FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf ·...

81
FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - GOVERNANÇA CORPORATIVA HUMBERTO APARECIDO PEREIRA DAMASCENO SUCESSÃO E GOVERNANÇA NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR SÃO PAULO 2015

Transcript of FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf ·...

Page 1: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - GOVERNANÇA

CORPORATIVA

HUMBERTO APARECIDO PEREIRA DAMASCENO

SUCESSÃO E GOVERNANÇA NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

SÃO PAULO

2015

Page 2: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

HUMBERTO APARECIDO PEREIRA DAMASCENO

SUCESSÃO E GOVERNANÇA NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

Profissional em Administração – Governança

Corporativa do Centro Universitário das Faculdades

Metropolitanas Unidas como requisito para obtenção do

título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Celso Machado Júnior.

SÃO PAULO

2015

Page 3: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

Damasceno, Humberto Aparecido Pereira

Sucessão e Governança nas Organizações do Terceiro Setor, São Paulo 2016. 74 pag.

Dissertação (Mestrado) – FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS – FMU, 2015. Orientador: Prof. Dr. Celso Machado Júnior. 1. (Sucessão, Governança Corporativa. Organizações do Terceiro Setor) I. Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU CDD-T582015

Page 4: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GOVERNANÇA

CORPORATIVA

HUMBERTO APARECIDO PEREIRA DAMASCENO

SUCESSÃO E GOVERNANÇA NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Data de Aprovação: 9 de dezembro de 2015.

Banca Examinadora:

_________________________________________________________________

Presidente: Prof. Dr. Celso Machado (Orientador) Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU

________________________________________________________________

Membro Externo: Prof. Dr. Leandro Prearo

Universidade de São Caetano do Sul

________________________________________________________________

Profa. Dra. Daielly Melina Nassif Mantovani Ribeiro

Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU

Page 5: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

DEDICATÓRIA

À Adenor e Humberto Leonardo,

In memorian

Page 6: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

AGRADECIMENTOS

A Deus, o Grande Arquiteto do Universo, que proporciona a vida e a superação dos

obstáculos interpostos em nosso caminho.

Em memória, ao meu querido pai Adenor Pereira de Souza, guerreiro incansável,

trabalhador dedicado à família, pelo seu amor, altruísmo, bons exemplos, renúncia, e

conselhos, que me levaram a buscar e permanecer no caminho da luz, a quem peço de

coração sinceras desculpas pelos momentos que me ausentei de sua companhia.

À minha querida mãe Adalgisa Damasceno Pereira, exemplo de mãe, educadora,

conselheira e administradora, pelo seu amor, dedicação, trabalho incansável, bons

exemplos, renúncia pessoal, pelos seus conselhos para eu buscar e permanecer no

caminho da luz, a quem peço sinceras desculpas pelos momentos que me ausentei de

sua companhia;

Um especial agradecimento à minha esposa Vanessa Alves de Figueiredo, “minha

cúmplice”, companheira de boas e más horas, dedicada mãe de meu filho Guilherme,

pelo seu amor, dedicação, visão de futuro, resignação e renúncia, a quem peço sinceras

desculpas pelos momentos de ausência e agradeço pelo apoio e insistência em eu fazer

este curso de mestrado.

Aos meus queridos filhos Gustavo, Augusto e Guilherme, meus sucessores, a quem

recomendo leitura pormenorizada desta obra, visando seus progressos pessoais e

profissionais, e a quem peço sinceras desculpas pela ausência e desvios de recursos para

fazer o curso de mestrado.

A minha querida irmã, Ailde Pereira de Souza, guerreira, conselheira, estrategista, que

há muitos anos me incentivava a fazer os cursos de pós-graduação, mestrado, e

doutorado futuro, pessoa fundamental para o meu progresso pessoal e profissional, meu

muito obrigado mana; também à minha sobrinha Janis Maria, minha incentivadora junto

com a Ailde, meu muito obrigado, a quem peço desculpas pelos momentos de ausência.

Aos professores da FMU, especialmente aos meus orientadores Celso Machado Júnior,

Leonel Cesarino Pessoa, Sérgio Muritiba e Patrícia Muritiba, pelo apoio e paciente

orientação, aos quais peço minhas desculpas e lhes falo meu muito obrigado; também

meu muito obrigado às funcionárias da secretaria acadêmica da FMU.

Meus Agradecimentos aos amigos Vice-Reitor de Mestrado FMU – Professor Doutor

Ângelo Palmisano, e ao Coordenador do Curso de Mestrado em Governança

Corporativa, Professor Doutor Alessandro Rosini.

Aos amigos e colegas de classe no mestrado em GC na FMU Carlos Alberto e Márcio

Acevedo, Paulo Carvalhinha e Artur das Neves, pelas dicas, confidências e apoio

durante o curso.

Ao Enyton, ao pessoal da biblioteca, a todos os demais colegas e meus alunos da ETEC

ZL, que me deram incentivo em fazer o curso de mestrado.

Muito obrigado!

Page 7: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

“Quando o amigo for certo, fique

com o olho esquerdo aberto; se o

amigo é incerto, coloque o olho

direito esperto, para tomar conta dos

dois.”

Adenor Pereira de Souza –

meu pai

Page 8: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

SUMÁRIO

Lista de Figuras ...................................................................................................p. i

Lista de Tabela ....................................................................................................p. ii

Lista de Abreviaturas ...........................................................................................p. iii

Resumo ..................................................................................................................p. iv

Abstract ..................................................................................................................p. v

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................p. 01

1.1 Problematização.........................................................................................p. 02

1.2 Objetivos da Pesquisa.................................................................................p. 04

1.3 Justificativa.................................................................................................p. 05

1.4 Metodologia de Pesquisa ...........................................................................p. 06

1.5 Estrutura da Dissertação ............................................................................p. 07

1.6 Limitações da Pesquisa ..............................................................................p. 08

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................p. 09

2.1 Governança Corporativa .............................................................................p. 09

2.2 Principais Teorias da Governança Corporativa ..........................................p. 10

2.2.1 Teoria da agência ..............................................................................p. 10

2.2.2 Teoria do Problema da Agência .......................................................p. 12

3. GOVERNANÇA CORPORATIVA NA OTS..................................................p. 13

3.1 Organizações do Terceiro Setor ..................................................................p. 13

3.2 Modelo de Governança Corporativa ..........................................................p. 20

4. SUCESSÃO NA OTS .....................................................................................p. 24

4.1 Importância .................................................................................................p. 24

4.2 Motivação ...................................................................................................p. 26

4.3 Processo Sucessório.....................................................................................p. 27

4.4 Perfil Profissional do Candidato à Sucessão ..............................................p. 30

5. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ..........................................................p. 36

5.1 Coleta de Dados sobre a WorldFund .........................................................p. 36

5.2 Entrevista na WorldFund ...........................................................................p. 39

5.3 Coleta de Dados sobre o Lar Vicentino .....................................................p. 41

5.4 Entrevista na Lar Vicentino .......................................................................p. 44

5.5 Síntese dos dados coletados nas entrevistas ...............................................p. 46

5.6 Discussão ...................................................................................................p. 49

6. CONCLUSÃO ................................................................................................p. 53

Page 9: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

REFERÊNCIAS BIBLIIOGRÁFICAS ..............................................................p. 56

Page 10: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

i

Page 11: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

i

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Terceiro setor: constituição jurídica e distinções ...........................................20

Figura 2 - Estrutura de Governança Corporativa nas OTS .............................................23

Page 12: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

ii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados estatísticos sobre o terceiro setor – em milhares.............................p. 14

Tabela 2 - Comparativo de respostas da Worldfund e Lar Vicentino ........................p. 46

Page 13: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

iii

LISTA DE ABREVIATURAS

ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais

BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo

CEBAS - Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social

CEMPRE - Cadastro Central de Empresas

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas

COPNI – Classificação das Funções das Instituições Sem Fins Lucrativos à Serviço das

Famílias, feita pela Divisão de Estatística da Organização das Nações Unidas - ONU

FASFIL - Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos

GIFE - Grupo de Institutos Fundações e Empresas

IBGC - Instituo Brasileiro de Governança Corporativa

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

NOVO MERCADO – O conjunto das empresas listas na Bovespa no mais avançado nível de

adesão voluntárias às práticas de governança corporativa, que excedem as exigências da

legislação, com referência à governança corporativa e aos direitos dos acionistas.

ONG - Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

OS - Organizações Sociais

OTS – Organização (Organizações) do Terceiro Setor

OSCIP - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

PIB – Produto Interno Bruto

STEM – Programa da Worldfund para formação de professores de ciências, tecnologia e e

matemática.

UPE - Utilidade Pública Estadual

UPF - Utilidade Pública Federal

UPM - Utilidade Pública Municipal

WORLDFUND - Worldfund é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2002, atuante

nos Estados Unidos, México e no Brasil, operando programas assistenciais.

Page 14: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

iv

RESUMO

A presente dissertação investiga o problema sucessório nas organizações do terceiro setor. Trata

de responder à seguinte questão de pesquisa: Quais os princípios utilizados pelas Organizações

do Terceiro Setor em seus processos de sucessão executiva? Os princípios de governança

corporativa podem contribuir para o êxito do processo sucessório nas referidas organizações? O

objetivo do trabalho é analisar o processo sucessório de gestores das Organizações do Terceiro

Setor. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de natureza descritiva, com estudo de caso múltiplo,

feita mediante análise documental e entrevista com profissionais que atuam na governança

corporativa. A pesquisa investigou duas Organizações do Terceiro Setor, a Worldfund voltada a

Educação, e a Lar Vicentino que abriga idosos. As instituições pesquisadas estão sediadas na

Cidade de São Paulo. As entrevistas foram realizadas com os respectivos presidentes, que

retrataram como é o processo sucessório e como este é amparado pelos estatutos das entidades.

Buscou-se conhecer como são feitos o planejamento sucessório e o processo da sucessão, e se

são usados os princípios de equidade e transparência, os quais são recomendados como boas

práticas de governança corporativa para garantir o tratamento igualitário e a transparência no

processo de transferência do poder. Os resultados mostram que os estatutos contemplam o

processo sucessório, que por sua vez são interpretados como adequados pelos presidentes das

organizações. O processo sucessório apresenta-se dentro de um contexto de planejamento,

amparado pelos estatutos sociais e em acordo com as boas práticas de governança corporativa

com ênfase nos princípios da transparência e equidade, como itens facilitadores do acesso ao

poder e práticas de governança corporativa.

Palavras-chave: Terceiro Setor. Governança Corporativa. Sucessão

Page 15: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

v

ABSTRACT

This dissertation investigates the problem of succession in the third sector organizations. This is

to answer the following research questions: What are the principles used by Third Sector

Organizations in their executive succession process? Can the corporate governance principles

contribute to the success of executive succession process in these organizations? The objective

of this work is to analyze the process of succession of managers of Third Sector Organizations.

This is a qualitative research of a descriptive nature, with a multiple case study, made through

documental analysis and interviews with professionals working in corporate governance. The

study investigated two third sector organizations, the Worldfund facing the Education, and the

Home Vicentino that houses the elderly. The surveyed institutions are based in the city of São

Paulo. The interviews were carried out with the respective presidents, who portrayed as is the

process of succession and how this is bolstered by the statutes of the entities. We attempted to

get to know how they are made the succession planning and the process of succession, and if

they are used the principles of fairness and transparency, which are recommended as good

practices of corporate governance to ensure equal treatment and transparency in the process of

transfer of power. The results show that the statutes contemplate the process of succession,

which in turn are interpreted as appropriate by the presidents of the organizations. The process

of succession presents itself within a context of planning, sustained by social statute and in

agreement with the good practices of corporate governance with emphasis on the principles of

transparency and fairness, as items facilitators of access to power and corporate governance

practices.

Keywords: Succession. Corporate Governance. Third Sector.

Page 16: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

vi

Page 17: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

1

1. INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo a sociedade tem procurado identificar soluções adequadas

para atender às necessidades das pessoas. Paralelamente à ação do Estado, a sociedade

também tem desenvolvido ações em caráter complementar para suprir as indigências

dos necessitados. As ações de auxílio aos necessitados podem ser realizadas de forma

individual ou colegiada. Muitas das ações que são desenvolvidas de forma conjunta

demandam o estabelecimento de uma organização que se aproxima das ações

executadas pelas empresas. Assim, as ações desenvolvidas por arranjos organizados da

sociedade e voltadas aos benefícios sociais se desenvolvem em organizações específicas

para esta finalidade, tais organizações são classificadas como Organizações do Terceiro

Setor – OTS.

Segundo Comini, et al (2008), a partir da segunda metade da década de 1990

observou-se um crescimento quantitativo e qualitativo das OTS. Este crescimento

possibilitou o surgimento dos mais variados tipos de organizações não governamentais

(as quais são também popularmente chamadas de ONGs). Segundo os autores, as ONGs

são criadas para atender uma diversidade de finalidades. Dentre os focos de atenção das

ONGs pode-se destacar atividades voltadas ao meio ambiente, à defesa da cidadania ou

de direitos humanos, as ações assistenciais, ações de apoio às associações comunitárias

e as fundações privadas.

As ONGs operam em diversas áreas do interesse público, em lacunas não

atendidas pela atuação do Estado. As ONGs ocupam assim, um importante papel na

sociedade, na medida em que atendem as necessidades sociais que deveriam ser

realizadas pelo Estado. De acordo com Oliveira et al (2015), o relatório sobre as

Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos – FASFIL 2010, publicado pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012, mostra que o Brasil

possuía em 2010 existia um total de 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem

Fins Lucrativos. Para Lacruz (2014), observa-se uma taxa média de crescimento de 4,7

% no número de entidades classificadas como FASFIL entre 2007 e 2010. Tais valores

projetam uma tendência crescente no número de organizações não governamentais, que

consolidam a sua importância na sociedade.

A governança corporativa se posiciona como um importante componente de

relacionamento da empresa com a sociedade. Conforme apontam Rossoni e Machado-

Page 18: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

2

da-Silva (2013), as organizações se inserem no arranjo social dentro de um amplo

espectro, no qual sua conduta é avaliada com base em um conjunto de crenças, valores e

pressupostos. Para os autores, a sociedade analisa, emite opiniões, interpreta a

credibilidade das organizações ante seus diversos stakeholders, estabelecendo assim um

cenário que influencia a capacidade destas empresas em adquirirem recursos.

Como os recursos das organizações do terceiro setor também se originam das

contribuições da sociedade nos seus mais diversos arranjos, se estabelece a necessidade

destas entidades desenvolverem uma gestão transparente e passível de análise, contexto

este que envolve a governança corporativa. Desta forma a governança corporativa é

aplicável não somente para as empresas que atuam na Bolsa de Valores, mas também

para as organizações do terceiro setor, que necessitam mostrar uma governança

adequada para seus mantenedores e demais partes interessadas.

Conforme o Guia das Melhores Práticas de Governança para Institutos e

Fundações Empresariais – GIFE (2014), a Governança é o sistema pelo qual as

organizações são dirigidas, controladas e incentivadas, envolvendo o relacionamento

entre o conselho, equipe de executivos e demais órgãos de controle, com seus

mantenedores e demais partes interessadas das organizações.

1.1 Problematização

O tema Sucessão nas Organizações é abordado por autores internacionais como

Etzioni (1973), Brandsen, Van De Donk, Putters (2005) e Fyfe (2005), que interpretam

o fenômeno como de importância para a sociedade. No meio acadêmico nacional o tema

sucessão é tratado por autores como Oliveira et al (2015) e Lacruz (2014), com uma

abordagem mais pragmática voltada a estruturação das Instituições do Terceiro Setor.

Segundo o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC

(2009), é atribuição do Comitê de Recursos Humanos do Conselho de Administração

das entidades discutir assuntos relativos à sucessão, remuneração e desenvolvimento de

pessoas, sendo que o conselho de administração deve manter um plano de avaliação dos

possíveis candidatos à sucessão do diretor-presidente e de todas as pessoas-chave das

organizações.

Page 19: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

3

De acordo com O Guia das Melhores Práticas de Governança para Institutos e

Fundações Empresariais – GIFE (2014), o conselho de administração das OTS deve ter

um plano de sucessão dos executivos das organizações.

No entanto, a sucessão do principal gestor das organizações do terceiro setor

deveria ser mais explorada, observamos baixo volume de pesquisas publicadas a este

respeito. O reduzido índice de publicações é justificado pelo fato de muitas destas

empresas ainda serem muito jovens e não terem passado pelo processo de sucessão.

Vale destacar, que o processo de sucessão não se configura como uma exclusividade das

instituições do terceiro setor, e se posiciona como elemento de atenção em todos os

setores da economia.

As preocupações referentes ao processo de sucessão nas empresas do terceiro

setor não diferem das demais organizações, no entanto as características da OTS

estabelecem diferenças, em decorrência da natureza da atividade, da fonte de

financiamento, da estrutura organizacional, além de outras variáveis que podem

impactar neste processo. Neste sentido, a existência de uma governança corporativa na

organização pode se materializar como um importante elemento do processo sucessório.

