, no ano

de 1987. A principal experiência adotada nessa época estava diretamente relacionada com um

modelo defendido pelo psiquiatra Franco Basaglia, uma forma de atendimento extramuros

com base na reinteração social desenvolvida no território, a qual, no Brasil, foi implementada

primeiramente no município de Santos, pertencente ao estado de São Paulo (AMARANTE,

1995).

Um importante líder nesse contexto político-social foi o Deputado Paulo Delgado,

criador do Projeto de Lei nº 3.657/89, que dispõe sobre a extinção das instituições de caráter

manicomial e sua substituição por outras formas de assistência extra-muros, propondo

também o controle das internações psiquiátricas de categoria compulsória.

A discussão sobre formas de atenção e assistência ao indivíduo portador de transtorno

Page 28: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

28

mental foi ganhando força e, no ano seguinte, em Caracas, a Conferência sobre a

reestruturação da atenção psiquiátrica direcionou a responsabilidade de diversos países na

reorganização da assistência e das políticas de atenção a esse público, amparadas nos direitos

humanos e civis (ROCHA, 2011).

Ao final do ano de 1992, a II Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em

Brasília, trouxe consigo a ação antes que o indivíduo seja acometido por um transtorno: “[...]

que a Saúde Mental se ocupe da pessoa em sua existência-sofrimento, ou seja, o sofrimento

no decorrer da vida, e não apenas naquelas situações caracterizadas como

transtorno”(ROCHA, 2011, p. 22).

O Rio de Janeiro obteve sua participação mais efetiva no movimento de reforma

psiquiátrica, em 1996, através da união de três grandes centros de pesquisa em saúde mental:

o Instituto Franco Basaglia (IFB), o Instituto Philippe Pinel (IPP) e o Instituto de Psiquiatria

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB), ao promover o I Congresso de Saúde

Mental do Estado. Seu enfoque foi na atenção psicossocial, com participação de profissionais

acadêmicos,assistenciais e dos usuários (AMARANTE, 2007).

O Projeto de Lei, proposto por Paulo Delgado, foi resgatado em 2001 dando origem a Lei

Federal nº 10.216, de 6 de abril, que dispõe sobre os direitos das pessoas portadoras de

transtornos mentais e também redireciona o modelo assistencial de saúde mental, instituindo

oficialmente a reforma psiquiátrica brasileira (BRASIL, 2001).

A reforma psiquiátrica brasileira trouxe consigo o objetivo da desinstitucionalização, ou

seja, a alta hospitalar das pessoas internadas fora da crise e a sua (re) inserção ao convívio

social. Assim, destituindo o tratamento asilar como única forma de atenção, priorizando o

tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e promovendo a cidadania dos

usuários, abriu-se maior espaço para a ressocialização dos mesmos, o que também deveria ser

implantado e discutido no âmbito do ensino de saúde mental e enfermagem psiquiátrica

Page 29: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

29

(AMARANTE, 1995; FERNANDES, 2016).

Posteriormente o arcabouço jurídico para o tratamento às pessoas com transtornos mentais

no Brasil foi ganhando sustentação, com destaque para a Portaria GM/MS nº 3.088/2011 que

criou a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), instituindo serviços de atenção em saúde

mental em outras instâncias como Hospital Geral, Unidades de Urgência e Emergência,

Unidades Básicas de Saúde, Consultórios de Rua, dentre outros, a fim de aumentar a oferta de

serviços no SUS e tornar o manicômio desnecessário na sociedade brasileira (BRASIL, 2011).

O Enfermeiro, por ter sua atividade pautada na saúde do indivíduo e no cuidado centrado

no sujeito, deve fornecer uma assistência fortalecedora do protagonismo da pessoa em

sofrimento psíquico, estimulando a relação entre ela e a equipe, para que se torne ainda mais

evidente a responsabilidade de ambos no cuidar (MIELKE, 2009). Nesse sentido, a sua

formação deve contemplar o conhecimento da RAPS para que seja possível a realização de

um cuidado integral e integrado.

O modelo que define a assistência em saúde mental na atualidade é o que busca a

Reabilitação Psicossocial. Entende-se por Reabilitação Psicossocial como o processo que

facilita, ao usuário, com limitações, uma melhor reestruturação de autonomia de suas funções,

na comunidade (JORGE et al, p. 735, 2006).

Contudo de acordo Hirdes e Kantorsk (2004) com torna-se um processo complexo, uma

vez que necessita da articulação de várias instâncias, políticas específicas voltadas para a área

e, sobretudo, capacitação técnica dos profissionais. Já que seu principal pilar é a

reestruturação da cidadania desse indivíduo portador de transtorno mental, se faz necessário

uma equipe multiprofissional para essa ação.

Logo, Jorge et al (2006) traz uma crítica muito real a respeito desse processo no Brasil:

No caso do doente mental, sua reabilitação psicossocial encontra um

número ainda maior de obstáculos, pelo fato de exigir também o avanço do

processo de cidadania da população brasileira, como um todo, o que requer

uma luta específica pela assunção e respeito aos seus direitos. Nesse sentido,

o caminhar juntos, favorece o processo (JORGE et al, p. 735, 2006).

Page 30: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

30

Diante do que foi até aqui apresentado, percebe-se que diferentes autores relacionam os

temas que envolvem o objeto em estudo nesta pesquisa, quais sejam: a Residência em Saúde,

o processo de integração ensino-assistência na formação em saúde, os tipos de atores

envolvidos neste processo e as políticas de saúde em vigor, considerando suas contínuas

transformações.

Page 31: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

31

ABORDAGEM METODOLÓGICA

– Tipo de Estudo

Para realização deste trabalho optou-se pela pesquisa de natureza qualitativa, com caráter

exploratório, através de estudo de campo. Esta abordagem oferece elementos capazes de

nortear a investigação, alcançar os objetivos e possibilitar a discussão acerca da questão

norteadora (LUDKE & ANDRÉ, 1986).

O estudo de natureza qualitativa tem como fonte de dados o ambiente natural e o

pesquisador como seu principal instrumento, abrindo espaço para o contato direto do

pesquisador com cenários, participantes e temática a ser tratada (LUDKE & ANDRÉ, 1986).

Na pesquisa qualitativa, o processo é indutivo, em vez de dedutivo, e começa com objetos

exploratórios mais amplos que fornecem foco para o estudo sem esvaziar prematuramente

aspectos da experiência que possam ser julgados importantes ou relevantes (DRIESSANACK

et al, 2007).

O conjunto de características essenciais a este tipo de abordagem é ressaltado por Godoy

(1995, p. 62): “o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como

instrumento fundamental, o caráter descritivo, o significado que as pessoas dão às coisas e à

sua vida como preocupação do investigador, enfoque indutivo”.

Complementando esta ideia, os pesquisadores qualitativos estudam pessoas em ambientes

naturais e tentam entender ou interpretar os significados que as pessoas atribuem às suas

experiências (DENZIN in DRIESSANACK et al, 2007).

Para Minayo (1994, p.21), a pesquisa qualitativa: “trabalha com o universo dos

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço

Page 32: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

32

mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis”.

Os participantes, os cenários, as inovações, os contextos e os valores, determinam o palco

de investigação onde circulam pessoas, relações e ações que a análise numeral e estatística,

não é capaz de contemplar por não adentrar neste mundo de sentidos, reflexões e relações

sociais. Além disso, os participantes que implementam mudanças, bem como aqueles que

recebem conteúdos de aprendizado, sob diferentes estratégias de ensino-aprendizagem,

passam inevitavelmente por análise reflexiva acerca da reestruturação do arcabouço e da

logística do serviço de educação continuada do local.

Na medida em que estas reflexões “se reproduzem e se modificam a partir das estruturas

e das relações coletivas, apresentam elementos tanto da dominação, quanto da resistência,

tanto das contradições e conflitos, como do conformismo”. (MINAYO, 1994b, p.174)

O caráter exploratório para realização deste estudo foi assim determinado, pois, estes

estudos envolvem entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema

estudado e a análise de exemplos ou modelos que estimulem a compreensão e a discussão,

uma vez que a pesquisa exploratória “[...] tem como características principais a flexibilidade,

a criatividade e a informalidade. Por meio dela procura-se obter o primeiro contato com a

situação a ser pesquisada, sendo seu objetivo geral a descoberta” (GUILHOTO, 2002).

O contato com os Enfermeiros participantes da pesquisa foi possível através do estudo de

campo, que é basicamente a pesquisa desenvolvida “por meio da observação direta das

atividades do grupo de estudo e de entrevistas e/ou questionários com os participantes

informantes da comunidade estudada a fim de captar suas explicações e interpretações do que

ocorre no grupo” (GIL, 2002, p. 53).

– Cenário de Pesquisa

Page 33: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

33

O cenário de estudo foi o Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, uma instituição de saúde mental de gestão federal, localizada no bairro de Botafogo,

na zona sul do município do Rio de Janeiro.

Primeiramente denominado Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (IPUB),

sua criação ocorreu em 1938, quando o Instituto de Psicopatologia do Serviço de Assistência

a Psicopatas do Distrito Federal foi transferido para a Universidade do Brasil. Nos seus

primeiros 20 anos de existência foi dirigido por psiquiatras, professores da Faculdade de

Medicina do Rio de Janeiro (VENÂNCIO, 2003). Ao longo de todos esses anos em

funcionamento, o IPUB, como é chamado até os dias atuais, vem mantendo tradicionalmente

o seu papel de integrar o ensino, a pesquisa e a assistência pública.

Assim, justifica-se a escolha do cenário de pesquisa pelo fato do IPUB ser uma

instituição de relevante importância dentro do contexto de assistência especializada em

psiquiatria e saúde mental, em franca modificação de paradigmas, no intuito de melhor

atender às demandas sociais, bem como pela sua interface com o ensino, a assistência, a

pesquisa e a extensão.

- Participantes da Pesquisa

Os participantes da pesquisa foram Enfermeiros do IPUB, Preceptores e não Preceptores,

atuantes nos cenários onde ocorre a integração ensino-assistência do Curso de Residência

Multiprofissional. Os participantes foram captados por intermédio da Chefia de Enfermagem

da instituição que, após explicitação do objeto deste estudo, relacionou os Enfermeiros que

atuam como facilitadores da integração ensino-assistência dos Residentes. Após esse

levantamento entrou-se em contato com os potenciais participantes para convite e

agendamento da entrevista. Cabe ressaltar que o convite foi efetivado após se perguntar aos

Enfermeiros se os mesmos se consideravam atuantes, de alguma maneira, no processo de

Page 34: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

34

ensino-aprendizagem dos residentes Enfermeiros.

Como critérios de inclusão elegeu-se Enfermeiros que se disseram atuantes como

facilitadores do processo de integração ensino-assistência, Preceptores ou não, junto aos

profissionais Enfermeiros do curso de Residência Multiprofissional do IPUB, sem distinção

de sexo, idade ou tempo de formação acadêmica, atuantes no cenário de estudo por período

superior a um ano e que desenvolvem atividades dentro do serviço de internação. Foram

excluídos os Enfermeiros que estavam de férias ou de licença no período da coleta de dados.

Desta forma, participaram da pesquisa 10 Enfermeiros na faixa etária entre 32 e 55 anos.

Três Enfermeiros que atendiam aos critérios de inclusão não foram entrevistados por estarem

de férias e/ou licença ou por indisponibilidade de horário para ceder à entrevista, no período

da coleta de dados.

- Coleta e Análise dos Dados

Para a coleta de dados foram utilizados o levantamento bibliográfico e a entrevista

individual, exploratória, semi-estruturada, que é aquela em que se utiliza um roteiro de

entrevista, dando liberdade ao participante para responder as perguntas.

Na entrevista semi-estruturada, o investigador tem uma lista de questões ou tópicos para

serem preenchidos ou respondidos, como se fosse um guia. A entrevista tem relativa

flexibilidade. As questões não precisam seguir a ordem prevista no guia e poderão ser

formuladas novas questões no decorrer da entrevista (MATTOS, 2005).

Em geral, a entrevista segue o que se encontra planejado. As principais vantagens das

entrevistas semi-estruturadas são as seguintes: possibilidade de acesso a informação além do

que se listou; esclarecimento dos aspectos da entrevista; levantamento de pontos de vista,

orientações e hipóteses para o aprofundamento da investigação e definição de novas

estratégias e outros instrumentos (TOMAR, 2007).

Page 35: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

35

As entrevistas foram agendadas em dia e horário de disponibilidade dos participantes da

pesquisanos meses de setembro, outubro e novembro do ano de 2015. Antes do

desenvolvimento das mesmas, os participantes receberam o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A) com informações sobre os objetivos e implicações em

participar da pesquisa, cabendo ressaltar que foram criteriosamente respeitados os preceitos

éticos estabelecidos pela Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, garantindo-se

o sigilo das informações, o respeito aos aspectos sócio-culturais e emocionais, bem como o

anonimato dos participantes.

Adotamos o teste-piloto como critério de confiabilidade, para uma captação de dados

mais fidedigna, pois quando este critério não é adotado, a compilação de dados pode ser

prejudicada.

