Fisiopatologia e Farmacoterapia no Uso de...
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Bruna Silva Fernandes da Costa
Farmacêutica Clínica pelo Instituto do Coração - HCFMUSP
Especialista em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo
Doutoranda em Ciências Médicas pela FMUSP
Fisiopatologia e
Farmacoterapia no Uso
de Antimicrobianos
Paciente 42 anos, foi a drogaria onde você trabalha
referindo febre não aferida, dor ao deglutir associada a tosse
aparentemente sem secreção. O mesmo te apresenta uma
receita de cefalexina 500mg 1cp de 8 em 8 horas. Durante a
sua anamnese o pai paciente refere que há três dias tomou a
vacina da gripe. Refere ainda ser portador de DM, HAS,
Dislipidemia e DPOC. Diante deste caso, qual seria sua
conduta?
Casos Clínicos
Casos Clínicos
Os antibióticos devem ser usados como último recurso e NÃO
como primeiro recurso;
As infecções mais comuns melhoram espontaneamente com
repouso, reforço de ingestão de líquidos e vida saudável.
Tomar apenas os antibióticos prescritos pelo médico
Se forem prescritos, faça o tratamento até ao fim.
A Descoberta da Penicilina
A descoberta da penicilina: Alexander Fleming tirou
esta fotografia em 1928. A colônia do fungo Penicillium
acidentalmente contaminou a placa e inibiu o
crescimento bacteriano nas suas proximidades.
Alexander Fleming
Cura Milagrosa? Antes de 1930 não existia tratamento para as infecções
bacterianas;
Após a descoberta da penicilina a indústria começou a
procurar mais antibióticos na natureza;
A Estreptomicina foi o primeiro medicamento a ter um efeito na
tuberculose – uma situação que era incurável;
Os cirurgiões começaram a tentar fazer cirurgias mais
perigosas;
Cura Milagrosa?
Muitos antimicrobianos prescritos pelo médico são de
largo espectro (qualidade da prescrição);
Estes matam as bactérias nocivas, mas também as
inofensivas (flora intestinal);
O desaparecimento das bactérias inofensivas, deixa
espaço para a invasão de mais micróbios nocivos!
Importantes Eventos Microbiológicos
1940: Penicilina - uso clínico dos antimicrobianos; início da
"era dos antibióticos" – otimismo exagerado ("balas mágicas");
1950: Japão sofre a primeira grande epidemia de disenteria
resistente aos antibióticos;
1959: Sawada demonstra que a resistência aos antibióticos
pode ser transferida entre cepas de Shigella e Escherichia coli
por plasmídios;
Importantes Eventos Microbiológicos
1966: Kirby e Bauer estabelecem padrões para os testes de
sensibilidade a antibióticos com base no princípio de disco
difusão;
Resistência Microbiológica:
Problema Global
1961: Criada a Interscience Conference on Antimicrobial
Agents and Chemotherapy (ICAAC);
1998: A ICAAC realiza o Simpósio sobre Resistência
Microbiana, onde se reuniram 200 participantes (25%
infectologistas; 25% microbiologistas; 50% outras
especialidades médicas, farmacêuticos e demais profissionais
de saúde);
Resistência Microbiológica:
Problema Global
80% acreditavam que a
resistência microbiana estava
aumentando;
70% acreditavam que os
patógenos resistentes a
antimicrobianos aumentavam
a mortalidade;
Resistência Microbiológica:
Problema Global
Entre as décadas de 70 e 90: surgimento de novas
resistências bacterianas;
Aumento nas publicações de artigos e estudos relacionados
a resistência bacteriana (11% - 34%);
Diminuição de pesquisas relacionadas a novos
antimicrobianos;
Desenvolvimento de novos
antimicrobianos
Adaptado de Boucher et al. Bad bugs, no drugs: no ESKAPE! An update from the Infectious Diseases
Society of America. Clin Infect Dis, 48:1-12, 2009.
Resistência Bacteriana: Definição
Fenômeno genético relacionado à existência de
genes contidos no microorganismo, que codificam
diferentes mecanismos bioquímicos que impedem a
ação das substâncias conhecidas como
antimicrobianos.
Sleegers, 2009.
Mutações cromossômicas (Mudanças
espontâneas únicas ou múltiplas no DNA)
Resistência Bacteriana: Mecanismos de
Aquisição
Transferência de material genético entre
bacterianas.