Vale destacar que a governança corporativa se encontra nos mais variados tipos de

empresa sejam elas de capital aberto ou fechado, privado ou público.

Segundo o GIFE (2014), os princípios básicos de Governança são transparência,

equidade, prestação de contas e responsabilidade. Neste contexto, as organizações do

terceiro setor devem apresentar à sociedade os processos que desenvolvem

internamente, inclusive os relacionados ao processo sucessório de seus principais

gestores.

De acordo com o Guia das Melhores Práticas de Governança para Institutos e

Fundações Empresariais – GIFE (2014), todo associado de OTS deve estar quite com

suas obrigações e ter direito a voto. As regras de exercício de votação devem ser claras,

estáveis e transparentes.

Pesquisas de Comini et a. (2008), apontam que muitos dos pioneiros na criação e

direção das Organizações do Terceiro Setor encontram-se em vias de aposentadoria.

Assim, os processos sucessórios para a renovação de tais lideranças se tornam

inevitáveis e necessários, no curto ou médio prazo. Segundo o Federal Reserve Bank

(2010) no manual Nonprofit Executive Sucession-Planning Toolkit, entre 10% e 25%

Page 20: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

4

(dez a vinte e cinco por cento) das organizações do terceiro setor procuram um novo

executivo a cada ano.

Frente à adjacência que se estabelece entre o processo sucessório nas OTS e a

governança corporativa, levantamos os seguintes problemas de pesquisa:

Quais os princípios utilizados pelas Organizações do Terceiro Setor em seus

processos de sucessão executiva?

Os princípios de governança corporativa podem contribuir para o êxito dos

processos de sucessão executiva nas referidas organizações?

1.2 Objetivos da Pesquisa

O objetivo geral da pesquisa é: analisar o processo sucessório dos gestores das

organizações do terceiro setor. Os objetivos específicos são:

- Identificar a existência de protocolos específicos para o processo sucessório em

estatutos das organizações do terceiro setor;

- Identificar como os atuais executivos das organizações do terceiro setor fazem

a adequação do processo sucessório estabelecido;

- Identificar se as boas práticas de governança corporativa estão presentes no

processo sucessório das organizações do terceiro setor.

Page 21: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

5

1.3 Justificativa

O processo de sucessão do principal gestor de uma empresa envolve uma grande

diversidade de variáveis influenciadoras no processo. Estas variáveis intrínsecas do

processo de sucessão podem resultar na escolha correta, ou não, do gestor que irá

administrar a empresa. As organizações do terceiro setor possuem traços comuns às

demais empresas no processo de sucessão, no entanto, também apresentam

características especificas decorrentes de suas peculiaridades.

A inserção da governança corporativa e suas boas práticas no processo

sucessório pode ser um elemento de auxílio na análise e interpretação das variáveis

envolvidas no processo sucessório. Conforme destaca Leone, Silva e Fernandes (1996),

no processo da sucessão são identificados alguns conflitos decisórios, no qual aquele

profissional que será sucedido defronta-se com as incertezas de escolher entre as opções

disponíveis, o melhor profissional que deva assumir o poder na organização.

A identificação de variáveis envolvidas no processo de sucessão de gestores em

organizações do terceiro setor se estabelece como um elemento colaborativo do

processo. Apoiar o entendimento das variáveis envolvidas no processo de sucessão das

OTS é de interesse para a sociedade, pois afeta diretamente importantes instituições que

proporcionam benefícios sociais relevantes. Desta forma, o presente estudo justifica-se

pela possibilidade de se conhecer as etapas do planejamento do processo sucessório nas

OTS entrevistadas.

1.4 Metodologia de Pesquisa

Conforme Gil (2002), a pesquisa é o procedimento racional e sistemático que

proporciona respostas aos problemas ou indagações propostos, em geral na forma de

perguntas ou questões de pesquisa, que buscam satisfazer anseios pessoais ou

intelectuais. Problemas ou questões muito genéricas são delimitadas para que fiquem

passíveis de elucidação. A elucidação dos problemas, para ser científica, deve lançar

mão do método científico.

Para Yin (2015), um modo comum de Estudo de Caso é a coleta de dados em

campo (mundo real) mediante entrevista, evidência documental e observações diretas. O

estudo de caso quando investiga um fato atual em profundidade num contexto de mundo

Page 22: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

6

real pode ser classificada, conforme a finalidade do estudo (ensino, descritivo,

explicativo, exploratório, caso piloto), e de acordo com o número de casos envolvidos

(caso único ou múltiplos casos). Pode ser feita triangulação ou cruzamento das

informações obtidas, observando-se o padrão dos resultados, que poderão ser

semelhantes ou contrastantes.

De acordo com Campos (2004), a análise de conteúdo é uma importante

ferramenta na condução da análise dos dados qualitativos. Vergara (2011) menciona que

a análise de conteúdo é largamente adotada na área de administração, e que pode ser

utilizada em pesquisas quantitativas e qualitativas. Nesta pesquisa foi adotada a

abordagem qualitativa.

Quanto aos fins, a pesquisa é exploratória e descritiva com observação e

posterior relato da dinâmica estabelecida pelas duas OTS no processo sucessório do

executivo principal. Gil (2002) destaca que a pesquisa descritiva se desenvolve pela

análise, registro e a interpretação dos fenômenos sem a interferência do pesquisador.

Esse tipo de pesquisa pode ser interpretado como um estudo de caso. Após a coleta de

dados é realizada uma análise das relações entre as variáveis para uma posterior

determinação dos efeitos resultantes em uma empresa, sistema de produção ou produto.

Nesta pesquisa o estudo de caso é descritivo e se apoia na análise de duas

instituições selecionadas por conveniência. As organizações não estabeleceram

restrições quanto à divulgação de seus nomes. Em função das técnicas empregadas, foi

possível realizar um cruzamento de informações oriundas das entrevistas, documentos e

do estatuto das empresas.

Quanto aos meios, as técnicas utilizadas são a documental e estudo de caso. A

técnica documental é utilizada para examinar documentos disponibilizados pelas

organizações por meio de página eletrônica ou de documentos internos da instituição

como os estatutos sociais a serem analisados. O estudo de casos múltiplos busca

identificar a diversidade de situações nas duas OTSs. A primeira organização, Lar

Vicentino, é brasileira com histórico voltado ao atendimento das necessidades locais,

enquanto a segunda organização, Worldfund, é uma unidade de um conjunto maior com

sede nos Estados Unidos. O perfil de ambas as empresas é bem diferente, e estabelece

uma interessante diversidade de perspectivas sobre sucessão em OTS.

Outras empresas foram contatas para colaborar na pesquisa, no entanto somente

as duas OTSs mencionadas acima concordaram. Na abordagem de Andrade (2001),

Page 23: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

7

considerando os procedimentos e coleta dos dados, as pesquisas podem ser de realizadas

em campo ou mediante consulta a fontes em papéis. Nesta pesquisa recorreu-se, tanto a

pesquisa de campo, entrevista semiestruturada (ver temas da entrevista no item 5.5)

desenvolvida junto aos gestores das OTSs, quanto aos documentos disponibilizados

para consulta.

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas pelo pesquisador nas

instalações das organizações. As questões foram elaboradas e encaminhadas com

antecedência para os entrevistados com a finalidade de proporcionar-lhes segurança. As

entrevistas foram gravadas com autorização dos entrevistados, e, posteriormente, foram

transcritas para possibilitar uma adequada análise dos dados. O pesquisador realizou

anotações do conteúdo das entrevistas com a finalidade de evidenciar os pontos

principais, e estabelecer um elemento facilitador na interpretação dos dados. As

descrições são realizadas de acordo com cada empresa, e no final, as análises se

desenvolvem de forma a consubstanciar os conteúdos e responder ao problema

proposto.

1.5 Estrutura da Dissertação

A estrutura da dissertação está dividida em seis capítulos.

Após apresentar nesta Introdução, o tema Governança Corporativa e Sucessão

em OTS, justificando a importância da pesquisa, e aspectos metodológicos, passamos

efetivamente para a discussão conceitual, governança em OTS, sucessão e coleta e

análise dos dados.

O capítulo 2 – Fundamentação Teórica- trata das características da governança e

principais teorias.

O capítulo 3 – Governança Corporativa na OTS – traz conceitos e características

da OTS e comenta sobre o modelo de governança em OTS.

No capítulo 4 – Sucessão na OTS – comenta-se a respeito da importância do

processo de sucessão na OTS, e como o processo ocorre, assim como o perfil

profissional requerido pela OTS que tem a prática da governança.

No capítulo 5 – Coleta e Análise dos Dados – são apresentados os dados

coletados via análise documental e pesquisa de campo, com a devida discussão dos

mesmos.

Page 24: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

8

A Conclusão – capítulo 6 – mostra reflexões finais a respeito da pesquisa

realizada, dos dados coletados e analisados a partir de parâmetros da revisão teórica, do

problema e objetivos da pesquisa.

1.6 Limitações da Pesquisa

As limitações do presente estudo estão relacionadas ao reduzido número de

entidades entrevistas, duas. A pesquisa de campo não foi aplicada em mais instituições

devido a não disponibilidade das demais organizações contatadas em participar da

pesquisa.

O presente estudo não esgota as possibilidades de investigação sobre o tema,

justamente por estabelecer uma abordagem ainda inicial, e novas investigações

científicas poderão surgir sobre o tema Sucessão e Governança Corporativa nas

Organizações do Terceiro Setor.

Uma extensão para a presente pesquisa poderia estar relacionada aos fatores que

influenciam os gestores a atuarem em OTS, e como se preparam para atuar neste tipo de

organização.

Page 25: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

9

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta teorias e estudos que auxiliam a interpretar o fenômeno

em análise e na discussão dos dados coletados. Veremos inicialmente as definições de

Governança Corporativa, na sequência considerações sobre as Organizações do Terceiro

Setor, e Sucessão nas OTS.

2.1 Governança Corporativa

De acordo com o IBGC (2009), as boas práticas de governança corporativa têm

a finalidade de aumentar o valor da sociedade, de modo a facilitar o acesso ao capital,

contribuir para a perenidade das organizações, converter os princípios de Governança

Corporativa em recomendações objetivas, alinhar os interesses com a finalidade de

preservar a reputação das organizações e otimizar o valor social.

Segundo o IBGC (2009), a governança corporativa é conhecida como um

sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas, e incentivadas,

envolvendo relacionamento constante entre conselho, equipe executiva e demais órgãos

de controle.

O Manual de Boas Práticas de Governança Corporativa do IBGC (2009)

apresenta como princípios básicos de governança: a equidade (tratamento justo de todas

as partes interessadas), a transparência (mais do que disponibilizar as informações

impostas pelas leis, é necessário informar tudo que seja do interesse das partes

interessadas), a prestação de contas (conforme a acepção do termo em inglês

accountability, no qual os agentes da entidade devem prestar contas de sua atuação

assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões), e a

responsabilidade corporativa (os agentes devem prestar contas e ser responsáveis pelas

decisões que tomam em nome da administração).

Segundo Gonzales (2012), a Governança Corporativa iniciou-se nos Estados

Unidos da América, num movimento liderado pelo investidor e ativista Robert Monks,

o qual desejava que os acionistas americanos despertassem para a necessidade de novas

regras no mercado de ações, que lhes permitissem votar nas reuniões que escolhiam os

componentes do conselho de administração das empresas. Ainda segundo o mesmo

autor, Cadbury, na Inglaterra, também conduziu discussões sobre a efetividade do papel

Page 26: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

10

dos conselheiros no direcionamento estratégico das empresas, o que resultou no

relatório que apresentou, com a proposta do primeiro código de governança corporativa.

A governança corporativa um sistema de administração inicialmente voltado

para a preservação do interesse do acionista, no qual estão separadas a propriedade

(muitas vezes dispersa) e a gestão das organizações.

De acordo com Muritiba (2014), a preocupação crescente das organizações com

a governança corporativa foi motivada pela necessidade de prevenir escândalos

corporativos. Sabe-se que a má gestão corporativa pode provocar grandes prejuízos e

escândalos financeiros.

O uso inadequado de recursos nos investimentos do primeiro setor (empresas

públicas voltadas ao bem-estar social), segundo setor (empresas privadas) e terceiro

setor da economia, é um fator que desperta a sociedade para os benefícios da

Governança Corporativa. A eficácia e eficiência das boas práticas de Governança

Corporativa a coloca como uma boa opção para a gestão das Organizações do Terceiro

Setor.

2.2 Principais Teorias da Governança Corporativa

Várias teorias são passiveis de utilização para a interpretação da Governança

Corporativa. Neste estudo foram utilizadas duas abordagens: a teoria de Agência e a

teoria do Problema de Agência, nas quais são observadas a ocorrência de

comportamentos conflitantes entre o contratante (principal) e o contratado (agente), e a

necessidade do monitoramento do agente por parte do principal, o que gera o chamado

custo de agência.

2.2.1 Teoria da Agência

Conforme afirmou Smith (1776), os diretores de empresas são gestores do

dinheiro de outras pessoas, porém, não o controlam com a mesma vigilância que

dedicam aos assuntos de seus próprios interesses.

Segundo Berle e Means (1932), a necessidade de separação da propriedade e do

controle nas organizações modernas se materializa em uma fonte de atenção das

Page 27: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

11

empresas de capital aberto. O posicionamento destes autores ainda é atual frente a maior

complexidade de fatores que compõem a gestão das organizações.

De acordo com o IBGC (2009), as boas práticas de governança corporativa

passam pela separação de governança e gestão das OTS, e a profissionalização daqueles

que nelas trabalham.

De acordo com Jensen e Meckling (1976), na chamada teoria de agência, os

agentes têm acesso a informações privilegiadas em relação aos principais, a quem tais

informações são ocultas (tal fenômeno é chamado de assimetria informacional). Desta

forma, os principais tendem a acreditar que os agentes irão agir em seus próprios

interesses, acrescentando o fato de os agentes estarem mais próximos da realidade dos

negócios. A relação agente-principal é sempre conflituosa quando um determinado

indivíduo (agente) age em nome de outro (principal), e os objetivos de ambos não

coincidem integralmente. O dilema de agência parece estar presente em todos os países

e organizações, tanto em empresas que visam ao lucro, quanto em entidades sem fins

lucrativos. Para os autores, a incorporação da governança corporativa se insere em um

contexto no qual os acionistas delegam o poder de decisão sobre suas propriedades de

ações a um agente especialista, que nem sempre age alinhado aos interesses dos

proprietários, resultando em conflito entre agente-principal, o chamado conflito de

agência.

Para Martins (2004) e Tricker (2012), os administradores em algumas entidades

percebem a si mesmos como um grupo de elite, que domina a organização e suas

ligações externas, procurando maximizar seus benefícios, tomando medidas que são

vantajosas para si, mas prejudiciais para as demais partes interessadas ou stakeholders.

Para. Amador et al (2002), o recente caso da empresa ENRON nos Estados

Unidos, é um exemplo atual da Teoria da Agência, no qual os administradores daquela

empresa, agindo motivados por interesses próprios e alheios à organização, esconderam

informações do interesse público, causando grandes prejuízos devido a manobras que

ficaram por longo tempo ocultas de seu público interessado e a sociedade em geral.

Segundo Oliveira et al (2015), os recentes escândalos envolvendo as empresas

do empreendedor Eike Batista demonstram que os administradores do grupo em algum

momento ocultaram informações privilegiadas em detrimento dos acionistas. No

contexto da Teoria da Agência, o gestor e o principal acionista obtiveram vantagens

pela assimetria de informações e falta de transparência. É o que se observa quando há

Page 28: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

12

demora na divulgação de dados de uma companhia com ações negociadas na Bolsa de

Valores de São Paulo – Bovespa, como integrante do Novo Mercado. A conduta

resultou na ocultação de informações que eram do interesse dos stakeholders, mesmo

que temporariamente. As informações referentes a campos de petróleo atraíram

investimentos no mercado de ações, porém tal potencial não se confirmou, e as ações do

grupo de Eike Batista diminuíram substancialmente de valor. Por outro lado, quando um

grupo de companhias abertas coloca em prática as boas práticas de governança

corporativa, entre estas companhias, observa-se o princípio da transparência.

2.2.2 Teoria do Problema de Agência

Numa relação principal-agente (por exemplo, empregador-empregado,

acionistas-executivos ou instituidores-executivos), o principal tenta implementar uma

estrutura de incentivos e monitoramento que alinhe os interesses do agente aos seus

próprios interesses.

Segundo Coase (1937), na teoria do problema de agência o principal procura

prever, monitorar e controlar o comportamento do agente, por meio de mecanismos

contratuais e de fiscalização, os quais tem um custo, que diminui a rentabilidade do

agente. Este é o problema de agência, um constituinte primordial dentro do contexto

contratual da firma. Na essência das práticas de governança está à necessidade de

redução dos custos de agência, de forma a conciliar os interesses de longo prazo do

empreendimento.