Durante a aplicação do teste-piloto, se o entrevistador sentir necessidade de explicar o

questionamento de modo repetitivo, torna-se necessário revê-lo ou até mesmo retirá-lo, já que

a permanência do dado incorre em erro de coleta ou de indução do sujeito para que seja

respondido desta ou daquela maneira (HOFFMAN e OLIVEIRA, 2009).

A condução metodológica adotada para a coleta dos dados possibilita o pesquisador

articular processos teóricos e práticos, captar sinais verbais, o dito e o implícito, sentidos,

gestos e palavras que muito dizem a respeito do que se propõe investigar, não se devendo,

pois atentar para que exista, cercando todo o processo, a imparcialidade e neutralidade do

pesquisador.

As entrevistas foram guiadas por um roteiro semi-estruturado (APÊNDICE B) e gravadas

em aparelho de gravação digital (MP3). Posteriormente foram transferidas, ainda em arquivo

de áudio, para dois pen-drives para armazenamento, garantindo uma cópia, caso houvesse

qualquer imprevisto que resultasse na perda do material do pen drive em trabalho. É uma

precaução ética do pesquisador garantir a cópia do material coletado, no caso, das entrevistas,

Page 36: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

36

para garantir que não haja perda e consequente retorno ao participante para nova coleta de

dados.

Após isso, os dados foram transcritos, ou seja, foram passados de áudio para texto. Este

texto foi entregue aos participantes para leitura e concordância de seu uso nesta pesquisa, o

que valida a entrevista e reafirma o acordo feito com o participante no ato de apresentação e

assinatura do TCLE. Feito isto, passou-se a próxima etapa, que foi a leitura minuciosa do

material textual pelo pesquisador para que os dados fossem agrupados em categorias

temáticas para a posterior realização da análise dos mesmos.

Os dados foram distribuídos por unidades de análise temática e posteriormente

categorizadas para proceder-se à análise e discussão dos resultados.

Diante da alegação de todos os Enfermeiros que participaram da pesquisa, de que

sentem-sePreceptores, estando ou não incluídos como tal, consideramos as respostas de todos

na etapa de categorização e análise dos dados. Para subsidiar a análise utilizamos referências

sobre a atividade de Preceptoria, uma vez que a prática exercida formal ou informalmente

exerce influência naquele que aprende. Cabe informar que a referência aos participantes no

texto foi feita utilizando-se os termos Preceptor e facilitador (Preceptor/facilitador).

Aspectos Éticos

Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de

Enfermagem Ana Nery/ Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis/ Universidade

Federal do Rio de Janeiro (CEP-EEAN/HESFA/UFRJ), sendo o Instituto de Psiquiatria da

UFRJ a instituição coparticipante, de acordo com a Resolução nº 466/2012 – Conselho

Nacional de Saúde (CNS), que diz que todas as pesquisas que envolvem seres humanos

oferecem riscos e precisam de aprovação em CEP.

Foram respeitadas todas as cláusulas da referida Resolução. No que tange ao

anonimato dos participantes, este foi garantido pela referência aos mesmos no texto pela letra

Page 37: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

37

E (Enfermeiro) seguido do número ordinal correspondente a ordem de realização das

entrevistas (Exemplo: E1; E2; E3).

A aprovação do projeto no CEP-EEAN/HESFA/UFRJ foi dada pelo Parecer de

número 1.151.125, em 07 de Julho de 2015. A aprovação no CEP-IPUB/UFRJ se deu pelo

protocolo de nº 1151125, em 31 de Julho de 2015.

As entrevistas serão guardadas por um período de cinco anos e depois deletadas do

pen drive onde foram armazenadas.

Os riscos potenciais desta pesquisa estavam atrelados ao risco de dano emocional ou

de constrangimento durante a realização da entrevista. O responsável pela realização do

estudo se comprometeu a zelar pela integridade e o bem-estar dos participantes da pesquisa,

respeitando valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e

costumes dos participantes.

A participação foi voluntária, isto é, a qualquer momento o participante pôde recusar-

sea responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento ciente de

que a sua recusa não traria nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a

instituição em que trabalha.

Para garantir o anonimato dos participantes, estes foram identificados no texto com a

sigla Enf. seguida do número romano correspondente a ordem de realização das entrevistas.

O pesquisador se comprometeu a divulgar os dados da pesquisa somente na mesma e

em material científico para a sua divulgação (trabalhos em eventos e artigos).

Page 38: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

38

CAPÍTULO I

ENFERMEIROS FACILITADORES DA INTEGRAÇÃO ENSINO-ASSISTÊNCIA NO

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL

Diante dos princípios básicos de formação do Enfermeiro é quase inevitável que o mesmo

desenvolva habilidades de liderança como conseqüência das funções que lhe são

estabelecidas. Esta característica inerente ao Enfermeiro favorece que ele seja o veículo de

estimulação de sua equipe para o aprendizado, influenciando e direcionando os caminhos na

aquisição de conhecimentos (SOUSA e BARROSO, 2009).

Completando esta visão, Galvan et al (1998, pág. 72) afirmam que “compete ao

Enfermeiro líder oferecer caminhos que possibilitem o desenvolvimento e o aperfeiçoamento

do pessoal de enfermagem. A formação deste pessoal deve ser considerada como uma questão

de qualificação e valorização do trabalhador e do trabalho”.

Logo, a prática para integrar ensino-assistência assemelha-se a função de contribuir para

a formação de pessoal de enfermagem, estando qualquer Enfermeiro minimamente preparado

para exercê-la. No entanto, como a legislação que define o funcionamento de Residência

Multiprofissional em Saúde determina critérios para a seleção de Preceptores e, neste estudo,

o cenário é uma instituição de saúde universitária, os participantes que informaram sentirem-

se corresponsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem dos Residentes foram incluídos

como facilitadores deste processo, mesmo sem estarem cadastrados como Preceptores.

Page 39: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

39

Tal estratégia permitiu que a pesquisa observasse de forma mais ampla a relação entre os

Enfermeiros assistenciais e os Residentes do IPUB. Assim, chamaremos de Enfermeiros

facilitadores do processo de integração ensino-assistência dos Residentes, os que são

Preceptores e os que não estão assim incluídos, por entendermos que todos os participantes

atuam de alguma maneira na formação do Residente de Enfermagem, conforme disseram

durante a pesquisa.

I.1 Características dos Enfermeiros que atuam como facilitadores do processo de

integração ensino-assistência dos Residentes Enfermeiros do IPUB

Embora este estudo tenha incluído como facilitadores os Enfermeiros formalmente

designados como Preceptores ou não, é importante destacar que para a inauguração da

Residência Multiprofissional em Saúde Mental do IPUB, ocorreu a seleção e preparo de

profissionais para atuarem como Preceptores, conforme recomenda a legislação sobre essa

modalidade de especialização.

Para a prática da Preceptoria na Residência Multiprofissional em Saúde Mental do

IPUB foram preparados profissionais através de um curso de capacitação na UFRJ. Tais

profissionais são todos Enfermeiros da instituição com vínculo empregatício de estatutário.

Durante a pesquisa, foi percebido que a ação de Preceptoria está nas entrelinhas das funções

descritas no edital do concurso para exercício da profissão de Enfermeiro na instituição, na

categoria referente às atividades de pesquisa e de extensão, uma vez que trata-se de um

hospital-escola (UFRJ, 2013).

Para exercer efetivamente tal função, faz-se necessário a vinculação com um Programa de

Pós-Graduação, como acontece, por exemplo, com a Residência Multiprofissional, na qual os

Enfermeiros são convidados pelos coordenadores deste programa de ensino, para exercer a

Page 40: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

40

prática da Preceptoria, possível pela vinculação entre a UFRJ e o IPUB. Neste caso, tanto o

coordenador do Programa quanto o Enfermeiro Preceptor atuam como membros ativos no

processo de ensino teórico e prático.

Nós recebemos um convite do pessoal [dos coordenadores] para

participarmos do grupo de profissionais que auxiliavam e treinavam os

Residentes Multidisciplinares (Enf. III).

Então, quando começaram a pensar sobre efetivar a Residência

Multiprofissional, o programa exige a parte prática, com isso, os

coordenadores vieram nos procurar e apresentaram o programa, como

funcionaria, e fizeram o convite para alguns Enfermeiros plantonistas, para

atuarem junto com esses Residentes (Enf. X).

Segundo a Portaria 1000/05 do Ministério da Saúde, o Preceptor é aquele que

desenvolve supervisão docente–assistencial, que exerce as atividades de organização do

processo de aprendizagem e orientação aos estudantes. Para isso, são necessários, no mínimo,

três anos de experiência de aperfeiçoamento ou titulação acadêmica de especialização ou

residência na área em que atuará como Preceptor (BRASIL, 2005).

No IPUB só ocorre à atividade de estágio supervisionado para estudantes de

graduação em enfermagem, o que implica na presença do docente junto dos mesmos. Sendo

assim, não há o estágio conduzido pelo Preceptor somente. No entanto, mesmo estando no

mesmo espaço assistencial que os estudantes da graduação em Enfermagem, os participantes

deste estudo informaram que não realizam atividades junto aos acadêmicos de Enfermagem, o

que foi justificado pela presença de um docente direcionando as atividades práticas desses

acadêmicos.

Nosso contato com estudantes fica só mesmo com os Residentes

Multidisciplinares, os da faculdade vem com professor (Enf III).

Os alunos de graduação não ficam com a gente, eles chegam com o

professor e vão fazer as atividades deles (Enf IV).

No entanto, por tratar-se de um hospital-escola, cabe aos Enfermeiros assumirem a

Page 41: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

41

posição de facilitador da integração ensino-assistência e interagir com os estudantes em

campo de prática. Essa interação se relaciona diretamente com a formação profissional e com

a responsabilidade do Enfermeiro na condução da assistência de enfermagem no plantão em

que atua como supervisor, no qual acontece o estágio supervisionado.

Na pesquisa foi possível identificar que o Programa de Residência Multiprofissional

em Saúde Mental do IPUB acontece em dois momentos: no primeiro ano, o Residente realiza

atividade dentro das unidades de internação psiquiátrica e, no ano seguinte, realiza

atividadesno Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da instituição.

Eles [os Residentes] só ficam com a gente um ano, depois são direcionados

para a rede e perdemos o contato com eles. O meu papel com ele é mais

dentro de campo, não tenho papel de avaliador, às vezes, nas reuniões que

acontecem, a gente passa algumas percepções dos Residentes(Enf VIII).

Conhecer as características de formação destes Enfermeiros que atuam como

facilitadores do processo de integração ensino-assistência dos Residentes pode ajudar na

reflexão sobre esta atividade no cenário de pesquisa.

No quadro 1, apresentado a seguir, temos as características de formação dos

Enfermeiros que participaram do estudo.

Quadro 1 – Características profissionais dos Enfermeiros participantes do estudo

Enfermeiro Sexo Tempo de

graduado em

enfermagem

Curso de Pós-graduação/Extensão Tempo de atuação no

IPUB

I F 19 anos Licenciatura em Enfermagem

Mestrado em Enfermagem

15 anos

II F 12 anos Especialização em Enfermagem

Pediátrica

7 anos

Page 42: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

42

III M 15 anos Especialização em Saúde Pública

8 anos

IV M 13 anos Licenciatura em Educação Física

Especialização em Enfermagem do

Trabalho

Especialização em Enfermagem em

Emergência

Especialização em Didática do Ensino

Superior

7 anos

V F 8 anos Residência em Saúde Mental

2 anos

VI F 15 anos Residência em Saúde Mental

2 anos

VII F 15 anos Residência em Saúde Mental

Mestrado Profissional em Enfermagem

2 anos

VIII F 16 anos Residência em Clínica Médica

Especialização em CCIH

Mestrado em Enfermagem

12 anos

IX F 10 anos Mestrado em Saúde Mental 4 anos

X F 15 anos Especialização em Clinica Médica 8 anos

A partir do quadro 1 é possível perceber certas características dos Enfermeiros

participantes deste estudo como: dos dez (10) entrevistados, oito (8) são do sexo feminino, o

que representa o quadro atual na profissão de Enfermeiro no país, em relação ao sexo, onde a

maioria dos profissionais são mulheres.

Tal fato pode ser analisado sob diferentes vertentes, mas aqui vamos seguir a linha de

que o cuidado é historicamente relacionado ao feminino e que a Enfermagem Moderna surgiu

Page 43: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

43

como profissão feminina na Inglaterra e assim chegou ao Brasil, no início do século XX.

Portanto, a entrada dos homens na profissão ocorreu gradativamente, quando falamos da

Enfermagem Moderna brasileira, na qual, ainda hoje, é confirmada a presença majoritária de

mulheres na profissão, mesmo com o aumento do número de homens nos últimos anos

(PADILHA, VAGHETTI e BRODERSEN, 2006; COELHO, 2005).

O processo de feminização merece destaque porque as realidades que envolvem o

mundo do trabalho e as relações de gênero interferem no processo de ensino e de formação na

Residência, mas não será aqui aprofundado, tendo em vista que os aspectos sociais e culturais

próprios da questão do gênero, vêm sendo estudados de forma mais aprofundada pelos

interessados na área.