Vários estudos mostram aumento da mortalidade
morbidade em infecções por bactérias
multirresistente;
Provável explicação: demora no início do
tratamento eficaz;
Impacto Clínico da Resistência
Bacteriana e Causas
Uso excessivo de antimicrobianos:
✓ “Infecções” em que não estão indicados. Ex. Gripe;
Uso incorreto:
✓ Não completar o tratamento prescrito;
✓ Uso de antibióticos prescritos para outros doentes;
Impacto Clínico da Resistência
Bacteriana e Causas
A emergência e disseminação da resistência é
considerada um fenômeno complexo e crescente no
mundo;
1988 a OMS considerou como problema de saúde
mundial;
Descrito como uma ameaça para estabilidade e
seguridade mundial;
Impacto Clínico da Resistência Bacteriana
Existem evidências que correlacionem o
uso de antimicrobianos e o aparecimento
de resistência a estes fármacos?
• Uso excessivo e inadequado de antibióticos;
• Diagnóstico incorreto;
• Uso incorreto pelos pacientes (sub-doses);
• Manejo inadequado de antibióticos na área clínica;
• Pressão seletiva pelos antibióticos.
Impacto Clínico da Resistência Bacteriana
São substâncias produzidas por
microrganismos ou através de processos
semi sintéticos, dos quais inibem o
crescimento de outros microrganismos, e
podem, eventualmente destrui-los.
Antimicrobianos ou Antibióticos
Os antimicrobianos, podem ainda ser
definidos como substâncias capazes de
interagir com microrganismos unicelulares ou
pluricelulares que causam infecções no
organismo.
Antimicrobianos ou Antibióticos
Aquele que exerce sua ação ou
função no microrganismo invasor,
sem causar danos ao hospedeiro
(paciente) = toxicidade seletiva.
Antimicrobiano Ideal
A Escolha dos Antimicrobianos
A escolha de um antimicrobiano adequado para o
tratamento de uma infecção deve levar em conta alguns
aspectos:
Eficácia;
Potencial para desenvolvimento de resistência;
Presença de efeitos colaterais;
Custo do tratamento e aderência do paciente;
Como Funcionam os Antimicrobianos
Os antibióticos podem ter:
• Largo espectro
– Matam um grande leque de bactérias Ex. Penicilina
• Espectro reduzido
– Matam um tipo específico de bactérias Ex. Isoniazida
Funcionam de duas maneiras:
• Bactericidas
– Matam as bactérias;
• Bacteriostáticos
– Evitam que as bactérias se dividam;
Como Funcionam os Antimicrobianos
• Bactericida: mata a bactéria por causar lise na célula. A
lise bacteriana pode liberar susbstâncias que ocasioanam
efeitos indesejáveis em humanos.
• Bacteriostático: inibe a reprodução da bacteria (nunca
deve se associar bactericida com bacteriostático, pois o
bactericida terá seu efeito diminuido! Essa associação deixa
de matar a bacteria para apenas inibir seu crescimento).
Classes dos Antimicrobianos
As principais classes de antimicrobianos incluem:
Penicilina;
Aminoglicosídeos;
Cefalosporinas;
Tetraciclinas;
Macrolídeos;
Fluorquinolonas;
Sulfonamidas;
Cloranfenicol;
Penicilinas
Mecanismo de ação:
As penicilinas geralmente possuem ação
bactericida. As penicilinas penetram na bactéria, e
quando ela esta se multiplicando, inibem a síntese
da parede celular bacteriana, levando a lise
(destruição) da bactéria.
Penicilinas
As penicilinas são consideradas antimicrobianos de baixo
espectro de ação agindo nos microrganismos:
Cocos gram positivos: Streptococcus e Pneumococos;
Cocos gram negativos: Neisseria meningitides;
Bacilos gram positivos;
Anaeróbios;
Treponema pallidum;
Penicilinas
As penicilinas podem ser classificadas:
Penicilinas sensíveis a penicilinase;
Penicilinas que resistem a penicilinase;
Penicilinas de espectro aumentado;
Penicilinas
Penicilinase: é uma enzima produzida por algumas
bactérias. Essa enzima é capaz de degradar as
penicilinas e comprometer sua ação antimicrobiana.
Penicilinas
Penicilinas sensíveis a penicilinase:
Os sais sódicos ou potássicos são usados com a penicilina G cristalina
para neutralizar a acidez, não alterando a função dela;
Procaína: Anestésico local, sem muito alívio da dor...