De acordo com Zylbersztajn (1995), o monitoramento sobre a gestão é essencial

para o alcance de resultados da organização. Os agentes tendem a agir em prol de seu

próprio interesse, procurando maximizar ganhos e vantagens, enquanto que os

principais, contratantes dos agentes, procuram investir mais em incentivos,

monitoramento e controle das ações dos contratados, para que cumpram os deveres de

ofício, provocando o chamado custo de agência.

A gestão corporativa é um dos aspectos mais relevantes do gerenciamento das

organizações do terceiro setor, apesar de ser um tema deixado em segundo plano na

maioria das vezes, sobretudo quando comparado com a captação de recursos

financeiros.

Page 29: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

13

3. GOVERNANÇA CORPORATIVA NA OTS

3.1 Organizações do Terceiro Setor

De acordo com Lacruz (2014), economicamente, as organizações formais

são classificadas em Primeiro Setor, Segundo Setor e Terceiro Setor.

Primeiro Setor: composto por organizações diretamente vinculadas ao

Estado e responsável pelas questões sociais e possui um papel fortemente

regulador;

Segundo Setor: constituído por organizações de caráter privado, ele

apresenta relação direta com o mercado e é responsável por questões

focadas nos indivíduos;

Terceiro Setor: segundo Pessoa e Trezza (2015), são organizações

particulares dirigidas a finalidades públicas ou privadas, sem fins

lucrativos, institucionalizadas, auto-administradas e voluntárias; o terceiro

setor funciona com dinheiro público e privado com fins públicos, e realiza

atividades complementares à ação de caráter social ou público, sem

estarem vinculadas ao Estado; as organizações do terceiro setor são

instituídas sob a forma de sociedades, associações, fundações,

organizações religiosas ou partidos políticos.

De acordo com Lacruz (2014) e Oliveira et al (2015), a pesquisa FASFIL 2010

publicada pelo IBGE em 2012, indicava que no ano do levantamento existiam

oficialmente no Brasil 290.700 fundações privadas e associações sem fins lucrativos,

sendo que a sua distribuição no território nacional tende a acompanhar a mesma

Page 30: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

14

distribuição da população brasileira, com pequenas variações. Os dados apontam ainda

que na região sudeste se concentram 44,2% das OTS, e em segundo lugar com 22,9%

está a região nordeste. As OTS são entidades relativamente novas no Brasil. A maior

parte delas, 40,8%, foi criada no período de 2001 a 2010, sendo que das 118,6 mil

entidades nascidas metade delas, 50,8%, surgiu nos últimos cinco anos, com um

crescimento médio de 4% ao ano, o que evidência um crescimento regular no período.

Interessante também observar o peso das entidades criadas no período de 1981 a 2000:

elas representam 46,5% do total de entidades em atividade em 2010. Segundo o

FASFIL (2010), as organizações do terceiro setor movimentaram cerca de R$ 100

bilhões, ou cerca 2% do Produto Interno Bruto - PIB, e empregaram mais de 2,8

milhões de pessoas. Veja na tabela 1 o perfil das OTS no Brasil.

Tabela 1 - Dados estatísticos sobre o terceiro setor – em milhares

DADOS

FASFIL

Período

Administração

Pública

Entidades

Empresariais

Entidades sem fins

Lucrativos

mer

o d

e

Org

aniz

açõ

es

2007 0,4 88,7 10,8

2008 0,4 89,1 10,5

2009 0,4 89,3 10,3

2010 0,4 89,7 9,9

Pes

soal

Ocu

pad

o

Ass

alar

iad

o

2007 23,6 69,2 7,2

2008 22,6 70,3 7,1

2009 22,7 70,3 7,0

2010 21,5 71,7 6,7

Sal

ário

s e

Ou

tras

Rem

un

eraç

ões

2007 31,9 61,1 7,0

2008 31,3 62,2 6,6

2009 32,2 61,1 6,6

2010 31,3 62,3 6,4

Fonte: IBGE (2012, p. 25) – adaptação do autor

Uma organização do terceiro setor tem um ciclo de vida determinado pelos

períodos de iniciação, institucionalização, consolidação, inovação e declínio. Cada

período do ciclo de vida exige um diferente perfil do principal executivo, daí decorre

que o processo sucessório aparece como uma oportunidade única para a consolidação

das fases do ciclo.

Reffico e Gutierrez (2006) propõem que a criação de uma organização do

terceiro setor siga quatro passos:

Page 31: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

15

Primeiro passo: há uma iniciação ou iniciativa de uma ação do empreendedor

social, que identifica um problema de ordem sócio-econômico-ambiental e

desenvolve um projeto que contribui para a solução do problema;

Segundo passo: o empreendedor social sente necessidade de institucionalizar

a organização, desenvolvendo estruturas organizacionais, políticas,

procedimentos e sistemas para que os empreendimentos contem com quadro de

pessoal e uma boa administração, sejam economicamente sustentáveis e gerem

valor social;

Terceiro passo: o empreendedor social percebe que o empreendimento requer

um tipo de consolidação, com uma liderança participativa para alcançar

eficiência e eficácia que desenvolva mecanismos de coordenação visando o

equilíbrio entre as atividades descentralizadas e o alinhamento com a missão,

visão e estratégia da organização. Nesse momento pode ser contratado um

terceiro que exerça o cargo de diretor administrativo, de modo a existir a

inovação e a descentralização. Os autores comentam que um bom processo de

descentralização pode contribuir para agilizar um processo de transição quando

o líder central se retira, ocorrendo a sucessão e continuidade da vida

organizacional sem que ocorra o declínio da OTS;

Quarto Passo: o empreendedor social e sua administração conduzem diversos

programas e ações descentralizadas, sendo este período caracterizado por

Reficco e Gutierrez (2006) como conglomerado.

De acordo com Santos e Souza (2014), a criação de uma Organização do

Terceiro Setor exige a elaboração de um estatuto social que traga um conjunto de regras

sobre a constituição, funcionamento e as obrigações da organização, e desta forma as

associações serão legítimas quando forem documentadas por escrito sob a forma de um

estatuto social.

Para as associações, os requisitos previstos no artigo 54 do Código Civil (2002)

são:

a denominação, declaração de fins e local da sede administrativa;

requisitos para admissão, demissão ou exclusão de associados;

declaração de direitos e deveres dos associados;

Page 32: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

16

declaração das fontes de recursos para manutenção da associação;

modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos;

modo de alteração de disposições estatutárias;

modo de dissolução da entidade;

forma de gestão administrativa e de aprovação das contas.

Para Tenório (2006), as organizações do terceiro setor possuem personalidade de

direito privado, não objetivam o lucro e atendem as necessidades da sociedade não

cobertas pelo estado.

Segundo Lacruz (2014), existem várias formas de denominações ou títulos para

as Organizações do Terceiro Setor, tais como Institutos, Organizações Não

Governamentais (ONGs) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

(OSCIPs), Organizações de Utilidade Pública, Entidades Beneficentes etc., sendo que

mesmo assim, no aspecto jurídico, as mesmas permanecem como associações ou

fundações.

Para Pessoa e Trezza (2015), o conceito da Organização das Nações Unidas

prevalece mundialmente. Uma entidade que se caracteriza como Organização do

Terceiro Setor deve ser privada sem fins lucrativos, institucionalizada, auto-

administrada e voluntária.

De acordo com Pessoa e Trezza (2015), a metodologia COPNI - Classification

of the Purposes of Non-Profit Institutions Serving Households, ou em português

“Classificação dos Objetivos das Instituições sem Fins Lucrativos a Serviço das

Famílias”, empregada pela Organização das Nações Unidas (ONU), diz que para uma

organização ou entidade ser caracterizada como sem fins lucrativos e integrar o terceiro

setor deve preencher simultaneamente cinco critérios: ser privada, sem fins lucrativos,

institucionalizada, auto-administrada e voluntária.

Como consequência desta conceituação, pode-se dizer que um “condomínio”

não é uma organização do terceiro setor, porque atende somente quatro dos cinco

quesitos exigidos. Ou seja, embora a organização tenha personalidade jurídica de direito

privado por ter sido criada em razão da existência de uma propriedade comum de

terreno e edificações, opere sem fins lucrativos, seja institucionalizada por possuir

Page 33: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

17

CNPJ e contrato social, apresente auto-gestão, não pode ser considerada uma

organização do terceiro setor por não ser uma organização voluntária, e sim obrigatória,

por exigência de lei específica.

A Constituição Federal (1988) determina a liberdade de associação para fins

lícitos (art. 5º, XVII), inclusive a liberdade de associação sindical e profissional (art.

8º, caput), a liberdade de crença e de exercício de cultos religiosos (art. 5º, VI), e

identifica e denomina de forma específica as seguintes organizações como sem fins

lucrativos: Associações (art. 5º, XVIII e XIX), Fundações: públicas (art. 37, XIX) e

privadas (art. 150 VI, “c”), Sindicatos (art. 8º, incisos I à VIII, e art. 150, VI, “c”),

Partidos Políticos (art. 17 e art. 150 VI, “c”), Cultos Religiosos e Igrejas (art. 19, I, e art.

150, VI, “b”), Serviço Social Autônomo (art. 240, e art. 62 dos Atos das Disposições

Constitucionais Transitórias), Cooperativas (art. 5º, XVIII, e art. 174, § 2º).

O Código Civil (2002) contém a lei que define as espécies de pessoas jurídicas, e

deixa claro que as “sociedades” são pessoas jurídicas de direito privado com fins

econômicos ou lucrativos (arts. 44 e 981), assim como as “cooperativas” são

“sociedades cooperativas” (arts. 1093 a 1.096). O Código Civil identifica e caracteriza

como “sem fins lucrativos ou econômicos” as seguintes organizações:

Associações (arts. 44 e 53): união de pessoas que se organizam para fins não

econômicos;

Fundações (arts. 44 e 62): dotação especial de bens livres destinados ao fim

especificado pelo instituidor, que poderá inclusive declarar a maneira de

administrar a fundação; a Fundação apenas poderá constituir-se para fins

religiosos, morais, culturais ou de assistência;

Organizações Religiosas (art. 44, § 1º): apresenta liberdade de criação,

organização, estruturação interna, e o seu funcionamento é vedado ao poder

público para negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e

necessários ao seu funcionamento.

Partidos Políticos (art. 44, § 3º): são organizados e funcionarão conforme o

disposto em lei específica.

Page 34: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

18

De acordo com Pessoa e Trezza (2015), o conjunto de instituições composto

pelo IBGE e o IPEA, em parceria com a ABONG e o GIFE, apresentou o mais recente

estudo sobre as Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos, o relatório

FASFIL de 2010, o qual ampliou os conceitos da COPNI – Classificação das Funções

das Instituições Sem Fins Lucrativos à Serviço das Famílias, na chamada COPNI

ampliada, que considera como Organizações da Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos as

organizações que estejam no Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do IBGE, que

sejam inscritas no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas da Receita Federal do Brasil

(CNPJ), e que no ano de referência tenham declarado para as fontes de atualização do

CEMPRE: exercer atividade econômica no território nacional (as fontes de atualização

do CEMPRE são pesquisas estruturais do IBGE e dados que constem em registros

administrativos do Ministério do Trabalho e Emprego).

Para Silva e Silva (2008), as Organizações Sociais são criadas como pessoas

jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, por iniciativa voluntária de particulares

e são estruturadas na forma de fundações ou associações. Os estatutos das Organizações

Sociais podem prever a participação de pessoas do poder público e membros da

comunidade no seu órgão deliberativo superior (Conselho de Administração) com

finalidades direcionadas às atividades de interesse público, podendo ser aquelas

atividades exclusivas do Estado ou não. As relações jurídicas entre as entidades sociais

qualificadas como Organizações Sociais e o Estado são sustentadas pelos contratos de

gestão. Os contratos de gestão são os meios pelo qual são estabelecidas metas de

desempenho que asseguram a qualidade e efetividade dos serviços prestados ao público,

além de assegurar ao Estado as condições de fiscalização das metas de desempenho.

Para a qualificação de uma entidade como sendo de utilidade pública, é

necessária a obtenção de título de reconhecimento, que pode ser federal, estadual ou

municipal.

De acordo com o Guia Prático para Entidades Sociais (2009) do Ministério da

Justiça, os requisitos para a qualificação federal como entidade de utilidade pública são:

encaminhamento de pedido de qualificação via Ministério da Justiça à Presidência da

República; constituição legalizada no Brasil; personalidade jurídica; funcionamento

mínimo de três anos; relatórios comprobatórios de atividade nas áreas da educação,

pesquisa científica, cultural, artística ou filantrópica, em caráter geral e indiscriminado;

Page 35: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

19

cargos não remunerados na diretoria, conselho fiscal, mantenedores e associados;

moralidade atestada para sua diretoria e publicação anual de relatório de receitas e

despesas quando receber subvenção da União. O título de Utilidade Pública Federal

proporciona vários benefícios à entidade detentora, entre eles a certificação CEBAS

(Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social).

Conforme Silva e Silva (2008), a lei estadual 2574/80 estabelece normas para

qualificação de Entidade de Utilidade Pública no Estado de São Paulo, que são os

seguintes: encaminhamento de pedido de qualificação para a secretaria da Justiça;

personalidade jurídica; funcionamento efetivo e contínuo há pelo menos cinco anos;

manutenção de cargos não remuneradores na diretoria; registro nos órgãos competentes

do Estado; apresentação de relatórios que comprovem atividade nas áreas de ensino,

pesquisa científica, cultural ou artística, filantrópica ou assistencial, de caráter

beneficente, caritativo ou religioso; atestado de moralidade de sua diretoria; relação

circunstanciada de serviços prestados à comunidade, a partir de inscrição em livro

específico.

De acordo com a lei municipal 4819/55, os requisitos para qualificação de

entidade de utilidade pública no Município de São Paulo são: encaminhamento de

pedido de qualificação ao executivo municipal; personalidade jurídica; funcionamento

efetivo e contínuo há pelo menos um ano; serviço continuado à comunidade em

determinado setor; estatuto social que permita inclusão de associados sem

discriminação; cargos não remunerados em sua diretoria; atestado de moralidade de

diretores; prestação de colaboração com o município em sua especialidade;

compromisso de ceder temporariamente ao município os locais onde são mantidas suas

atividades, mediante acordo e para fins sociais (a declaração de utilidade pública será

concedida mediante entrega de diploma legal).

As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), por meio de

suas relações com o estado e iniciativa privada promovem e executam ações voltadas

para o desenvolvimento econômico e social.

Segundo Silva e Silva (2008), as principais características que diferenciam a

OSCIP de outras associações e fundações são a possibilidade de obter registro como tal

desde o momento de sua fundação, previsão de atuação como OSCIP em seu estatuto

social e a possibilidade de remuneração de seus dirigentes.

Page 36: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

20

Ainda segundo Silva e Silva (2008), a OSCIP é pessoa jurídica de direito

privado sem fins lucrativos, instituída por particulares integrantes da sociedade civil,

possuidora de finalidades que pautam as entidades sociais e que poderão estabelecer

relações com o Poder Público por meio de contratos de gestão. A OSCIP pode trabalhar

em prol do interesse público e se diferencia das associações e fundações pela

possibilidade de atuação em diversas áreas do interesse público, quando assina termos

de parcerias ou convênios com o Estado, ficando sujeita à fiscalização estatal.

De acordo com Silva e Silva (2008), as Leis 9790/99 - que dispõe sobre a

qualificação de pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos como OSCIP e

Decreto 3100/99 que regulamenta a lei 9790/99, instituem e disciplinam o Termo de

Parceria e dão outras providências, esclarecendo os aspectos jurídicos para qualificação

de OSCIP: ser pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos com CNPJ; atender

a objetivos sociais e normas estatutárias previstas em lei; ter estatuto social registrado

em cartório com as cláusulas definidas em lei; declarar imposto de renda; apresentar

cópias autenticadas dos documentos exigidos; ter registro no CNAS a fim de poder

celebrar convênios com a administração Pública Federal; não acumular outros títulos.

Segundo consta em lei, a OSCIP pode receber doações de pessoas jurídicas,

dedutíveis até o limite de 2% do lucro operacional, e no caso de pessoas físicas,

dedutíveis até o limite de 6% da tributação do imposto de renda das pessoas físicas,

quando as doações forem destinadas a atividades nas áreas da cultura, audiovisual ou

fundo de amparo a crianças e adolescentes.

A OSCIP ainda pode beneficiar-se de isenções, imunidades e benefícios fiscais

que independem de tal certificação, por atuar na área social e não ter fins lucrativos, tais

como não sujeição à tributação por recebimento de doações patrimoniais (se houver

venda de patrimônio está prevista tributação).

Portanto, a definição conceitual do tipo de organização do terceiro setor depende

da previsão legal e da classificação dada pelos órgãos estatais que classificam as

mesmas. A figura 2 exemplifica as classificações que recebem as organizações do

terceiro setor.