Em relação ao tempo de graduação, observou-se que o mesmo variou entre 8 e 20

anos, enquanto o tempo de atuação como Enfermeiro no IPUB entre 2 e 15 anos, o que

considera-se um fator favorável para que se exerça o papel de facilitadores do processo de

integração ensino-assistência dos Enfermeiros Residentes, devido a experiência já adquirida

pelo exercício da prática profissional.

Os dados apresentados no quadro 1 também evidenciam que o desenvolvimento do

saber específico em saúde mental dos Enfermeiros que participaram deste estudo veio através

da experiência prática e de busca por estudos na área, uma vez que a formação acadêmica dos

mesmos aconteceu no período da transição do modelo de cuidado manicomial para o

psicossocial.

Além disso, todos os participantes possuem curso de pós-graduação, sendo que três

(3) possuem Curso Stricto Sensu (2 Mestrado Acadêmico e 1 Mestrado Profissional) e oito (8)

Curso Lato Sensu (especialização em variadas áreas) e dois (2) possuem licenciatura. Todavia

é possível perceber que embora a busca acadêmica de todos não tenha sido na Saúde

Mental/Psiquiatria, os Enfermeiros buscaram a especialização formal, o que demonstra seu

Page 44: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

44

interesse pela qualificação, fator que contribui para a atuação como Preceptor/Facilitador

junto aos Residentes.

Cabe destacar que, dos dez (10) participantes, quatro (4) realizaram a pós-graduação

na área da saúde mental, o que sugere que a maioria (6) não tinham a saúde mental como

primeira área de escolha para o exercício profissional. Relaciona-se tal fato com a própria

trajetória do cuidado em psiquiatria, o qual até a década de 1980 era majoritariamente

realizado no regime asilar-hospitalar e

a admissão para trabalhar no hospital psiquiátrico era associada a castigo, um

lugar para onde poucos profissionais iam de livre escolha e para onde o

funcionário-problema era transferido (no serviço público). O sentido da

admissão para o quadro de funcionários tinha a mesma conotação da admissão

de um paciente: absoluta falta de livre escolha (ARANHA e SILVA e

FONSECA, 2005).

Outro fator importante de ser observado é que, dentre os participantes da pesquisa,

quatro finalizaram o curso de graduação em Enfermagem após a implementação da Reforma

Psiquiátrica em todo território nacional, ou seja, após o sancionamento da Lei 10.2016 em

2001. Diante disso, pode-se prever que os seis formados antes ou durante esse marco na

política nacional em beneficio do individuo portador de transtorno mental, possivelmente

necessitaram desconstruir o saber adquirido anteriormente para reconstruir um saber firmado

no novo modelo de cuidado proposto pela lógica psicossocial.

O campo psicossocial é o lugar onde a ação de saúde é produzida. Quem a

produz é um sujeito, também socialmente constituído, o que traduz, no limite

da interação, o saber e o poder aderente ao seu lugar social. Dessa forma, as

práticas concretas representam ou reproduzem dada ideologia e o lócus onde

cooperam ou rivalizam é a equipe de trabalho. Essa é a dimensão singular do

trabalho em saúde (ARANHA e SILVA e FONSECA, 2005).

Sendo assim, o preparo de Preceptores para a Residência Multiprofissional do IPUB

foi uma estratégia de capacitação dos Enfermeiros que daria suporte à formação prática dos

Residentes, mas não era possível ser, no primeiro momento, realizado por todos, devido ao

limite do número de vagas pela instituição que ofereceu o curso.

O quadro 2 apresenta dados sobre a realização de curso de Preceptoria e sobre como

Page 45: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

45

os Enfermeiros do IPUB se sentem diante da sua atuação como facilitadores do processo de

ensino-integração assistencial junto aos Enfermeiros residentes.

Quadro 2 – Realização do curso de Preceptoria, conhecimento sobre o Programa de

Residência e atuação como facilitador do processo de integração ensino-assistência dos

Residentes Enfermeiros do IPUB. CURSO DE

PRECEPTORIA

(NUTES)

CONHECIMENTO DO PROGRAMA DE

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL

EM SAÚDE MENTAL (PRMSM)

É Preceptor ou considera-se

facilitador do processo de integração

ensino-assistência dos Residentes

Enfermeiros?

Sim Sim Sim

Não Não Sim

Não Não Sim

Não Não Sim

Sim Sim Sim

Sim Sim Sim

Sim Sim Sim

Sim Sim Sim

Não Não Sim

Não Não Sim

Analisando os dados informados pelos participantes e passados para o quadro 2 é

possível observar que todos os Enfermeiros entrevistados consideram-se facilitadores das

atividades relacionadas com o processo de integração ensino-assistência dos Residentes

Enfermeiros do IPUB.

Ao refletir sobre a afirmativa dos Enfermeiros não Preceptores de sentirem-se

facilitadores do processo de ensino-assistência ou mesmo de sentirem-se Preceptores,

utilizamos o arcabouço jurídico sobre o ensino no país que considera o profissional do

serviço, que serve de campo de estratégias educacionais práticas, corresponsável pelo

Page 46: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

46

desenvolvimento do aprendizado em treinamento em serviço (BRASIL, 2007). Sendo esta a

definição do Preceptor, entende-se que os Enfermeiros se colocam nesta posição, apesar de

ainda não terem se preparado formalmente ou terem sido cadastrados como Preceptores no

IPUB, uma vez que é quase impossível a um Enfermeiro supervisor ignorar e não influenciar

direta ou indiretamente no cuidado prestado por outros profissionais Enfermeiros, que atuam

no mesmo espaço assistencial em que ele é responsável pelo cuidado de enfermagem.

Além disso, na estratégia de especialização sob a forma de Residência, coloca-se o

Residente em contato com a realidade do Enfermeiro assistencial, permitindo que o mesmo

“conheça e identifique as atividades que permeiam a prática, o gerenciamento de cuidados e a

maneira de se fazer enfermagem” (ITO, 2005, p. 36).

Dando continuidade a análise dos dados apresentados no quadro 2, cinco (5)

Enfermeiros fizeram o Curso de Preceptores, oferecido pela UFRJ e afirmam conhecer a

organização e funcionamento do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental

da instituição. Dos cinco (5) Enfermeiros que disseram que não conhecem o Programa de

Residência, podemos depreender que se referem ao conhecimento detalhado do

funcionamento do mesmo, pois, se todos se consideram facilitadores no processo que envolve

o aprendizado dos Residentes por dizerem-se Preceptores, certamente sabem minimamente da

existência e funcionamento da Residência.

Os resultados da pesquisa vão ao encontro do que se espera de um Programa de

Residência em Saúde, no qual Preceptores são preparados para atuarem no mesmo. No caso

do IPUB, os cinco Enfermeiros capacitados como Preceptores que participaram da pesquisa

têm conhecimento do Programa e atuam como tal. De acordo com Berardinelli (2003) o

Preceptor necessita estar sensível às demandas e transformações sociais, culturais e éticas.

Diante do pensamento de que a Reforma Psiquiátrica permanece em plena atividade e suas

evoluções assistências exigem desse profissional manter seu saber em concordância com essas

Page 47: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

47

demandas, sua responsabilidade e competência em formação à nível de especialização são

grandes.

Os profissionais entrevistados não demonstraram terem realizado em algum momento

uma procura por cursos de capacitação para a Preceptoria, os que referiram ter feito o Cursode

Preceptor, oferecido pelo Núcleo de Telessáude (NUTES) da UFRJ, se interessaram a partir

de uma proposta da chefia de enfermagem do IPUB:

A chefia [de enfermagem] nos procurou e fez o convite para a realização

(Enf VIII).

Não foi nada imposto não. Recebemos o convite e sentimos o desejo e a

vontade de fazer esse curso, pois sentimos a vontade de nos aperfeiçoarmos

nesse sentindo para exercer melhor a prática de Preceptoria. (Enf. VI).

Depreende-se das falas apresentadas acima que a realização do curso pelos

Enfermeiros do IPUB foi uma demanda criada pela chefia de enfermagem diante da oferta do

mesmo por outra unidade da UFRJ e não partiu dos próprios profissionais. Diante do

planejamento para que o IPUB se preparasse para o Programa de Residência, os Enfermeiros

foram estimulados pela chefia de enfermagem a se prepararem no curso oferecido pelo

NUTES/UFRJ.

Contudo, pôde-se observar com a pesquisa que o contato do profissional estudante não

se limita unicamente com o profissional educador institucional, ou seja, existem outros

profissionaisque reconhecem suas práticas como práticas de facilitação do processo de ensino-

aprendizagem, o que o coloca próximo da Preceptoria. Logo é possível perceber que estes

facilitadores têm total importância neste processo.

Wuillaume e Batista (2000) afirmam que fica implícito que a competência profissional

e/ou acadêmica assegura a competência didática, uma vez que, o ato de educar está implícito

no Enfermeiro. Percebe-se que independente de ser Preceptor ou facilitador, este profissional

institucional no qual se encontra ativo no contexto do educar como sendo uma pessoa [...] que

Page 48: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

48

ensina, aconselha e inspira, serve de modelo e apoia o crescimento e desenvolvimento de um

indivíduo por uma quantidade de tempo fixa e limitada, com o propósito específico de

socializar o noviço no seu novo papel (MORROW apud WUILLAUME e BATISTA, 2000).

I.2 Enfermeiros que atuam junto aos residentes Enfermeiros do IPUB

Este subitem inicia com um olhar sobre os Enfermeiros Preceptores do IPUB por ser

necessário um destaque à atuação desses atores, que são imprescindíveis no curso de

Residência, para que o mesmo ofereça uma formação profissional como um processo

educacional para além de um treinamento. E esse processo se baseia no desenvolvimento

coordenado de diversas formas de conhecimentos e habilidades, e na aquisição de atributos

técnicos e relacionais (BOTTI e REGO, 2010).

No IPUB, que também oferece Residência Médica, a Preceptoria por Enfermeiros só

ocorre formalmente junto a Residência Multiprofissional, ou seja, há uma prática direcionada

para este curso que é de especialização na área de saúde mental. Assim, cabe enfatizar que o

Preceptor é todo profissional atuante no ambiente de prática que orienta, coordena e ensina de

maneira prática as ações teóricas da profissão e participa do processo avaliativo de estudantes

de qualquer nível (MILLS, 2005).

Um dos participantes, que é Preceptor, ratificou a atuação junto aos Residentes:

Damos apoio às professoras da graduação, da Escola de Enfermagem

[Anna Nery/UFRJ], mas não temos vínculo nenhum direto com ninguém, só

mesmo com os Residentes multiprofissionais. (Enf.VIII).

Na fala do participante supracitado nota-se a sua responsabilidade em estabelecer vínculo

com os Residentes, o que é fundamental para que ocorra a facilitação do processo de ensino-

aprendizagem e de integração ensino-assistência durante o curso. E nesse caso, o Preceptor

não pode fugir a essa responsabilidade, uma vez que na modalidade de Residência, o

Preceptor torna-se um modelo não apenas de conhecimento e de habilidades técnicas, mas

Page 49: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

49

também de espelho de comportamentos e atitudes, processo pelo qual os Residentes

apreendem conhecimentos, habilidades e valores que vão constituir sua identidade

profissional (BOTTI e REGO, 2010).

O termo Preceptor é usado para designar aquele profissional que, no serviço, tem

importante papel na inserção e socialização do estudante no ambiente de trabalho. Recai sobre

ele a corresponsabilidade de interação entre a teoria e a prática assistencial, criando

estratégias para melhor qualificar o profissional ou futuro profissional para o mercado de

trabalho (MILLS, 2005).

Sendo assim, o Preceptor pode ser interpretado como um profissional que atua no serviço,

no qual as estratégias de ensino prático são realizadas e, portanto, como um facilitador do

aprendizado.

Utilizando a definição de Bain (2010) e Armitage (1991), o Preceptor tem a função de

estreitar a distância entre teoria e prática.

O Preceptor é o profissional que atua dentro do ambiente de trabalho e de

formação, estritamente na área e no momento da prática clínica. Sua ação se

dá por um curto período de tempo, com encontros formais que objetivam o

progresso clínico do aluno ou recém-graduado. O Preceptor desenvolve uma

relação que exige pouco compromisso, percebido apenas no cenário do

trabalho. Tem, então, a função primordial de desenvolver habilidades

clínicas e avaliar o profissional em formação (BOTTI et al, 2008)

Através do contato direto do Residente com o Enfermeiro é possível evidenciar a

influência que essa convivência ocasiona no aprendizado, que pode mudar o cenário da

formação profissional, inclusive sustentando os preceitos da Reforma Psiquiátrica para que,

no futuro, esses novos profissionais possam contribuir para a consolidação da mudança

paradigmática em processo “enfrentando de maneira competente as flechas da oposição

hospitalocêntrica e as fragilidades reais desta política que é complexa. Isto não é tarefa fácil”

(DELGADO, 2040, p.18).