Penicilinas
Penicilinas sensíveis a penicilinase:
As doses de benzilpenicilina vai depender do tipo de infecção a ser
tratada ou profilaxia a ser realizada;
Penicilinas
Penicilinas resistentes a penicillinase (uso hospitalar):
Doses recomendadas:
Adultos: geralmente as doses recomendadas variam de 250 a 1 g,
administrados de 4 em 4 horas ou de 6 em 6 horas, de acordo com indicação
médica;
Crianças: geralmente as doses recomendada é varia de 50 mg/kg/dia a 100
mg/kg/dia, de 4 em 4 horas ou de 6 em 6 horas, de acordo com indicação
médica.
Penicilinas
Penicilinas de espectro aumentado:
As doses de ampicilina + sulbactam dependem do tipo de infecção a
ser tratada.
Pneumonia: 500mg a 1g 3x dia, por 7 dias;
Crianças: 200mg/kg/dia;
Penicilinas
Penicilinas de espectro aumentado:
São encontradas isoladas ou em associação ao sulbactam e ácido
clavulânico (ácidos beta-lactâmicos), porém sem efeito bacteriano. Esses
ácidos servem para que a penicilinase se liguem a eles com a finalidade de
não destruir a ampicilina ou amoxacilina.
A ampicilina e amoxacilina quando expostas a uma bactéria produtora
de penicilinase devem ser associadas a estes ácidos para não serem
inativadas;
Penicilinas
Efeitos indesejáveis das penicilinas:
Reações de hipersensibilidade (alergias):
• Erupções cutâneas;
• Febre;
• Choque anafilático agudo
Distúrbios gastrointestinais:
• Diarreias (penicilinas de grande espectro);
Penicilinas: Cuidados As penicilinas não cristalinas devem ser aplicadas com uma agulha
mais calibrosa 30x8 ou 30x9;
As penicilinas cristalinas devem ser diluídas em 50 ou 100mL de soro
fisiológico para diminuir a ocorrência de flebite;
Antes de serem administradas: anamnese – saber se paciente tem
histórico alérgico;
Estimular a hidratação: eliminação renal;
Observar os efeitos tóxicos;
Cefalosporinas
São um grupo de antibióticos da classe dos beta-lactâmicos
e são produzidas por fungos do gênero cephalosporium =
nome dessa classe;
As cefalosporinas naturais têm menor atividade
antibacteriana, onde foram se inserindo radicais nas moléculas
até formar as cefalosporinas semi sintéticas que são usadas
atualmente.
Indicações de uso:
Pneumonia (exceto no caso de bactérias
resistentes);
Infecções das vias biliares;
Infecções do trato urinário;
Sinusite bacteriana;
Cefalosporinas
Classificação das cefalosporinas:
Cefalosporinas de 1ª geração;
Cefalosporinas de 2ª geração;
Cefalosporinas de 3ª geração;
Cefalosporinas de 4ª geração;
Cefalosporinas de 5ª geração;
Cefalosporinas
Cefalosporinas de 1ª geração:
Podem ser utilizadas como terapia alternativa em
pacientes alérgicos a penicilinas;
Cefalosporinas
Cefalosporinas de 1ª geração:
Efetiva contra alguns microrganismos de Staphylococcus
e Streptococcus (não são primeira escolha). Também são
eficientes contra Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e
Proteus mirabilis = mais ativas sobre bactérias Gram + em
comparação as cefalosporinas de 1ª geração.
Cefalosporinas
Representantes das Cefalosporinas de 1ª geração:
Cefazolina;
Cefalotina;
Cefapirina;
Cefalexina;
Cefradina;
Cefadroxila;
Cefalosporinas
Cefalosporinas de 2ª geração:
São mais eficazes contra bactérias Gram negativas e
mais resistentes á beta-lactamase e são bastante utilizadas
em profilaxias de cirurgias colorretais.
Cefalosporinas
Mais utilizados no Brasil
Representantes das Cefalosporinas de 2ª geração:
Cefamandol;
Cefuroxima;
Cefonicide;
Ceforanide;
Cefaclor;
Cefprozil;
Loracarbefe;
Cefpodoxime;
Cefotetam
Cefoxitina;
Cefalosporinas
Cefalosporinas de 3ª geração:
São mais potentes e eficazes tanto contra
microrganismos Gram positivos quanto Gram os negativos,
apresenta uso ampliado nas infecções hospitalares graves;
Cefalosporinas
Cefalosporinas de 3ª geração:
As cefalosporinas de 3ª geração apresentam boa
efetividade no tratamento de infecções hospitalares graves,
porém são de alto custo hospitalar. Dentre as cefalosporinas
de 3ª geração a ceftriaxona e cefotaxima, são bastante
utilizadas atualmente para o tratamento de meningites.