Figura 1 - Terceiro setor: constituição jurídica e distinções

Page 37: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

21

Fonte: Adaptada de Lacruz (2014, p. 7)

3.2 Modelo de Governança Corporativa

No terceiro setor a Governança das Organizações se insere nos princípios de

transparência, legalidade, equidade e responsabilidade corporativa fundamentada em

prestação de contas, sustentabilidade e busca da perenidade organizacional.

Para Lacruz (2014), o modelo de governança corporativa das organizações do

terceiro setor define a macroestrutura de poder da organização em instâncias. Segundo o

autor, as instâncias de poder são as seguintes:

Instâncias deliberativas: a assembleia no caso de associações; o conselho

curador no caso de fundações; o conselho de administração no caso das OSCIP;

e a diretoria executiva nos casos em geral;

Instâncias fiscalizadoras: são órgãos obrigatórios, tais como o conselho fiscal,

a auditoria interna e a auditoria externa. Em certos casos o conselho fiscal é

obrigatoriamente remunerado;

Instâncias consultivas: onde o conselho consultivo é órgão facultativo;

Page 38: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

22

Instâncias executivas: depende do porte da entidade e apresenta como variável

o fato de que normalmente seus membros executivos são remunerados.

A estruturação da governança corporativa tende a ser caracterizada em “função”

da missão da organização e seu microuniverso institucional.

A estruturação da governança corporativa nas organizações do terceiro setor

busca garantir que a visão, a missão e os valores da alta administração permeiem toda a

entidade, sem ocorrência de desvios. A estrutura da governança corporativa

habitualmente comporta o presidente do conselho de administração, os conselheiros, o

diretor executivo e demais diretores operacionais, e atende ao disposto no estatuto social

da organização.

Para Lacruz (2014), a estrutura de gestão divide-se em cúpula, linha

intermediária e núcleo operacional. A linha intermediária e núcleo operacional são

apoiadas por órgãos de suporte administrativo e suporte técnico, sendo as

departamentalizações funcional, matricial ou projetada as mais recorrentes. No desenho

funcional as organizações são estruturadas por processos semelhantes, os quais são

agrupados por função, enquanto no desenho projetado a departamentalização obedece

ao critério de prioridades de cada projeto com a subordinação das funções de compras,

pessoal, contabilidade, etc. No desenho matricial gerente de projetos atua em uma

condição que mistura os dois primeiros modelos, e as prioridades são definidas pelos

projetos, ou pela relevância das funções especializadas.

Segundo Lacruz (2014), os conselhos de administração reúnem-se

ordinariamente de duas até quatro vezes ao ano, ou segundo a frequência estabelecida

no estatuto social da organização. Ainda segundo o autor, cabe ao presidente do

conselho de administração a condução inicial da agenda de assuntos estratégicos que

serão tratados nas reuniões ordinárias. Uma atividade importante das cúpulas das OTS é

o levantamento de fundos para o financiamento dos projetos institucionais. O

levantamento de fundos contribui para a garantia da saúde financeira das instituições.

Após as reuniões do conselho de administração, as diretivas de ação são passadas pelo

presidente do conselho de administração ao principal diretor executivo, e este passa as

diretivas aos demais diretores e gestores, de modo que a organização execute as

orientações da alta administração sem desviar-se da missão e valores da organização.

Page 39: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

23

A figura 2 abaixo mostra como, em geral, ocorre a departamentalização de uma

organização do terceiro setor.

As ações das organizações do terceiro setor podem ser propositivas ou

executoras. As ações são propositivas quando captam recursos para projetos por meio

de doações voluntárias de seus membros, patrocinadores, sociedade em geral ou por

meio de respostas a editais governamentais. As ações são executoras quando estas

executam os projetos para os quais foram captados recursos ou transferidos recursos, de

modo que terceiros executem as ações propostas, realizando apenas a gestão do projeto.

Figura 2 - Estrutura de Governança Corporativa nas OTS

Conveniados ou Correlatos

Parceiros Intervenientes

Principais Doadores

Conselho Curador / Conselho de

Administração - Board

Fundadores / Superintendentes

Conselho Fiscal

Page 40: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

24

Fonte: adaptado de Lacruz (2014, p. 15)

4. SUCESSÃO NA OTS

4.1 Importância

De acordo com Hambrick e Mason (1984), as organizações são reflexos dos

componentes dos altos escalões administrativos, e sendo assim a seleção de tais

executivos deve ser tema de discussão por parte do Conselho de Administração.

Para Kesner e Sebora (1994), a sucessão afeta as partes interessadas na

organização, ou seja, tem influência de alguma maneira sobre todas as pessoas

envolvidas com a organização, sejam elas internas (funcionários, fundadores etc.) ou

externas (doadores, fornecedores, clientes, público, governo etc.). Para as autoras, em

muitas organizações o Diretor-Geral (Chairman) ou o Diretor-Executivo (CEO),

representam a última palavra em termos de decisão, pois possuem a prerrogativa de dar

a palavra final nos assuntos colocados em votação. Frente a prerrogativa de possuir a

disposição final, as partes interessadas (internas e externas) também denominadas de

Diretoria Executiva

CEO, CFO, COO

Conselho Consultivo

Diretorias de Unidades

Operacionais

Auditorias (Interna/ Externa)

Page 41: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

25

stakeholders são propensas a interpretar a sucessão do principal executivo como um

direcionamento das ações futuras da instituição, o que posiciona o processo de sucessão

das empresas como um evento único, de destacada importância para praticamente todas

as organizações.

Para Leone, Silva, Fernandes (1996), é comum os dirigentes ou fundadores, em

geral, não planejarem a transferência do poder, interpretando que sua permanência na

organização é eterna. É possível inferir que esta falta de planejamento sucessório

potencializa o surgimento de conflitos que interferem de forma negativa no processo.

Para os autores em alguns processos sucessórios, os mitos ou lendas sobre os

fundadores podem dificultar a sucessão, especialmente quanto à transparência

(disclousure) do processo, equidade (eqüity) de tratamento entre candidatos, entre

outros princípios da governança corporativa não são observados.

Segundo Comini et al (2008) existe uma correlação entre ciclo de vida de um

empreendimento social e o papel exercido pelas lideranças, no sentido de obter-se

melhores resultados para a organização.

De acordo com Comini et al (2008), durante a cogitação sobre a sucessão nas

OTS, existe a preocupação em saber-se quem será o próximo líder da organização, e

esse posicionamento apresenta-se restrito, pois uma resposta direta não garantirá a

perpetuação da organização. É necessário interpretar todos os benefícios, riscos e

ameaças derivados da sucessão. Segundo os autores, a prática do planejamento

sucessório acrescenta valor à organização na medida em que se identifica e se capacita

as pessoas para assumir posições de comando no futuro. Adicionalmente, o

planejamento sucessório possui potencial para identificar situações de risco e

desempenho organizacional, que podem ser mitigados, evitados ou melhorados.

Segundo o Nonprofit Executive Sucession-Planning Toolkit (2010) do Federal

Reserve Bank e o The Handbook of Nonprofit Governance (2010) da BoardSource

Organizaion, os benefícios do processo sucessório são diversos: alinhamento dos

talentos existentes no presente com o perfil de líderes necessários no futuro, superação

de desafios estratégicos e operacionais, colocação de pessoas certas nos cargos certos e

nos diferentes momentos necessários, garantia da continuidade da memória e cultura

organizacionais, o realinhamento estratégico e a redefinição da missão, visão e valores

organizacionais, renovação dos quadros de pessoal, avaliação de desempenho,

Page 42: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

26

adequação dos planos de remunerações e compensações aos valores de mercado etc.,

garantindo-se assim um melhor desempenho institucional.

Vale destacar que o manual de boas práticas de governança corporativa do IBGC

(2009) diz que o Conselho de Administração deve manter atualizado um plano de

sucessão para todas as pessoas-chave da organização.

Segundo o Guia de Orientação para Planejamento de Sucessão do IBGC (2011),

toda organização deve ter um planejamento de sucessão alinhado com a estratégia da

organização, refletindo suas metas de crescimento. Tal guia também recomenda que

haja transparência no processo sucessório e que o conselho de administração comunique

de forma clara e inequívoca as regras e protocolos envolvidos no processo sucessório,

abrangendo todos os cargos-chave da organização. O conselho de administração deve

participar ativamente do estabelecimento de regras e critérios de seleção dos candidatos

à sucessão.

Segundo Gonzalez (2012), o fundador é parte primordial em qualquer

organização do terceiro setor, pois além de acreditar na causa, ele dá início à instituição,

comandando toda a sua estrutura, de modo que os colaboradores, ao se identificarem

com a cultura organizacional legitimam o líder, transformando-o, muitas vezes, em uma

lenda ou mito.

Ainda, conforme Gonzalez (2012), é comum algumas entidades do terceiro setor

serem extintas em virtude da falta de compartilhamento das decisões na alta

administração. Sendo assim, para evitar tal situação, as organizações do terceiro setor

devem criar amarras estatutárias fortes, tendo mecanismos claros de reeleição, que não

permitam o número ilimitado de reeleições da cúpula dirigente. Por outro lado, a

rotatividade dos membros oxigena a instituição, promovendo modernização.

De acordo com Pereira (2013), o mito sobre o fundador transforma o mesmo em

um modelo carismático a ser seguido, devido à experiência passada na condução da

entidade. Uma questão particularmente relevante em organizações do terceiro setor

refere-se à figura da liderança carismática que o fundador pode exercer, influenciando

na formação da cultura e identidade da organização.

4.2 Motivação

Page 43: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

27

De acordo com o Nonprofit Executive Sucession-Planning Toolkit do Federal

Reserve Bank (2010), os motivos que geram preocupação com sucessão são vários:

aposentadoria, demissão, problemas de saúde, entre outros. Os motivos mais comuns

são sucessão voluntaria ou involuntária, planejada ou não, temporária ou definitiva, e

sucessão para o período de transição.

Sucessão Voluntária ou Involuntária: segundo o The Handbook of Nonprofit

Governance (2010) da BoardSource Organization, quanto à iniciativa de quem

sai, a sucessão pode ser voluntária ou involuntária; a saída é voluntária quando a

iniciativa parte da pessoa que será sucedida, normalmente em virtude de

aposentadoria, estado de saúde, ou desejo de exercer outras atividades pessoais;

a saída é involuntária quando a iniciativa não parte da vontade da pessoa que

será sucedida, que pode ter sido iniciada em virtude de avaliação negativa do

conselho, expiração do prazo de mandato do cargo, por impossibilidade de nova

eleição ou reeleição, cláusulas ou previsões estatutárias proibitivas, problemas

na prestação de contas, má gestão administrativa, conduta pessoal inapropriada,

escândalos, entre outras causas; independentemente da saída ser voluntária ou

não, é possível ponderar que a importância do planejamento da sucessão é gerar

valor futuro às organizações, aumentando sua credibilidade perante o mercado e

todas as partes interessadas.

Sucessão de modo planejado ou não planejado: conforme o The Handbook of

Nonprofit Governance (2010) da BoardSource Organization, quanto ao seu

planejamento as sucessões podem ser planejadas ou não; planejadas, quando os

principais sucedidos se afastaram das organizações em razão de aposentadorias,

troca de emprego, necessidade de cuidar de interesses familiares ou particulares,

viagens planejadas, cirurgias marcadas com antecedência, ou outros motivos, na

qual ocorre a comunicação prévia da iminente substituição; as saídas não

planejadas ou abruptas podem ocorrer por morte do executivo a ser sucedido, ou

por problemas de saúde, viagens não esperadas, demissões, escândalos

financeiros ou problemas comportamentais, entre outros.

Page 44: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

28

Sucessão Temporária ou Definitiva: o preenchimento das vagas surgidas pode

ser de modo temporário ou permanente; a sucessão é temporária quando a

contratação do sucessor é por tempo determinado (em geral devido à

possibilidade de retorno do sucedido licenciado por algum motivo), ou

permanente (quando a contratação do sucessor for por tempo indeterminado não

havendo a possibilidade de retorno do sucedido).

Sucessão para o período de transição: quando a necessidade de sucessão

ocorre de forma repentina, não prevista ou abrupta, a organização tem a

possibilidade de convocar uma pessoa para exercer a liderança durante o período

de transição, e muitas vezes esta pessoa é nomeada para conduzir o processo

durante a fase de transição, ou seja, temporariamente; a escolha do líder interino

muitas vezes é pré-determinada, ou seja, dispõe-se de um nome para o período

de transição, ou seja, uma pessoa já conhecida com competências e habilidades

já testadas, para exercer a liderança da organização durante o período de

transição, até que alguém seja escolhido em definitivo para o cargo; tal chefe

interino pode ser uma pessoa proveniente dos quadros internos da organização,

ou pessoa externa à organização, até mesmo um nome originário de uma

consultoria externa.

Após a detecção da necessidade da Sucessão, ocorre o processo sucessório, que

deve ser antecedido por uma atividade de planejamento da sucessão.

4.3 Processo Sucessório

De acordo com o Nonprofit Executive Sucesso-Planning Toolkit do Federal

Reserve Bank (2010), o objetivo principal do processo sucessório é o preenchimento de

vagas surgidas no alto escalão das organizações, de modo temporário ou em definitivo,

satisfazendo a necessidade de substituição de pessoas consideradas como líderes

executivos.

Para Silva (2014), o processo sucessório é complexo, e em outras palavras,

consiste em compatibilizar expectativas de pessoas com desejos das organizações, e

Page 45: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

29

sendo assim a organização deve ser clara em comunicar quais são seus objetivos

sucessórios.

O processo sucessório é eminentemente prático e pode ser dividido em três

etapas: fase inicial – na qual é detectada a necessidade do processo sucessório e

são estabelecidas as premissas e regras que direcionam o processo;

fase intermediária - em que são executadas as regras estabelecidas para o

evento e são recrutados e selecionados os candidatos; e,

fase final – nesta fase é escolhido o candidato ideal e tomadas as medidas para

sua posse e apoio durante o período inicial de sua gestão corporativa.

Segundo o Guia de Orientação para Planejamento de Sucessão do IBGC (2011),

durante o processo sucessório o responsável pelo evento depara-se entre as várias

opções de candidatos elegíveis ao cargo. O responsável pelo processo sucessório, que

pode ser o presidente do conselho ou pessoa designada pelo mesmo para tal, se

defrontará com uma série de opções e na maioria das vezes terá dificuldades para

identificar qual é a mais capacitada. Daí emerge a necessidade do estabelecimento de

regras para o procedimento de registro de candidaturas e escolha do melhor candidato.

O Guia de Orientação para Planejamento de Sucessão, Avaliação e

Remuneração de Conselho de Administração e Diretor-Presidente do IBGC (2011)

estabelece uma série de considerações e recomendações para o processo sucessório e

seu planejamento, que são plenamente aplicáveis aos procedimentos análogos das

organizações do terceiro setor.

De acordo com Leone, Silva, Fernandes (1996), é necessário estabelecer regras

para o processo sucessório, e preparar as mudanças que garantirão a sustentabilidade da

organização.

De acordo com Santos e Souza (2014), é imprescindível que os estatutos sociais

das OTS contenham detalhes sobre o processo sucessório.

Segundo Santos e Souza (2014), os estatutos das organizações devem definir os

requisitos necessários para que seus membros se candidatem aos cargos dos altos

escalões, já que 47% das entidades, pesquisadas pelos autores, não definem quais

materiais devem ser utilizados para a divulgação de seus processos eleitorais, nem as

regras e os pré-requisitos do processo eleitoral. Ainda segundo os autores, quando as

organizações do terceiro setor não possuem processo sucessório inscrito em estatuto

Page 46: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

30

social, os principais dilemas no processo sucessório de empresas são: a resistência dos

donos ou fundadores em deixar o cargo de dirigente máximo da entidade e os dilemas

na escolha do sucessor.

Vale destacar, que o estatuto social das organizações do terceiro setor é um

documento oficial, registrado em órgãos de governo, no qual estão gravadas as

diretrizes institucionais, as primeiras direções dos fundadores quanto à missão, visão e

valores, e as formas de designação dos principais dirigentes, sendo que tais ações devem

ser implementadas pelo presidente e conselheiros da administração, bem como pelo

diretor executivo.

Godoi-Souza (2010) propõe que o processo sucessório nas organizações do

terceiro setor envolve diversas atividades busca de candidatos ao cargo em aberto com

características específicas, tais como estilo de liderança, capacidade de

contextualização, auto-motivação para o desenvolvimento intelectual, bom

relacionamento interpessoal,além de habilidades analíticas, política e estratégicas.

Algumas atividades devem preceder o processo sucessório, de modo que tais

planos, quando bem executados e devidamente controlados, possam a garantir sua

eficiência e eficácia, demonstradas em índices mensuráveis sobre o desempenho

organizacional.