Page 50: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

50

Destarte, com os cenários de dimensões de transformações paradigmáticas

em saúde mental, é importante repensar o papel dos profissionais de

enfermagem na prática assistencial. Sob essa ótica, nas últimas décadas, o

ensino da enfermagem psiquiátrica tem sofrido modificações nas

características tradicionais, ao passo que começou abranger aspectos da

relação familiar, técnicas grupais e relacionamento interpessoal. Além do

mais, incorporou a necessidade de ações extra-hospitalares e de promoção e

prevenção em saúde mental (GUIMARÃES, 2011, p. 48).

No que se refere ao processo de Educação em Saúde na área de Saúde Mental, a

instituição da residência multiprofissional do IPUB, surge com a finalidade de garantir de

forma integrada a qualificação proposta pelo Ministério da Saúde aos trabalhadores da área da

saúde, com uma articulação teórica e prática, pensando, de forma efetiva, em garantir o

compromisso com os indivíduos com necessidades psicossociais, consolidado essas ações

previstas pelo SUS.

Afonso e Silveira (2012) afirmam, ao tratarem da residência médica, que Preceptores

são profissionais com especialização na área de saúde, quase nunca da educação, e que tem,

na Preceptoria, uma de suas principais tarefas profissionais.

O papel de um profissional mais experiente, responsável pela

formação de jovens aprendizes, ensinando conhecimentos e

auxiliando no desenvolvimento de atitudes e habilidades,

servindo muitas vezes como exemplo ou modelo profissional,

por sinal, vai muito além da Medicina e remonta ao ensino-

aprendizado dos mais diversos ofícios de importância para a

sociedade (ABEM, 2013, pg. 15).

De acordo com a lei em vigor na realidade brasileira, o gerenciamento dos Núcleos de

Residência foi destinada ao Ministério da Saúde (MS) juntamente com o Ministério da

Educação e Cultura (MEC) e Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde

(CNRMS), tendo como base legal a Resolução CNRMS nº 2, de 13 de Abril de 2012, que

dispõe sobre Diretrizes Gerais para os Programas de Residência Multiprofissional e

Uniprofissional de Saúde.

Logo, tal Resolução em seu Art.13 destaca que:

Page 51: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

51

A função de Preceptor caracteriza-se por supervisão direta das atividades

práticas realizadas pelos Residentes nos serviços de saúde onde se

desenvolve o programa, exercida por profissional vinculado à instituição

formadora ou executora, com formação mínima de especialista.§1º O

Preceptor deverá, necessariamente, ser da mesma área profissional do

Residente sob sua supervisão, estando presente no cenário de prática.

A mesma Resolução trata das competências do Preceptor em seu Art. 14:

Ao Preceptor compete: I. Exercer a função de orientador de referência para o(s) Residente(s) no

desempenho das atividades práticas vivenciadas no cotidiano da atenção e

gestão em saúde; II. Orientar e acompanhar, com suporte do(s) tutor(es) o

desenvolvimento do plano de atividades teórico/práticas e práticas do

Residente, devendo observar as diretrizes do Projeto Pedagógico (PP); III.

Elaborar, com suporte do(s) tutor(es) e demais Preceptores da área de

concentração, as escalas de plantões e de férias, acompanhando sua

execução; IV. Facilitar a integração do(s) Residente(s) com a equipe de

saúde, usuários (indivíduos, família e grupos), Residentes de outros

programas, bem como com estudantes dos diferentes níveis de formação

profissional na saúde que atuam no campo de prática; V. Participar, junto

com o(s) Residente(s) e demais profissionais envolvidos no programa, das

atividades de pesquisa e dos projetos de intervenção voltados à produção de

conhecimento e de tecnologias que integrem ensino e serviço para

qualificação do SUS; VI. Identificar dificuldades e problemas de

qualificação do(s) Residente(s) relacionadas ao desenvolvimento de

atividades práticas de modo a proporcionar a aquisição das competências

previstas no PP do programa, encaminhando-as ao(s) tutor(es) quando se

fizer necessário; VIII. Participar da elaboração de relatórios periódicos

desenvolvidos pelo(s) Residente(s) sob sua supervisão; IX. Proceder, em

conjunto com tutores, a formalização do processo avaliativo do Residente,

com periodicidade máxima bimestral; X. Participar da avaliação da

implementação do PP do programa, contribuindo para o seu aprimoramento;

XI. Orientar e avaliar dos trabalhos de conclusão do programa de residência,

conforme as regras estabelecidas no Regimento Interno da Comissão de

Residência Multiprofissional (COREMU), respeitada a exigência mínima de

titulação de mestre.

No cenário de prática, o Residente deve ser acompanhado por um Preceptor, sendo

este um funcionário da instituição hospitalar, que auxilia na formação do mesmo e, para tal,

necessita ser instrumentalizado com conhecimentos didático-pedagógico. Ele difere do

professor, funcionário da Instituição de Ensino Superior, que pode estar presente no cenário

de prática, na função de supervisor de campo.

Todavia, conforme o Quadro 2 apresentado no subitem anterior foi possível identificar

que da totalidade dos participantes da pesquisa, a metade realizou o curso de Preceptor e estão

Page 52: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

52

vinculados ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do IPUB.

Contudo, a outra metade dos participantes reconhecem, em sua prática, o princípio do

Preceptorado, como vemos nos relatos a seguir:

Bem, não recebemos nenhum comunicado por escrito sobre isso. Mas,

acredito que sejamos sim, porque acolhemos, acompanhamos, orientamos

esses “estudantes profissionais” [Residente Multiprofissional] (Enf. X).

As instituições de saúde possuem suas especificidades. Em geral o trabalho de

enfermagem coloca o profissional diante de uma demanda de cuidado pesada e requer a

realização de atividades de diferentes ordens durante todo o período. Assim, pode-se entender

o porque dos Enfermeiros do IPUB sentirem dificuldade de diferenciar quem é Preceptor e

quem é facilitador do processo de integração do ensino-assistência dos Residentes. Os

Enfermeiros do IPUB percebem que estão convivendo com os mesmos e trocam experiências

durante os plantões, o que é próprio da integração da equipe durante o cuidado.

As falas dos Enfermeiros demonstram que eles se consideram exercendo a Preceptoria,

mas, na verdade, existem os Enfermeiros devidamente capacitados para tal atribuição no

IPUB e os demais participam como facilitadores do aprendizado desses profissionais, o que

não deixa de ser uma Preceptoria. As respostas dos Enfermeiros indicam que sentem-se

preparados para ser Preceptores e que realmente atuam no processo de facilitação da

integração ensino-assistência dos Residentes Enfermeiros. Berardinelli (2003), diz que a

qualificação do Preceptor deve guardar equilíbrio entre o domínio técnico-científico e da

docência, nas suas dimensões socioculturais e pedagógicas.

Algumas qualidades de um Preceptor bem sucedido são: exercício da tutoria, ética e

humanismo, domínio do conteúdo, capacidade de educação permanente e capacidade didática.

Além disso, a palavra tutor é de origem latina e traz consigo o significado daquele que ajuda e

orienta os iguais a ele, contudo com menos conhecimento (WUILLAUNE, 2000).

Ao tratar do curso de Preceptor oferecido pela UFRJ os participantes fizeram as

seguintes observações:

Page 53: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

53

O curso de Preceptores em Saúde, alguns fizeram, eu fui uma das que

fizeram, para poder ter mais suporte. Foi o que ela [profissional que deu o

curso] disse, é o dia a dia, a prática em campo, educação em campo,

treinamento em campo, quem está no treinamento e quem treina (Enf I).

Nós fizemos o curso de formação de Preceptores por vontade nossa não foi

nada imposto ou direcionado a isso. Recebemos o convite e fomos fazer

porque sentimos uma vontade de se aperfeiçoar nesse sentido (Enf VIII).

Os Enfermeiros entendem a realização do curso de Preceptor como uma estratégia de

aperfeiçoamento que os levaria a ter uma melhor atuação junto aos Residentes, o que

demonstra que esses Enfermeiros possuem consciência da responsabilidade abarcada ao

aceitar ser Preceptor da Residência Multiprofissional.

Foi um curso muito bacana com métodos de aprendizagem de trabalho,

ensino, assistência, em módulos diferentes voltados para a nossa formação

enquanto educador. O curso foi muito completo (Enf VIII).

O entendimento do curso como um aperfeiçoamento é um aspecto positivo diante das

características do IPUB, que é um hospital voltado para o ensino de psiquiatria e de saúde

mental em várias áreas da saúde, dentre elas a Enfermagem.

Embora o curso de Preceptoria tenha obtido destaque, a realização do curso de

mestrado também foi comentado como importante formação para o exercício da Preceptoria.

O mestrado ajudou muito também, mas a prática ajuda também, nós como

Enfermeiros da prática temos domínio sobre esse espaço, mas não da teoria.

Está certo que os dois devem se complementar. Contudo, o trabalho envolve

tanto a gente que acabamos esquecendo a teoria. E o mestrado tem esse

papel, de nos fazer rever a relação teórica sobre o nosso trabalho e nossas

práticas, apresentando novas modalidades de cuidado e estudo (Enf, VIII).

Outro Enfermeiro não considera que o curso de mestrado auxilie no acompanhamento

de Residentes, argumentando que não teve foco em estratégias didáticas de ensino-

aprendizagem referentes à prática exercida com esses Residentes, todavia, é possível analisar

que determinadas atividades, competências e desenvolvimento de saberes dependem de

fatores distintos, como o próprio programa do mestrado realizado, linha de pesquisa e

demandas de disciplinas institucionais.

Page 54: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

54

O preparo advindo da educação continuada e de outros processos de formação em

serviço foi citado, indo ao encontro da posição de que se deve ter preparo para exercer a

Preceptoria.

Nós tivemos alguns preparos, poucos né. Tipo, a educação continuada deu

uma orientada mais ou menos. Mas, a gente tem embasamento de outros

lugares, isso também é um facilitador (Enf III).

Pode-se notar que os participantes mencionaram o conhecimento acumulado durante

diferentes cursos de formação e a experiência profissional como base de sustentação para

atuar como facilitador do processo de integração ensino-assistência de Residentes. Assim, ao

citarem o curso de Preceptor, de mestrado e a educação continuada, os Enfermeiros

participantes desta pesquisa corroboram com a afirmativa de que os profissionais de

instituições que oferecem Residência devem ser preparados para exercer uma prática

interdisciplinar com a melhor qualificação possível, pois “a principal atividade da residência

está centrada no treinamento em serviço” (OLIVEIRA atal, 2010, p.113).

A importância do Enfermeiro dos serviços de saúde, principalmente dos Preceptores,

contribui muito para o processo de formação lato sensu. Embora eles não atuem diretamente

na academia, desempenham, como agentes do serviço, um importante papel na formação,

inserção e socialização do Residente no ambiente de trabalho, demonstrando preocupação que

envolvem os aspectos de ensino-aprendizagem do desenvolvimento profissional, integrando

conceitos e valores da teoria e da prática (TAVARES, SANTOS, COMASSETTO, SANTOS,

SANTANA, 2011).

A busca do aprimoramento encontra-se vinculada a oportunidade de fazer um trabalho

melhor, bem como ao fortalecimento da prática de acompanhamento em campo. Mas não é

somente com o curso específico que o profissional sente-se preparado para atuar no processo

de ensino-aprendizagem dos Residentes, a experiência no campo assistencial lhe confere

Page 55: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

55

saberes que o torna preparado para facilitar este processo:

Eu atuo na Preceptoria de campo com Residentes multi desde o início do

curso aqui no IPUB, mas não fiz esse curso de formação (Enf II).

Os Enfermeiros, atuantes no cenário de pesquisa, são oriundos de concurso público,

apresentando dissonância de formação profissional. Conforme consta no Edital, os candidatos

não precisam apresentar como pré-requisito a formação específica na área de Saúde Mental

e/ou comprovação de experiência com este tipo de clientela.

De acordo com o Edital nº 316, de 18 de setembro de 2013, publicado no Diário

Oficial da União (DOU) nº 182, de 19 de setembro de 2013, referente ao concurso de

profissionais para execução de atividades no IPUB, verificamos que no Anexo III - Requisitos

e atribuições dos cargos (consolidado em 24/04/2013), a função de Preceptoria é incluída

como assessoria nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, como pode-se ver:

Cargo: Enfermeiro - todas as áreas. Requisitos: Graduação concluída em

Enfermagem, em curso reconhecido pelo MEC, e registro no COREn.

Atribuições do Cargo: Prestar assistência ao paciente e/ou usuário em clínicas,

hospitais, ambulatórios, navios, postos de saúde e em domicílio, realizar

consultas e procedimentos de maior complexidade e prescrevendo ações;

implementar ações para a promoção da saúde junto à comunidade. Assessorar

nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.

A tríade das Instituições públicas de Ensino Superior (IES) – Ensino, Pesquisa e

Extensão – presentes nas atribuições do Enfermeiro, possibilitam um entendimento intrínseco

de que o profissional auxiliará, orientará alguém durante o desenvolvimento de atividades

nestas esferas.