Cefalosporinas
Representantes das Cefalosporinas de 3ª geração:
Ceftriaxona;
Cefotaxima;
Ceftizoxima;
Ceftazidima;
Cefoperazona;
Ceftibuteno;
Cefixima;
Cefatamet;
Cefalosporinas
Cefalosporinas de 4ª geração:
Quarta geração: mesma atividade contra Gram-negativas,
mas mais potentes para Gram positivas do que os de terceira
geração. Mais resistentes à degradação por beta-lactamase
(mais eficazes contra estirpes parcialmente resistentes).
Cefalosporinas
Cefalosporinas de 5ª geração:
Mais resistentes de todas as gerações, sendo apenas
dois antibióticos que compõe esta geração:
Ceftobiprole;
Ceftaroline;
Cefalosporinas
Efeitos adversos das cefalosporinas:
Diarreia;
Reações alérgicas (erupções cutâneas);
Nefrotoxicidade;
Urticárias;
Cefalosporinas
Interações medicamentosas:
Interações com o álcool desacelera o metabolismo do
álcool pelo corpo com consequente aumento dos níveis
de acetaldeído. Tal aumento eventualmente provoca
sintomas como náusea, vômito, enrijecimento facial, dor
de cabeça, dificuldade para respirar e dores no peito.
Efeitos semelhantes ao do dissulfiram.
Cefalosporinas
Eritromicina: o primeiro antimicrobiano dessa classe. Foi
isolado em 1952, do Streptomices erythreus.
Os macrolídeos apresentam boa tolerabilidade, boa
absorção oral e atividade contra microrganismos resistentes
a outros microrganismos. São a classe que menos causam
efeitos adversos e irritação no trato gastrointestinal;
Macrolídeos
Os macrolídeos apresentam boa atividade contra
microrganismos causadores de infecções
respiratórias e genito-urinárias.
Macrolídeos
Mecanismo de ação: São bacteriostáticos –
inibem o crescimento ou a reprodução das
bactérias, inibindo a síntese proteica no ribossomo
bacteriano.
Macrolídeos
Efeitos indesejáveis e contra indicação:
Náuseas;
Diarreia;
Dor abdominal;
Cefaleias e tonturas (pouco frequentes);
Macrolídeos
Interações Medicamentosas:
Interação importante com antiácidos: reduzem
até 24% no efeito desta classe de
antimicrobianos;
Evitar exposições a luz: utilizar proteção solar;
Macrolídeos
Classificação
São classificadas de acordo com sua ação:
Ação curta: oxitetraciclina e tetraciclina;
Ação Intermediária: Demeclociclina;
Ação longa: Doxiciclina e Minociclina;
Tetraciclinas
TetraciclinasMecanismo de ação:
São bacteriostáticos, inibem o crescimento ou a
produção de bactérias.
TetraciclinasContra indicações:
Possuem tendência de se depositar nos dentes e
ossos em crescimento, podendo desta forma
retarder o crescimento ósseo. Por este motive são
contra indicados durante a gestação, lactação e em
crianças com até 8 anos de idade.
TetraciclinasEfeito indesejáveis:
Distúrbios no trato gastrointestinal
(principalmente quando administrados por via
oral); para prevenir administra-se em conjunto
com as refeições**
Efeitos em tecidos calcificados: retardo do
crescimento ósseo, alterações nos dentes;
TetraciclinasEfeito indesejáveis:
Fototoxicidade: erupções vermelhas nas áreas
expostas a luz solar – uso de proteção solar;
TetraciclinasInterações com as tetraciclinas:
Leite e seus derivados (queijo, iogurte, etc);
Antiácidos (magnésio, alumínio, cálcio: inativam
as tetraciclinas – forma quelatos que impedem a
absorção do antimicrobiano;
Barbitúricos (anticonvulsivantes);
TetraciclinasInterações com as tetraciclinas:
Álcool;
Anticoncepcionais orais e injetáveis, podendo
desloca-lo e diminuir o tempo de meia vida
(falhas na contracepção);
Obrigada!Contato: [email protected]