De acordo com o Nonprofit Executive Sucession-Planning Toolkit do Federal

Reserve Bank (2010), e o The Handbook of Nonprofit Governance (2010) da

BoardSource Organization, são muitos os aspectos a cobrir em um planejamento de

sucessão executiva, como por exemplo: preparação do conselho para os procedimentos

sucessórios, regras para os procedimentos, perfil do cargo, estilo de liderança requerida

pelo cargo, características de personalidade desejadas, remuneração, recrutamento,

seleção, posse, treinamento, avaliação e programa de retenção de talentos. Ainda

segundo estas instituições, há vários procedimentos passiveis de se adotar, como

destaque para as seguintes etapas:

A preparação do conselho para os procedimentos sucessórios, o que segundo

Hallqvist (2000), consiste em: avaliar os motivos envolvidos na substituição do

executivo principal, estabelecer o perfil desejado do ocupante do cargo, definir os

critérios do processo, definir o sistema de remuneração e avaliação do cargo, iniciar o

recrutamento do candidato e o processo de seleção e escolha, nomeação, apresentação, e

finalmente a introdução do candidato aprovado;

Page 47: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

31

4.4 Perfil Profissional do Candidato à Sucessão

De acordo com Gil (2011), ao elaborar o perfil do cargo, o responsável pela

condução do processo sucessório deve se atentar as seguintes variáveis: a) grau de

educação formal exigido; b) quais são os conhecimentos específicos necessários ao

cargo; c) quais experiências profissionais são necessárias; d) quais os tipos de aptidões e

habilidades pessoais são requeridas; e) quais circunstâncias da vida pessoal dos

candidatos devem ser consideradas como relevantes no processo. O perfil do cargo

deverá contemplar e especificar os conhecimentos, habilidades e competências

esperadas para o cargo.

As competências esperadas dos candidatos devem ser especificadas e detalhadas

para cada posição que requer sucessão, cabendo à organização a escolha dos

profissionais e respectivas ferramentas para medição das competências exigidas.

O Handbook of Nonprofit Governance (2010) da OTS norte-americana

BoardSource aponta que de acordo com suas necessidades, as organizações decidem o

tipo de sucessor que desejam: se necessitam de um sucessor inovador ou conservador;

se precisam de um sucessor focado nas estratégias corporativas (internas) ou um

sucessor voltado para as estratégias competitivas no seu ramo de negócio (externas).

Não há receitas para um estilo de liderança certo. Em uma determinada etapa, um

determinado estilo de liderança aparenta ser mais efetivo que outro, e satisfazer os

desafios de gestão na análise dos empreendimentos sociais pesquisados. Aos líderes são

necessárias habilidades de negociação e coordenação política. O objetivo da liderança é

conciliar interesses, coordenar unidades operacionais e seus diferentes programas, e

consolidar parcerias estratégicas, visando obter uma maior visibilidade externa da

organização. Os estilos de líderes mais comuns são os carismáticos e os autocráticos:

Para o Handbook of Nonprofit Governance - Board Source (2010), um chefe

executivo deve apresentar as seguintes características de personalidade:

Visionário: ser habilidoso e articulista, ter capacidade para promover o

alcance da missão da organização;

Persuasivo ou Motivacional: ser capaz de motivar e dar suporte às

pessoas para que cumpram sua missão com a organização;

Page 48: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

32

Ético e Moral: ser ético, comprometido com o que é bom e honesto;

Focado em Resultados: ser capaz de focar em seus pontos fortes para

alcançar produtividade, e delegar coisas onde não seja tão forte, para que

outras pessoas que possam atender tais exigências;

Decidido: ser hábil em tomar decisões privativas em tempo hábil, isto

após obter as informações necessárias e envolver as pessoas-chave;

Organizado e Disciplinado: saber como manter seus compromissos

familiares, amigos, lazer e trabalho em ordem;

Estratégico: as organizações do terceiro setor precisam de líderes que

tenham habilidades de relacionamento, que sejam estratégicos,

inventivos e diplomáticos;

Energético: ter disposição para entrevistar pessoas, fazer leituras, fazer

viagens e cumprir agenda de compromissos;

Comprometido: é o principal item a ser investigado pelo conselho de

administração, comitê de seleção ou executivo encarregado pelo processo

sucessório. O candidato a chefe-executivo deve ser comprometido com a

missão, visão, valores, objetivos e metas organizacionais;

Confiável: A confiabilidade em executar as funções para a qual foi

contratado, é essencial ao desempenho no cargo do executivo escolhido;

Outras características pessoais necessárias: visando dar suporte ao

alcance da missão, estratégia e valores organizacionais,

dependendo do tipo de organização e das características do cargo

do executivo desejado, poderão ser avaliadas outros quesitos:

escolaridade, experiências profissionais anteriores, experiências no

cargo procurado, idade, saúde, estado civil, idiomas falados, origem

familiar, amizades, hobbies, visibilidade pública, frequência em

mídias e em redes sociais etc.

Segundo o Guia de Orientação para o Planejamento de Sucessão, Avaliação e

Remuneração do IBGC (2011), a remuneração executiva pode representar um custo

relevante, o que faz com que o foco às vezes seja a contenção de despesas, mas deve

haver equilíbrio entre a gestão dos custos e a importância de se ter a gestão da

Page 49: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

33

remuneração eficaz como uma ferramenta, que permita a competitividade e

sustentabilidade organizacional.

Conforme o Handbook of Nonprofit Governance (2010) da OTS BoardSource

Organization a organização deve remunerar o candidato por desempenho, habilidades,

competências, desenvolvimento, crescimento, compromisso visível e eficaz com a

organização. O sistema de compensação deve encorajar o recrutamento, retenção e

motivação dos funcionários que se destacam no alcance da missão e objetivos

organizacionais.

De acordo com o Guia de Orientação para o Planejamento de Sucessão,

Avaliação e Remuneração do IBGC (2011), a filosofia e práticas de remuneração de

uma organização devem ser discutidas pelos comitês de recursos humanos ou de

remuneração, e aprovadas pelo conselho de administração e assembleia geral ordinária

dos votantes da entidade.

Segundo o Handbook of Nonprofit Governance (2010) da OTS BoardSource

Organization a estrutura de compensação dos executivos deve misturar salário base e

desempenho com base em risco, pagando valores apropriados ao mercado das

organizações sem fins lucrativos, incluindo aposentadoria, benefícios e prêmios como

reconhecimento especial por merecido desempenho. Uma porção da remuneração

servirá para a realização dos objetivos organizacionais e individuais. O sistema de

compensação deverá incluir reajustes anuais com base em mudanças no mercado

(sujeito às limitações financeiras da organização). Os reajustes individuais serão

baseados no desempenho, no emprego e no domínio das competências requeridas pelo

emprego.

Conforme o Handbook of Nonprofit Governance (2010) da OTS BoardSource

Organization, a compensação deverá ter uma estrutura de práticas de remuneração

coerente com a missão da organização, não para o lucro e status de alguns, e reconhecer

que a compensação para cada posição deve basear-se no mercado, de acordo com a

remuneração das diferentes áreas de seus profissionais.

Diz o Guia de Orientação para o Planejamento de Sucessão, Avaliação e

Remuneração do IBGC (2011), que a remuneração deve ter adequação ao mercado,

devendo ser julgada em termos de remuneração total incluindo benefícios; o pagamento

deve ser o mais próximo possível da média do mercado externo, reconhecendo que a

equidade interna e restrições financeiras podem justificar alguns desvios no comparativo

Page 50: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

34

com os valores de mercado, porém, o pacote total deve ser competitivo, permitindo o

crescimento sustentável dos negócios e a atração e retenção de talentos.

De acordo com o Handbook of Nonprofit Governance (2010) da OTS

BoardSource Organization, a estrutura de remuneração deverá ser vinculada ao sistema

de avaliação de desempenho individual, baseada em índices ou benchmarks que

registrem o sucesso do efetivo crescimento individual e alcance de metas de realização

profissional. O sistema de compensação deve premiar o desempenho notável e fornecer

feedback adequado aos funcionários que precisam melhorar o seu desempenho.

Os Executivos e demais funcionários deverão receber amplo e regular

treinamento no sistema de compensação.

Segundo o Guia de Orientação para Planejamento de Sucessão do IBGC (2011)

e o Nonprofit Executive Sucession - Planning Toolkit (2010) do Federal Reserve Bank,

uma tendência global sobre planejamento de sucessão indica que os conselhos de

administração devem realizar uma espécie de teste e treino de potenciais novas

lideranças, dentro da própria organização, antes de entregar a um destes o comando.

Neste contexto, os executivos estariam expostos a desafios, com a oportunidade de

aprender com a própria experiência. Tal alternativa também pode ser aplicada a

executivos contratados no mercado. Os treinados somente seriam promovidos a líderes

da organização após o satisfatório desempenho nas operações da OTS. As promoções

laterais de potenciais líderes à chefia, em cargos intermediários, mostram-se eficazes na

preparação de novas lideranças; os mesmos serão testados na prática e revelarão a maior

parte de suas características quando postos à prova.

De acordo com o Handbook of Nonprofit Governance (2010) da OTS

BoardSource Organization , em geral, os processos de recrutamento iniciam-se pela

avaliação de candidatos internos e os candidatos internos devem ter perfeito

entendimento do processo e métodos utilizados para avaliar potenciais sucessores.

Porém, nem sempre os candidatos internos atingem os critérios definidos, partindo-se

assim para o recrutamento e seleção de candidatos externos, ou pode ocorrer um

processo misto, que no final escolherá entre finalistas internos e externos.

Segundo o Guia de Planejamento de Sucessão do IBGC (2011), ao buscar um

executivo de fora da organização o conselho de administração deve procurar pessoas

que sejam compatíveis com a cultura, crenças e valores da mesma, que não venham a

Page 51: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

35

impor práticas que gerem demasiados conflitos internos. Caso seja necessária a quebra

de paradigmas, o conselho de administração deverá auxiliar o recém-contratado na

realização e gestão das mudanças desejadas.

Segundo Kesner e Sebora (1994) tanto para candidatos internos como externos,

os fatores determinantes para seleção ou escolha do melhor candidato no processo de

sucessão são:

afinidade do candidato com a liderança ou conselho atual;

Adesão à causa e confiabilidade transmitida pelo candidato;

Adequação técnica ao perfil desejado para preenchimento da vaga; e ,

Desempenho na entrevista antes da posse do candidato escolhido.

Segundo o Handbook of Nonprofit Governance (2010) da OTS BoardSource

Organization, a posse do candidato escolhido pode ser comunicada à imprensa e à

organização mediante trabalho da assessoria de comunicações da organização.

Anteriormente, deve ser elaborado um comunicado e distribuição de material de

divulgação, citando a biografia do candidato, suas realizações, promessas e estilo de

governança.

Para o Handbook of Nonprofit Governance (2010) da OTS BoardSource

Organization, uma vez aberto o processo sucessório e feita a escolha entre os

candidatos, a organização precisa ser flexível para o período da troca de lideranças, que

deve contemplar a experimentação e apoio ao escolhido. Geralmente, para conduzir a

organização, testa-se uma pessoa que já atue na organização em diferentes papéis, ou

obtém-se uma pessoa externa, levando-se em consideração a maturidade e o

compromisso, e que se permita guiar durante a primeira fase de seu tempo de serviço, o

que contribui para o seu próprio desenvolvimento e para a legitimação de seu processo

de escolha.

Segundo o Código de Boas Práticas de Governança Corporativa do IBGC

(2009), os diretores presidentes devem realizar periodicamente sua auto-avaliação, que

envolve a sua avaliação de desempenho por profissionais do mercado, e avaliação pelos

membros do conselho, comitês e principal diretor-executivo. Todos os membros da

governança corporativa devem ser avaliados da mesma forma. O objetivo é fazer com

que a visão e missão institucionais sejam preservadas para que a organização alcance

objetivos, metas e satisfaça a todos os interessados.

Page 52: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

36

Conforme o Nonprofit Executive Sucession-Planning Toolkit (2010) do Federal

Reserve Bank, as organizações poderão sofrer consequências adversas devidas ao

processo sucessório mal conduzido. A troca de lideranças poderá trazer no curto prazo

as seguintes consequências:

- perda das pessoas preteridas no processo seletivo para o mercado competidor,

devido geralmente ao ressentimento;

- perda de desempenho financeiro da organização devido menor entrada de

doações;

- perda de credibilidade junto a seus stakeholders; e,

- demissões de pessoal administrativo interno, parte da equipe do profissional

afastado após a sucessão.

Page 53: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

37

5. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Segundo Marconi e Lakatos (2012), a coleta de dados é a fase da pesquisa que

permite a obtenção de dados em campo que possam ajuda a responder à questão de

pesquisa e tentar atender aos objetivos propostos.

A coleta de dados foi realizada por meio de análise de informação sobre o Lar

Vicentino e da Worldfund e dos respectivos estatutos sociais disponibilizados pelas

organizações nas páginas eletrônicas da Internet, além de entrevistas com os seus

principais executivos. As duas instituições analisadas se enquadram como Organizações

do Terceiro Setor - OTS, e estão localizadas na região da Grande São Paulo. As

instituições atuam no segmento de educação e assistência social e possuem importância

e representatividade no segmento de atuação.

As entrevistas foram realizadas com os agentes envolvidos no processo de

sucessão e governança corporativa, e envolveu consultas pessoais a um agente de cada

organização. Na Worldfund foi entrevistada Kelly Maurice, diretora geral da entidade

no Brasil, e no Lar Vicentino foi entrevistado o presidente do conselho de administração

Mauro Margarido.

5.1 Coleta de Dados da Worldfund

A OTS de origem norte-americana Worldfund foi fundada em 2002 por Luane

Zurlo, ex-corretora no mercado de capitais na cidade de Nova York, nos Estados Unidos

da América. Além da presença nos Estados Unidos, atualmente a Worldfund também

atua na Argentina, no Brasil e no México.

Nos Estados Unidos a Worldfund foi fundada em Nova York em 9 de dezembro

de 2002, como uma organização filantrópica registrada junto à Receita Federal dos

EUA. No México a Worldfund foi registrada como uma Associação Civil em 22 de

maio de 2008 e recebeu o status de dedutível dos impostos em 8 de dezembro de 2008.

As demonstrações financeiras da unidade mexicana são consolidadas de forma conjunta

com as demonstrações financeiras dos EUA, e adicionalmente são objeto de auditoria.

No Brasil, a Associação Worldfund criou seu programa de formação de

professores STEM Brasil em 2010. As demonstrações financeiras para o Brasil são

consolidadas com as demonstrações financeiras dos EUA, na qual também são objeto de

Page 54: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

38

auditoria nos EUA. No Brasil a missão da entidade é apoiar a educação de qualidade

para comunidades/crianças carentes. A empresa tem como comportamento regular

mostrar respeito pela integridade, orgulho, crenças e cultura das pessoas, respeitando

sua dignidade. A Worldfund estabelece a intenção de promover o bem das crianças, suas

famílias e comunidades.

Dentre as atividades da Worldfund aparecem com destaque: o aperfeiçoamento

de professores da área de ciências biológicas, matemática, física, química, engenharia e

inglês. Tal programa de aperfeiçoamento de docentes das ciências exatas é denominado

de STEM que são as iniciais em inglês de Ciências, Tecnologia, Engenharia e

Matemática. Além deste programa a instituição promove o aperfeiçoamento de

professores multiplicadores de Língua Inglesa.

A estrutura organizacional da Worldfund na esfera mundial é composta por um

conselho presidido pela fundadora, que é auxiliada por um vice-presidente. O vice-

presidente está sendo preparado para assumir a presidência da entidade no futuro. O

vice-presidente do conselho e a diretora executiva também colaboram nas atividades de

gestão da instituição. A instituição conta ainda com um conselho de administração

composto por conselheiros de diversas áreas de atuação.

O conselho fiscal é nomeado pela presidente do conselho de administração, o

qual é auditado por uma empresa independente especializada no ramo das OTS. A

Worldfund foi reconhecida pela entidade Charity Navigator como entidade-modelo na

prestação de contas sobre os recursos arrecadados.

No Brasil, a Worldfund é administrada pela diretora Kelly Maurice, cidadã

norte-americana formada em Ciências Humanas, que exerce o cargo de Presidente do

Conselho de Administração e Diretora Executiva há mais de cinco anos. No Brasil o

presidente é assessorado por funcionários alocados em cargos executivos na diretoria

administrativa, e por um conselho de administração composto por doze conselheiros.

Na Worldfund do Brasil os conselheiros são nomeados após convite do

presidente para a nomeação do cargo. O critério de seleção é possuir posição de

destaque em seus ramos de atividade, e que tenham aderência aos princípios de missão,

visão e valores. Os conselheiros devem colaborar com a construção de um mundo

melhor para crianças e adolescentes, a partir do aperfeiçoamento de professores da rede

pública. Os convites são feitos a pessoas que tenham interesse em ajudar, e capazes de

influenciar o meio social mediante trabalho voluntário, com possibilidade de fazer

Page 55: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

39

contribuições espontâneas. Na sede da Worldfund a frequência das reuniões do conselho

é semestral, com duração média de quatro horas, e com a pauta dirigida pela presidente

do Conselho.