Ainda pode-se destacar que as atividades de ensino, não são somente atividades

voltadas para alunos (graduandos ou pós-graduandos), podendo ser realizadas com a própria

equipe de enfermagem. As atividades de pesquisa podem também ser realizadas pelos

próprios Enfermeiros por iniciativa própria e incluem a coordenação de projetos de pesquisa,

a orientação e co-orientação de trabalhos de conclusão de curso, de iniciação científica ou

outro, e as atividades de extensão estão relacionadas às atividades de

Page 56: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

56

aperfeiçoamento/atualização profissional atreladas a uma IES.

Assim, fica evidente que os Enfermeiros do IPUB que não são Preceptores do Curso

de Residência Multiprofissional da instituição, atuam como facilitadores do processo de

integração ensino-assistência junto aos Enfermeiros que ingressam no mesmo, no âmbito das

atividades assistenciais. A prática na instituição garante o preparo dos mesmos, independente

da área em que realizaram seus cursos de pós-graduação. Mas, ao se pensar nos conceitos e

definições descritos, uma maior imersão em todo contexto do programa, em todos os cenários

e não unicamente na unidade de internação do IPUB é necessária.

CAPÍTULO II

ESTRATÉGIAS FACILITADORAS DO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ENSINO-

ASSISTÊNCIA UTILIZADAS PELOS ENFERMEIROS COM OS RESIDENTES

Page 57: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

57

Embora os cursos de especialização para profissionais da área da saúde na modalidade

residência existam no Brasil desde a década de 1970, sua regulamentação se deu,

primeiramente, para os profissionais médicos, com o Decreto n. 80.281 de 1977. Para os

demais profissionais da saúde foi através da Lei federal n. 11.129 de 2005, que as instituiu

como modalidade de ensino de Pós-Graduação Lato Sensu como parte de uma estratégia para

formar recursos humanos para o SUS (BRASIL, 2005).

A legislação estipula que os Programas de Residência multiprofissional e uniprofissional

da área da saúde sejam desenvolvidos com oitenta por cento da carga horária total

concentrada em estratégias educacionais práticas e teórico-práticas, “com garantia das ações

de integração, educação, gestão, atenção e participação social e 20% (vinte por cento) sob

forma de estratégias educacionais teóricas” (BRASIL, 2014, Art.2º).

Ainda cabe esclarecer que, por definição, segundo o mesmo artigo da referida Resolução

(BRASIL, 2014, Art.2º):

“§ 1° Estratégias educacionais práticas são aquelas relacionadas ao

treinamento em serviço para a prática profissional, de acordo com as

especificidades das áreas de concentração e das categorias profissionais da

saúde, obrigatoriamente sob supervisão do corpo docente assistencial.

§ 2° Estratégias educacionais teóricas são aquelas cuja aprendizagem se

desenvolve por meio de estudos individuais e em grupo, em que o

Profissional da Saúde Residente conta, formalmente, com orientação do

corpo docente assistencial e convidados.

§ 3° As estratégias educacionais teórico-práticas são aquelas que se fazem

por meio de simulação em laboratórios, ações em territórios de saúde e em

instâncias de controle social, em ambientes virtuais de aprendizagem, análise

de casos clínicos e ações de saúde coletiva, entre outras, sob orientação do

corpo docente assistencial”.

Ao se pensar nos parâmetros de pós graduação Lato Sensu, especialmente nos cursos

na modalidade de residência, a integração do estudante com o ambiente prático se configura

como importante aspecto de ensino-aprendizagem. Vale ressaltar que, diferente das normas do

curso de graduação, em que o acadêmico deve passar por todos os cenários de prática

Page 58: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

58

pertinentes a formação generalista, na pós-graduação vê-se uma abordagem diferente, pois o

estudante escolhe uma área de aprofundamento de conhecimentos, já na condição de

profissional, para a qual a abordagem torna-se diferenciada, tanto nos aspectos teóricos como

práticos (BOTTIL, 2008).

Ao serem indagados sobre suas atividades junto aos Residentes Enfermeiros, os

participantes da pesquisa informaram as estratégias que utilizam para integrar a prática

assistencial ao aprendizado, sendo elas a troca de experiência entre Enfermeiros e Residente, a

supervisão e apoio na realização das atividades práticas desenvolvidas pelos Residentes e o

desenvolvimento conjunto de um plano terapêutico com vistas ao processo de

desinstitucionalização.

Embora as estratégias de aprendizagem sejam adotadas pelo Residente e sofram

influência das características próprias do mesmo, cabe ao Preceptor/facilitador não só

desenvolver táticas que favoreçam o aprendizado profundo como propiciar um clima

adequado para que este se desenvolva (SKARE, 2012).

A aproximação da realidade vivida em campo faz a diferença da aprendizagem em um

curso de residência, uma vez que colocar em prática a teoria dentro desse processo de

qualificação profissional fortifica o saber. Logo, o Preceptor/facilitador deve lançar mão de

estratégias que facilitem ou até mesmo explorem ao máximo a capacidade de resolutividade

das situações diárias do setor, seja na esfera assistencial direta ou indireta, esta

correspondendo às ações com influências territoriais e, preferencialmente de caráter

interdisciplinar (SKARE, 2012; OLIVEIRA, 2000).

De acordo com Rodrigues et al (2014), o fazer na assistência sustenta a competência

intelectual e cognitiva com vistas ao mercado de trabalho. A dinâmica do serviço convida os

estudantes a participarem do contexto e os ensina como proceder em situações vivenciadas.

As práticas do Preceptor/facilitador da aprendizagem podem ser pensadas, resgatando

Page 59: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

59

seu potencial de formar profissionais reflexivos, capazes de agir a pertinência das práticas

consolidadas, inconformados com a cegueira das rotinas impensadas, fortemente vinculados

ao compromisso ético de perguntarem se estão fazendo, como equipe e individualmente, o

que de melhor pode ser feito pelos usuários (RIBEIRO, 2012).

II.1 Troca de experiências entre Enfermeiros e Residentes

O fato dos Enfermeiros não Preceptores da Residência Multiprofissional do IPUB que

participaram desta pesquisa informarem que sentem-se nesta função, não é um motivo de

desabono de sua atuação, ao contrário, reafirma a ideia aqui sustentada de que são

facilitadores da integração ensino-assistência. Dito isto, justifica-se a utilização de referências

sobre Preceptoria para embasar a análise dos dados, uma vez que as atividades de todos os

Enfermeiros participantes aproximam-se pelas estratégias utilizadas.

Entende-se, sob a ótica de Peixoto (2014), que o ser social deve estar preparado para

reflexão e criticidade, de modo a decidir como agir em diferentes circunstâncias da vida e do

trabalho. Este comportamento favorece a construção do conhecimento por meio da troca de

vivências, e, nesta reciprocidade tem-se uma aprendizagem significativa, aprendendo a

aprender.

Duas importantes informações sobre o cotidiano do cuidado nas enfermarias do IPUB

que possibilita a troca de experiências entre Enfermeiro e Residentes são explicitadas nos

resultados da pesquisa. Uma relaciona-se a participação dos Residentes, Enfermeiros ou não,

nas atividades diárias da unidade, o que é motivo de convivência, portanto de aproximação

entre os profissionais aprendizes e funcionários. A outra é o compartilhamento das ações do

cuidado de enfermagem, este realizado somente pelos Residentes Enfermeiros, o que não

pode se dar sem que haja alguma interação com o Enfermeiro que está como supervisor de

Page 60: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

60

enfermagem na unidade.

Os Residentes são separados por equipes e eles fazem as demandas do dia a

dia do setor, independente da sua área de formação (Enf III).

Nós acabamos tendo mais contato com eles [Residentes Enfermeiros], pois

grande parte das atividades desses Residentes se dá aqui [na enfermaria]

onde nós Enfermeiros chefiamos (Enf V).

A troca de saberes passa pela relação de confiança no processo de aprendizado, o que

faz diferença quando se pretende especializar um profissional de enfermagem, uma vez que o

saber se dá por conta de cuidados à saúde e essa confiança e motivação do aprender se baseia,

em muitos casos, no processo de se espelhar naquele que se torna referência a tudo

(BARRETO et al, 2011).

Para o melhor aproveitamento das condições de trabalho para realizar as atividades

diárias faz-se necessário um relacionamento horizontalizado, a fim de que as orientações do

Enfermeiro Preceptor/facilitador para esse Residente tenha melhor aceitabilidade, podendo ser

uma estratégia para se captar o saber já existente no Residente e aprimorá-lo.

Logo, conforme Barreto et al (p. 580, 2011), será importante incorporar algumas

práticas a fim de horizontalizar a relação, como, por exemplo:

1. Atitudes a serem tomadas pelo Preceptor para facilitar a

aprendizagem intelectual e afetiva: a. Veracidade e autenticidade: ser o que se é, sem construção de

fachadas; b. Prezar, aceitar e confiar: respeitar o estudante e o

que ele traz de conhecimento; c. Compreensão empática:

compreender o estudante enquanto ser humano, evitando

julgamentos; 2. Abertura concreta entre todos para sanar dúvidas e

inseguranças, inclusive do Preceptor; 3. Organização do processo de trabalho que comporte o ensino; 4. Responsabilização equânime do processo de trabalho; 5.Compromisso efetivo do Preceptor e educando com sua

responsabilidade territorial, epidemiológica e educacional;

Incorporação, no relacionamento com os usuários, de

características semelhantes às do relacionamento com o

educando, dado que o usuário está também em processo

educativo sobre sua produção de saúde.

Page 61: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

61

Um dos participantes referiu que é importante o relacionamento entre o Preceptor e o

Residente:

Acho que acima de tudo nós temos que saber chegar nesse Residente,

porque nem todos conhecem a forma de ensino que a UFRJ/IPUB possui,

então, muitos desses ficam um pouco perdidos com o início de tudo e se o

Preceptor não souber lidar com isso e ter paciência em entender esse

Residente, todo o processo de aprendizagem dele pode se bloquear (Enf.

VIII)

Saber relacionar-se é um dos desafios do Preceptor e o processo de trabalho, atrelado

ao compromisso do educador, exige a formação de parcerias didático-práticas para resolução

de conflitos interpessoais e o enfrentamento diário da profissão (PEIXOTO, 2014).

Ao lançar um olhar sobre o Relacionamento entre Residente e

EnfermeiroPreceptor/facilitador, Barbeiro (2010, p. 1084) diz que:

[...]possível perceber que o relacionamento entre o Enfermeiro

Residente e o EnfermeiroPreceptor é visto como um

relacionamento profissional onde a troca de informações se dá

de forma de quem supostamente obtém mais conhecimento

(Preceptor) para aquele que detém menos (Residente).

Independentemente do Enfermeiro Residente já possuir

habilidade técnica proveniente de suas experiências

profissionais pregressas, seu relacionamento com o Preceptor

é visto, ainda sim, como uma relação “aluno e professor”, na

qual é necessário que o “professor” tenha atenção durante a

execução das tarefas do Enfermeiro Residente.

Frente à prática de Preceptor/facilitador na residência multiprofissional a fala do

participante apresentada traz questões que convergem com a ideia acima, uma vez que grande

parte das atividades práticas dos Residentes acontecem no cenário de liderança e atividade do

Enfermeiro e sua equipe.

Eu fui Residente, não em Saúde Mental, mas sei como é difícil lidar com

tudo isso. A parte teórica, a prática hospitalar e os conflitos que ocorrem

com relação à equipe, então ter um bom relacionamento com esse

Enfermeiro que ali está com você nesses momentos pode faz toda a

diferença. Até porque esse Residente se torna parte daquela equipe também

(Enf. VIII)

Para uma melhor experiência nesse primeiro ano do curso, ter um bom relacionamento

Page 62: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

62

com os Enfermeiros, sejam eles Preceptores ou facilitadores, torna-se fundamental. No

destaque da fala da Enf. VIII, a experiência vivida pela mesma, de ter sido Residente, ajuda

na compreensão a respeito das relações que permeiam a atividade prática dos estudantes. Isso

é troca de experiência, que parte de um saber que envolve a construção das relações no

serviço, especialmente das relações com a equipe de saúde do local onde a prática acontece.

II.2 Direcionamento da realização das atividades práticas desenvolvidas pelos

Enfermeiros Residentes voltadas para a Reforma Psiquiátrica

A pesquisa mostrou que, mesmo os Residentes atuando em uma unidade de internação

que ainda guarda relações com a lógica manicomial, a Reforma Psiquiátrica obtém grande

valor, servindo até de referencial teórico para a discussão de casos.

Tudo é a Reforma, não tem como exercer qualquer prática sem a vinculação

dela. Até porque, quando se trata de Saúde Mental, até um simples gesto ou

expressão pode fortalecer ou prejudicar o cuidado, afinal tudo é muito

subjetivo, então a Reforma deve estar sempre presente para melhorar cada

vez mais a situação deles (Enf. III).