A política de compensação na Worldfund do Brasil, prevê a remuneração dos

profissionais que atuam na presidência do conselho e demais cargos profissionais. Os

conselheiros atuam como voluntários, logo não possuem remuneração.

O estatuto social da Worldfund não faz menção às características pessoais do

candidato à sucessão, exigindo somente que o candidato possua aval da mantenedora.

No quesito tempo de posse ou permanência dos conselheiros, a presença dos mesmos é

considerada espontânea. A desistência depende de um pedido prévio por escrito com a

devida antecedência.

Não existe política de fiscalização das atividades dos conselheiros, nem tão

pouco preocupações com a demissão dos mesmos, sendo importante salientar que a

Worldfund é uma OTS pequena e jovem. Este perfil estabelece um número crescente de

conselheiros, e sem a saída de nenhum de seus membros até o momento.

A Worldfund possui um código de ética, que estabelece regras que coincidem

com os preceitos defendidos pela governança corporativa, a saber:

Transparência - Na Worldfund os administradores estão comprometidos com

uma política e prática de divulgação pública de todas as informações pertinentes

e relativas aos objetivos dos órgãos, programas, finanças e governos. Toda

propaganda transmitida, impressa e por mala direta, usa histórias de casos reais,

atuais e fotografias com declarações de propósito honesto. É regra recusar

métodos de captação de recursos intimidadores, ofensivos ou enganosos, não

sujeitos a um controle adequado, ou que criem um sentido indevido de obrigação

como o envio de mercadorias não solicitadas, solicitação por telefone ou

realização de eventos ou campanhas enganosas; é proibido vender ou trocar,

com qualquer outra agência ou empresa comercial, informações sobre

patrocinadores ou colaboradores. A Worldfund tanto realiza controles contábeis

e fiscais internos como auditorias externas. A organização não minimiza nem

exagera as necessidades humanas daqueles a quem ajuda; A Worldfund

disponibiliza informações contábeis sobre a entidade a todos que as solicitarem.

Page 56: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

40

Equidade – A Worldfund demonstra respeito pela integridade, orgulho, crenças

e cultura das pessoas que a servem, respeitando sua dignidade.

Prestação de Contas - Os relatórios contábeis são publicados de acordo com as

normas do Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados; as

demonstrações financeiras são auditadas de forma completa e independente.

Responsabilidade Corporativa - Os atos da administração são regidos por um

Conselho de Administração, servindo sem salário, operando sob um estatuto

social, garantindo-se a tutela adequada de voto, e cujos membros não têm

nenhum conflito financeiro ou de outro interesse com os objetivos da

organização; os conselheiros de administração agem conforme o exame crítico

de um Conselho Consultivo, composto por proeminentes especialistas de todo o

mundo, em várias áreas de atividade.

5.2 Entrevista na Worldfund

A entrevista foi realizada com a presidente da Worldfund Brasil, Kelly Ann

Maurice.

A Worldfund é uma entidade civil sem fins lucrativos focada em todos os

aspectos da educação de crianças e adolescentes, por meio de ações e programas

específicos. No Brasil situa-se em São Paulo, tem nove empregados em tempo integral e

tem como principal programa social o STEM, que é o aperfeiçoamento de professores

que lecionam no ensino de primeiro e segundo graus nas as áreas de Ciências,

Tecnologia e Matemática.

A OTS possui um sistema adequado de desenvolver o processo sucessório, que

se apoia no estatuto definido pela matriz nos Estados Unidos. O estatuto da filial

brasileira consiste na adequação às normas legais brasileiras sobre as associações (novo

Código Civil), bem como na tradução direta do estatuto social da OTS nos Estados

Unidos. Ressalta-se que a legislação brasileira se assemelha em muitos aspectos à

legislação americana, fato este que dispensou maiores necessidades de ajustes no

estatuto social.

Page 57: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

41

A sucessão é prevista no estatuto social da entidade Worldfund Brasil, e está sob

a jurisdição direta da mantenedora principal World Education & Development Fund,

Inc. nos Estados Unidos.

A sucessão é prevista no estatuto social da entidade Worldfund por

indicação direta da mantenedora principal. E se inicia ao final do

mandato ou a pedido da mantenedora. (Presidente da Worldfound)

Os princípios éticos de condução da administração recomendados pela

mantenedora da Worldfund Brasil são coincidentes com as recomendações de boas

práticas de Governança Corporativa no tocante à equidade, transparência, prestação de

contas e responsabilidade corporativa.

A forma de sucessão dos membros da Diretoria Executiva, Conselho Consultivo

e dos Associados está descrita no estatuto social, assim como a necessidade de

indicação de aceitação de uma candidatura à sucessão, recomendações de publicidade

de datas, e pauta de reuniões com certa antecedência;

Existe a preocupação dos membros da Governança Corporativa com as

necessidades de planejamento e procedimentos quanto a sucessão, que é iniciada no

final do mandato, demissões, em atendimento à solicitação de membros, ou

determinação da mantenedora.

O conselho de administração poderá opinar sobre o processo sucessório, mas a

aprovação depende de indicação e aprovação da mantenedora, ou seja, a

responsabilidade da condução do processo sucessório pertence em última análise da

mantenedora (Fundadora e Presidente da Worldfund, nos Estados Unidos).

A base legal da Sucessão é o Estatuto Social da Organização. O benefício direto

percebido pela organização com a sucessão é a renovação administrativa, aproveitando-

se o evento para a atualização da administração e dos seus conselhos consultivo e fiscal.

A previsão da Sucessão no Estatuto Social beneficia a organização por diminuir

os conflitos decorrentes. O estatuto social da organização contém princípios que

coincidem com as recomendações de Boas Práticas da Governança Corporativa, tais

como transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.

Não há uma preocupação específica com a Governança Corporativa,

apesar de procurar-se praticar todos estes princípios (Presidente da

Worldfound).

Page 58: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

42

A divulgação do processo sucessório é feita através de divulgação interna por

carta, e-mail ou edital, com a antecedência prevista no estatuto social, que é de no

mínimo três dias.

A característica desejável do candidato ao processo sucessório é a indicação por

parte da presidenta do conselho (mantenedora), porém sabe-se que são consideradas

características como honestidade, comprometimento com a entidade, tempo disponível,

capacidade de contribuição, projeção pessoal e relacionamentos sociais.

As características desejáveis dos candidatos ao processo sucessório

são a indicação por parte da presidenta do conselho (mantenedora),

honestidade, comprometimento com a entidade, tempo disponível para

dedicar-se à entidade, capacidade de contribuição, projeção e

relacionamentos sociais, ser membro do conselho de administração

(Presidente da Worldfound).

Os candidatos à sucessão podem ser pessoas internas ou externas à Organização,

a critério da mantenedora ou do presidente da diretoria executiva. A OTS apoia o novo

dirigente, de forma natural. A posse do novo dirigente é feita em reunião do conselho

com a participação da mantenedora ou seu representante legal. E o seu desempenho é

analisado pela mantenedora e pelo presidente da diretoria executiva.

Os mecanismos para prevenção de fraudes, desvios e corrupção são a existência

de um conselho fiscal interno, uma auditoria externa, e atuação mútua dos diretores e

conselheiros, na prevenção de toda e qualquer irregularidade, na qual todos fiscalizam

todos.

Existe um comitê fiscal interno, uma auditoria externa, e todos os

conselheiros e diretores também fazem a fiscalização mútua.

(Presidente da Worldfound).

Na Worldfund o presidente do conselho de administração e diretores executivos,

bem como colaboradores especializados são remunerados. Os membros do conselho

consultivo e conselho fiscal não são remunerados.

O êxito da escolha do novo líder da OTS é determinado pelo alcance dos

objetivos e metas sociais atendidas, pelo desempenho individual e pela manutenção da

condição de liquidez financeira. A organização mensura o apoio da OTS ao candidato

escolhido pela aceitação e consenso do grupo e aprovação da mantenedora à ação do

indivíduo avaliado.

Page 59: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

43

5.3 Coleta de Dados no Lar Vicentino

Em 1966 é criada a OTS Lar Vicentino por um grupo de católicos vicentinos que

trabalhavam nas indústrias Matarazzo. Este grupo de pessoas passou a se reunir para

discutir as dificuldades dos mais necessitados do bairro de Ermelino Matarazzo. Em 25

de setembro de 1972, o grupo constituiu uma entidade sem fins lucrativos chamada

“Centro de Promoção Humana Lar Vicentino”, que tinha como metas principais o apoio

à criança, o oferecimento de espaço de atuação aos jovens para suas manifestações

artísticas-culturais, o amparo aos idosos abandonados e a promoção da comunidade

carente. Os fundadores do Lar Vicentino planejaram a sustentabilidade financeira da

entidade a partir de recursos financeiros provenientes de quermesses, gincanas, bazar

beneficente mantido por voluntários, e doações diversas (de roupas, móveis, remédios e

alimentos). Adicionalmente a instituição conta com contribuições mensais dos sócios-

colaboradores. Estes recursos possibilitaram à entidade saldar compromissos com os

salários dos funcionários, despesas com farmácia, água, luz e telefone e a compra de

materiais de construção.

O grupo de fundadores, comprometido com as metas estabelecidas, após

obterem um terreno, iniciou a construção física do Lar Vicentino mediante trabalho

voluntário da equipe aos finais de semana, construindo assim quartos, refeitório,

cozinha, banheiros e salão social, o que possibilitou que a entidade iniciasse os serviços

comunitários em 1974. Vale destacar que durante este período a administração da

entidade possuia uma diretoria formada por voluntários.

O crescimento da ação social da entidade Lar Vicentino foi possível mediante o

crescimento expressivo do número de contribuintes e voluntários preocupados em

ampliar o atendimento, para atender uma crescente demanda.

Atualmente a administração do Lar Vicentino é pautada por um estatuto social

que rege a atuação de um presidente de conselho de administração, conselheiros,

diretoria executiva e serviço de profissionais especializados, além do trabalho

voluntário de diversos associados. O estatuto social do Lar Vicentino prevê a forma de

eleição do Presidente do Conselho de Administração e Conselheiros.

Os beneficiários (40 idosos carentes que ficam internados na instituição) do Lar

Vicentino são assistidos com os seguintes serviços:

Fisioterapia e Fonoaudiologia;

Page 60: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

44

Empréstimos de Materiais;

Palestras;

Cuidados Médicos;

Consultas com especialistas e transporte em veículos da entidade nas datas,

horários e locais indicados;

Cuidados psicológicos;

Integração social.

As despesas de manutenção do Lar Vicentino são apresentadas de forma

transparente, reúnem informações referentes a aquisição de alimento, remédio, produtos

de higiene e limpeza, roupas de cama, mesa e banho, fraldas geriátricas (cerca de 1200

unidades por semana), energia elétrica, água, luz, telefone, salários e encargos sociais. A

demanda exige recursos financeiros mensais em torno de R$ 85mil, que resulta em uma

despesa média de R$ 2.000,00 por idoso do Lar Vicentino. Para o atendimento destas

despesas atualmente o Lar Vicentino tem como fontes de arrecadação as seguintes

ações:

Bazar Beneficente;

Colaborações mensais de associados;

Salão de Festas;

Festa das Nações;

A prestação de contas é realizada pela divulgação dos relatórios contábeis e

demonstrações financeiras, fiscalizadas pelo conselho fiscal e auditoria externa.

O estatuto social do Centro de Promoção Humana Lar Vicentino mostra os

seguintes pontos relacionados ao processo sucessório do gestor principal:

- o artigo 1º - Informa que a entidade terá duração indeterminada e que o

mandato da diretoria terá duração de três anos, podendo os diretores serem reeleitos

uma única vez para os mesmos cargos exercidos no primeiro mandato. J

Page 61: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

45

- o artigo 3º - Informa que haverá um regulamento interno que fará parte do

estatuto social o qual só pode ser reformado se forem obedecidas determinadas

prescrições previstas no artigo 23º.

- o artigo 5º - do estatuto cria quatro categorias de associados (fundadores,

beneméritos, honorários e associados), sendo que o direito de participar da primeira

diretoria foi privativo dos membros fundadores, com o passar do tempo e o afastamento

dos fundadores este artigo foi revisado possibilitando que outras categorias de

associados assumissem este posto.

- o artigo 10º - Informa que, para propor candidatura aos cargos na instituição, os

associados precisam possuir no mínimo um ano de atuação na entidade.

- o artigo 13º - Informa que, em caso de morte, impedimento ou renúncia do

presidente, o vice-presidente irá assumir a presidência interinamente e conduzirá nova

eleição e posse da nova diretoria em 60 dias.

- o artigo 14º, parágrafo primeiro, informa que ao do término do mandato de

uma diretoria haverá reunião em assembleia geral destinada a analisar a destituição de

diretores ou a alteração do estatuto social. Esta reunião deve contar com pelo menos 2/3

dos membros votantes em assembleia; o parágrafo segundo, informa que a divulgação

do edital de convocação de reuniões será em quadro de avisos com 08 (oito dias) de

antecedência, com indicação clara da matéria a ser discutida, e que haverá ata

circunstanciada em livro próprio referente aos temas tratados na reunião, e que as folhas

das atas serão rubricadas pelos diretores. Quanto às características pessoais dos

candidatos à sucessão, o estatuto social da Lar Vicentino não faz menção a tal quesito,

exigindo somente que o candidato possua experiência prévia na instituição de um ano.

- o artigo 23º - Informa que para eleição de uma nova diretoria há necessidade de

ocorrer uma assembleia geral específica com pelo menos 2/3 dos membros associados

em pleno gozo de direitos.

- o artigo 29º - Informa que compete à assembleia geral eleger ou destituir

administradores, realizar a aprovação de contas e a alteração de estatuto social. Estas

Page 62: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

46

ações devem ocorrer de acordo com preceitos do artigo 59 do novo código civil

brasileiro.

5.4 Entrevista no Lar Vicentino

A entrevista foi realizada com o presidente do Centro de Promoção Humana Lar

Vicentino, Mauro Margarido.

A entidade é classificada como entidade beneficente e cultural, e declarada como

de utilidade pública, fundada em 27 de setembro de 1974, e dedica-se à prestação de

serviço social à população idosa carente.

A diretoria da entidade é eleita pela assembleia de associados com direitos ao

voto, com mandato de três anos e direito à uma reeleição para os mesmos cargos. A

diretoria da entidade é composta por uma diretoria executiva (composta de presidente,

vice-presidente, 1º. Secretário, 2º. Secretário, 1º. e 2º. Tesoureiros). O conselho fiscal é

composto por três membros.

A entidade abriga 40 idoso, e emprega 43 funcionários com registro CLT, sendo

que o custo de cada idoso é aproximadamente R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais.

A instituição possui preocupação com a sucessão, que está prevista no seu

estatuto social. Os benefícios do processo sucessório são a renovação e a atualização

administrativas. Os candidatos à sucessão, por força do estatuto, são pessoas internas à

organização.

Nós aproveitamos o processo sucessório para fazer um realinhamento

das pessoas chave com sua estratégia definida e para avaliar possíveis

candidatos para futuras sucessões (Presidente Lar Vicentino).

O processo sucessório depende de aprovação da Assembleia Geral de

Associados com o número de associados determinado pelo novo código brasileiro. As

regras de sucessão da diretoria executiva e conselho fiscal estão contidas no estatuto

social, que prevê que qualquer associado pode ser candidato voluntário à sucessão,

porém deve estar em gozo de direitos associativos e perfazer carência de pelo menos um

ano em serviços prestados à instituição.

O estatuto social prevê que a divulgação da pauta de assuntos a serem discutidos

em reuniões da assembleia geral deve ter antecedência de oito dias antes da data da

Page 63: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

47

reunião, e que a publicação da pauta e demais informações deverá constar no quadro de

avisos da entidade.

Exige-se dos candidatos à sucessão, além das regras acima, possuir reputação,

honestidade e credibilidade junto ao conselho de diretores, porém estas exigências de

qualificações não constam do estatuto social.

O candidato a sucessor do gestor deve ser uma pessoa conhecida da

instituição, por meio de relacionamentos anteriores com as lideranças

da organização, que tenham boas credenciais por desempenho em seu

ramo de negócios ou em outros cargos na instituição, avaliando-se

ainda suas características pessoais, como honestidade,

comprometimento com a causa da organização, estilo de vida pessoal,

tempo disponível para dedicar-se à instituição etc. (Presidente Lar

Vicentino).

Em casos especiais como morte, destituição ou renúncia do diretor presidente,

existe a possibilidade de atuação de um presidente de conselho interino. O tempo de

mandato da diretoria executiva é determinado pela previsão do estatuto social. A data e

as condições do início de processo sucessório são previstas em estatuto social. A posse

ou destituição de diretores depende de aprovação de membros da assembleia geral de

associados com direito ao voto. As reuniões da assembleia de associados poderão ser

ordinárias ou extraordinárias se convocadas pelo presidente ou 05 (cinco) membros do

conselho de diretores.