O IPUB oferece diferentes campos para o exercício de atividades práticas pelos

Residentes. Este estudo priorizou as atividades realizadas nas unidades de internação da

instituição, desenvolvidas no primeiro ano do mesmo. Percebeu-se que a formação de equipes

para a realização dos cuidados assistenciais acontece com a articulação entre os Residentes, os

Enfermeiros Preceptores/facilitadores e equipe de médicos.

Nós somos vinculados a uma equipe de supervisão, todos os dias aqui têm os

plantões com seus Preceptores de staff médico, realizando assim a mini

equipe daquele dia. Dessa forma, avaliamos os casos demandas do dia (Enf.

VII).

De acordo com os resultados desta pesquisa, entende-se que a prática do programa

deve estar vinculada a atenção em Saúde Mental, considerando todos os aspectos que

Page 63: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

63

envolvem os indivíduos com transtornos mentais, com vistas a sua independência e alta

hospitalar. Esse processo implica em pensar o tempo todo na possibilidade das pessoas

retornarem para suas casas e conviverem na comunidade, recebendo tratamento em CAPS.

O processo de construção dos serviços de atenção psicossocial

também tem revelado outras realidades, isto é, as teorias e os

modelos prontos de atendimento vão se tornando insuficientes

frente às demandas das relações diárias com o sofrimento e a

singularidade desse tipo de atenção. É preciso criar, observar,

escutar, estar atento à complexidade da vida das pessoas, que é

maior que a doença ou o transtorno. Para tanto, é necessário

que, ao definir atividades, como estratégias terapêuticas nos

CAPS, se repensem os conceitos, as práticas e as relações que

podem promover saúde entre as pessoas: técnicos, usuários,

familiares e comunidade. Todos precisam estar envolvidos

nessa estratégia, questionando e avaliando permanentemente os

rumos da clínica e do serviço (BRASIL, p. 17, 2004).

A prática em Saúde Mental vincula-se a busca da ressocialização psicossocial, no que

se refere a volta do individuo portador de transtorno mental à sociedade e seu convívio. Já a

Psiquiatria, em resumo, atua diretamente com as demandas patológicas e sua assistência, bem

como na condução da crise, formas preventivas da mesma e achados diagnósticos.

De acordo com a pesquisa, observa-se que as atividades do curso em questão se focam

de acordo com a demanda do setor e na condução da reabilitação psicossocial.

A gente tenta trabalhar com os pacientes fora daqui. Eles fazem muitas

saídas, a gente tenta levar eles no território, mesmo internado a gente fazer

com que eles continuem frequentando o CAPS de origem (Enf VII).

Nós trabalhamos com esses pacientes de longa permanência no território

deles, é uma prática árdua, mas necessária para o bem dessa pessoa

(Enf.X).

Na fala dos participantes fica evidenciada a intenção de se prestar um cuidado

psicossocial, inclusive dentro das novas práticas territoriais:

Território não é apenas uma área geográfica, embora sua

geografia também seja muito importante para caracterizá-lo. O

território é constituído fundamentalmente pelas pessoas que

nele habitam, com seus conflitos, seus interesses, seus amigos,

Page 64: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

64

seus vizinhos, sua família, suas instituições, seus cenários

(igreja, cultos, escola, trabalho, boteco etc.). É essa noção de

território que busca organizar uma rede de atenção às pessoas

que sofrem com transtornos mentais e suas famílias, amigos e

interessados (BRASIL, PAG. 11, 2004).

As práticas do território focam na reabilitação psicossocial, uma vez que a promoção e

reafirmação da autonomia deste indivíduo é o principal objetivo. Uma das formas de

realização é a presença do Acompanhante Terapêutico (AT), essa atividade surgiu na

Argentina, no final da década de 1960, como uma necessidade clínica para pacientes cujas

terapêuticas clássicas fracassavam. Inicialmente o AT foi chamado de “amigo qualificado”,

contudo tal termo não se tornou apropriado pela perda do vínculo profissional. O AT não é

um amigo, ainda que possa estabelecer vínculos afetivos intensos com o paciente, mas sim,

um agente terapêutico que realiza tarefas e é remunerado para isto (LONDERO &

PACHECO, 2006).

Logo, tal prática deve acontecer mediante a participação deste profissional, que pode

ser de qualquer categoria profissional presente na equipe multiprofissional. Todavia as

práticas devem acontecer na reinserção do individuo portador de transtorno mental à

sociedade, principalmente ao território do mesmo.

Nesse aspecto é possível perceber que uma instituição de referência em cuidado ao

portador de transtorno mental não poderia atuar de forma diferente, ou seja, capacitando seus

profissionais dessa formação com a visão dessa forma de cuidado.

No ensino prático aos Residentes do IPUB, além da busca da Reabilitação

Psicossocial das pessoas como transtornos mentais internadas há muito tempo e manutenção e

controle de crise, as atividades para fomentar tal prática acontecem por meio de ensaios

clínicos e discussões de casos.

Para isso, faz-se necessário a busca de referencias teóricos para uma abordagem e

cuidado de excelência.

Page 65: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

65

A Reforma Psiquiátrica é o referencial dentro da Saúde Mental, claro que

assim a gente trabalha e discute muito a Reforma aqui, porque quando eles

vão para enfermaria eles se deparam com muitos pacientes de longa

permanência, para fazer um trabalho de desinstitucionalização... [...] eu

acho que a Reforma Psiquiátrica tem que ser o nosso referencial de

trabalho como um todo (Enf. X).

A gente utiliza textos, situações-problemas envolto de referenciais de acordo

com a atenção necessária (Enf. IX).

Nessa abordagem de casos e discussão com eles, utiliza-se muito materias

sobre Reforma das Políticas de Saúde, Reforma Psiquiátrica e das Portarias

de Saúde Mental (Enf. VIII).

Nós falamos muito da reforma psiquiátrica com eles [Residentes

Multiprofissionais], das Políticas de Saúde Mental e das Portarias também

(Enf. VII).

Logo, é possível observar que embora o curso aconteça metade do seu tempo em uma

unidade hospitalar, seu foco visa sempre à reabilitação, uma vez que o discurso sobre a

Reforma Psiquiátrica torna-se unânime, exigindo intervenção para mudar o perfil geral da

unidade de internação do IPUB que é de situações de crise e de internação de longa

permanência. Os Enfermeiros possuem visão crítica sobre tais características institucionais:

Aqui é uma instituição que se aproxima muito ainda da lógica manicomial

(Enf. VI).

É um hospital de crise e ainda tem muitos pacientes internados há mais de

um 1 ano, na verdade tem pacientes com mais de 15 anos aqui dentro, com

isso ele acaba convivendo com todas as regras e normas do hospital em si

(Enf. IX).

Os trechos das entrevistas apresentados acima mostram que os Enfermeiros do IPUB

fazem uma crítica ao Modelo Manicomial e percebem claramente os pontos fracos da

instituição, embora haja um movimento para a mudança. Isto porque eles manifestam o

conhecimento e embasamento do cuidado que é apresentado aos Residentes no Modelo

Psicossocial, portanto, segundo a Reforma Psiquiátrica brasileira.

Page 66: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

66

Na pesquisa ficou evidente que o serviço da unidade tem características próprias,

todavia, entende-se que o ensino fomentado por eles torna-se diferenciado dos demais, uma

vez que mesmo sendo uma instituição que vem de muitos anos funcionando dentro da lógica

manicomial, consegue atuar indo ao encontro da lógica psicossocial e trazer a tona essa

prática para com seus Residentes Enfermeiros.

Por conta disso e seu surgimento no desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica a

principal prática desenvolvida pelos Residentes segundo a pesquisa é colocá-la em prática.

Quando eles [Residentes] chegam aqui são encaminhados para os usuários

de longa permanecia com o intuito de desinstitucionalizar ele. O que é um

grande desafio! (Enf. VII)

Para se falar de Desinstitucionalização faz-se necessário entender o sentido e

significado de tal termo. De acordo com Paulo Amarante (1994) pode-se entender como

desconstrução de saberes, discursos e práticas psiquiátricas que sustentam a loucura reduzida

ao signo da doença mental e reforçam a instituição hospitalar como a principal referência da

atenção à saúde mental. Assim se relaciona ao símbolo de esperança, já que ela traz, não

apenas o estar na sociedade e sim o ser social, livre dos grilhões das normas manicomiais.

O ato de desinstitucionalizar tem duas pontes para o mesmo fim que é a Reabilitação

Psicossocial, uma com o foco de relação familiar, ou seja, reconstruir o seio familiar para a

relação com o indivíduo portador de transtorno mental e outra de relação territorial para a

vinculação ao Serviço de Residência Terapêutica (SRT).

Tal serviço sob a ótica do MS (2004) motiva que a criação de serviços residenciais

terapêuticos é imprescindível para a redução dos leitos em hospitais psiquiátricos uma vez que

oferecem condições de vida para aqueles que se tornaram institucionalizados, moradores de

rua e egressos de instituições penais e manicômios judiciários, ou seja, pessoas com vínculos

familiares e sociais comprometidos ou inexistentes.

Page 67: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

67

Conforme relatado por Alverga e Dimenstein (2006), as relações de equipe

desenvolvem um dos grandes desafios para o processo de desinstitucionalização, aonde a falta

de entendimento de ser multiprofissional é um dos obstáculos mais comuns.

Ajudamos eles [Residentes multiprofissionais] nas discussões de casos

clínicos. E o mais legal disso tudo é que por conta da especialidade dele

sempre trazem observações novas e não se limitam ao saber adquirido por

eles na graduação. Aqui eles interagem bem e conseguimos perceber a

evolução de profissional para equipe (Enf. X).

É possível observar também que o estar no ambiente propício a institucionalização,

torna-se perturbador se não conseguir desenvolver as bases teóricas pertinentes para a prática

da desisntitucionalização. A pesquisa apresentou que, embora os profissionais do IPUB

estejam em um ambiente de controle de crise, a desinstitucionalização não é esquecida.

A pesquisa apresentou que embora estando em um ambiente de controle de crise a

Desinstitucionalização não é esquecida.

O IPUB é um hospital com foco no controle da crise. Mas não podemos nos

esquecer das evoluções e melhorias que a Desinstitucionalização tem

trazido para esse público (Enf. VII).

Os Residentes Multiprofissionais chegam aqui com a Reforma

Psiquiátrica/Desinstitucionalização “fresquinha” na mente e até se chocam

quando vêem alguma atividade mais manicomial, mas não se limitam

apenas a observar e questionam conosco a ocasionalidade (Enf. X).

Com isso, entende-se que quem busca se especializar em saúde mental na atualidade

tem o desejo e a veia mais inflamados nesse saber que coloca o cuidado no campo da

reabilitação. Assim, percebe-se que há a necessidade da evolução do ensino em concordância

com a evolução do cuidar dos dias atuais.

Os Residentes Multiprofissionais não chegam aqui com medo deles

[pacientes] e nem com a lógica manicomial instalada (Enf. I).

Eu acredito que eles conseguem sair daqui com essa lógica em saúde mental

diferenciada (Enf. III).

Page 68: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

68

A evolução da Reforma Psiquiátrica torna-se tão grande e forte que o conhecimento

dos métodos manicomiais e institucionalizadores ficam em palavras escritas e não tanto na

ação do dia a dia, o que permite aos Enfermeiros do IPUB transmitir a lógica psicossocial:

Muitos chegam aqui sem saber nada de Saúde Mental e trazer a tona esse

pensamento de reabilitação psicossocial torna-se mais fácil e prazerosa

(Enf. IV).

Eu acredito que aqui seja a antena dessa lógica [manicomial], eles chegam

aqui sem saber absolutamente nada e fomentar a controversa desse

pensamento é o mais importante (Enf. III).

Eu acho impressionante quando chegam [Residentes multiprofissionais]

aqui no IPUB e desconhecem tudo que tem aqui. A geração CAPS que

nunca entrou em um hospício e critica tudo o que acontece aqui e ao mesmo

tempo se vê dividido do que fazer (Enf. VIII).

Pode-se dizer que essa dificuldade de reconhecimento do Hospital Psiquiátrico se dá

pelo fortalecimento do pensamento psicossocial, ou seja, os modelos substitutivos de cuidado,

as práticas de desinstitucionalização estão ganhando e conquistando seu espaço e, para isso,

formando profissionais cada dia mais qualificados com tal demanda.

Todavia, pode-se dizer que os hospitais psiquiátricos só mantém sua atividade na Rede

de Atendimento por uma questão dá própria rede, que ainda não dá suporte a todas as

demandas necessárias. Contudo, com a pesquisa entende-se que a qualificação profissional

existe, falta apenas a estruturação política.

Eu acredito que além de tudo, o funcionamento dessa modalidade de

residência aqui traz benefício para todos [funcionários, pacientes,

estudantes], eles vem com gás, com motivação e muitas vezes tanto esse

paciente e funcionários de longo prazo trocam saberes e isso é bem legal

(Enf. VIII).

O que temos aqui é algo muito bom, e poder participar, não apenas do dia a

dia deles, como também do processo de ensino e aprendizagem é muito mais

gratificante (Enf. IX).