A prestação de contas da entidade é feita por relatórios e demonstrações

contábeis, controladas pelo conselho fiscal de três membros e auditoria externa.

No momento de elaboração do estatuto da empresa não havia a formulação

governança corporativa. Apesar deste fato, na análise do presidente do Lar Vicentino o

estatuto se aproxima muito dos critérios da governança corporativa, em grande parte

pela necessidade de atender a legislação envolvida no estabelecimento de uma OTS.

Não houve uma preocupação específica com a Governança

Corporativa, apesar de procurar-se praticar todos estes princípios.

(Presidente Lar Vicentino).

5.5 Síntese dos Dados Coletados nas Entrevistas

Page 64: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

48

Na tabela 2 apresentamos uma síntese dos dados coletados nas OTS: Worldfund

e no Lar Vicentino.

Tabela 2 - Comparativo de respostas da Worldfund e Lar Vicentino

ITE

M

Tema

WORLDFUND

LAR VICENTINO

01 Preocupação dos dirigentes

das organizações do

terceiro setor com a

sucessão própria e dos seus

pares

A sucessão é prevista no

estatuto social da entidade

Worldfund por indicação direta

da mantenedora principal.

A sucessão é prevista no

estatuto social da entidade Lar

Vicentino.

02 Circunstâncias que

deflagram processo

sucessório de forma mais

frequente

Final de mandato ou pedido da

mantenedora

Final de mandato previsto no

estatuto social.

03 Motivos de início do

processo sucessório na

OTS

a) proximidade do final de

mandato; b) indicação; c)

aprovação pelo conselho para

processo sucessório

a) proximidade do final de

mandato; b) período de

candidaturas de chapas; c)

eleição

04 Quem conduz o processo

sucessório na OTS

O presidente do conselho de

administração ou o diretor geral.

O presidente em exercício e o

conselho de administração.

05 Condutor do processo de

sucessão é pessoa interna

ou externa à OTS.

Pessoa interna

Pessoa interna

06 Base legal ou filosófica de

condução do processo

sucessório

Nas regras do estatuto social. Nas regras do estatuto social.

07 Principais benefícios do

processo sucessório

percebidos pela

organização

Manutenção ou Renovação

administrativa, ao juízo da

mantenedora, em decisão

ratificada por assembleia.

Manutenção ou Renovação

administrativa baseada no

consenso do conselho de

administração, ratificada por

decisão de assembleia.

08

.

Benefícios adicionais do

processo sucessório

percebidos pela

organização

Possibilidade de manutenção ou

atualização do conselho e da

administração.

Possibilidade de manutenção ou

atualização da administração e

do conselho.

09 Benefícios da previsão

estatutária da sucessão

percebidos pela

organização

Diminuição dos conflitos.

Diminuição dos conflitos.

10 Presença dos princípios de

Governança Corporativa

no Estatuto Social

Não há preocupação específica

com a Governança Corporativa,

apesar de praticar-se os

princípios.

Não há preocupação específica

com a Governança Corporativa,

apesar de praticar-se todos estes

princípios.

11 Conhecimento prévio da

necessidade de abertura de

processo sucessório

O assunto é tratado em reuniões

do conselho de administração

com a principal mantenedora.

O assunto é tratado como

relevante nas reuniões entre o

presidente do conselho, os

conselheiros da entidade, e a

Page 65: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

49

cúpula da organização faz a

divulgação.

12 Características desejáveis

dos candidatos ao processo

sucessório nas

organizações do terceiro

setor

O estatuto social não menciona

quais são as características

pessoais desejáveis para que um

candidato se torne elegível; o

estatuto informa da necessidade

de indicação por parte da

presidente da mantenedora, sem

mencionar os critérios adotados

na indicação. No entanto a

entrevistada (diretora executiva)

menciona ser necessário a

confiabilidade, o

comprometimento, a

competência pessoal, além de

outras características como

tempo disponível para dedicar-

se à entidade, capacidade de

contribuição, projeção e

relacionamentos sociais e

experiência como membro de

conselho de administração.

Não há menção no estatuto

social das características

pessoais desejáveis, só a

exigência de um ano de atuação

na entidade. Porém na avaliação

do entrevistado (presidente do

conselho de administração) o

candidato a sucessor deve ser

uma pessoa confiável

(conhecida, com

relacionamentos anteriores com

as lideranças da organização,

que tenha a aprovação dos

atuais conselheiros),

competência comprovada por

possuir boas credenciais de

desempenho anterior em seus

ramo de negócios,

comprometimento com a

instituição – já que é exigida

dedicação mínima de um ano

aos negócios da instituição,

avaliando-se ainda

características pessoais como

honestidade, comprometimento

com a causa da organização,

estilo de vida pessoal, tempo

disponível para dedicar-se à

instituição etc.

13 Origem dos candidatos à

sucessão

Internos ou externos à

organização, ao critério da

mantenedora.

Pessoas Internas, com exigência

de um ano de experiência em

serviços à organização.

14 Existência de

oportunidades iguais a

todos os interessados em

concorrer à sucessão

É preciso aval da mantenedora.

Sim, dentro das regras

estabelecidas no estatuto social

e um ano de atuação prévia.

15 Forma de publicidade ao

processo sucessório

Edital, e-mail ou carta,

informando discussão de pauta

por parte do conselho de

administração, ou por

comunicação da mantenedora.

Divulgação em mural interno da

entidade, por iniciativa do

conselho e do presidente do

conselho.

16 Forma de divulgação das

regras que regem o

processo sucessório

Através da consulta ao estatuto

social e comunicações sobre o

assunto por parte da

mantenedora e do conselho de

administração

Através.de consulta ao estatuto

social, regimento interno e das

comunicações do conselho de

administração e do presidente

do conselho.

17 Formatação da escolha do

candidato à sucessão.

Pela mantenedora e pelo que é

definido no estatuto social.

Pelas regras definidas no

estatuto social, ou seja, voto dos

associados na assembleia geral

ordinária.

18 Palavra final sobre a

escolha do sucessor

Da mantenedora e aprovação

em assembleia que é convidada

Da maioria dos votos dados ao

candidato vencedor como

Page 66: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

50

pela mantenedora. resultado do processo de

votação em assembleia

específica.

19 Forma de apoiar o novo

dirigente

Naturalmente, nas atividades de

ofício, corriqueiras após a

posse.

Naturalmente, nas atividades de

ofício, corriqueiras após a

posse.

20 Cerimônia de posse do

novo dirigente escolhido

Reunião de posse, participação

do conselho de administração

Reunião de posse, participação

do conselho de administração.

21 Responsável pela

avaliação do desempenho

de novo líder escolhido

A mantenedora e o conselho. O presidente do conselho e os

conselheiros.

22 Mecanismos para

prevenção de fraudes,

desvios e corrupção

durante a nova gestão

Comitê fiscal interno, uma

auditoria externa, e todos os

conselheiros e diretores também

fazem a fiscalização mútua.

Comitê fiscal e todos os

conselheiros também fazem a

fiscalização.

23 Processo de remuneração

do gestor.

O presidente do conselho de

administração e diretores gerais

são remunerados

O presidente é remunerado; os

conselheiros não são

remunerados.

24 Forma de mensurar o

sucesso da escolha do

novo líder da OTS

Pelo atingimento dos objetivos e

metas sociais, por desempenho

individual e condições de

pagamento das despesas

(liquidez financeira).

Pela aceitação do grupo,

atingimento de metas e

capacidade de pagar as despesas

da organização.

25 Forma de mensurar o

apoio da OTS ao candidato

escolhido

Pela aceitação, consenso do

grupo e aprovação da

mantenedora.

Pela aceitação do grupo.

26 Período de mandato Período de dois anos, com

possibilidade de múltiplas

reeleições

Período de três anos, com

apenas uma reeleição

27 Carência para candidatura

a cargo eletivo

Não citada no estatuto Um ano de prestação de

serviços

28 Tipos de conselhos

previstos no estatuto social

Conselho fiscal e conselho

consultivo

Conselho fiscal e conselho de

diretores executivos

29 Antecedência com que

ocorre o processo

sucessório

Oito dias Três dias

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados coletados

5.6 Discussão

Oliveira (2015), diz que os estatutos sociais da OTS, em obediência ao Código

Civil Brasileiro de 2002, devem mencionar em seus estatutos sociais as regras sobre a

constituição, funcionamento e obrigações das OTSs.

A pesquisa verificou que os estatutos sociais das entidades Worldfund e Lar

Vicentino foram modificados para atender ao que é disposto no Código Civil sobre

Page 67: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

51

constituição, funcionamento e obrigações. As mudanças implementadas no estatuto da

Worldfund foram realizadas com a finalidade de ajustá-lo a legislação brasileira, pois

originalmente estava de acordo com a legislação americana. As mudanças no estatuto

Lar Vicentino se destinam a atualização do mesmo, frente às mudanças que ocorreram

na legislação brasileira, se caracterizando assim como necessárias para adequação aos

preceitos legais brasileiros.

Segundo o Guia de Orientação para Planejamento de Sucessão do IBGC (2011),

toda organização deve possuir um planejamento de sucessão alinhado com a estratégia

organizacional. Segundo o Guia IBGC (2011), o processo sucessório deve ser

transparente, e estabelecer condutas que possibilitem a comunicação clara e inequívoca

das regras e protocolos da sucessão.

Neste sentido, o estatuto social da Worldfund aponta em seu artigo 9º que é de

competência da assembleia geral a eleição e a destituição dos administradores. No

entanto, no artigo 6º identifica-se que é de competência do sócio fundador indicar os

integrantes da diretoria executiva, e que os processos de sucessões devem ser tramitados

em assembleia geral deliberativa, com convocação e comunicação antecipada.

No caso da OTS Lar Vicentino, de acordo com o artigo 10º do seu estatuto, para

se candidatar a cargos diretivos na instituição é necessário que o proponente possua

tempo mínimo de um ano de atuação na entidade. E, conforme informa o artigo 23º, a

eleição de membros para cargos administrativos deve ocorrer em assembleia geral

específica com presença de pelo menos 2/3 dos membros associados com direito a voto,

e adicionalmente o artigo 29º do estatuto social estabelece a competência da assembleia

geral específica para eventos de eleição ou destituição de administradores.

O primeiro estatuto social da organização Lar Vicentino estabelecia que somente

os associados fundadores teriam direito a concorrer às eleições dos cargos

administrativos no primeiro mandato da entidade. Condição esta que veio a mudar

posteriormente em decorrência de reformas no referido estatuto social. Este contexto

possibilitou identificar tanto na consulta aos estatutos sociais, quanto na fala dos

presidentes da Worldfund e do Lar Vicentino, requisitos específicos para o processo

sucessório. Esta situação colabora com a abordagem de Santos e Souza (2014), de que

as organizações devem possuir em seus estatutos os requisitos necessários para que seus

membros se candidatem aos cargos de alto escalão.

Page 68: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

52

Oliveira (2015) aponta a necessidade de que os estatutos sociais sejam

registrados, sob pena de nulidade. Evidenciou-se durante as entrevistas realizadas, que

os presidentes da Worldfund e Lar Vicentino apresentaram estatutos sociais registrados

em cartório, o que confirma como prática as recomendações do autor.

De acordo com Leone, Silva, Fernandes (1996), Código Civil brasileiro (2002),

Santos e Souza (2014) e os manuais sobre processo sucessório do BoardSource (2010) e

do Federal Reserve Bank (2010) é necessário estabelecer regras para o processo

sucessório. A análise documental, e o conteúdo das entrevistas, explicitam que os

estatutos sociais das entidades Worldfund e Lar Vicentino apresentam cláusulas sobre o

processo sucessório que corroboram com as indicações mencionadas por Leone, Silva,

Fernandes (1996), Código Civil brasileiro (2002), os manuais sobre processo sucessório

do Board-Source (2010) e do Federal Reserve Bank (2010) e Santos e Souza (2014).

Para Leone, Silva e Fernandes (1996,) é comum que os dirigentes ou fundadores,

em geral, não planejem a transferência do poder, condição esta prejudicial a

continuidade de empresas, e à equidade e transparência do processo sucessório. Porém,

na pesquisa realizada, os estatutos sociais evidenciaram a preocupação das entidades

com o processo sucessório, e na entrevista da presidente da Worldfund, ela esclareceu

que a sucessão é tema de responsabilidade da mantenedora e do conselho de

administração, e que o sucessor deve ser pessoa profissionalizada, pois o cargo é

remunerado. Na organização Lar Vicentino o grupo de fundadores também estabeleceu

o processo sucessório, que na origem da OTS assegurava aos fundadores a

exclusividade de assumir o cargo de gestor.

Hallqvist (2000), Board-Source (2010) e Gil (2011) apresentam as

características desejáveis para que determinado candidato seja escolhido para a

sucessão. As características são: educação formal, conhecimentos e habilidades

específicas, circunstâncias sobre a vida pessoal, conjunto de competências e estilo de

liderança. Os dados identificados na investigação, e abaixo relatados, expressam a

existência de requisitos mínimos necessários para o aspirante ao cargo de gestor. No

entanto, em sua grande maioria não se apresentam de forma explícita. Nas entrevistas

realizadas, os presidentes das organizações Worldfund e Lar Vicentino afirmam

considerar como características essenciais o comprometimento com a missão da

entidade, a confiabilidade em fazer o trabalho, as mudanças necessárias, competências

que envolvam a honestidade e disponibilidade para exercer o cargo, a afinidade nas

Page 69: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

53

relações com a mantenedora e o conselho atual. É importante destacar que estas

características não estão descritas nos estatutos sociais, sendo, portanto, codificadas e

veladas.

Na Worldfund existe a figura da Associada Mantenedora que vincula no estatuto

social a cláusula que lhe dá o poder de escolha dos sucessores da organização, enquanto

que na organização Lar Vicentino não há a figura de associado mantenedor. Na

organização Lar Vicentino o poder de escolha do sucessor é dado pelo voto direto dos

participantes na Assembleia Geral Ordinária convocada com o fim específico de decidir

sobre a sucessão.

Observou-se tanto na Worldfund quanto na Lar Vicentino tratamento especifico,

mesmo que superficial, para o processo sucessório nos estatutos sociais. Os presidentes

destas instituições mostram conhecimento destes estatutos, bem como o entendimento

da adequação dos estatutos frente ao processo sucessório de acordo com as realidades

das entidades.

No Handbook of Nonprofit Governance (2010 da BoardSouce Organization as

organizações do terceiro setor devem ter um planejamento do sistema de remuneração,

condição esta que foi observada nas organizações pesquisadas. A Worldfund e a Lar

Vicentino possuem a política de remunerar o trabalho do presidente do conselho de

administração e do principal diretor executivo. As OTSs também remuneram os

profissionais que executam atividades especializadas, tais como: serviços médicos,

advocatícios entre outros. Nas duas organizações identificou-se o trabalho voluntário

desempenhado por pessoas comuns e que não está sujeito a remuneração. Desta forma

observa-se aderência entre as práticas das OTSs e a proposição do Handbook of

Nonprofit Governance (2010) da BoardSouce Organization .

Para Lacruz (2014), a estrutura das OTS divide-se em cargos relacionados à

gestão, linha intermediária de atividades e núcleo operacional. Os diferentes níveis

exercem atividades características e possuem responsabilidades e autonomia definidas,

o que possibilita o desempenho orientado de suas atividades. Nas organizações

pesquisadas observou-se que as estruturas se dividem em: sócio mantenedor ou

assembleia de associados; conselho administrativo com respectiva presidência; conselho

fiscal com respectiva presidência; e diretoria geral, também conhecida como diretoria

executiva, compondo o núcleo responsável pela gestão.

Page 70: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

54

Identifica-se nas organizações, ainda, um grupo de funcionários que executam as

atividades responsáveis pelo dia-a-dia das OTSs, e os que atuam de forma voluntária. A

configuração das estruturas operacionais das duas organizações são parecidas à

proposição apresentada por Lacruz (2014). Este contexto se mostra aderente ainda aos

Guias de Boas Práticas do IBGC (2009) e GIFE (2014) que indicam a adequação da

distinção das atividades executadas por equipes de governança e gestão, e ainda pela

profissionalização dos que trabalham em tais organizações. Nas organizações estudadas,

os diretores da Worldfund e da Lar Vicentino afirmam que os membros da governança

corporativa se dedicam a temas estratégicos e mais importantes, enquanto que os

membros da equipe de gestão executam os planos elaborados pela governança, e tratam

das questões corriqueiras do dia-a-dia. Verifica-se que a estrutura de funcionamento das

OTSs pesquisadas se apresenta consonante com as boas práticas de Governança

Corporativa.

6. CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos na pesquisa pode-se concluir que existem

protocolos específicos para o processo sucessório nos estatutos sociais das duas

Organizações do Terceiro Setor objeto do Estudo de Caso: Worldfund e Lar Vincentino.

Os atuais executivos das OTSs investigadas fazem a observação das regras

previstas nos estatutos sociais respectivos. Os princípios de administração

recomendados pela governança corporativa - transparência, equidade, prestação de

contas e responsabilidade corporativa - são praticados em decorrência de exigências do

Código Civil vigente no Brasil.

Observou-se a atenção para com as medidas de transparência e equidade do

processo sucessório, as quais estão previstas nos estatutos sociais destas organizações.

No entanto, a transparência e a equidade do processo sucessório são prejudicadas nos

seguintes itens:

- tempo de antecedência para divulgação do processo;

- critérios para aceitação de candidaturas, notadamente quando a situação para

inscrição exige como pré-requisito que um candidato seja indicado pela

mantenedora, ou que já venha trabalhando na entidade há pelo menos um ano; e,

Page 71: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

55

- possibilidade de reeleição continuada, já que podem ser reeleitos candidatos

desde que atendam o que dispõe o estatuto social.

Na Worldfund a possibilidade de reeleição é contínua, pois não há elementos de

restrição. Na organização Lar Vicentino a possibilidade de reeleição é continuada desde

que em cargos diferentes daqueles da eleição anterior. Então, percebe-se a possibilidade

de adequação do processo sucessório e a utilização das boas práticas da Governança

Corporativa. Esta condição possibilitou uma reflexão sobre o segundo e o terceiro

objetivos específicos.

Nas duas OTS estudadas, a estrutura da governança divide o processo decisório

que é executado pelo presidente do conselho, pelos conselheiros e principais doadores,

pela diretoria executiva e seus comitês auxiliares: conselho fiscal, e diretoria de relações

e comunicações. A diretoria executiva é responsável pela implementação da estratégia

aprovada pelo conselho e pela gestão compartilhada com os demais diretores, corpo de

voluntários e corpo de auxiliares técnicos. Vale destacar ainda que as OTS contam com

processos de auditoria externa, com a finalidade de assegurar a adequação de suas

contas aos stakeholders.

O guia de planejamento de sucessão do IBGC (2011) e o manual de sucessão do

Federal Reserve Bank (2010) recomendam que os candidatos à sucessão devem ser

treinados em cargos laterais. O estatuto social da entidade Lar Vicentino expressa que

os candidatos à sucessão da entidade devam ter pelo menos um ano de experiência em

trabalhos anteriores na organização, com o intuito de assegurar que os candidatos à

sucessão possuam condições de assumir os cargos por eles pleiteados.

A dinâmica dos trabalhos da Governança Corporativa é executada pelo

presidente, conselheiros de administração, pelo comitê fiscal, pelos principais doadores,

pela diretoria executiva e diretores de operações, direcionados a favor da captação e

aplicação de recursos em benefício da clientela-alvo da instituição. Realizando-se assim,

preceitos importantes como: a missão declarada das organizações, proporcionando

continuidade a visão dos líderes, fixando objetivos e metas, comunicando resultados,

zelando pela conformidade e transparência. Estes condicionantes proporcionam o

atendimento dos objetivos da governança corporativa aplicada às OTS.

O confronto dos dados das OTS frente ao referencial teórico estabelecido indica

que: há preocupação dos executivos principais com o processo de sucessão, os estatutos

Page 72: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

56

sociais possuem cláusulas específicas sobre sucessão e abordam as variáveis levadas em

consideração para escolha do melhor candidato. As variáveis que se evidenciaram no

processo sucessório são: experiência anterior ou relacionamentos anteriores com a

entidade, confiabilidade e competências pessoais como honestidade e grau de instrução.

As organizações entrevistadas possuem estatuto social que prevê a sucessão, e

tal fato norteou os processos sucessórios que já ocorreram, e segundo os entrevistados

os resultados observados foram positivos.

Em OTS a sucessão é interpretada como tema central de governança. A

capacitação do sucessor é quesito importante para as OTS, que entendem que a gestão

deve ser exercida por pessoas profissionalizadas.

Nas OTS, a antecedência do processo não é padronizada, e tende a ocorrer de

forma contingencial, isto é, quando interpretada como necessária, ainda segundo

determinação de previsão estatutária.

Uma contribuição do estudo é a constatação de que nas organizações estudadas a

escolha do melhor candidato foi feita baseada na avaliação feita pelos mantenedores ou

pelo presidente do conselho e membros do conselho, o que corrobora com a teoria.

Alguns dos requisitos mencionados como necessários ao candidato escolhido

foram: ser pessoas conhecida e com sucesso anterior em seus ramos de atuação, algum

tipo de relacionamento anterior com as lideranças da organização, carisma, honestidade,

ética, maturidade, competências e habilidades, comprometimento com a causa da

entidade, sigilo, capacidade de gerar as mudanças necessárias, estilo de vida pessoal,

relacionamentos sociais, tempo disponível para dedicar-se a instituição e formação

escolar. Nota-se que a formação escolar específica em Governança Corporativa não foi

exigida dos candidatos.

Dessa forma, as recomendações encontradas na literatura consultada sobre boas

práticas de governança para OTS possuem relação positiva com o bom desempenho

organizacional e influenciam de forma benéfica a sucessão em seus altos escalões.

A pesquisa desenvolvida possibilitou o atendimento do objetivo geral desta

pesquisa em analisar o processo sucessório dos gestores em Organizações do Terceiro

Setor. Os dados possibilitaram um entendimento da ocorrência do processo sucessório

nas OTS estudadas, e que, resguardando as devidas limitações e contextualizações,

podem ser utilizados para analisar o processo sucessório em outras OTS.

Page 73: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMADOR, Renato Pereira; CUPERTINO, César Medeiros; SILVA, César Augusto

Tibúrcio;

ANDRADE, Maria M. de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 5. São

Paulo, Atlas, 2001.

Page 74: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

58

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Lei estadual 2574

de 04/12/1980: Normas para declaração de entidade de utilidade pública. Disponível em

<http://governo-sp.jusbrasil.com.br/legislacao/204388/lei-2574-80>. Acesso em

dez/2015.

BERLE, A. A.; MEANS, G. The Modern Corporation and private property. New

York; MacMillan, 1932.

BERNHOEFER, Renato; CASTANHEIRA, Joaquim. Manual de sobrevivência para

sócios e herdeiros. São Paulo, Nobel, 1995.

______. Empresa familiar: sucessão profissionalizada ou sobrevivência

comprometida. 2. ed. São Paulo, Nobel, 1983.

BOARDSOURCE ORGANIZATION. The handbook of nonprofit governance

(2010).Disponível em:

<http://themoorishsciencetempleofamerica.net/blog/wp-

content/uploads/2009/05/ngo.pdf>. Acesso em: 10 de nov. 2015.

BRANDSEN, Taco; VAN DE DONK, Wim; PUTTERS, Kim. Griffins or chameleons?

Hybridity as a permanent and inevitable characteristic of the third sector. Intl Journal

of Public Administration, v. 28, n. 9-10, p. 749-765, 2005.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>.

Acesso em: 5 de mar de. 2015.

______. Lei 9790, de 23 de março de 1999, que Dispõe sobre a qualificação de pessoas

jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de

Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências.

Disponível em <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 19.dez.. 2015.

______. Lei número 10.406 de 10 de janeiro de 2002, que institui o novo Código

Civil. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 5 mar. 2015.

Page 75: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

59

______. Guia prático para Entidades Sociais / Departamento de Justiça,

Classificação, Títulos e Qualificação; Elaboração, redação e organização: Andrea Aiolfi

, Genário Viana Filho, Oscar Apolônio Nascimento Filho e Rodrigo Silva Machado. –

Brasília : Secretaria Nacional de Justiça, 2009. Disponível em:

<http://captacao.org/recursos/pdfs/guia_pratico_entidades_sociais.pdf acesso em dez.

2015>.

CADBURY, Sir Adrian. The Corporate Governance. An International Review, v. 8, n.

1, p. 7-15. Article first published online: 16 DEC 2002. DOI: 10.1111/1467-

8683.00175. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1467-

8683.00175/abstract>. Acesso em: abr. 2015.

CAMPOS, Claudinei J. G. Método de análise de conteúdo: ferramenta para a análise de

dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 57, n. 5,

p. 611-614, 2004.

COASE, R. H. The nature of the firm. Economica, v. 4, n. 16, p. 386-405, 1937.

COMINI, Graziela M.; BECHILIA, Gisleyne; CASALI, Laura; BROWN, Suzanna.

Dilemas e Desafios do Processo Sucessório em Organizações Brasileiras sem Fins

lucrativos: um estudo de casos. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL

DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 32, 2008, Rio

de Janeiro. Anais..., Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.

ETZIONI, Amitai. The third sector and domestic missions. Public Administration

Review, v. 33, n. 4, p. 314-323, 1973.

FASFIL Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos. Fundações Privadas

e Associações 2010. Disponível em:

<ftp://ftp.igbe.gov.br/Fundações Privadas_e_Associacoes/2010/comentarios.pdf.>

Acesso em: abr. 2015. 2010

Page 76: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

60

FEDERAL RESERVE BANK. Nonprofit executive succession-planning toolkit.

2010. Disponível em: <https://www.councilofnonprofits.org/tools-resources/succession-

planning-nonprofits>. Acesso em: maio, 2015. 2010

FYFE, Nicholas R. Making space for “neo‐communitarianism”? The third sector,

state and civil society in the UK. Antipode, v. 37, n. 3, p. 536-557, 2005.

GIFE. Guia das Melhores Práticas de Governança para Institutos e Fundações

Empresariais – (2014) , Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e GIFE, 2014.

Disponível em

<http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/GUIA%20GIFE%20_%202014.pdf>

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. Editora Atlas. São

Paulo. 2002.

______. Gestão de Pessoas: enfoque nos papéis profissionais. Editora Atlas. São

Paulo. 2011.

GODOI-DE-SOUZA, Edileusa; FISCHER, Rosa Maria. O processo sucessório na

pauta dos empreendimentos sociais no Brasil. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO

NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO,

35, 2011, Rio de Janeiro. Anais..., Rio de Janeiro: ANPAD, 2011.

GODOI-DE-SOUZA, E. O processo sucessório em associações produtivas no Brasil.

Estrutura, desafios e oportunidades. 204 p. Tese (Doutorado) – Universidade de São

Paulo, 2010.

GONZALEZ, Roberto Sousa. Governança Corporativa Poder de Transformação

das Empresas. Editora Trevisan, São Paulo, 2012.

Page 77: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

61

HALLQVIST, Bengt. Código das melhores práticas de governança corporativa – o

conselho de administração. Revista de Administração, São Paulo, v. 35, n. 2, p. 72-76.

Abril/Junho 2000.

HAMBRICK, D. C., & Mason, P. A. (1984). Upper Echelons: The organization as a

reflection of its top managers. Academy of Management (9) 2, 193-206.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Código das

melhores práticas de governança corporativa. São Paulo. 2009.

______. Guia de orientação para planejamento de sucessão, avaliação e

remuneração de Conselho de Administração e Diretor Presidente (Série cadernos

de governança corporativa, 10). São Paulo, 2011 .

______ e GIFE. Guia das melhores práticas para fundações e institutos

empresarias. São Paulo, 2014 .

JENSEN, Michael; MECKLING, William. Theory of the firm: managerial behavior,

Agency costs and ownership structure. Journal of financial economics, v. 3, p. 305-

360, 1976.

KESNER, Idalene; SEBORA, Terence. Sucessão Executiva: Passado, Presente e

Futuro. Journal of Management, v. 20, n. 2, p. 327-372, 1994.

LACRUZ, Adonai José. Gestão de Projetos no Terceiro Setor: uma aplicação

prática. São Paulo: Elsevier, 2014.

LEONE, N. M. C. P. G. O Saara não é um deserto: o processo sucessório de suas

empresas é repleto de conhecimentos. In: ENCONTRO NACIONAL DOS

PROGRAMAS DE PÓS- GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 26, 2002. Rio de

Janeiro.

Page 78: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

62

______; SILVA, Anielson B,; FERNANDES, Carolina B. Sucessão: como transformar

o duelo em dueto. Revista de Administração, São Paulo, v. 31, n.3, p. 76-81, jul./set.

1996.

______; SOUZA, C, Clemente de. Sucessão nas empresas familiares: a visão dos

dirigentes de pequenas e medias empresas comerciais de João Pessoa. Estudos

Avançados em Administração, v. 1, n. 1, p. 1, 1993

MARCONI, Marina A.; LAKATOS, Eva M.; Técnicas de Pesquisa: planejamento e

execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e

interpretação de dados. Editora Atlas – São Paulo, 2012.

MARTINS, Henrique Cordeiro. Governança corporativa em cenário de mudanças:

evidências empíricas das alterações dos atributos, papéis e responsabilidades do

conselho de administração das empresas brasileiras. 2004. 256f. 2004. Tese de

Doutorado. Tese (Doutorado em Administração) Universidade Federal de Minas Gerais,

Belo Horizonte, 2004.

MENDONÇA, Luciana Rocha de; FILHO, Claudio Antônio Pinheiro Machado.

Governança nas organizações do terceiro setor: considerações teóricas. Revista

Administração, v. 39, n. 4, p. 302-308, 2004.

MOIR, J. Corporate Governance in Ásia: a work in progress. Asialaw, v. 1, 2006.

Disponível em: < http://www.asialawprofiles.com/Article/1971209/Corporate-

Governance-in-Asia-A-Work-in-Progress.html?Print=true&Single=true>. Acesso em:

maio 2015.

MOURA, José Flávio de Melo. Análise da queda de um grande conglomerado

empresarial sobre a ótica da Agency Theory Universidade de Brasília. Disponível

em: <http://www.geocities.ws/wolneyunb/arquivos/texto2enron.pdf>. Acesso em: fev.

2011

Page 79: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

63

MURITIBA, Patrícia M.; MURITIBA, Sérgio N.; CAMPANÁRIO, Milton; RIBEIRO,

Henrique C. M. Governança em Empresas Públicas, Revista de Administração,

contabilidade e economia, v.13, n.2, 2014.

OLIVEIRA, Luís Martins de. et al. Terceiro Setor: características e gestão. São

Paulo: Cenofisco Editora, 2015.

OECD - ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND

DEVELOPMENT. Using the OECD Principles of Corporate Governance, 2008.

Disponível em

<http://www.oecd.org/corporate/ca/corporategovernanceprinciples/40823806.pdf.>

PREFEITURA DO MUNICIPIO DE SÃO PAULO. Lei 4819/55: Dispõe sobre as

condições para sociedade, associações, e fundações serem declaradas como de utilidade

pública. Disponível em:

<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/governo/utilidade_publica>. Acesso

em: 10 set. 2015.

OLIVEIRA, Luís Martins de. et al. Terceiro Setor: características e gestão. São

Paulo: Cenofisco Editora, 2015.

REFICCO, E.; GUTIERREZ, R.; Leadership in Social Enterprise. In: SEKN. N.

Effective Management of Social Enterprises – Lessons from business and civil

society organizations in Iberoamerica. Harvard University/David Rockefeller Center for

Latin American studies. Cambridge: Massachusetts, 2006.

ROSSONI, L.; MACHADO-DA-SILVA, C. L. Legitimidade, governança corporativa e

desempenho: Análise das empresas da BM&F Bovespa. Revista de Administração de

Empresas, v. 53, n. 3, p. 272-289, 2013.

SANTOS L. T. dos, SOUZA, E. G. de. A sucessão em empreendimentos sociais

analisada a partir dos estatutos sociais. In: ENCONTRO DE GESTÃO E

NEGÓCIOS, 2014, Uberlândia. Anais..., Uberlândia: EGEN, 2014.

Page 80: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

64

SILVA, Rodrigo. Processo sucessório na governança de organizações familiares: um

estudo exploratório nas melhores empresas. Revista de Carreiras e Pessoas, São

Paulo, v. 4, n. 1, p. 86-96, 2014.

SILVA, Maria das G. B. B; SILVA, Ana M. V. Terceiro Setor: gestão das entidades

sociais ONG-OSCIP-OS. Editora Fórum, Belo Horizonte/MG, 2008.

SMITH, A. Wealth of Nations. Methuen & Co. Ltd. London. 1776

TENÓRIO, F.G. et al. Gestão de ONG´s: principais funções gerenciais. 10. ed. Editora

da FGV: Rio de Janeiro, 2006.

TRICKER, Bob. Corporate Governance: Principles, Policies and Pratices. 3. ed.

Oxford Press University: Oxford, 2012.

VERGARA, Sylvia C.; Análise de Conteúdo como Técnica de Análise de Dados

Qualitativos no Campo da Administração: Potencial e Desafios, Revista de

Administração Contemporânea, Curitiba, v. 15, n. 4, p. 761-765, Jul./Ago. 2011.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 5. ed. Porto Alegre:

Bookman, 2015.

ZYLBERSZTAJN, Décio. Estruturas de governança e coordenação do

agribusiness: uma aplicação da nova economia das instituições. 1995. Tese (Livre

Docência em Administração – USP. Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade, São Paulo, 1995.

Page 81: FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/hapd.pdf · 2016-03-03 · Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2012,

65