Embora os Residentes atuem lado a lado com profissionais que apresentam diferentes

Page 69: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

69

formas de cuidado, umas mais fortemente impregnadas das práticas excludentes e outras mais

voltadas para a reabilitação, os participantes da pesquisa referiram que olham o usuário como

um ser humano e não como uma doença. Isto foi evidenciado pelas falas dos participantes ao

informarem que consideram que a atividade de preceptoria/facilitação da integração ensino-

assistência contribui para a formação dos Residentes na lógica do modelo psicossocial.

Não que seja apenas pela gente, mas nesse primeiro ano que temos contato

com eles conseguimos perceber que a mesma pessoa que está saindo não é a

mesma que entrou ali (Enf. II).

Acredito que sim, não apenas pelo próprio programa do curso, mas nada

melhor que o exemplo e vejo isso neles a busca de melhorar e fazer diferente

(Enf. I).

O que a gente faz aqui é muito bonito e só não é perfeito porque o Homem

não é perfeito (Enf. VIII).

A pesquisa mostrou que a satisfação desses profissionais em poder ter feito a diferença

na formação de outros Enfermeiros especializados é de grande valia. Vencer o desafio de

plantar e regar a semente da Reforma Psiquiátrica e poder colher tal fruto dentro de uma

instituição aonde se encontram indivíduos com transtornos mentais agudos e crônicos é o

maior triunfo.

Page 70: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

70

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolver esta pesquisa durante o curso de mestrado permitiu evidenciar diferentes

aspectos referentes ao processo de integração ensino-assistência dos Residentes Enfermeiros

do IPUB, bem como as estratégias utilizadas pelos Enfermeiros da instituição para qualificar

um aprendizado especializado em saúde mental.

A pesquisa revelou como os Enfermeiros percebem sua atuação junto a outros

profissionais que realizam curso de especialização como uma atividade de preceptoria, o que

é importante para a compreensão das formas de cuidado em saúde mental empreendidas no

IPUB, um hospital-escola de grande relevância no Rio de Janeiro. Adentrar um pouco nesse

mundo complexo de atuação que envolve a dualidade entre o ensino e a prática profissional

foi um desafio, que ajudou a refletir como o preparo de profissionais à nível lato sensu vem

ocorrendo, bem como a importância de ser ter profissionais engajados e preparados para

exercerem atividades de preceptoria.

No IPUB, cenário deste estudo, todos os Enfermeiros são profissionais facilitadores do

processo de integração ensino/assistência, de forma consciente, direcionada para a reforma

psiquiátrica e seus conceitos reabilitadores, que impõem novas práticas para o cuidado em

saúde mental. Observou-se que diferentes características da formação profissional dos

Enfermeiros do IPUB, como o tempo de formação, de atividade profissional, tipo de

capacitação, bem como a união de todos estes fatores refletem na forma como as atividades

teórico-práticas acontecem no curso de Residência Multiprofissional do IPUB.

O preparo de Enfermeiros em curso de capacitação de preceptores foi uma estratégia

da instituição para prover um grupo preparado para assumir o acompanhamento dos

Page 71: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

71

Residentes na prática e assim oferecer um bom ambiente de ensino-aprendizagem para novos

profissionais para o cuidado em saúde mental. Tal curso foi importante para o bom

desenvolvimento da Residência Multiprofissional do IPUB, mas também foram referidos

curso de mestrado e educação continuada como base de preparação para atuar no ensino dos

Residentes.

As estratégias de facilitação da integração ensino-assistência constituem-se em

atividade multiprofissional, que prevê uma atuação primeiramente disciplinar dos futuros

Enfermeiros especialistas, de acordo com as diretrizes do SUS e da reforma psiquiátrica. Os

Residentes Enfermeiros do IPUB são estimulados a prestar cuidados aos usuários de longa

permanência em busca da ressocialização dos mesmos. Também são realizadas intervenções

aos usuários em crise, de acordo com as rotinas da instituição, sempre tendo o apoio e a

orientação dos Enfermeiros da instituição que em suas falas incluem o Residente como parte

da equipe assistencial.

Ainda foi possível identificar estratégias de ensino teórico-prático como ensaios

clínicos e discussões de casos, espaços tidos como de aperfeiçoamento das formas como se

realizam os cuidados aos usuários do IPUB e que visam relacionar a individualidade de cada

um com uma assistência qualificada e terapêutica.

Os Enfermeiros reconhecem que, diante da presença de Residentes no IPUB, a

interação entre equipe assistencial e esses estudantes é natural. Dessa forma, assumem seu

papel de preceptores/facilitadores porque sabem que o importante no cuidado em saúde

mental é a disponibilidade para trocar experiências e compartilhar saberes. Os dados coletados

neste estudo mostraram que os Enfermeiros elaboram reflexões críticas sobre as

características manicomiais das unidades de internação do IPUB e procuram mostrar aos

Residentes sua ineficácia, colocando-os para atuarem em prol da alta hospitalar e, portanto, da

desospitalização.

Page 72: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

72

Diante disso, afirma-se que dentro do hospital psiquiátrico em estudo está o discurso

da Reabilitação Psicossocial, independente da prática realizada, o que é visto com um fator

positivo, pois a introjeção da lógica psicossocial no discurso é o primeiro passo para as

mudanças na prática serem implementadas, embora este processo seja reconhecidamente

lento, o que vem sendo uma afirmativa comum em estudos da área.

Formar Enfermeiros especialistas em Saúde Mental é na atualidade uma difícil tarefa,

ainda mais quando se tem como campo de prática o hospital psiquiátrico, instituição defasada

mas presente em nossa sociedade. É necessário investir em uma visão psicossocial de cuidado

que contemple as necessidades das pessoas em sofrimento psíquico para que permaneçam da

melhor forma possível na comunidade e as possibilidades de atuação da enfermagem nesse

cenário com vistas a sua eliminação do espaço assistencial.

A História da enfermagem psiquiátrica é marcada por estigmas e desqualificação

profissional, mas hoje essa realidade vem sendo transformada diante de uma atitude de

protagonismo social destes profissionais e de um cuidado, ainda em transformação, mas

consciente de suas inadequações quando comparado ao modelo de atenção em saúde mental

em vigor no Brasil.

Por fim, é preciso afirmar que esta pesquisa não esgota o tema mas permite levantar

importantes reflexões sobre as práticas facilitadoras da integração ensino-assistência

realizadas pelos Enfermeiros do IPUB junto aos profissionais também Enfermeiros do curso

de Residência Multiprofissional em Saúde Mental. Conclui-se que o processo de ensino-

aprendizagem em cursos de residência dependem diretamente dos profissionais que estão nos

locais de assistência e que o tempo de exercício profissional na área é um preparo para lidar

com os Residentes. Entretanto, não se deve prescindir de um preparo formal de preceptores,

para que essa troca ocorra de forma segura e com a aplicação de conhecimentos sobre

metodologias de ensino apropriadas para o campo da saúde mental.

Page 73: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

73

Page 74: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho, (org.) Psiquiatria social e reforma psiquiátrica.

Rio de Janeiro: Editora Fio cruz, 1994.

ARANHA e SILVA, al; FONSECA RMGS. Processo de trabalho em saúde mental e o campo

psicossocial. RevLatinoam Enfermagem 2005 maio-junho; 13(3):441-9.

ARMITAGE, P; BURNARD, P. Mentors or Preceptors? Narrowing the theory-practice

gap.Nurse EducToday 1991; 11(3): 225-229.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA. Cadernos da ABEM – Vol. 9

(outubro 2013) – Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Educação Médica, 2013.

BAIN L. Preceptorship: a review of the literature. J AdvNurs 1996; 24(1): 104-107.

BARROS S, CLARO, HG. Processo Ensino Aprendizagem em Saúde Mental: O Olhar do

Aluno sobre Reabilitação Psicossocial e Cidadania. Revista da Escola Enfermagem USP,

2010; 45(3). 700-707.

BORBA, Letícia de Oliveira; GUIMARAES, Andrea Noeremberg; MAZZA, Verônica de

Azevedo and MAFTUM, MariluciAlves.Assistência em saúde mental sustentada no

modelo psicossocial: narrativas de familiares e pessoas com transtorno mental. Rev. esc.

Page 75: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

75

enferm. USP [online]. 2012, vol.46, n.6, pp. 1406-1414. ISSN 0080-6234.

BOTTI, ELAINE EMI. O Estagio Curricular segundo a percepção dos Enfermeiros

assistências de um hospital escola. Dissertação de Mestrado. Escola de Enfermagem da

Universidade de São Paulo, 2005.

BOTTI, Sérgio Henrique de Oliveira; REGO, Sérgio. Processo ensino-aprendizagem na

residência médica. Revista Brasileira de Educação Médica. 2010; 34 (1): 132-140.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Operação ReforSUS. Brasília: Ministério da Saúde,

1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Interministerial nº 45, de 12 de janeiro de 2007.

Dispõe sobre a Residência Multiprofissional em Saúde e a Residência em Área Profissional

da Saúde e institui a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de ações

programáticas estratégicas. Coordenação Nacional de Saúde Mental. Residências

terapêuticas: o que são, para que servem. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. CNS/MS. Resolução nº

466/2012, de12 de dezembro de 2012. Aprovar as seguintes diretrizes e normas

regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Disponível em:

<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf> Acesso em: 13 out 2013.

Page 76: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

76

BRUNHOLI GN. CAMINHANDO PELO FIO DA HISTÓRIA: a Residência

Multiprofissional em Saúde nos espaços de construção da política de formação de

trabalhadores para o SUS. Dissertação de Mestrado em Política Social Programa de Pós-

Graduação em Política Social Universidade Federal do Espírito Santo VITÓRIA Junho/2013

CARVALHO, Monique da Silva at al. O ensino de enfermagem psiquiátrica na Escola

Ana Néri, na primeira metade do século XX. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2015

jan./mar.;17(1):85-93. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5216/ree.v17i1.24523. - doi:

10.5216/ree.v17i1.24523.

CASTEL, Robert. A Ordem psiquiátrica:a idade do alienismo / Robert Castel; tradução de

Maria Thereza da Costa Albuquerque, - Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978

CORTES, M.C et all. O Ensino de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental Sob a

Lógica da Atenção Psicossocial. 2008 Monografia Universidade Federal de Pelotas.

CAVALHERI, Silvana Chorratt. Transformações do modelo assistencial em saúde mental e

seu impacto na família. Rev. bras. enferm, v. 63, n. 1, p. 51-57, 2010.

COELHO, E.A. C. Gênero, Saúde e Enfermagem. Rev. Bras. Enferm., 2005; 58(3): 345-8.

DIAS, Emerson Piantinoet al . Expectativas de alunos de enfermagem frente ao primeiro

estágio em instituições de saúde. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 31, n. 94, 2014 .

Page 77: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

77

Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

84862014000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 jan. 2016.

DRIESSNACK, M., SOUZA, V.D.,MENDES,I.A..Revisão dos desenhos de pesquisa

relevantes para enfermagem : desenhos de pesquisa qualitativa. Ver. Latino-Americana

de Enfermagem. 2007 (julho/agosto); 15(4). Disponível em www.eerp.usp.br.

FOUCAULT, Michel. História da loucura na idade clássica. Tradução de José Teixeira

Coelho Netto. 1.ed. São Paulo:1978.

FRANCISCO C, Pereira; AMS, PEREIRA MG. Como vai a saúde dos alunos estagiários?

Avaliar para intervir. In: Actas VIII Congresso Galaico Português Psico Pedagogia,

Universidade do Minho, 2005. p.1043-50.

GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. In. Ver.

Administração de empresas, v. 35, n. 2, mar/abr. 1995, p. 62.

HIRDES A, KANTORSKI, LP. Reabilitação Psicossocial: Objetivos, Princípios E Valores

REnferm UERJ 2004; 12:217-21.

HOFFMAN, M.V. e OLIVEIRA, I.C.S. Entrevista não-diretiva: uma possibilidade de

abordagem em grupo. Ver.Brasileira de Enfermagem, Brasília, 2009, nov-dez: 62(6): 923:7.

HORI AA, NASCIMENTO AF O Projeto Terapêutico Singular e as práticas de saúde

Page 78: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

78

mental nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) em Guarulhos (SP), Brasil

Ciência & Saúde Coletiva, 19(8):3561-3571, 2014

JORGE MSB, ET AL. Reabilitação Psicossocial: visão da equipe de Saúde Mental Rev

Bras Enferm 2006 nov-dez; 59(6): 734-9.

KANTORSKI LP, PINHO LB, SAEKI T, SOUZA MCBM. Relacionamento Terapêutico e

Ensino de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental: Tendências no Estado de São

Paulo. Revista Escola de Enfermagem USP 2005; 39(3): 317-324.

LAKATOS, E. M. MARCONI M. A. Metodologia científica. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2004.

LESSA, Gessilda Meira. Residência Multiprofissional como experiência de

atuaçãointerdisciplinar na assistência à saúde da família. Revista Brasileira de Enfermagem.

2000; 53 (esp): 107-110.

LONDERO & PACHECOPor Que Encaminhar Ao Acompanhante Terapêutico? Uma

Discussão Considerando A Perspectiva De Psicólogos E Psiquiatras Psicologia em Estudo,

Maringá, v. 11, n. 2, p. 259-267, mai./ago. 2006

LÜDKE, M e ANDRÉ, M.E.D. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas: São

Paulo: EPU, 1986.

MACHADO, Kátia. Equipe mínima: dilemas e respostas. RADIS. 2006; 51:8-10.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos da metodologia científica. 7. ed.São

Paulo: Atlas, 2010

Page 79: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

79

MATTOS, P.; LINCOLN, C. L.: A entrevista não-estruturada como forma de

conversação: razões e sugestões para sua análise. Rev. adm. publica;39(4):823-847, jul.-

ago. 2005

MONKEN M, BARCELLOS C. Vigilância em saúde e território utilizado: possibilidades

teóricas e metodológicas.CadSaude Publica. 2005 maio; (21)3:898-906.

MONTEIRO, C B e SOUSA, C A C. O paciente que manifesta agressividade na

internação psiquiátrica: representação do Enfermeiro.Escola Anna Nery Revista de

Enfermagem. v. 8, n. 3, dez/2004, p. 439-447. Disponível em:

<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=127718062015> Acesso em: 16 out 2013.

MILLS JE, FRANCIS KL, BONNER A. Mentoring, clinical supervision and

Preceptoring: clarifying the conceptual definitions for Australian rural nurses. A review

of the literature. Rural Remote Health 2005;5(3): 410.

MINAYO, M. C. S., 1994b. O desafio do conhecimento. São Paulo-Rio de Janeiro: Hucitec-

Abrasco.

MINAYO, M. C. S.,.Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In: Pesquisa

social: Teoria, método e criatividade (MCS, Minayo, orgs), Petrópolis, Rio de Janeiro: vozes,

p. 9-29, 1994.

Page 80: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

80

OLIVEIRA, Eliany Nazaré et al . Residência em saúde da família: a Preceptoria de

enfermagem lapidando seu objeto de trabalho. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 53, n. spe, p.

111-115, Dec. 2000 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003471672000000700017&lng=en

&nrm=iso>. accesso 23 Nov. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672000000700017.

PADILHA, M.I.C.S.; VAGHETTI, H.H; BRODERSEN, G. Gênero e Enfermagem: uma

análise reflexiva. Rev. Enferm. UERJ, 2006; 14 (2): 292-300.

PEIXOTO L. S; MELO C. M.; DAHER T. D. V. A relação interpessoal Preceptor-

educando sob o olhar de mauricetardif: reflexão teórica. CogitareEnferm. 2014 Jul/Set;

19(3):612-6

PEREIRA, M. M. ; PADILHA, M. I. C. S. ; OLIVEIRA, A. B. ; SANTOS, T. C. F.;

ALMEIDA FILHO, A.J. ; PERES, M. A. A. .Discursos sobre os modelos de enfermagem e

de enfermeira psiquiátrica nos Annaes de Enfermagem (1933-1951). Revista Gaúcha de

Enfermagem (Online), v. 35, p. 47-52, 2014.

PINHO LB, HERNANDEZ AMB, KANTORSKI LP Serviços substitutivos de saúde

mental. CiencCuidSaude 2010 Jan/Mar; 9(1):28-35

PIZZINATO ET AL. Integração Ensino-Serviço na Formação Profissional Revista Brasileira De

Educação Médica 36 (1 Supl. 2) : 170 – 177 ; 2012

Page 81: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

81

REZENDE, Heitor. Política de saúde mental no Brasil: uma visão histórica. In. TUNDIS,

Silvério Almeida; COSTA, Nilson do Rosário (organizadores). Cidadania e loucura: política

da saúde mental no Brasil. Co- ed. Petrópolis: Vozes, 1987

ROGERS CR, ROSENBERG RL. A Pessoa com Centro. São Paulo: EdUSP; 1997

ROSA, Lucia Cristina dos Santos. A assistência psiquiátrica no Brasil e no Piauí. In:

Transtorno mental e o cuidado na família. São Paulo: Cortez, 2003.

ROSA, SORAYA DINIZ; LOPES, ROSELI ESQUERDO. Residência Multiprofissional

Em Saúde E Pós-Graduação Lato Sensu No Brasil: Apontamentos Históricos Trab. Educ.

Saúde, Rio de Janeiro, v. 7 n. 3, p. 479-498, nov.2009/fev.2010

SANTOS, Fernanda Almeida dos. Análise crítica dos Projetos Político-pedagógicos de dois

Programas de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. Dissertação de

Mestrado. Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) /Fiocruz. 2010.

TAVARES CMM. A Educação Permanente Da Equipe De Enfermagem Para O Cuidado

Nos Serviços De Saúde Mental Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Abr-Jun;

15(2):287-95.

Page 82: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

82

SÉRGIO HENRIQUE DE OLIVEIRA BOTTI et al. Perceptor, Supervisor, Tutor e

Mentor.revista brasileira de educação médica, 2008.

SILVA, Adamor Valmir. A história da loucura: Em busca da saúde mental. Edição

Tecnoprint Ltda., 1979.

SOARES, M.H. Cenário do Enfermeiro psiquiátrico: estudo de caso. 2007. Dissertação

(Mestrado)-Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

TOMAR, M. S.: A Entrevista semi-estruturada Mestrado em Supervisão Pedagógica"

(Edição 2007/2009) da Universidade Aberta.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ). Concurso Público para

provimento de vagas de cargos Técnicos Administrativos. Edital n.63 de 1 de abril de

2013,publicado no DOU de 3 de abril de 2013.

VENANCIO, Ana Teresa A. Ciência psiquiátrica e política assistencial: a criação do Instituto

de Psiquiatria da Universidade do Brasil. Hist. ciênc. saúde-Manguinhos, 2003. 10(3): 883-

900.

VITOR HUGO LIMA BARRETO ET AL. Papel do Preceptor da Atenção Primária em

Saúde na Formação Médica. REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 579 35

(4) : 578 – 583 ; 2011

Page 83: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

83

APÊNDICE A – CRONOGRAMA

PERÍODO

ATIVIDADE

1º semestre

2014

2º semestre

2014

1º semestre

2015

2º semestre

2015

1º semestre

2016

Levantamento

Bibliográfico

Elaboração do Projeto

Defesa do Projeto

Aprovação no CEP

Coleta de Dados

Análise Preliminar dos

Dados

Exame de Qualificação

da Dissertação

Produção de Artigo

Científico

Análise Final dos

Resultados

Elaboração do

Relatório Final

Revisão Ortográfica

Defesa da Dissertação

Page 84: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

84

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Resolução nº 466/2012 – Conselho Nacional de Saúde

Você foi selecionado(a) e está sendo convidado(a) para participar da pesquisa intitulada:

“EnfermeiroPreceptor em Saúde Mental: um enfoque no ensino de enfermagem”, que tem como

objetivos: Descrever a formação dos Enfermeiros que exercem a prática de Preceptoria em Saúde

Mental em um hospital escola do Rio de Janeiro; Analisar as estratégias utilizadas por esses

profissionais para a prática de Preceptoria; Discutir a prática de Preceptoria em enfermagem de saúde

mental à luz dos preceitos da Reforma Psiquiátrica. Trata-se de pesquisa de natureza qualitativa, com

caráter exploratório, através de estudo de campo. A pesquisa terá duração de 2 anos, com o término previsto para dezembro de 2015. Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, através de códigos e em

nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você pode recusar-se a responder

qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum

prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição que forneceu os seus dados. Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas a serem realizadas sob a

forma de entrevista, a qual será gravada em MP3 para posterior transcrição, que será retornado para

sua validação e posterior cessão dos direitos sobre o depoimento. Os dados coletados serão utilizados

apenas NESTA pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou revistas científicas. O (a) Sr (a)

não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. Os riscos potenciais desta pesquisa estão atrelados ao risco de dano emocional ou de

constrangimento durante a realização da entrevista. O responsável pela realização do estudo se

compromete a zelar pela integridade e o bem-estar dos participantes da pesquisa, respeitando valores

culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes dos participantes. Os benefícios contribuição não apenas científica como também social. Contribui a amplitude

da linha de pesquisa vinculada ao Núcleo de Pesquisa Enfermagem em Saúde Mental (NUPESAM),

bem como ao Grupo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde Mental (GEPESM).

Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone/e-mail e o endereço do

pesquisador responsável, e demais membros da equipe, podendo tirar as suas dúvidas sobre o projeto e

sua participação, agora ou a qualquer momento. Desde já agradecemos!

Profª Dr.ª Maria Angélica de Almeida Peres Orientadora

E-mail: [email protected] Cel: (21) 99143-6621

Diego Rocha Louzada Villarinho Mestrando

E-mail:

[email protected] Cel: (21) 99378-0109

Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO e estou de acordo

em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei desistir a qualquer momento, sem sofrer

qualquer punição ou constrangimento. Recebi uma cópia assinada deste formulário de consentimento.

Rio de Janeiro, ____de ____________de 2015.

Assinatura do Participante da pesquisa:__________________________________________ Fonte: Comitê da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ.

Page 85: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

85

APÊNDICE C - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

PARTE I – CONHECENDO O PERFIL

IDADE: ANO DE FORMAÇÃO:

LICENCIATURA: PÓS-GRADUAÇÃO:

TEMPO DE SERVIÇO NA INSTITUIÇÃO:

TEMPO DE ATIVIDADE EM PRECEPTORIA:

CURSO DE ATUALIZAÇÃO:

• Como se deu a sua inserção na atividade de Preceptoria?

• Você se preparou para ser Preceptor? De que maneira? • Considera que esse preparo foi válido? O que acrescentaria no preparo do

Preceptor em relação a sua experiência?

• Para licenciados: Você considera a licenciatura como um preparo para a Preceptoria?

Por que?

• Para Mestres: Você considera o mestrado como um preparo para a Preceptoria? Por

que?

• Como a sua formação interfere nas suas atividades de Preceptor?

• Descreva as atividades de Preceptoria que você exerce no IPUB, desde a recepção dos

estudantes no campo.

• Durante a supervisão das atividades práticas dos estudantes, quais estratégias para o

ensino e avaliação você utiliza?

• Na prática da Preceptoria você utiliza algum referencial teórico norteador? Qual?

• – Você considera que a Reforma psiquiátrica é um referencial que deve ser

utilizado na formação de pessoal de enfermagem?

• É possível demonstrar o cuidado de enfermagem aos estudantes conforme os

preceitos da Reforma Psiquiátrica.

• Você percebe que os estudantes chegam no campo com a lógica manicomial? Por quê?

• Como o Preceptor pode desvincular o modelo manicomial das atividades práticas

de enfermagem durante a supervisão?

• Você considera que a sua atividade de Preceptoriacontribui para a formação e

pessoal de enfermagem na lógica do modelo psicossocial? Por quê?

• Você conhece os benefícios de ser Preceptor em hospital escola?

• Você deseja acrescentar algum comentário?

Page 86: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

86

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ENFERMAGEM

CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

APÊNDICE D – INSTRUMENTO DE CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES

__________________________________________________________________________________

• Sexo: M F

• Ano de nascimento: 19_____

• Naturalidade: ____________________

• Município em que reside ______________________________

PARTE I – ÁREA ACADÊMICA

• Nome do Curso:___________________________________________________________

2. Estado em que graduou-se: ________ (sigla do estado)

3. Instituição de Ensino Superior: 1- Pública 2 - Privada

• Ano de conclusão: __________

• Nome do Curso:___________________________________________________________

2. Estado em que graduou-se: ________ (sigla do estado)

3. Instituição de Ensino Superior: 1- Pública 2 - Privada

Page 87: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

87

• Ano de conclusão: __________

• Possui Curso de Pós-graduação? SIM NÃO

Pós-graduação Área Instituição Concluída

• Residência em

Ano:

Pública Privada

Sim Não Em curso

• Especialização em

Ano:

Pública Privada

Sim Não Em curso

• Mestrado em

Ano:

Pública

Privada

Sim

Não

Em curso

• Doutorado em

Ano:

Pública Privada

Sim Não

Em curso

• Pós-doutorado em

Ano:

Pública Privada

Sim Não

Em curso

• Possui Curso(s) de Extensão? SIM NÃO

Extensão Área Instituição Concluída

Nome:

Ano:

Pública

Privada

Sim

Não Em curso

Nome:

Ano:

Pública

Privada

Sim

Não Em curso

Nome: Ano:

Pública

Privada

Sim

Não Em curso

Page 88: Residência Multiprofissional em Saúde Mental: Enfermeiros ...objdig.ufrj.br/51/teses/859577.pdf · preceptores / facilitadores de las actividades relacionadas con el proceso de

88

PARTE II – ÁREA PROFISSIONAL

IPUB

• Tempo de atuação? ____________________________________________________

OUTRA(S) INSTITUIÇÃO(ÕES)

Estado: ________ (sigla do estado)

Instituição: 1- Pública 2 - Privada

Quanto tempo de atuação? _____________

Estado: ________ (sigla do estado)

Instituição: 1- Pública 2 - Privada

Quanto tempo de atuação? _____________